Eu não discordo totalmente da resposta, mas acho que apenas isso não explica toda essa situação.
Para ser sincero, estou estudando a história das Américas para chegar a um entendimento do porquê certas particularidades acontecem apenas por aqui.
Até o momento não tenho conclusão nenhuma, a não ser que ainda é muito em voga a idéia de uma certa vergonha ancestral por sermos o que somos.
O Brasil é o único território nas Américas - exceto talvez o Canadá, as Guianas, o Alasca e a Lousiana, que por vários motivos não seguiram rumo semelhante - que já foi parte de um império eurocêntrico. E com certeza o único que além de já ter sido sede de uma dessas Cortes, ainda foi por décadas um Império independente.
Claro, há todo o restante da América Latina, mas a coroa espanhola seguia uma política de dividir para conquistar que resultou nos diversos países atuais, em marcado contraste com a estratégia portuguesa que chegou a trazer o Imperador para residir aqui permanentemente.
Ironicamente, o resultado é que hoje em dia países como Argentina e Chile enfatizam o quanto podem a sua herança e influência européia. Enquanto isso, o Brasil herdou uma mentalidade predatória-imperialista de Portugal, que ficou tão aderida a ponto do brasileiro típico
não conseguir imaginar que haja alguma outra possível.
Outro agravante são as riquezas naturais do país. Desde o início, a colonização portuguesa no Brasil era composta basicamente por piratas, saqueadores, pelegos e outros aventureiros de integridade moral duvidosa. Só no Sul houve alguma exceção digna de nota, graças à imigração de europeus de origens menos imperialistas e mais íntegras - e, mais tarde, de orientais.
Mas de uma forma geral, e já há várias gerações, o brasileiro se acostuma desde cedo a valorizar a aparência de importância, riqueza e influência, mas via de regra chega até o fim da vida sem entender como se chega a de fato merecê-las ou conquistá-las. Como a comunidade simplesmente não tem conhecimento de modelos mais produtivos e mais legítimos de organização política e de cidadania, isso tende a passar despercebido.
Por isso até hoje há quem diga que Getúlio Vargas "criou" os Direitos Trabalhistas, por exemplo - quando em um país mais familiarizado com o conceito de cidadania se diria que ele propôs uma formulação para os mesmos, por exemplo. Por isso até hoje pão e circo são uma estratégia vencedora para as campanhas políticas, inclusive nas assim chamadas elites sociais. E por isso o brasileiro tende a ser xenófobo e não saber que o é: porque acha que os cidadãos de outros países são tão desonestos e predatórios quanto nós próprios.