Autor Tópico: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados  (Lida 3932 vezes)

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Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Online: 01 de Março de 2009, 17:00:19 »
http://www.diariodopara.com.br/noticiafull.php?idnot=32107



Cerca de 10% da população brasileira, ou seja, 18 milhões de pessoas estão com algum tipo de dívida financeira. Deste universo, a classe C é que mais está presa a compromissos que já não pode mais solucionar, apontam dados referentes a um balanço de 2008 feito pelo Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), com sede em Brasília (DF).

O chamado “superendividamento” é hoje o principal problema decorrido do excesso de crédito oferecido recentemente pelo mercado brasileiro. Para o Ibedec, que lançou recentemente a Cartilha do Consumidor – Edição Endividados, o resultado foi um verdadeiro desastre nos orçamentos de muitos brasileiros.

“Antes as pessoas pagavam a 40ª e 42ª parcelas de um financiamento de um carro. Hoje elas já estão endividadas no pagamento da terceira”, diz José Geraldo Tardin, presidente do Ibedec. Para o instituto, o país precisa investir em educação financeira. “Houve uma expansão do crédito, mas faltou consciência das pessoas na hora de contrair as dívidas. Tem gente que ganha R$ 1.200 e deve R$ 40mil”, critica Tardin.

A pesquisa que baseou a elaboração da cartilha do Ibedec revelou ainda outros dados preocupantes. Muitas pessoas que não dispõem das quantias devidas para saldar suas dívidas têm apelado às drogas para esquecer o problema. Outra constatação negativa foi o crescimento de idosos superendividados: eles contraem dívidas em seu nome, por meio do sistema de consignação – desconto em contracheque -, mas em grande parte dos casos o dinheiro é usado por parentes.

O Procon conceitua superendividamento “como a impossibilidade global do devedor, pessoa-física, consumidor leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo”. A Cartilha do Consumidor do Ibedec orienta a elaboração de contratos e cartas para acordos, enumerando direitos em relação a serviços e produtos. O material já está na web, no site www.ibedec.org.br .

Defensoria pública atende consumidores compulsivos

Confissão de dívida e acordo entre as partes. Essa é a finalidade da “Concordata Cidadã”, um projeto-piloto da Defensoria Pública do Estado que vem atendendo casos de dívidas contraídas em busca de solução para os problemas. O trabalho está ligado ao Núcleo Especializado de Mediação e desde outubro do ano passado já soma cerca de 40 processos protocolados com pedido de conciliação.

Segundo a coordenadora do projeto, a defensora Léa Cristina de Siqueira Serra, o atendimento envolve conflitos caseiros. “São processos que envolvem vizinhos, parentes, pessoas comuns. Conversamos com as partes. Reunimos o superendividado, os credores e fazemos a conciliação”.

A Defensoria também já vem prestando ajuda psicológica e assistência social aos chamados consumidores compulsivos. “Tivemos aqui o caso de uma mulher que acusou a compulsividade e nos pediu ajuda. Cerca de 10% dos atendidos já apresentaram essa característica”, contabiliza a defensora Léa Serra.




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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #1 Online: 01 de Março de 2009, 17:10:09 »
Eu não chamaria a maioria destes individados de consumidores de "boa-fé". A maioria é de irresponáveis mesmo. Somente uma parte (pequena) está em sérias dificuldades, ou insolventes, por razões que fugiram de suas alçadas...
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Offline FxF

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #2 Online: 01 de Março de 2009, 18:12:25 »
Aí eu me pergunto se as leis de proteção de seus bens são boas ou ruins... imagino que seja cruel (vai fazer um mal direito em muita gente), mas talvez sirvam para educar a população... por exemplo nos EUA não tem negócio de "bens de família" ou se você não pagar seu imposto o governo tira da sua conta do banco sem permissão, etc... ou será que isso não resolveria nada?

Também é cultural... acontece, por exemplo, do sujeito estar devendo 10 mil, e quando consegue um amigo para emprestar dinheiro para pagar a outra dívida, aproveita para pedir 13 mil e compra um anel para a esposa...

Offline Blue

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #3 Online: 01 de Março de 2009, 19:11:20 »
Eu não chamaria a maioria destes individados de consumidores de "boa-fé". A maioria é de irresponáveis mesmo. Somente uma parte (pequena) está em sérias dificuldades, ou insolventes, por razões que fugiram de suas alçadas...

