Sempre ouvi dizer que foram os muçulmanos que destruíram a biblioteca de Alexandria.
Não sabia que antes os cristãos já tinham feita a sua lambança também.
Religião é intolerância. Se for monoteísta pior ainda.
É interessante notar também que foram os muçulmanos que preservaram muitas obras de gregos e romanos que seriam perdidos na época da decadência europeia. Obras essas que influenciam na determinação da cultura ocidental.
Existiram duas importantes Bibliotecas de Alexandria. A primeira, a Grande Biblioteca de Alexandria teve o seu fim em 48 a.C., por incêndio, em resultado de Júlio César ter mandado queimar a frota egípcia, que estava fundeada no porto, quando se viu acossado pelo exército de Ptolomeu XIII, irmão de Cleópatra VII (a qual César favorecia), e o intenso fogo puxado pelo vento se estendeu a grande parte de Alexandria. O edifício ficou em ruínas e a maior parte das obras perdidas para sempre.
Todavia, existia um Biblioteca Filha mais afastada da costa, integrada no vasto templo conhecido Serapeum, que pode ter recebido obras que não arderam e foi crescendo ao longo dos séculos seguintes, a qual foi deliberadamente incendiada juntamente com todo o Serapeum em 391 d.C por determinação do patriarca cristão Teófilo, papa de Alexandria, que mobilizou os militares e as massas cristãs contra o paganismo na cidade, levando a cabo vastas destruições e mortes. com base em decreto ou édito do imperador Teodósio I contra todas as formas de paganismo.
A posteridade veria lendas desenvolverem-se escondendo as responsabilidades dos autores das destruições das duas Bibliotecas de Alexandria, criadas intencionalmente e depois propagadas por falta de investigação...
A fonte que usei é "Biblioteca de Alexandria, o enigma revelado" de Pablo de Jevenois, traduzido do espanhol para português pela Ésquilo edições & multimédia, em 2009. Li esta obra há poucos dias e parece-me um excelente trabalho de investigação histórica, profundamente documentado, e o autor enuncia e faz a correspondente crítica de todas as anteriores teorias sobre o que terá acontecido à Biblioteca. Começando com o que escreveu Júlio César, continuando com os autores da Antiguidade Clássica até aos outros autores que, como ele, fizerem conferências sobre o tema na nova Biblioteca Alexandrina, da qual é membro.
O responsável pela criação da Lenda Árabe relativa á destruição da Biblioteca por ordem do califa Omar, foi, segundo Jevenois, um monge copta chamado Gregório Abulfaragius que, já no séc XIII, fez interpolações em escritos árabes de Al-Qifti e de Abd al Latif. Depois, no séc XVII, o sacerdote protestante inglês Edward Pococke, conhecido arabista, seria o responsável pela divulgação da lenda na Europa, ao publicar a obra de Abulfaragius.