Autor Tópico: Acaso X Destino  (Lida 11581 vezes)

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Offline Danielle Bandeira

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Acaso X Destino
« Online: 16 de Janeiro de 2009, 23:56:20 »
Oi, pessoal.
Eu andei pesquisando no fórum e não achei nenhum tópico que tratasse de um assunto que eu considero muito interessante.

Por isso, quero propor uma discussão sobre ele: Acaso X Destino.

Penso que a maioria aqui, como ateus e agnósticos, acredita que todas as coisas acontecem por simples acaso, já que a crença no destino está arraigada na idéia de que um deus faz o planejamento da sua vida antes mesmo de você nascer.

Assim como todo debate sadio precisa ser livre de fundamentalismo, espero que não seja diferente aqui.

Definições mais apropriadas para o desenrolar do debate:
Destino: fim pré-determinado que orienta as ações e os acontecimentos na vida dos homens.
Acaso: eventualidade; que acontece à esmo, sem motivo ou explicação aparente.

Vou expor minha opinião sobre o assunto com um exemplo simples:

Muitas pessoas teístas tentam achar explicações super complexas para uma questão super polêmica:
"Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas?"

Os espíritas dizem que tais pessoas foram muito más em vidas passadas, por isso agora estão acertando as contas com deus.

Eu vejo uma explicação muito mais simples para isso:
Uma bala perdida, por exemplo, não vai contrariar as leis da Física para desviar de uma pessoa só porque ela é boa e não merece morrer.

Mas o acaso também pode salvar. Essa bala perdida poderia atingir uma caneta ou uma bíblia que a pessoa estivesse carregando. Estatisticamente é possível. E pode ocorrer com qualquer pessoa, boa ou ruim.
Mas muitos dirão que isso aconteceu porque "não era a hora dela de partir".

Poderíamos imaginar que se a pessoa que foi baleada tivesse demorado um pouco mais para sair de casa, isso consequentemente não teria acontecido.

Podemos imaginar N situações em que as pessoas atribuem as ocorrências ao destino, como se todas as escolhas que elas fizessem estivessem pré determinadas, como se elas não pudessem mudar seus próprios futuros.

Eu tenho mais alguns raciocínios sobre isso, mas como estão meio confusos ainda, prefiro esperar o desenrolar da discussão.
« Última modificação: 17 de Janeiro de 2009, 00:06:07 por Danielle Bandeira »
“A Ciência é antes um modo de pensar do que propriamente um conjunto de conhecimentos.” - Carl Sagan

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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #1 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:18:19 »
Acho que a diferença entre acaso e destino não é tão nítida assim. Acho que a questão aqui é uma consideração metafísica: os eventos do universo estão todos determinados? Note que dizer que sim não necessariamente implica em um deus que fez todo o planejamento do cosmos antes de a gente nascer, o determinismo pode ter uma natureza totalmente material - como pensavam os matemáticos e físicos do século XVII, que acreditavam que tendo as posições e as velocidades de todas as partículas do universo, poderiam em tese prever o futuro (desconsiderando a complexidade de resolver equações com gugóis de variáveis).

Hoje a física mudou e os cientistas não tem mais essa pretensão, pois a mecânica quântica não permite fazer medidas com precisão arbitrária. Ainda há uma polêmica sobre se isso implica que não existe determinismo no comportamento da matéria em pequeníssima escala ou se somos apenas nós que não somos capazes de percebê-lo, ou seja, não sabemos se o mundo é uma loteria ou se há regras ocultas operando nos bastidores da realidade e nunca poderemos ter acesso a elas (por favor, físicos do fórum, me xinguem se eu estiver falando bobagem!)

Onde estou querendo chegar é que, se existe um destino ele pode ser incogniscível. Nem a mais sofisticada física é capaz de prevê-lo, quanto mais supostos paranormais. E qual é a diferença entre um destino incogniscível e o acaso? Do ponto de vista de um observador, nenhuma, a realidade parecerá a mesma coisa. Como você bem definiu, acaso é um evento que acontece sem razão aparente, o que não quer dizer que não hajam razões escondidas. E essas razões podem ser inescrutáveis, porém, determinadas por uma sequencia de causalidade. Portanto a existência do acaso não é incompatível com a existência do destino, os dois conceitos podem conviver harmonicamente na realidade e serem indistinguíveis.

Offline FZapp

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #2 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:38:13 »
Danielle, mas além de acaso e destino existem as conseqüencias naturais, digamos a reação a uma devida ação.

Por exemplo, não é por acaso que estou com sono, estou acordado desde as 5:30. Não é mero acaso, mas também não é um destino divino.

Os fatos com que nos deparamos são acaso dentre conseqüências a fatos anteriores.

É por aí, ou estou com sono ?
--
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Offline Danielle Bandeira

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #3 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:42:25 »
Boa posição, uiliníli.
No livro do Stephen Hawking, Uma Breve História do Tempo, ele fala exatamente sobre isso.
Eu havia até me esquecido.

Mas em se tratando de seres vivos, onde a escolha de um indivíduo pode afetar a vida dos demais... isso não tornaria o futuro imprevisível?

JCatino,
É verdade. Não havia pensado nisso.
Ó zeus, estou confusa. :susto:
« Última modificação: 17 de Janeiro de 2009, 00:46:42 por Danielle Bandeira »
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Offline Sparke

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #4 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:48:53 »
Realmente as duas respostas dadas foram muito boas.

Offline Danielle Bandeira

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #5 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:57:37 »
Às vezes eu tenho mania de pensar complexo demais. Contraditório, não? :P
E as melhores respostas são simples e óbvias.
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Offline FZapp

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #6 Online: 17 de Janeiro de 2009, 00:58:47 »
É que os debates com criacionistas e suas crias :) nos fazem pensar no 'acaso' como força em antítese a uma inteligência superior.

Acho.
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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #7 Online: 17 de Janeiro de 2009, 01:13:35 »
Boa posição, uiliníli.
No livro do Stephen Hawking, Uma Breve História do Tempo, ele fala exatamente sobre isso.
Eu havia até me esquecido.

Mas em se tratando de seres vivos, onde a escolha de um indivíduo pode afetar a vida dos demais... isso não tornaria o futuro imprevisível?