Eu tenho um primo que é exatamente assim.

Ele suja o nome dele, da mulher e da mãe. Depois ele espera cinco anos e começa tudo de novo.

E ainda teve a capacidade de em 2 meses já ter uma divida de uns 25 mil reais com o Santander.

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #4 Online: 02 de Março de 2009, 15:19:24 »
Infelizmente, nossa Lei induz a má-fé. O fato de uma dívida prescrever já fornece a pessoa uma saída. Por tanto, assim como se menciona no texto: "... Tem gente que ganha R$ 1.200 e deve R$ 40mil ...", enquanto houver crédito fácil e uma Lei branda, haverá mais e mais inadimplência. De qualquer forma, não há uma lei que controle mau-caráter.


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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #5 Online: 02 de Março de 2009, 16:08:46 »
Eu não chamaria a maioria destes individados de consumidores de "boa-fé". A maioria é de irresponáveis mesmo. Somente uma parte (pequena) está em sérias dificuldades, ou insolventes, por razões que fugiram de suas alçadas...

Eu tenho um primo que é exatamente assim.

Ele suja o nome dele, da mulher e da mãe. Depois ele espera cinco anos e começa tudo de novo.

E ainda teve a capacidade de em 2 meses já ter uma divida de uns 25 mil reais com o Santander.

Neste caso ele não é só irresponsável, mas também criminoso...
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Offline Gaúcho

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #6 Online: 02 de Março de 2009, 17:44:03 »
É crime isso?
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Offline Partiti

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #7 Online: 02 de Março de 2009, 21:45:15 »
Não é não, depois de 5 anos no SPC o nome de qualquer um fica limpo, independente do valor da dívida. A legislação brasileira protege bastante o devedor, muito ao contrário da americana, por exemplo, daí o motivo dos bancos sempre tentarem negociar dívidas do que simplesmente executar e pronto, demora anos para você tentar receber alguma coisa na justiça.
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Offline Moro

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #8 Online: 02 de Março de 2009, 22:36:21 »
Isto é fato. Já trabalhei em instituições financeiras e isso realmente ocorre.

Se o sujeito tem estômago para aguentar ficar com o nome sujo, que faça uma boa dívida, preferencialmente de algo que não possa ser tomado, e aguarde cinco anos.

Se quiser, após o banco provisionar seu débito como prejuízo (180 dias sem pagamento algum de uma prestação atrasada), você pode ligar e negociar pagando com um desconto inclusive sobre o principal.

Os bancos ganham demasiado dinheiro, mas a falta de marcos decentes fazem com que eles consigam prorrogar a discussão sobre quem é o culpado pelo altíssimo juro, as leis ou eles.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #9 Online: 02 de Março de 2009, 22:55:13 »
Eu já acho que o juros no Brasil é alto por um motivo cultural, gerado meio que num círculo vicioso:

As pessoas fogem de juros como o diabo da cruz, porque eles sempre foram altos nesse país. Isto por sua vez faz com que apenas os bastante necessitados tomem empréstimos, estes que não estão ligando muito para juros.

O que faz com que os bancos não ganhem em volume financiado ao abaixar gradualmente os juros, nem com que percam muita coisa aumentando, logo a estabilidade em juros altos, já que é mais vantajoso para quem empresta e indiferente para quem toma, já que estão desesperados.

Um banco não abaixa o spread de uma vez por medo, com certa razão, que todos os maus pagadores migrarão para o seu banco, aumentando o calote e quebrando o banco.

A única saída que eu vejo desse regime de altos juros para o consumo é o bureau positivo e maiores recompensas ao bom pagador, aliado a uma mudança cultural forte, similar a que houve no Plano Real.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #10 Online: 03 de Março de 2009, 07:37:29 »
na verdade havia argumentado sobre uma das desculpas que os bancos dao.
para mim, o maior motivo do juro alto eh que temos um tomador de empredtimo compulsivo e com risco 0. O governo. Um expressivo volume de recursos vai para financiar o estado
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #11 Online: 03 de Março de 2009, 09:27:26 »
A taxa de juros que o governo paga é bem menor que a de pessoa física, o governo paga por volta de 12% ao ano, enquanto no cheque especial temos algo na ordem de 100-200% ao ano. Se a diferença é o risco, sinal que só quem não paga que deve estar entrando no cheque especial...
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #12 Online: 03 de Março de 2009, 09:52:21 »
É crime isso?

