Sendo extremamente sincero, pessoalmente eu sempre achei Monteiro Lobato uma grande porcaria. Não creio que seria nenhuma catástrofe a juventude viver sem ele. Entretanto, eu sou contra a censura, livro nenhum deveria ser proibido, por mais absurdo que seja o seu conteúdo. Entretanto de novo, o Ministério da Educação tem o dever de impedir que livros impertinentes para a educação das crianças sejam recomendados pelas escolas (acho que todo mundo concorda que Mein Kampf, por exemplo, deve ficar fora das bibliotecas escolares). Nesse sentido, eu sou favorável a retirar Monteiro Lobato ou pelo menos os seus livros que contenham trechos que firam a auto-estima de crianças negras.
Toda essa discussão sobre o valor literário e a importância histórica de Monteiro Lobato é válida, mas eu acho que se a criança desenvolver o interesse pela literatura e tiver interesse, ela vai procucá-lo quando ficar mais velha. E essa discussão sobre se o racismo de Monteiro Lobato é uma ilusão de óptica é uma discussão mais avançada, para quem tem um senso crítico mais apurado, não para crianças.
Por exemplo, este trecho da notícia:
Ao contrário do preconceito flagrante em Céline ou Pound, o racismo de Lobato é bastante discutível. Em várias ocasiões, ele valorizou a preciosa contribuição dos negros à cultura brasileira. O conto Negrinha é uma denúncia contra a elite que, nos anos 1920, ainda estava saudosa da escravidão. Sua obra mais polêmica, O presidente negro, um romance normalmente descrito como “eugenista” por descrever um mundo em que uma raça supera a outra, também oferece leituras alternativas. “Ele pode ser lido como uma grande metáfora das consequências da desculturação de um grupo étnico”, escreveu Marisa Lajolo, professora do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. “Narra o desenlace do conflito racial nos Estados Unidos, que acaba tendo uma solução tão final quanto o foi a solução nazista para a questão judaica: a aniquilação dos negros, por meio de sua esterilização em massa.” Como revela a análise de Lajolo, as obras de arte não existem isoladamente. Cabe aos leitores interpretá-las de modo crítico e atribuir-lhes sentido.
Acho que podemos concordar que uma criança em idade escolar dificilmente vai propor uma interpretação alternativa para o famigerado conto do presidente negro de Lobato. Isso é leitura para adultos, portanto, não para crianças. De 100 crianças que leiam esse texto, 99 vão tirar a interpretação racista. Até porque, a interpretação do próprio Monteiro Lobato parece ser a racista mesmo, como fica claro numa carta que escreveu a um amigo:
[tive uma] "idéia-mãe. Um romance americano isto é, editável nos Estados Unidos(...). Meio à Wells, com visão do futuro. O clou será o choque da raça negra com a branca, quando a primeira, cujo índice de proliferação é maior, alcançar a raça branca e batê-la nas urnas, elegendo um presidente negro! Acontecem coisas tremendas, mas vence por fim a inteligência do branco." FonteAliás, o artigo da Wikipedia acima cita outras cartas que, na minha opinião, não deixam a menor dúvida de que Monteiro Lobato é racista sim:
Numa carta de 1905 endereçada ao amigo Tito, Lobato declara ser impossível "civilizar" e "corrigir" o povo brasileiro, "devido ao fatalismo das inclinações, dos pendores, herdados com o sangue e depurados pelo meio". Ele conclui que apenas uma injeção de "sangue da raça mais superior" (ou seja, a emigração oriunda de países europeus) asseguraria o futuro do país. Nesta mesma carta, ele chama de "patriota" ao brasileiro que se casasse com "italiana ou alemã"Portanto, acho que Lobato deveria ser tirado das escolas e deixado para as universidades.