Às vezes eu acho o contrário, Barata. Eu percebo que as letras que me atraem em músicas internacionais não são tão boas quanto as nacionais, mas por pura falta de intimidade com a língua estrangeira. É como se eu conseguisse perceber menos quando se trata de uma letra estrangeira, como se fosse mais fácil me agradar com algo mais simples, entende? Acabamos achando as letras internacionais mais bonitas, as rimas menos óbvias por falta de convivência e intimidade. Não sei se consigo explicar direito.
Eu sempre digo isso quando vou criticar essas bandinhas novas que só sabem compor em inglês: é muito fácil fazer algo soar bonitinho em inglês. Quero ver quem tem peito para soltar uma música em português que esteja à disposição da compreensão de todos, não só dos que falam inglês e que já têm certo hábito de ouvir as rimas e construções do outro idioma.
É muito fácil soar genial escrevendo meia dúzia de frases em inglês rimando "you" com "do". Normalmente são frases óbvias, piegas e mal-feitas.
Acho que conseguimos avaliar melhor as letras do nosso querido português. Já convivemos com as rimas desde que nascemos, sabemos quais são óbvias e quais são realmente diferentes, e já temos uma "bagagem" para reconhecer a qualidade. (Lembrando que aqui estou criticando bandinhas BRASILEIRAS que escrevem em inglês.)
Isso que o André falou é verdade, sobre a tãão aclamada genialidade de certos ícones da MPB. Qualquer coisa que o Chico escreveu vira crítica à ditadura, qualquer coisa que o Caetano escreveu vira poesia inigualável e por aí vai. Acho isso um porre. Às vezes, parece que os idolatram não pela compreensão das letras e sim pela falta disso. Eu falo sem problemas, gosto muitíssimo do Chico e digo até que é meu compositor preferido. Não pelas músicas de protesto, mas pelas músicas de amor, que eu acho maravilhosas. Mas também gosto muito dos sambistas antigos, que TAMBÉM versavam muito bem sobre amor e sobre o cotidiano. Noel Rosa, Zé Keti, Cartola e por aí vai. Também admiro Paulinho da Viola e Martinho da Vila, que acabam sendo esquecidos quando se trata de "genialidade da MPB". As letras do Paulinho não devem nada às do Caetano ou Chico. Só que, pelo visto, é muito mais bonito falar que gosta de Chico do que de Martinho da Vila. Ridículo.
Não idolatro só os nacionais, apenas acho mais fácil reconhecer algo bom na minha língua materna do que na dos outros. Às vezes repetimos frases em inglês que achamos lindas, mas na realidade elas já são bem batidas em nosso idioma mas, por estarem com outras palavras e sonoridade, parece até que ficam novas.
Bom, falei tudo isso aqui para concluir uma coisa só: é questão de gosto. Eu posso gostar mais das letras de folk-rock do Neil Young mesmo que elas não tenham a sofisticação de outras letras, por simples afinidade ou gosto. No fim das contas, o que importa é a relação que EU tenho com a letra, e não os críticos musicais.