Dependendo da conduta dele, como ele fazer empréstimos em nome de terceiro com intuito de não pagar pode configurar estelionato. Provar é difícil, mas cabe bem para ele o rótulo de criminoso.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #13 Online: 07 de Março de 2009, 01:32:16 »
A taxa de juros que o governo paga é bem menor que a de pessoa física, o governo paga por volta de 12% ao ano, enquanto no cheque especial temos algo na ordem de 100-200% ao ano. Se a diferença é o risco, sinal que só quem não paga que deve estar entrando no cheque especial...

partiti, um empréstimo ao governo brasileiro é um sonho. Os juros são altos, o risco é zero. Não é uma operação massiva, não demanda agências, não demanda propaganda na TV, não demanda cobradoras, não demanda custos operacionais altos, operações contábeis, logística de dinheiro nas agências, é fantástico.

E o problema é que os governos federais, estaduais e municipais juntos tomam a maior parte do dinheiro dos bancos (estou procurando a fonte ainda... me lembro que é um percentual bem alto)

Outro ponto é o alto compulsório no brasil. Cerca de 60%. Nos estados unidos não passa de 10%, na alemanha é menos do que 5%.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #14 Online: 07 de Março de 2009, 14:09:15 »
O compulsório está em 45% agora, mas é muito realmente. Porém isto tem um efeito de garantir mais os empréstimos e evitar a quebradeira que está acontecendo no mundo.

Quanto ao empréstimo pro governo, você está só considerando os custos operacionais, além do risco. Então um dado para você, os índices de eficiência (custos sobre receita bruta) de bancos estão por volta de 40 a 50%, o que implica que metade do spread vai para pagar custos. Logo temos um spread líquido de custos operacionais de uns 100-150% ao ano., comparado com o custo de oportunidade de aplicar no governo de 15%

Quanto ao volume de crédito, isso nunca foi um grande problema nos bancos brasileiros. Eles sempre lucraram muito, porém sempre separavam uma grande parte desse lucro para reaplicar no negócio, aumentando o volume. Não me lembro de problemas restritivos de crédito em nível global, sempre o problema era mais relacionado ao risco.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #15 Online: 07 de Março de 2009, 16:13:55 »
O compulsório garante que a quantidade de dinheiro que gira no mercado é próxima ao que realmente existe na economia, e seu cálculo deveria levar em consideração a capacidade que o país tem de absorver este capital alavancado e honrar com essas obrigações.

O DDV colocou um bom texto sobre o fator de encaixe aqui: ../forum/topic=17494.125.html#msg364935

Vamos lá. Mas esse spread citado inclui os empréstimos realizados ao governo principalmente na forma de compra de títulos não? Você sabe qual porcentual do caixa disponível os bancos emprestam ao governo?
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #16 Online: 07 de Março de 2009, 17:15:53 »
Sim, o compulsório restringe a capacidade de emprestar da economia, resultando numa PG básica. É uma forma de controlar o nível de alavancagem da economia, de forma imediata.

O spread que eu estou citando é o relativo ao consumidor. A única forma que o governo entra no custo disso é com impostos (40% de IR  mais uns 7% de pis/cofins/iss) e com custo de oportunidade, o que limita o LAIR mínimo de uma carteira interessante a uns 12-13% (Ganho com CDI). Como o spread ao consumidor está na ordem dos 100%, podemos ver que o risco da operação que é o maior gargalo.