Isso é um assunto mais polêmico ainda! Entramos na questão do livre-arbítrio. Será o livre arbítrio realmente livre? Em que medida ele pode ser livre? De onde será que vêm as nossas decisões? Afinal, das duas uma: ou nossas decisões são determinadas ou elas são aleatórias... mas nos dois casos elas não são exatamente o que eu chamaria satisfatoriamente de livres... Afinal, se recusamos a dizer que nossas decisões são determinadas, então toda a nossa impressão de liberdade é uma loteria, tudo o que somos parece resultado do lançamento de uma moeda, então que escolha nós temos? A outra opção é achar que nossas escolhas são determinadas, mas nesse caso somos vítimas das circunstâncias e nossa liberdade também não é plena.

Qual é a minha opinião: acho que há um meio termo. Nossas escolhas são em sua maioria determinadas através de uma guerra entre razão e emoção. A razão é quase que completamente determinista, é onde exercemos de fato nossa liberdade de decidir - mas é uma liberdade obviamente limitada pela lógica. Já a emoção é quase completamente aleatória, (no sentido de que não depende de nós, os fatores que vou citar adiante pode ou não ser determinados) ela é reflexo de nossos condicionamentos, nossas experiências passadas que nos marcaram, nossa cultura, e até fatores ambientais ou orgânicos - talvez o fato de eu ter chupado uma manga hoje, em vez de uma laranja afete a minha bioquímica de uma forma tão específica que isso acabe afetando minha vontade de ir dormir mais cedo ou ficar acordado até mais tarde...

Hoje em dia alguns filósofos redefiniram o livre-arbítrio não como nosso poder de tomar decisões, mas como justamente a nossa capacidade de agir de acordo com a nossa vontade. Por exemplo, um viciado em cigarro pode até ter vontade de parar de fumar, mas ele pode não ser capaz de agir conforme sua vontade - nesse caso ele falha em seu livre arbítrio. O livre arbítrio é a capacidade de agir contra nossas inclinações naturais - no caso do fumante essa inclinação é continuar a fumar.

Sabemos que o que leva o fumante a ter vontade de parar é a razão e quem o faz querer continuar é a emoção (ou uma parte das emoções, o mais provavel é que ele tenha emoções em conflito), agora resta saber como é que o cérebro resolve a parada. A definição sobre quem ganha é determinada ou é aleatória? E aí o debate do livre-arbítrio volta para o mesmo ponto do acaso x destino... Então eu acho que não: a consciência não torna o futuro mais imprevisível do que ele já é.



Uma outra possibilidade interessante (mas que também é metafísica, e é altamente polêmica) que deixa a discussão ainda mais interessante é o multiverso. Uma das hipóteses de multiverso que já foram formuladas é que existem infinitos universos, cada um com suas próprias leis físicas ou o seu próprio desenrolar dos aconteceimentos. Haverão infinitos universos também que parecem exatamente iguais ao nosso, exceto por uma diferençazinha ridícula, como por exemplo uma molécula de hidrogênio na alta atmosfera de Júpiter que está 0,1 nanômetros mais à esquerda em um universo do que no outro... E como a quantidade de universos é infinita, com certeza todas as coisas que são possíveis de acontecer, terão acontecido em algum dos infinitos universos.

Traduzindo essa bizarrisse para os acontecimentos humanos triviais, existe algum universo onde eu morri em um acidente estúpido, outro em que eu sou o jogador de futebol mais bem pago do planeta e talvez outro onde eu seja evangélico, criacionista e homoossexual enrustido. Alguns cenários são mais prováveis do que outros, talvez a quantidade de universos em que eu seja ateu seja maior que a quantidade em que eu seja evangélico, ou vice versa, mas haverão também universos com diferenças bem mais radicais, talvez um em que os nazistas venceram a guerra, ou que Cartago tenha destruído Roma, ou que os dinossauros não tenham sido extintos, ou que a vida não tivesse surgido na Terra...

Nesse caso dos universos múltiplos, como se pode falar em destino ou em acaso? Na verdade, tudo o que for possível estará determinado a acontecer, mas as diferentes cópias de nós mesmos distribuídas entre um universo ou outro terão sua sorte definida por uma loteria inescrutável - eu posso pensar: porque eu estou neste universo aqui e não naquele em que sou o jogador de futebol mais bem pago do mundo? Do meu ponto de vista isso parece apenas acaso, quando na verdade ambos os acontecimentos estavam previstos pelo destino. Complicado, né?
« Última modificação: 17 de Janeiro de 2009, 01:16:11 por uiliníli »

Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #8 Online: 17 de Janeiro de 2009, 01:23:38 »
Acho que eu acabei usando meio mal as palavras "aleatório" e "determinado" em algumas situações... é o avançado da hora :P Espero que tenha dado para entender...

Offline Paulo José

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #9 Online: 17 de Janeiro de 2009, 01:52:27 »
Qual é a minha opinião: acho que há um meio termo. Nossas escolhas são em sua maioria determinadas através de uma guerra entre razão e emoção. A razão é quase que completamente determinista, é onde exercemos de fato nossa liberdade de decidir - mas é uma liberdade obviamente limitada pela lógica. Já a emoção é quase completamente aleatória, (no sentido de que não depende de nós, os fatores que vou citar adiante pode ou não ser determinados) ela é reflexo de nossos condicionamentos, nossas experiências passadas que nos marcaram, nossa cultura, e até fatores ambientais ou orgânicos - talvez o fato de eu ter chupado uma manga hoje, em vez de uma laranja afete a minha bioquímica de uma forma tão específica que isso acabe afetando minha vontade de ir dormir mais cedo ou ficar acordado até mais tarde...
[...]
Ótima análise! Podia virar artigo.

