É engraçado como parece que todo mundo (me incluam) pára de usar o cérebro pra debater política aqui. O resultado, vocês já sabem...
Então, a quem gosta de debater em trocentas mil páginas sem conclusão nenhuma o que poderia ser debatido em algumas, com conclusões, vão aí as dicas. Exageradas, para efeito cômico.
Servem a todo o espectro político e econômico por aqui, ok?
1. Use as palavras "bom", "mau".Use-as. Por todo canto. Ambas as palavras têm a ver com regras morais, que variam bastante de pessoa para pessoa. Assim, você vai ter a certeza que todo mundo vai distorcer o que você fala, já que o conjunto de regras morais dos outros é diferente do seu.
Os pressupostos vão ficar escondidos. Ótimo! Legal! Excelente!
Por que vou dizer "prefiro propriedade coletiva por isto e aquilo" se posso balir "propriedade coletiva é BOOOOOA"?
Por que vou dizer "prefiro propriedade privada por isto e aquilo" se posso balir "propriedade coletiva é MÁÁÁÁÁ"?
O mais melhor de bom [sic] disso é que você vai ter a certeza de reproduzir o que a gente costuma criticar nos proselitistas religiosos: apelo emotivo.
Você também pode usar falsa dicotomia em tudo quanto é canto dessa forma! Que tal? Basta dizer "quem defende X é bom e o resto é tudo um bando de crápulas, mau mesquinho e cruel!"
2. Use as palavras "capitalismo", "socialismo", "comunismo" indiscriminadamente, e sem dar a definição. Se as dicotomias morais não são suficientes, faça mais!
Assim você pode alinhar todo e qualquer comunista a Stalin, pode alinhar todo e qualquer capitalista a Bush, debater por páginas inteiras e não chegar a conclusão.
Tem o conveniente, também, da guerrinha de definições:
*URSS foi comunista, sim ou não?
*Roma Antiga foi capitalista, sim ou não?
*GNU/Linux é bom (lembre do ponto 1!) por ser comunista? Sim ou não?
*Microsoft é ruim (ponto 1!) por ter táticas anti-capitalistas ou por ser capitalista?
*Papai Noel é comunista, capitalista, ou é só um velho gordo chegado numa rena?
3. Distorça tudo que vier de pessoas que são de opinião contrária.Eu sou bom, você é mau. Isso me dá o direito de distorcer tudo o que você fala pra parecer ridículo. Simples, não?
Se alguém lá no canto falar "esforço coletivo", entenda como "coletivização forçada através de uma ditadura".
Se alguém do outro canto falar "competição de idéias", entenda como "caça às bruxas".
Você vai usar espantalho pra caralho, e daí? Aproveite pra arrematar uns prosélitos. Falando nisso...
4. Monte sua igreja.No hinduísmo, devas são deuses e asuras são demônios.
No zoroastrismo, asuras são deuses e devas são demônios.
Tá, simplifiquei as coisas, mas é isso que vocês vão fazer.
Qual a graça de discutir política sem ser adepto de uma religião? Tem três a escolher:
Igreja Revolucionária do Reino de Marx.Nela, você deve render tributos a Marx e aos seus livros, que são todos sagrados e inquestionáveis. Deve esquecer completamente que foram um produto humano. Marx falou? Aaaaaamééééén...
Rand?????
Personificação da anticrista!!!!!!!!!!! Todos os livros dela devem ser queimados (junto com os do Popper), e o nome dela é tabu! (ah, e escrito só como "Dona R.").
O Mercado é Meu Pastor e Capital não Faltará.Se Marx falou, tá errado. É indiscutível. Os livros de Marx são intocáveis, devem ser queimados também, odiados, e qualquer seguidor do Senhor M. deve ir para a fogueira.
Bruxos comunistas, ergo minha espada contra vocês!Se tá contra Marx, tá certo. Especialmente se vir do Panteão, que inclui todo e qualquer pessoa bastante conhecida que fale de Marx
negativamente.
Assembléia do Centro.Quê? Acham que as igrejas se resumem aos extremos? Há igreja centrista também! Pode não ser tão popular quanto as duas acima, mas um dia todos saberão de nossa Verdade Verdadeiramente Verdadeira!
Aparem as arestas! Aparem as arestas! A gente não concorda às vezes com a Esquerda Maldita, nem com a Direita Maldita. A gente discorda de ambas ao mesmo tempo! Como, eu pergunto
COMO a gente vai concordar com os baba-ovo do [insira aqui qualquer político, de esquerda ou de direita, de preferência ditador]?
Evite de racionalizar sobre os extremos, a Verdade Verdadeira está no centro e todos saberão! Mwahahaha!
5. Adolfinho e seu io-iô.Era uma vez, em algum lugar da Áustria, um menino chamado Adolfinho. Ele tinha um io-iô.
O menino Adolfinho queria ser pintor. Todos seus quadros, eram sobre seu brinquedinho, que ele amava tanto.
Um dia chegou um homem mau, muuuuuuuito mau e quebrou o io-iô de Adolfinho.
E a criança que comia toda a salada se tornou um ditador mau, muito mau, pior que o tal homem.
Triste com o mundo, e por perder o show do Fresno, Adolfinho jogou uma praga antes de se suicidar:
Ó mundo cruel! Deixaram que quebrassem meu io-iô. Todos pagarão por isso!
A partir da data da minha morte, eu estarei onipresente em toda discussão política ou econômica.
E mais: para simbolizar meu brinquedo querido, meu nome será jogado para lá e para cá, tal qual um io-iô, e me aliarão a todos os teus opositores.
Todos acharão que estou no outro lado, mas na verdade, eu sou onipresente!!!! MWAHAHAHAHA!!!
Essas passagens de Adolfinho estão bem claras. Toda vez que você quiser ridicularizar um argumento, Adolfinho vai ajudar, basta você dizer que ele é aliado do seu oponente.
6. O que você não pode fazer.Não seja simples! Não coloque as definições do que você fala! Não esqueça o nome de Hitler! Não seja objetivo! Não esqueça de usar vocabulário que só seu grupo entende!
(Observação: a parte
em azul adicionei depois de revisar o texto. O resto não foi alterado.)