Quanto ao volume que a tesouraria dos bancos aplica em títulos públicos, isso se deve muito mais a um fator mitigador de riscos do que ganho propriamente dito. Por causa de acordos internacionais de risco (Basiléia II principalmente), um banco tem que garantir com alguma chance todos os depósitos que possui. Logo grande parte do ativo do banco tem que estar aplicado em ativos de baixo risco de prazo curto, para a carteira global do banco estar abaixo de um determinado nível de risco. Foi isso que os bancos americanos não fizeram, provisionaram-se de forma totalmente equivocada, tentando ganhar spread sem considerar o risco, resultando nessa crise.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #17 Online: 07 de Março de 2009, 17:57:02 »
Partiti, o que estou citando é isso:


Citar
A manutenção de juros altos não interessa a ninguém, nem mesmo às instituições financeiras, ao contrário do que querem fazer entender alguns analistas apressados e aqueles que acreditam que os bancos são os responsáveis pelas elevadas taxas de juros. Todos sabem que juros altos inibem a atividade produtiva, restringem o consumo, aumentam o desemprego e levam a baixo crescimento. E não é esse o quadro que desejam as instituições financeiras, cujo negócio principal deve ser financiar a produção e o consumo.

Mas, diferentemente do que ocorre em outros países, onde os bancos vivem de emprestar dinheiro aos clientes, no Brasil o grande tomador de empréstimos é o governo, que precisa financiar seus enormes déficits. Os juros são altos porque o governo, maior devedor da economia, precisa pagar juros altos para obter empréstimos internos para financiar o déficit público. Se, por exemplo, o rombo da Previdência puder ser sanado, a dívida pública será menor e ficará mais barata.
http://www.febraban.org.br/Arquivo/Servicos/Imprensa/posicao26.asp

Eu vou achar o percentual. A maior parte do que os bancos emprestam vai para todas as esferas do governo.

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #18 Online: 07 de Março de 2009, 18:10:39 »
Sim, a CELIC é alta. Sim, temos o maior juros básico real do mundo. Sim, o governo é um grande tomador de empréstimos. Porém isso justifica um spread de 300%? Teríamos então 288% se o governo zerasse a CELIC?

Minha posição é que isto não se resolve com uma canetada do governo, como a maioria das coisas. Precisa de comprometimento dos bancos, da sociedede e do governo para pensar num modelo de transição de longo prazo que pare com essa aversão ao empréstimo, além de mecanismos para premiar o bom pagador com juros bem mais baixos, aliado a uma perspectiva macroeconômica estável.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #19 Online: 07 de Março de 2009, 19:19:25 »
O Brasil sempre foi péssimo no crédito para as pessoas. Agora que tem, estão reclamando que as pessoas estão individadas.
Eu mesmo tenho uma dívida no banco, por causa de um terreno que comprei. Ainda bem que pude me endividar, pois assim pude adquirir um bem que jamais poderia de outro modo. Claro, muitos não pagarão, e isto no final das contas é bom, porque tem uma função pedagógica, permitindo mostrar à maioria os riscos que se corre, e que se deve pesar se é possível. Depois, graças a esta parcela pequena de inadimplentes, será possível questionar o valor dos juros, que só vão baixar quando a concorrência for realmente séria.


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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #20 Online: 07 de Março de 2009, 20:54:15 »
Sim, a CELIC é alta. Sim, temos o maior juros básico real do mundo. Sim, o governo é um grande tomador de empréstimos. Porém isso justifica um spread de 300%? Teríamos então 288% se o governo zerasse a CELIC?

Minha posição é que isto não se resolve com uma canetada do governo, como a maioria das coisas. Precisa de comprometimento dos bancos, da sociedede e do governo para pensar num modelo de transição de longo prazo que pare com essa aversão ao empréstimo, além de mecanismos para premiar o bom pagador com juros bem mais baixos, aliado a uma perspectiva macroeconômica estável.

Não sei se consegui passar meu ponto.
Citar
Uma das principais razões para essa desproporcionalidade nos juros cobrados no Brasil é que, por aqui, é muito mais atrativo para os bancos alocar recursos para títulos da dívida pública - atrelados à taxa básica de juros da economia, a Selic, que possuem boa rentabilidade e baixíssimo risco - do que direcioná-los para crédito ao setor privado.