Citar
Uma outra possibilidade interessante (mas que também é metafísica, e é altamente polêmica) que deixa a discussão ainda mais interessante é o multiverso. Uma das hipóteses de multiverso que já foram formuladas é que existem infinitos universos, cada um com suas próprias leis físicas ou o seu próprio desenrolar dos aconteceimentos. Haverão infinitos universos também que parecem exatamente iguais ao nosso, exceto por uma diferençazinha ridícula, como por exemplo uma molécula de hidrogênio na alta atmosfera de Júpiter que está 0,1 nanômetros mais à esquerda em um universo do que no outro... E como a quantidade de universos é infinita, com certeza todas as coisas que são possíveis de acontecer, terão acontecido em algum dos infinitos universos.
[...]
O fato de estarmos condicionados a existir em apenas um universo não torna a questão dos multiversos indiferente à realidade? Contemplo a idéia, mas não vejo como o conceito de multiversos facilita ou explica alguma coisa. De qualquer forma, penso que sempre teremos acaso e determinismo coexistindo. Imagino a realidade sendo como um fractal. Ao se ao olhar o todo, veríamos acaso, mas ao ampliar, veríamos destino, que, por sua vez, é formado por acaso, formado por destino... infinitamente. Como você disse, muitas vezes indistinguíveis.
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Offline Danielle Bandeira

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #10 Online: 17 de Janeiro de 2009, 01:56:36 »
Entendi, sim, uiliníli. :)
Embora eu já esteja com a produtividade do meu cérebro em baixa neste horário. :stunned:
Mas tá bem explicado. Daria até uma bela tese, hein. :ok:

Inclusive eu acho muito interessante a teoria do Multiverso, apesar dela não possuir nenhuma evidência que a livre do rótulo de absurda.
Mas pela descrição que você deu dele, tem assistido aquele filme do Jet Li, The One..
Não é? Confessa... ::)
« Última modificação: 17 de Janeiro de 2009, 02:05:02 por Danielle Bandeira »
“A Ciência é antes um modo de pensar do que propriamente um conjunto de conhecimentos.” - Carl Sagan

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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #11 Online: 17 de Janeiro de 2009, 01:58:48 »
O ponto é que (se essa maluquice de multiverso for verdade) não estamos condicionados a viver em só um universo. Nós vivemos em infinitos universos, ou melhor, cópias idênticas de nós, que pensam igualzinho a nós, que têm a mesma história pessoal que nós, e até que compartilham um futuro exatamente igual ao nosso pelo menos até certo ponto. Mas a consciência de cada um é limitada a conhecer somente o seu próprio universo. O que o conceito de multiverso faz é tornar a discussão acaso versus destino irrelevante.

E é interessante sua abordagem "fractal". Mas acho que na fim das contas, acaso é algo determinado cuja cadeia causal é desconhecida. Todo acaso seria aparente.


Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #12 Online: 17 de Janeiro de 2009, 02:03:32 »
Entendi, sim, uiliníli. :)
Embora eu já esteja com a produtividade do meu cérebro em baixa neste horário. :stunned:
Mas tá bem explicado. Daria até uma bela tese, hein. :ok:

Inclusive eu acho muito interessante a teoria do Multiverso, apesar dela não possuir nenhuma evidência que a livre do rótulo de absurda.
Mas pela descrição que você deu dele, tem assistido aquele filme do Jet Li, The One.
Não é? Confessa... ::)

:lol: Eu assisti sim, mas nem gostei :P  Um filme que achei mais interessante é esse aqui.

Mas sei lá, meu cérebro também não está na melhor produtividade agora (deve ser a manga que chupei em vez da laranja :lol: ), talvez lendo de novo amanhã eu até me arrependa de alguma coisa que escrevi :lol:

Offline Copelli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #13 Online: 17 de Janeiro de 2009, 21:32:33 »
Eu não entendo nada dessas coisas, mas gostaria de tentar entender o que viria a ser o acaso... Juro que tento mais não entendo como algo pode ocorrer sem uma causalidade.

Tipo assim: imagine uma carta de baralho de pé numa redoma mágica, num vácuo absoluto, sem qualquer força ou variável que a empurrasse para qualquer lado. Para que lado essa carta cairia? O que determinaria que ela tombasse para um lado e não para outro? Acho que ela não cairia. Pra mim parece ilógico que algo simplesmente ocorresse aleatoriamente, ou seja, do nada. Eu não entendo quais seriam os processos pelos quais a carta, ou o universo dela, definiriam para que lado cair, sem alguma força, alguma causalidade para definir isso.

Alguém me explique ai. No (péssimo) exemplo da carta, ela poderia simplesmente “decidir” para qual lado se jogar?  :? Se isso acontecesse, COMO ela tomaria essa “decisão”?

Havendo universos paralelos com as duas possibilidades ocorrendo separadamente neles, ainda assim não haveria acaso algum. Mesmo que para observadores desses universos assim parecesse.

Não consigo nem ver o surgimento do universo como um acaso. PRA MIM, algo tem de ter ocorrido pra disparar o BB. Acho que acaso é uma causalidade desconhecida.

E pelos mesmo motivos, também não consigo imaginar o que seria o livre arbítrio.

Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #14 Online: 17 de Janeiro de 2009, 21:58:49 »
O problema da carta é que sua posição é instável, sendo assim a mais mínima das mínimas perturbações é capaz de fazê-la tombar. Agora, num exemplo hipotético em que ela esteja perfeitamente equilibrada ela não cai. O caso é que esse equilíbrio perfeito é muito improvável,  no mundo real alguma perturbação vai haver.

Dizer que quem fez a carta tombar foi o acaso, em vez de uma causa determinista, pode não ser nada mais do que um simples vício de linguagem: pode ser que o que chamamos de acaso sejam coisas cujas causas nos são desconhecidas, estão fora do nosso controle e da nosssa capacidade de precisão, e não simplesmente lances de 'mágica', eventos sem causa.

Mas a questão entre acaso e determinismo pode ser levada a um nível mais profundo e é possível questionar se as causas últimas das seqüências de eventos são definidas em termos de probabilidade ou se são completamente determinadas. Por exemplo, no caso da carta, caberia perguntar se as perturbações que fazem ela tombar para um lado ou para o outro vieram do nada, um simples golpe de sorte, ou se elas têm uma causa bem definida para elas. Essa é uma discussão interessante para os físicos, que estão acostumados com coisas estranhas como pares de partículas virtuais surgindo do nada no vácuo sem nenhum motivo aparente, por exemplo.

Offline Moro

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #15 Online: 18 de Janeiro de 2009, 00:25:04 »
Uili, vivemos em um mundo extremamente complexo e desconhecemos um sem número de questões, mas não me parece que seja o caso aqui, na nossa capacidade de livre-arbítrio.

