Acabei de ler esse conto aqui (
http://www.scribd.com/doc/18011970/Negrinha-Monteiro-Lobato-Completo), só pra me certificar de não sair dizendo asneiras. Há sim trechos racistas, que se enquadram perfeitamente dentro do contexto social da época (alguém surpreso?), há também uma descrição cheia de ironia da patroa, uma forte associação dessa personagem com a Igreja e trechos escancarados de sadismo e exploração infantil. O que li me parece um excelente texto para ser lido e debatido em sala de aula. Especialmente se considerarmos que está no programa dos 8º e 9º anos do ensino fundamental. As “crianças” que o lerão terão entre 14 e 15 anos. Se os professores não tiverem condições de abordar de forma proveitosa o contexto em que esse conto foi escrito e/ou os alunos não tiverem condições de entender isso... a situação do ensino está pior do que imaginava.
Quanto a acusação de sexismo acredito que se refira a esse trecho:
“Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos
divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos
filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.”
Eu poderia simplificar dizendo que também se trata de uma questão contextual. Mas não farei isso porque não vejo sexismo algum. Interpreto a partir desse trecho que quando crianças, ao brincar com bonecas, seja exercendo o papel de mãe ou se projetando nelas, as meninas começem a tomar consciência de seu gênero e que o momento da maternidade seja definitivo e mude a mulher, que ganha o status de mãe, aumentando a complexidade de suas relações familiares e sociais. Não vejo problema nenhum.
Aliás, como mulher, fico irritada quando aparece algum(a) feminista pregando que as mulheres devem suas características essencias de seu gênero em nome da “igualdade entre os sexos”. Nós precisamos e já temos igualdade em direitos civis e, verdade seja dita, muitas vezes as mulheres são favorecidas.