Demanda e Oferta. O governo enxuga os recursos dos bancos, e esses se dão ao luxo de emprestar o que resta às taxas que consideram adequadas. Não precisam batalhar tanto no mercado.
Então, no Brasil há muito mais demanda do que oferta por crédito, e o governo perdulário é parte desse problema muito antes de determinar a SELIC.

http://prof.dantas.sites.uol.com.br/conteudo_geral_site/a_midia_explica_no_do_juros.htm
Citar
No Brasil, a procura por dinheiro supera, e muito, a sua oferta. Eis aí, de maneira simples, o pecado original que faz o custo do dinheiro ser tão elevado no país. Adivinhe quem é o grande responsável por isso. Acertou: o governo. Também não é difícil acertar por que o governo faz a procura do dinheiro superar a oferta: ele toma recursos demais. Uma maneira mais técnica de ir até ponto de partida desse fenômeno é considerar a "política monetária" - expressão que vive aparecendo quando o tema está em pauta. "Política monetária" é o nome que os economistas dão ao conjunto de estratégias do governo para administrar o volume de dinheiro na economia. Essa política tem duas razões: o déficit do Estado, que exige dinheiro para ser coberto, e o combate à inflação, que veda ao governo imprimir papel-moeda para cobri-lo. "A política fiscal do governo é expansionista. Ou seja: o governo gasta muito mais do que arrecada", diz Marcelo Cypriano, economista do BankBoston. "Por isso, a política monetária tem de ser contracionista, fazendo com que o setor privado gaste menos do que ganha. Isso gera o excedente de capital que o governo precisa para se financiar."
De um lado, o aperto monetário é feito simplesmente em se mantendo os juros nominais lá em cima. Isso encarece o dinheiro para os bancos. O sistema financeiro tem a missão de fazer a ponte entre quem tem dinheiro disponível para alugar e quem precisa alugar dinheiro. Como a fome de dinheiro do governo é insaciável, sobra menos dinheiro na economia para alugar a outros possíveis tomadores. Obrigados a comprar dinheiro mais caro, os bancos, obviamente, o venderão mais caro ainda. Isso provoca uma elevação em cadeia dos juros, que não raro inviabiliza operações de crédito para os tomadores finais - indivíduos como você e empresas como a em que você trabalha.
...

O governo é um devedor contumaz. No mês de fevereiro de 2006, o rombo administrado por Brasília tinha a alarmante profundidade de 1,0 trilhão de reais em dívidas internas Numa conta aproximada, a fatura fica em quase 500 bilhões de dólares ou mais da metade do PIB. O ponto é: para financiar uma dívida desse tamanho, o governo precisa tornar a remuneração dos seus papéis atraente a ponto de desestimular os investidores a alugar seu dinheiro para outras pessoas. Pense: que banco vai emprestar para empresas que podem falir e para indivíduos que podem perder o emprego quando é possível ganhar com muito mais segurança emprestando ao governo? Começa-se a entender, aí, porque é tão grande a diferença entre a remuneração que os bancos pagam pelo dinheiro que captam - ao cidadão que aplica num fundo de renda fixa, por exemplo - e os juros que cobram quando fazem um empréstimo, financiam um cartão de crédito ou bancam um crediário.


Resumindo, no Brasil, o crédito ao consumidor no brasil é meramente uma oportunidade dos bancos faturar muito em uma parte pouco significante de sua carteira.
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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #21 Online: 08 de Março de 2009, 00:39:00 »
Sim, eu entendi seu ponto. Seu ponto é que o governo é um grande devedor, o que diminui a oferta de dinheiro, o que aumenta as taxas de juros. Sim, tudo isso é verdade, para a relação com o governo. Essa relação gera em torno de 12% de retorno sobre o capital alocado anual, 8% se considerarmos inflação.

Portanto, numa análise de viabilidade de projeto, o banco sempre tem que considerar carteiras com retornos superiores a pelo menos 12%. A regra padrão é algo de 20 a 25% de RAROC nas operações de crédito, pelo menos é o que se vê nos balanços financeiros.

Então vamos analisar um balanço financeiro, o do Itaú-Unibanco.

Temos na página 11 o detalhamento da margem financeira gerencial para os 3º e 4º semestres:

Código: [Selecionar]
4º tri 3º tri
Com Clientes 8.748 8.147
  Sensíveis a taxa de juros 1.200 1.324
  Sensíveis a spreads 7.548 6.823
Com o Mercado 1.083 1.069
  Adm. Risco Cambial
  Invest. Exterior    584    466
  Tesouraria    499    544

Logo podemos ver que a receita financeira bruta do banco vem muito mais de operações sensíveis a spreads do que com operações sensíveis a taxa. Isso é reforçado pelo saldo médio das aplicações, R$ 314 Bi e R$ 34 Bi, respectivamente.