Para entender porque agimos de uma maneira, queria primeiro dar alguns exemplos do que nos faz não agirmos de determinada maneira.

1- A ação é contra o código social vigente (político, cultural, religião, sociedade)
2- A possível ação não é uma opção conhecida para determinada pessoa
3- A ação representa riscos (saúde, morte, processos, prisão, etc..)
4- A pessoa conhece a opção mas não é capaz de executá-la (pessoa sem elã, não tem oportunidades, competência, etc..)
5- Estado de humor, instabilidade emocional, etc..


Ou seja, nossa capacidade de ação está limitada ao conhecimento, cultura, religião, inteligência, oportunidades, saúde, etc..
Se entrarmos em uma discussão puramente semântica de que essas questões tolhem nosso livre-arbítrio porque somos condicionados pela cultura (e outros) , creio que estaríamos reputando o livre-arbítrio como algo a ser alcançado apenas por um deus, que tudo conhece, que tudo pode, o que tornaria a palavra sem sentido algum, já que somos todos humanos.

E esqueceríamos que, para este sentido de liberdade, a vida sem liberdade seria corolário de uma vida em comunidade.

Então temos o paradoxo de sorites em ação. A partir de quando, dentro de um conjunto de restrições a que estamos expostos, perdemos nosso livre-arbítrio?

Creio que deveríamos tratar de várias dessas restrições como sendo intrínsecas à vida humana e não permitir que isso atrapalhe nossa clareza ao abordar o tema.
Creio também que deveríamos utilizar uma definição razoável para a palavra e saber que um preso teve seu livre-arbítrio tolhido, ignorando questões mais nebulozas como o fato do preso poder pensar em que quiser.



Quanto ao acaso. Como disse o J, se eu dou um soco alguém não será o acaso que fará eu tomar um soco de volta. Existem diversas ações e reações, e também sofremos reações a ações que não realizamos (alguém pensou que você fez algo, poluição, etc...), o que tira do jogo hipóteses absurdas que nos colocam no centro do mundo como ditadores do nosso destino.

Não há nada que nos faça pensar que exista algo engendrado por algo superior SE não entramos em confusões semânticas ao propor que a natureza tem suas regras e, estando todos sujeitos à esta, o acaso não existe. Mesmo aceitando essa confusão, se eu tomo um tiro de bala perdido a dona natureza não tem nada a ver com o peixe, o que não nos permite afirmar que o acaso não existe.

Outro ponto tem a ver com o livre arbítrio. Podemos dizer que todos o temos e que não conseguimos determinar qual será a reação de uma pessoa a um determinado evento. Alias, a mesma pessoa reage de maneira distinta a eventos semelhantes. Aqui, mais uma vez, se não nos distrairmos com impossibilidades óbvias como a de que é possível prever a reação de uma pessoa se conhecermos todas as variáveis envolvidas , sabemos que pessoas podem ter reações completamente aleatórias (inesperadas).

Portanto, o acaso existe.


Quanto ao destino. O destino é análogo à atividade do economista que explica com exatidão eventos passados mas é incapaz de prever algo do futuro. O destino como algo realizado é um fato, como algo a se realizar é irreal. Irão existir pessoas que afirmarão que no futuro só apenas uma coisa vai acontecer e portanto isso é um destino. Mas sabemos que isso é meramente uma confusão.


Quanto a multiverso, para mim isso sequer é uma hipótese a ser considerada, não tem nada, absolutamente nada que não seja apenas delírios ou ad hocs.
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #16 Online: 18 de Janeiro de 2009, 01:22:30 »
Uili, vivemos em um mundo extremamente complexo e desconhecemos um sem número de questões, mas não me parece que seja o caso aqui, na nossa capacidade de livre-arbítrio.

Para entender porque agimos de uma maneira, queria primeiro dar alguns exemplos do que nos faz não agirmos de determinada maneira.

1- A ação é contra o código social vigente (político, cultural, religião, sociedade)
2- A possível ação não é uma opção conhecida para determinada pessoa
3- A ação representa riscos (saúde, morte, processos, prisão, etc..)
4- A pessoa conhece a opção mas não é capaz de executá-la (pessoa sem elã, não tem oportunidades, competência, etc..)
5- Estado de humor, instabilidade emocional, etc..


Ou seja, nossa capacidade de ação está limitada ao conhecimento, cultura, religião, inteligência, oportunidades, saúde, etc..
Se entrarmos em uma discussão puramente semântica de que essas questões tolhem nosso livre-arbítrio porque somos condicionados pela cultura (e outros) , creio que estaríamos reputando o livre-arbítrio como algo a ser alcançado apenas por um deus, que tudo conhece, que tudo pode, o que tornaria a palavra sem sentido algum, já que somos todos humanos.

E esqueceríamos que, para este sentido de liberdade, a vida sem liberdade seria corolário de uma vida em comunidade.

Então temos o paradoxo de sorites em ação. A partir de quando, dentro de um conjunto de restrições a que estamos expostos, perdemos nosso livre-arbítrio?

Creio que deveríamos tratar de várias dessas restrições como sendo intrínsecas à vida humana e não permitir que isso atrapalhe nossa clareza ao abordar o tema.
Creio também que deveríamos utilizar uma definição razoável para a palavra e saber que um preso teve seu livre-arbítrio tolhido, ignorando questões mais nebulozas como o fato do preso poder pensar em que quiser.

Agnóstico, acredito que estamos usando abordagens diferentes para a questão do livre-arbítrio aqui. Você está querendo olhar de longe, mas eu estou querendo olhar com uma lupa. A questão que estamos tratando neste tópico é a causalidade, mais especificamente, se a causalidade se extende infinitamente e tem uma sequencia unívoca de consequencias (determinismo, ou destino se preferir) ou se a causalidade se quebra em algum momento e "Deus joga dados" para decidir o que acontece (acaso).

O ser humano pensa através de um cérebro formado por bilhões de neurônios interconectados transmitindo impulsos elétricos de um lado para o outro. Em suma, nossa mente é uma ilusão provocada pela matéria. A consequencia disso é que ela está sujeita às mesmas leis da física que governam a matéria bruta, a única diferença é a complexidade do sistema, mas nesse sentido, saber como funciona a causalidade no universo tem importância na questão sobre se existe livre-arbítrio, ou em outras palavras, se a existência de agentes racionais torna o mundo mais imprevisível ou não, que foi o que a danielle perguntou.

