Ação e reação: Richard Dawkins estimula rejeição ao evolucionismo na InglaterraÀ primeira vista parece coisa de doido, mas é o que a Folha de S.Paulo deu no domingo (matéria apenas para assinantes; agradeço ao Wagner Marchiori por me passar o texto): uma pesquisa do think tank Theos e do Instituto Faraday, da Universidade de Cambridge, detectou uma grande adesão ao design inteligente e ao chamado "criacionismo da Terra Jovem", segundo o qual a Terra não teria mais de 10 mil anos de idade.
O estudo se chama Rescuing Darwin e pode ser acessado em PDF aqui. Embora os diretores das duas entidades envolvidas na pesquisa acreditem que exista muita confusão entre a população sobre o que exatamente seja evolucionismo, design inteligente e criacionismo, eles apontam três causas principais para a crescente rejeição às teorias de Darwin. A mais interessante é a última delas; confira neste trecho do texto de Sylvia Colombo:
A terceira seria o "desfavor que vêm fazendo à ciência os ditos intelectuais neodarwinistas". Entre eles, o principal culpado seria o também britânico Richard Dawkins, autor de O Gene Egoísta e Deus, um Delírio (Companhia das Letras), que, por meio das ideias de Darwin, defende o ateísmo.
"Não é sua intenção, mas ao fazer campanha pró-evolução, Dawkins tem estimulado a ascensão do criacionismo neste país. Sua mensagem, repetida de modo simplório em igrejas, mesquitas e sinagogas, é a de que 'a evolução significa ateísmo', ao que os fiéis são levados a responder: 'Bem, não aceitamos o ateísmo, então também não apoiamos a evolução'."
Segundo ele, ["ele" é Denis Alexander, diretor do Instituto Faraday] ao lutar contra algo com violência, Dawkins estaria estimulando um comportamento extremo oposto. "Um fenômeno social muito comum na história das ideias", conclui Alexander.
James Williams, estudioso de ciência da educação da Universidade de Sussex, concorda. "Dawkins é um intelectual a ser respeitado, mas exagera em suas interpretações. Para ele, se você acredita em algo, isso é suficiente para que você seja considerado um idiota. Elimina a ideia de que evolução e crença em Deus possam andar juntas. Tenta provar que Deus não existe, mas não pode fazer isso. Desse modo, provoca uma reação violenta, que acaba dando força ao criacionismo", diz o pesquisador.

Ônibus ateísta na Inglaterra: nem todo mundo está embarcando nessa.
Não sei se vocês lembram da história do ônibus ateísta, também na Inglaterra, e também com a participação de Dawkins. Pois é, quando os ônibus começaram a rodar, alguns líderes religiosos britânicos chegaram a dizer que Dawkins e seus militantes estavam fazendo um serviço à causa religiosa, ao colocar as pessoas para pensar sobre Deus. Alguém aí lembrou de ação e reação?
Gazeta do Povo - Marcio Campos