Portanto, uma redução significativa nas taxas básicas de juros afeta pouco a estrutura de receitas dos bancos de varejo quando comparada com o risco, e mais ainda, em nada afeta as taxas praticadas pelo mercado de pessoa física. Não nego que isso abaixaria o custo de oportunidade, nunca neguei, mas se formos nos ater ao problema do tópico, que é fomentar o crédito responsável no Brasil, reduzir a taxa é muito pouco. Repito, tem-se que criar incentivos para os bons clientes, ferramentas de mitigação de risco como o bureau positivo, e um trabalho de concientização e educação junto a sociedade.

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #22 Online: 08 de Março de 2009, 19:23:09 »
Partiti, operações sensíveis a spreads pode ser empréstimos a governos (federais, estaduais, municipais)? Não me parece que o único meio dos governos se financiarem é com a emissão de papéis. Há operações de crédito também. Posso estar errado, mas lí em uma reportagem que mais de 60% do volume de crédito dos bancos vai para as esferas do governo. O que te parece esse número?
Estou me confundindo com os conceitos?


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Sim, eu entendi seu ponto. Seu ponto é que o governo é um grande devedor, o que diminui a oferta de dinheiro, o que aumenta as taxas de juros. Sim, tudo isso é verdade, para a relação com o governo. Essa relação gera em torno de 12% de retorno sobre o capital alocado anual, 8% se considerarmos inflação.

Os textos que te postei não parecem concordar com isso. Neles, a afirmação é que impacto diretamente o tomador final.


“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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Offline Partiti

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #23 Online: 08 de Março de 2009, 22:02:30 »
Bom, a idéia principal do spread é que ele é a diferença entre o preço (juros) do dinheiro que sai e o que entra. Se você ver um banco como uma "Casas Bahia" do dinheiro, o spread é o lucro bruto. O spread existe para pagar custos operacionais, liquidez e risco na operação.

Em princípio, o governo não paga spread, ele só define o custo de capital, ou seja, o mínimo que um banco aceitaria de juros numa operação qualquer. O volume, dada a estrutura dos grandes bancos no Brasil, nunca foi um grande problema, o limitador sempre foi o custo de oportunidade, ou seja, para que eu vou emprestar para alguém por menos de 12% se eu pego a 12%?

Num banco múltiplo, como o Itaú-Unibanco, como o Banco do Brasil e como o Bradesco, as operações de crédito com spread são as mais vantajosas e utilizadas, por serem bancos que já estão junto ao consumidor médio e podem utilizar dessas operações com mais liquidez. O lucro que advém de operações junto ao governo é pouco perto disso, na verdade ele é mais visto como um custo do dinheiro do que lucro.

Meu argumento é que, para o consumidor final, o custo do dinheiro é quase nada perto do spread que ele paga, que vêm muito mais do risco (muitos são os que não pagam), liquidez (o volume girado é muito baixo para o nosso PIB) e custo operacional, além de lucro dos bancos. Reduções na taxa de juros impactam muito mais operações de atacado do que de varejo, que são o objetivo do tópico.

Não nego que a taxa de juros seja um instrumento macroeconômico muito útil, que regula o nível de poupança geral da economia e o apetite dos entes de mercado de tomar ou poupar. Porém meu argumento é que, para o consumidor pessoa física final, o spread é mais determinante no preço do dinheiro emprestado.
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Offline Moro

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Re: Ibedec: Brasil já tem 18 milhões de endividados
« Resposta #24 Online: 08 de Março de 2009, 23:17:02 »
Não nego que a taxa de juros seja um instrumento macroeconômico muito útil, que regula o nível de poupança geral da economia e o apetite dos entes de mercado de tomar ou poupar. Porém meu argumento é que, para o consumidor pessoa física final, o spread é mais determinante no preço do dinheiro emprestado.

não é a selic que impacta no consumidor final Partiti, segundo os textos que coloquei. A questão é que o volume de dinheiro que os bancos emprestam aos governos é tão alta que não sobra para o consumidor final. Esse é o impacto, segundo os textos que te postei.

Vou procurar melhor o volume que os bancos emprestam ao governo. depois posto aqui
« Última modificação: 08 de Março de 2009, 23:19:05 por Agnóstico »
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