Essa quetsão é tão vital que já está logo no primeiro parágrafo do artigo da wikipedia sobre livre-arbítrio:

The question of free will is whether, and in what sense, rational agents exercise control over their actions and decisions. Addressing this question requires understanding the relationship between freedom and cause, and determining whether the laws of nature are causally deterministic. The various philosophical positions taken differ on whether all events are determined or not — determinism versus indeterminism — and also on whether freedom can coexist with determinism or not — compatibilism versus incompatibilism. So, for instance, 'hard determinists' argue that the universe is deterministic, and that this makes free will impossible.

http://en.wikipedia.org/wiki/Free_will

Então o seu questionamento sobre se "essas questões tolhem nosso livre-arbítrio porque somos condicionados pela cultura (e outros)" é justamente aquilo que está discussão aqui, e sua observação de que se levarmos ao limite o determinismo, não se poderia esperar o verdadeiro livre-arbítrio de algo menos que um deus é válida. Mas quem disse que devemos chegar à conclusão de que o livre-arbítrio existe? Na verdade esse é um tema polêmico ainda, e se você fizer a leitura do artigo da wikipedia verá que a há correntes de pensamento que alegam que o livre-arbítrio, dependendo de como você o define, não existe.

Eu gostaria de te advertir, antes de resolver continuar esta discussão, que este tópico trata de metafísica. Eu sei que você odeia metafísica, mas é no âmbito dela que estamos discutindo a questão. O assunto do tópico é metafísica purinha :)

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Quanto ao acaso. Como disse o J, se eu dou um soco alguém não será o acaso que fará eu tomar um soco de volta. Existem diversas ações e reações, e também sofremos reações a ações que não realizamos (alguém pensou que você fez algo, poluição, etc...), o que tira do jogo hipóteses absurdas que nos colocam no centro do mundo como ditadores do nosso destino.

Aí é o determinismo em ação. Se eu dou um soco em você, eu estou destinado a receber outro de revide. Mas o que me levou a te dar um soco em primeiro lugar foi consequencia de uma causa anterior ou foi uma decisão tortalmente aleatória, ao acaso?

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Não há nada que nos faça pensar que exista algo engendrado por algo superior SE não entramos em confusões semânticas ao propor que a natureza tem suas regras e, estando todos sujeitos à esta, o acaso não existe. Mesmo aceitando essa confusão, se eu tomo um tiro de bala perdido a dona natureza não tem nada a ver com o peixe, o que não nos permite afirmar que o acaso não existe.
Não estamos falando de nenhum ser superior. Estamos falando em causalidade, se qualquer coisa que acontece é a consequencia unívoca (única possível) de uma série de causas que remete ao Big Bang (ou seja, desde que o universo nasceu, a posição e a velocidade das suas partículas eram tais que a única consequencia possível era 13,7 bilhões de anos depois você tomar um tiro de bala perdida ou se essa sequencia de causalidade não existe e a causa de você ter tomado esse tiro brotou aleatoriamente do nada em algum momento, por mero acaso. Do ponto de vista prático dá no mesmo. Tanto faz chamar de destino ou de acaso, se entendermos por acaso qualquer coisa que esteja além do nosso poder de previsão.

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Outro ponto tem a ver com o livre arbítrio. Podemos dizer que todos o temos e que não conseguimos determinar qual será a reação de uma pessoa a um determinado evento. Alias, a mesma pessoa reage de maneira distinta a eventos semelhantes. Aqui, mais uma vez, se não nos distrairmos com impossibilidades óbvias como a de que é possível prever a reação de uma pessoa se conhecermos todas as variáveis envolvidas , sabemos que pessoas podem ter reações completamente aleatórias (inesperadas).

Você está usando a palavra aleatórias no sentido de "determinada, mas desconhecida" ou de "indeterminada"? O coração da discussão é justamente qual das duas coisas traduz o comportamento humano. Desculpe por entrar em semântica, mas ela é importante para esta discussão.

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Portanto, o acaso existe.

Se acaso é simplesmente algo cuja cadeia de causalidade nós não conhecemos ou não temos que conhecer, então sim, definitivamente o acaso existe. Mas se acaso é algo que não tem causa, então não está provado que ele existe.


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Quanto ao destino. O destino é análogo à atividade do economista que explica com exatidão eventos passados mas é incapaz de prever algo do futuro. O destino como algo realizado é um fato, como algo a se realizar é irreal. Irão existir pessoas que afirmarão que no futuro só apenas uma coisa vai acontecer e portanto isso é um destino. Mas sabemos que isso é meramente uma confusão.

Aqui você fala sobre a capacidade do ser humano de conhecer o destino, se é que ele existe. Mas a discussão é justamente se ele existe ou não.

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Quanto a multiverso, para mim isso sequer é uma hipótese a ser considerada, não tem nada, absolutamente nada que não seja apenas delírios ou ad hocs.

Já falei que essa conversa não é recomendada para quem não gosta de metafísica :P  Só apresentei o multiverso como uma alternativa a essa discussão de acaso x destino. É só uma abordagem diferente e interessante.

Offline FZapp

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #17 Online: 18 de Janeiro de 2009, 09:31:31 »
(...)
O que determinaria que ela tombasse para um lado e não para outro? Acho que ela não cairia. Pra mim parece ilógico que algo simplesmente ocorresse aleatoriamente, ou seja, do nada. Eu não entendo quais seriam os processos pelos quais a carta, ou o universo dela, definiriam para que lado cair, sem alguma força, alguma causalidade para definir isso.
(...)

É que 'aleatoriamente' não significa 'do nada' e sim que o cálculo para determinar onde cairá é tão complexo e envolve tantas variáveis (muitas vezes não somente a ação newtoniana, e sim seres vivos interagindo, como no caso de se jogar os dados).
--
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Offline Guardião

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #18 Online: 18 de Janeiro de 2009, 13:02:44 »
O ponto é que (se essa maluquice de multiverso for verdade) não estamos condicionados a viver em só um universo. Nós vivemos em infinitos universos, ou melhor, cópias idênticas de nós, que pensam igualzinho a nós, que têm a mesma história pessoal que nós, e até que compartilham um futuro exatamente igual ao nosso pelo menos até certo ponto. Mas a consciência de cada um é limitada a conhecer somente o seu próprio universo. O que o conceito de multiverso faz é tornar a discussão acaso versus destino irrelevante.

