Antes de mais nada: investir em tecnologica nuclear não é a mesma coisa que investir em bombas nucleares. Um submarino nuclear
é apenas um submarino aperfeiçoado.
Em tese sim, se for considerado que para uma arma nuclear fazer sentido militar ela precisa de um vetor. Mas a linha que separa de um lado a construção de reator nuclear e do outro uma arma nuclear é tênue pois ambos apresentam requisitos tecnológicos semelhantes.
Acho que não devemos tomar conclusões apressadas. Primeiro: não sabemos como estará a situação geopolítica daqui a ~30 anos.
O planejamento militar estratégico de longo prazo é um dos muitos parâmetros de distinção entre uma superpotência (EUA) de um aspirante a potência
regional (Brasil). Então, o Brasil precisa definir já qual será o seu papel no cenário político-militar, porque para ser independente em tecnologia militar há a necessidade de despesas maciças durante longos períodos.
Segundo: talvez (não sei ao certo, alguem mais por dentro poderia esclarecer) um submarino nuclear possa ser mais útil e mais barato
a longo prazo do que várias fragatas.
Um submarino nuclear do tipo SSN é uma plataforma de interdição e de controle marítimo se não possuir armas nucleares, pois se assim for será uma plataforma de ataque estratégico de segunda leva, isto é, após o ataque dos ICBMs ou dos SLBMs.
As fragatas servem para controle marítimo e ou controle aéreo, mas são navios muito inferiores quando comparadas a outras unidades de superfície como 'destroyers' ou cruzadores.
Terceiro: mais do que nos prepararmos para nos defender de alguem, é preciso deixar claro para o mundo que não estamos indefesos. Claro, idealmente não deveriam haver conflitos e o Brasil é um país pacífico, mas veja o primeiro item.
O Brasil é um país pacífico porque nunca teve papel relevante no mundo, mesmo no tempo de bi-polaridade (EUA e URSS), e até o momento nunca enfrentou um conflito nas suas fronteiras, exceptuando-se é claro a derrota frente ao Uruguai, na libertação deste em 1.828, e à famigerada guerra do Paraguai, entre 1.864 e 1.870.
Acho importante contextualizar a sua expressão "deixar claro para o mundo que não estamos indefesos". Se isto for em relação a países sem capacidade mínima de projeção de poder, como Bolívia, Venezuela, Canadá e mais dezenas de outros, então acho que ela está correta.
Mas o mesmo não pode ser dito para a Rússia, a Inglaterra e a França, pois estes podem inflingir danos consideráveis nas forças armadas brasileiras e ao nosso território, sem precisar fazer uso de armas nucleares. Não cito os EUA porque aí seria uma covardia.
A propósito. Há cerca de 12 anos assisti a uma palestra do Cel. Geraldo Cavagnari, membro do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, sobre o então projeto SIVAM. Após a sua exposição, feita para um público principalmente de militares reformados, foi aberto um debate. Um dos presentes perguntou como o Brasil poderia se defender no caso de um ataque estadunidense.
A resposta de Cavagnari foi simples e precisa: "Não podemos. Um único porta-aviões estadunidense, com suas unidades de apoio, tem mais poder de fogo que todos os países da América Latina juntos. No caso deles (EUA) realmente mobilizarem seus recursos militares, nós seríamos varridos da face da Terra".
Vejam a opinião de Cavagnari quando da reativação da Quarta Frota da marinha dos EUA (
http://blogs.jovempan.uol.com.br/mundo/tag/coronel-geraldo-cavagnari/).
Quarto: não vamos cair na falácia de que "esse dinheiro poderia ser mais bem empregado em X". A realidade é que se o dinheiro não fosse
investido nessa tecnologia, provavelmente seria usado para outros fins militares ou pior.
Tudo depende se o país tem um comando civil pleno e este decide não gastar (investir, torrar) dinheiro em suas forças armadas.
E eu acho, humildemente, que falácia mesmo é afirmar que "ahhh, esta tecnologia civil só existe porque foi antes desenvolvida e aplicada no setor militar".
E por último: o que tem a ver investir em um submarino nuclear com alguma pretensão a potência? É só mais uma arma. A marinha brasileira
está sucateada e as outras armas não estão melhores, ver item 2.
Não questiono que, para um país do porte do Brasil, seus meios militares estão desatualizados e são insuficientes em termos numéricos.
Agora, se o Brasil quer ser uma potência mundial plena, terá que investir no setor militar, e dos meios marítimos, os porta-aviões e os submarinos nucleares são os melhores elementos de projeção de poder, dissuasão e controle. Sem dúvida.