E é interessante sua abordagem "fractal". Mas acho que na fim das contas, acaso é algo determinado cuja cadeia causal é desconhecida. Todo acaso seria aparente.


Caramba, pra quem leu a serie Torre Negra de Stephen King vai se sentir em casa com esta possibilidade...

Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #19 Online: 18 de Janeiro de 2009, 14:14:18 »
(...)
O que determinaria que ela tombasse para um lado e não para outro? Acho que ela não cairia. Pra mim parece ilógico que algo simplesmente ocorresse aleatoriamente, ou seja, do nada. Eu não entendo quais seriam os processos pelos quais a carta, ou o universo dela, definiriam para que lado cair, sem alguma força, alguma causalidade para definir isso.
(...)

É que 'aleatoriamente' não significa 'do nada' e sim que o cálculo para determinar onde cairá é tão complexo e envolve tantas variáveis (muitas vezes não somente a ação newtoniana, e sim seres vivos interagindo, como no caso de se jogar os dados).

Depende, J. Na verdade essa quesrão é polêmica. Se o universo é determinístico, então sua afirmação é perfeita. Mas se não é, então faz sentido sim definir aleatório como 'do nada'. Veja na Wikipedia Indeterminismo.
« Última modificação: 18 de Janeiro de 2009, 14:17:30 por uiliníli »

Offline oneiros

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #20 Online: 18 de Janeiro de 2009, 22:37:37 »
eu acho que toda essa discussao sobre acaso destino e etc ocorre apenas por uma má análise dos dados.

veja o seguinte caso:

se você acorda, e se você odeia chuva porque lhe traz problemas para ir trabalhar, se estiver chovendo (e você não tem controle algum sobre o clima) você tende a culpar algo pelo problema e o culpado geralmente é a sorte.

poxa, dei azar, esta chovendo.

mas inumeras outras pessoas em casa estão dizendo (teoricamente):
_ que bom, uma chuvinha, vamos tomar um vinho que esta pedindo (e acho que pensam: que sorte! queria mesmo experimentar esse vinho e esse livro num dia chuvoso...)

então, tomando como possiveis ambos os casos, o que você acha que esta certo?

1- ambos, cada um vendo o mundo sob sua propria ótica, sob suas experiência pessoais e dando significados pessoais
2- nenhum deles, não há essa coisa chamada sorte, os resultados (achar bom ou ruim, ser feliz ou sofrer por isso) só passaram a existir depois que aconteceram e foram analizados pelos pessoas que os experimentaram e são questão pessoal que nada tem a ver com os fatos.

coisas acontecem.
 
eu acho o seguinte:

coisas acontecem. independente de quem você é, há um mundo ao seu redor. você não controla o mundo (alem de pequenos detalhes) e você vive nele e é influenciado por ele. achar que é sorte algo de bom acontecer e azar algo de ruim acontecer (e a outra visão de que seria alguem manipulando as coisas para que isso acontecesse) são apenas maneiras erradas de ver o seguinte: coisas acontecem. há milhoes de variáveis que influenciam cada coisa na nossa vida. alguem pode acordar puto da vida e fuzilar todos no caminho e eu posso ser uma dessas pessoas ou não. não podemos escolher tudo que vai acontecer conosco, temos que lidar com as coisas que acontecem, se for possivel. não acredito nem em sorte nem em destino, acredito que ambos são más interpertações dos dados, afinal coisas acontecem.
"Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn"

Offline Moro

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #21 Online: 18 de Janeiro de 2009, 22:57:34 »
Uili,

Não me parece que é necessário esquecer ferramentas racionais para discutirmos metafísica. Acho que podemos decidir ter uma discussão onde podemos ter uma conclusão razoável.


Acaso.

Eu decidi dar um soco em alguém. E é razoável que eu espere ter um soco de volta. Mas qual foi a razão do primeiro soco?
Podemos definir uma cadeia de eventos que seja inteligivel, mesmo que para alguém com uma mente mais capacitada? E se pudermos encontrar algo nesta cadeia de eventos que seja aleatório e que contribuiu para ela, toda essa cadeia seria então aleatória?

Se alguém atira no João, a bala desvia em um poste e atinge José, esse evento foi gerado pelo acaso ou por algo intrínseco à natureza de João e de José?
Quer dizer, a bala atingiu o poste em um determinado ângulo, o vento estava em uma velocidade X que contribui de forma determinante para a bala atingir João. Madalena ia sair de casa as 9:30 e estaria na exata trajetória da bala, à frente de João, e morreria em seu lugar. Não saiu de casa porque um vírus a derrubou.

A única coisa que poderia dar conexão a todas essas condições que fizeram a bala atingir João é um ser supremo. O acaso só não existiria se existisse um ser supremo e esse gostasse de intervir na realidade. Por isso que o citei em minha resposta anterior, ele é a única condição possível para o caso não existir.

As leis da natureza no caso do assassinato do João são eventos aleatórios. O vírus que afetou Madalena é aleatório, o vento foi um evento aleatório. O posicionamento do poste foi aleatório.
Não importa que sejamos uma máquina com bilhões de neurônios e que algum otimista queira dizer que há alguma fonte de determinismo nisto, não somos só no mundo nem este reage apenas aos nossos atos.

Podemos afirmar com um grau de certeza adequado que o acaso existe. Se o acaso não existisse, já poderíamos ter bons argumentos para a não existência do livre arbítrio.


Destino

Se o acaso existe, o destino não existe. A não ser que queiramos tomar um porre de ad hocs e mais uma vez criarmos um ser super-poderoso que jogue com o acaso, seja lá o que isso signifique.


Livre arbítrio
Para a não existência do livre arbítrio, a única coisa que deveríamos poder discutir a essa altura é: Eu posso apenas reagir de uma única forma a uma determinada causalidade?

Em informática, dizemos que uma função é determinista se ela retorna sempre o mesmo valor para o mesmo conjunto de parâmetros reais. Isto é, se eu tenho que x=f(a,b,c), se eu executo f(1,2,3) um milhão de vezes, todas as vezes X teria o mesmo valor.

Podermos afirmar que reagimos de uma mesma maneira à situações similares? A resposta simples e possível de ser respondida é "NÃO", porque todos sabem que podemos responder coisas distintas para um mesmo pedido. Para respondermos "talvez" é necessário entrarmos no terreno do esdrúxulo. Teríamos que afirmar que podemos mapear todos os "parâmetros" que nos fazem tomar uma decisão, algo como entender humor, hormônios, preconceitos, sonolência, relações com outras pessoas e seus efeitos em nós, ordens recebidas, interpretações dessas ordens, e um mundo de outros parâmetros. E que poderíamos de alguma forma entender como esses parâmetros se relacionam com nossa idiossincrasia para dar a resposta dada.

Quem poderia responder a essa questão? Novamente deus. Mas, mais importante para este contexto. Quem podería manipular esses parâmetros de uma forma a obter um resultado desejado? deus, sem dúvida.

Não há determinismo em nossas ações, somos mais um elemento gerador de acasos.
Quando afirmo que nossas decisões são tomadas por um contexto cultural, religioso, educacional, etc.. esse contexto também é aleatório.


Temos livre arbítrio


« Última modificação: 18 de Janeiro de 2009, 23:32:22 por Agnóstico »
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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #22 Online: 19 de Janeiro de 2009, 00:17:13 »
Uili,

Não me parece que é necessário esquecer ferramentas racionais para discutirmos metafísica. Acho que podemos decidir ter uma discussão onde podemos ter uma conclusão razoável aqui.

Certamente, mas acho que você está sendo muito otimista se acha que podemos chegar a uma conclusão :lol: Se chegarmos podemos escrever uma tese em filosofia com ela :P


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Acaso.

Eu decidi dar um soco em alguém. E é razoável que eu espere ter um soco de volta. Mas qual foi a razão do primeiro soco?
Podemos definir uma cadeia de eventos que seja inteligivel, mesmo que para alguém com uma mente mais capacitada? E se pudermos encontrar algo nesta cadeia de eventos que seja aleatório e que contribuiu para ela, toda essa cadeia seria então aleatória?

O fato de existir uma origem sem causa para toda a sequência já refutaria o determinismo, mesmo que todo o resto da sequencia fosse determinístico.

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Se alguém atira no João, a bala desvia em um poste e atinge José, esse evento foi gerado pelo acaso ou por algo intrínseco à natureza de João e de José?
Quer dizer, a bala atingiu o poste em um determinado ângulo, o vento estava em uma velocidade X que contribui de forma determinante para a bala atingir João. Madalena ia sair de casa as 9:30 e estaria na exata trajetória da bala, à frente de João, e morreria em seu lugar. Não saiu de casa porque um vírus a derrubou.

Perfeito, é um monte de causas deterministas para o evento.

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A única coisa que poderia dar conexão a todas essas condições que fizeram a bala atingir João é um ser supremo. O acaso só não existiria se existisse um ser supremo e esse gostasse de intervir na realidade. Por isso que o citei em minha resposta anterior, ele é a única condição possível para o caso não existir.

Aqui eu já não entendi mais o seu raciocínio. Todos esses eventos que você mencionou já estavam naturalmente conectados por uma sequencia lógica de causalidade. O ser supremo nesse caso é inútil, a não ser que fosse no sentido de intervir para que a bala não atingisse o alvo, um milagre. Por isso eu chego à conclusão oposta, um ser supremo seria uma forma de o acaso existir, o ser supremo poderia tomar decisões ao acaso e intervir ao acaso, ou seja, sem motivo algum.

Mas seres supremos não são a única forma de o acaso existir. Na verdade, segundo certas interpretações da mecânica quântica, como a de Copenhagen o acaso tem que existir, há eventos que ocorrem em termos de probabilidades, e não como consequências unívocas de causas específicas.

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As leis da natureza no caso do assassinato do João são eventos aleatórios. O vírus que afetou Madalena é aleatório, o vento foi um evento aleatório. O posicionamento do poste foi aleatório.

Estamos tendo uma confusão de terminologia aqui. Se aleatório quer dizer "com causas, porém essas causas fogem ao nosso controle e ao nosso conhecimento" então sim, esses eventos são aleatórios e é óbvio e trivial que o acaso existe, não precisaríamos estar tendo essa discussão. Essa é a versão de "aleatório" para um mundo determinista. Porém, o conceito de aleatório em que estou pensando é de efeito sem causa mesmo.

No nível macrscópico pode parecer absurdo falar em efeitos sem causa, mas na mecância quântica isso pode ser uma realidade. Um exemplo é o das partículas virtuais, que brotam aos pares no espaço vazio aparentemente do nada. Outro é o decaimento radiativo de um núcleo, que também é aparentemente aleatório (que os físicos, por favor, me corrijam se eu estiver errado). Existem diversas interpretações para esses fenômenos, algumas são indeterministas e afirmam que existem sobreposições de estados que colapsam para um estado aleatório após se executar uma observação, existem interpretações deterministas, que falam em variáveis ocultas (desconhecidas) que determinam os fenômenos, e existe também a famigerada interpretação dos muitos mundos, que você tanto odeia :lol: E a parada está longe de ser resolvida.

Também cabe perguntar se o fato de o mundo quântico ser indeterminado ou não afeta o mundo macrscópico. Talvez mesmo que ele seja indeterminado, que o acaso exista no mundo quântico, isso não afete o mundo macroscópico.

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Não importa que sejamos uma máquina com bilhões de neurônios e que algum otimista queira dizer que há alguma fonte de determinismo nisto, não somos só no mundo nem este reage apenas aos nossos atos.

Ainda cabe perguntar se o resto do mundo, que interage conosco, é determinado ou não. O problema persiste.

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Podemos afirmar com um grau de certeza adequado que o acaso existe. Se o acaso não existisse, já poderíamos ter bons argumentos para a não existência do livre arbítrio.

Depende da sua definição de acaso. Pela que você parece estar usando, sem dúvida que o acaso existe. Mas eu não estou tão convencido de que o acaso existir é melhor para defender a existência do livre arbítrio do que ele não existir. Suponha que você tomasse todas as suas decisões baseado na jogada de uma moeda, e que o resultado da moeda fosse resolvdi pelo acaso. Você seria livre? Claro que não. Esse seu modelo de livre arbítrio não é melhor, a única diferença é que os "arremessos de moeda" estão dentro da sua cabeça, no modo como você toma decisões.

Existem várias definições de livre-arbítrio dependendo da abordagem, algumas evitam esses problemas. Se tiver curiosidade dê uma olhada na Wikipedia em inglês.

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Se o acaso existe, o destino não existe. A não ser que queiramos tomar um porre de ad hocs e mais uma vez criarmos um ser super-poderoso que jogue com o acaso, seja lá o que isso signifique.

Exatamente, as duas possibilidades são mutuamente exclusivas.


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Livre arbítrio
Para a não existência do livre arbítrio, a única coisa que deveríamos poder discutir a essa altura é: Eu posso apenas reagir de uma única forma a uma determinada causalidade?

Há definições de livre-arbítrio que vão contra a sua. Há deterministas que definem o livre-arbítrio de uma forma parecida com a força de vontade, ela seria sua capacidade de agir baseado no seu julgamento. Um exemplo é o caso do fumante que quer parar de fumar, seu julgamento é que ele deve parar, mas ele tem inclinações naturais que o atrapalham muito de seguir a sua decisão, portanto o fumante tem uma quantidade pequena de livre-arbítrio nessa questão. Mesmo que já estivesse determinado pelo "destino" que sua tentativa ia ser bem-sucedida, que ele não tivesse como não falhar, ainda assim, por essa definição ele teria livre arbítrio. Existem outras definições ainda. Sobre isso leia sobre Compatibilismo.

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Em informática, dizemos que uma função é determinista se ela retorna sempre o mesmo valor para o mesmo conjunto de parâmetros reais. Isto é, se eu tenho que x=f(a,b,c), se eu executo f(1,2,3) um milhão de vezes, todas as vezes X teria o mesmo valor.

Podermos afirmar que reagimos de uma mesma maneira à situações similares? A resposta simples e possível de ser respondida é "NÃO", porque todos sabem que podemos responder coisas distintas para um mesmo pedido. Para respondermos "talvez" é necessário entrarmos no terreno do esdrúxulo. Teríamos que afirmar que podemos mapear todos os "parâmetros" que nos fazem tomar uma decisão, algo como entender humor, hormônios, preconceitos, sonolência, relações com outras pessoas e seus efeitos em nós, ordens recebidas, interpretações dessas ordens, e um mundo de outros parâmetros. E que poderíamos de alguma forma entender como esses parâmetros se relacionam com nossa idiossincrasia para dar a resposta dada.

Estamos supondo que é possível mapear todas as variáveis, se não a discussão sobre determinismo versus indeterminismo não faz sentido. E essa resposta "NÃO" não é tão simples assim não. Para começar porque as variáveis não são todas iguais nessas situações similares. O tempo, para começo de conversa é diferente. E você não pode ver uma pessoa reagindo de mais de uma maneira diferente sob as mesmas condições e ao mesmo tempo, somos limitados a agir de somente uma maneira diferente por tempo. Se todo dia como pão com manteiga no café da manhã, mas amanhã não tomo, isso não quer dizer que minha mente funciona aleatoriamente. Eu posso simplesmente, por uma causa completamente determinista, ter enjoado de pão com manteiga.

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Quem poderia responder a essa questão? Novamente deus. Mas, mais importante para este contexto. Quem podería manipular esses parâmetros de uma forma a obter um resultado desejado? deus, sem dúvida.

Nisso eu concordo com você.

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Não há determinismo em nossas ações, somos mais um elemento gerador de acasos.
Quando afirmo que nossas decisões são tomadas por um contexto cultural, religioso, educacional, etc.. esse contexto também é aleatório.

Nisso eu discordo. Todos esses contextos podem em tese ser determinados. Mas, claro, mais uma vez as nossas definições conflitantes de "aleatório" comprometem a discussão. Dependendo da semântica da palavra, nós dois estamos certos ao mesmo tempo.

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Temos livre arbítrio

Depende de como você define livre-arbítrio também. E da natureza da realidade :P

Offline Gigaview

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #23 Online: 19 de Janeiro de 2009, 01:36:26 »
Livre-arbítrio é a ideia de que podemos escolher entre alternativas a partir de pensamentos independentes de qualquer coisa.

Portanto, não é possível admitir o livre-arbítrio sem admitir que existe uma entidade separada e independente do corpo. Nesta perspectiva, as escolhas entre alternativas não poderiam ser causadas por eventos físicos, mas deveriam emergir de algo indescritível e longe da influência do funcionamento do organismo.

Logo, o conceito de livre-arbítrio tem relação direta com o conceito de alma, sede do "eu", dos pensamentos e sentimentos. Isto implica também que o livre arbítrio não pode ter evoluido por seleção natural, pois estaria diretamente ligado a um fluxo de eventos físicos.

Consequentemente, a ideia de livre arbítrio ainda não está ao alcance da Ciência pois ele depende da prova da existência da alma.




Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

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Offline uiliníli

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Re: Acaso X Destino
« Resposta #24 Online: 19 de Janeiro de 2009, 03:55:50 »
Livre-arbítrio é a ideia de que podemos escolher entre alternativas a partir de pensamentos independentes de qualquer coisa.

Portanto, não é possível admitir o livre-arbítrio sem admitir que existe uma entidade separada e independente do corpo. Nesta perspectiva, as escolhas entre alternativas não poderiam ser causadas por eventos físicos, mas deveriam emergir de algo indescritível e longe da influência do funcionamento do organismo.

Logo, o conceito de livre-arbítrio tem relação direta com o conceito de alma, sede do "eu", dos pensamentos e sentimentos. Isto implica também que o livre arbítrio não pode ter evoluido por seleção natural, pois estaria diretamente ligado a um fluxo de eventos físicos.

Consequentemente, a ideia de livre arbítrio ainda não está ao alcance da Ciência pois ele depende da prova da existência da alma.


Perfeito, Giga :clap: , mas ainda existem cientistas e filósofos que tentam encontrar um lugarzinho para o livre-arbítrio na ciência. Acontece que as definições que eles dão para livre-arbítrio são bem diferentes da que você mencionou. Free-will in science.

 

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