Autor Tópico: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável  (Lida 6479 vezes)

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Offline Feliperj

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A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Online: 12 de Janeiro de 2011, 14:32:37 »
Desde os primórdios, até hoje em dia, existem debates calorosos entre teístas e não teístas com relação a (possível) existência de um Deus, Energia, Força, Consciência criadora.

Para os teístas, independentemente de sua religião, a existência de uma divindade por trás do ato criativo - aqui entenda-se ato criativo como criação do universo - é um fato que a nossa própria existência evidencia. Já os não teístas, baseados essencialmente nas filosofias de Popper e Bacon, onde a lógica e o empirismo (verificação ou refutação) são encarados como as únicas ferramentas de “julgamento” do método científico, argumentam que não existem evidências a favor da existência de um ser consciente, orquestrador e condutor da criação e do desenvolvimento do universo. Alguns afirmam que, na realidade, esta ausência de evidência é  uma evidência de não existência deste ser criador.

Um dos argumentos mais utilizados pelos não teístas neste debate é o Princípio da Parcimônia, mais conhecido como “A Navalha de Occam” : "entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" . Este princípio lógico afirma que as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade. Então, caso um mesmo evento ou fenômeno encontre explicação em duas teorias ou modelos distintos, a teoria ou modelo mais simples – com menos elementos – provavelmente é o correto.

Tal afirmação se deve ao fato de que, ao multiplicarmos as entidades desnecessariamente, a probabilidade de esta multiplicação gerar algum erro no modelo aumenta, em função do aumento de variáveis que explicam o seu comportamento.

Assim, ao transportar este argumento para o debate envolvendo a existência de um criador do universo,  os não teístas argumentam que, pelo fato do  universo poder ser explicado com base em lógica e leis físicas “cegas” (sem intenção), admitindo-se que as lacunas existentes nas teorias atuais serão devidamente preenchidas por teorias futuras, então, ao considerarmos um criador para este mesmo universo, estaremos incluindo uma entidade desnecessária, haja vista que a lógica e as leis da física (atuais e futuras) são e serão suficientes para explicarmos a origem(primeiros momentos) e o desenvolvimento do universo. Dessa forma, concluem que é mais provável que não exista criador para o nosso universo.

Porém, podemos fazer um exercício interessante : observando e estudando o nosso universo, podemos assumir  que nosso universo é um universo coerente, que pode ser entendido e explicado pela lógica. Assim, admitindo-se por hipótese, que existiu um criador para este “universo lógico”(temos duas possibilidades : houve um criador ou não houve um criador), devemos assumir que este criador é responsável, também, pela própria coerência do nosso universo,  e por suas leis ”cegas", o que não nos permitiria usar este fato(coerência do nosso universo) como evidência da não necessidade de um criador, pois incorreríamos em Petição de Princípio. Ou seja, este criador, criou um universo coerente, onde os fenômenos podem ser explicados pela lógica e teorias científicas, por parte dos seres viventes deste universo.

Dessa forma, mesmo que nosso universo tenha sido criado por um ser superior (qualquer que seja - seres de outro universo, Deus, alguma outra causa não-local, etc),  a ciência, que está fundamentada no empirismo e na lógica, encontrará, sempre, explicações lógicas, em leis que serão, corretamente ou não, consideradas cegas , para todo evento ou fenômeno que ocorrer neste universo, dada a sua coerência interna.

Assim, ao incluirmos um ser criador neste modelo, estaremos, caso utilizemos a  “A Navalha de Occam”, incluindo uma entidade desnecessária, visto que o modelo sem esta entidade, baseado na lógica e em forças “cegas”, explica, de forma igual, os fenômenos observados.

Então, temos como conseqüência da criação de um universo coerente, por parte de um criador, que a própria coerência deste universo irá ocultar, para seus seres vivientes, as evidências deste possível criador, sendo então, a alegada ausência de evidência de um criador, uma mera conseqüência da criação, por parte de um ser superior,  de um universo coerente.
 
Com isso, temos que a Navalha de Occam não nos serve como ferramenta neste caso, pois o problema de inferirmos a probabilidade de estarmos certos ou errados, com relação a existência ou não de um criador para um universo lógico é, na realidade, um problema indecidível.
   
"Pobre criador", relegado ao esquecimento, pela coerência de sua própria criação.
 

Offline Geotecton

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #1 Online: 12 de Janeiro de 2011, 14:50:08 »
A própria premissa "criação do universo" é uma petição de princípio, pois não se sabe se ele realmente foi "criado" (passou a existir) ou se ele sempre "foi".
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Offline Pagão

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #2 Online: 12 de Janeiro de 2011, 15:27:14 »
O estado actual da ciência aponta para o Big Bang como "evento" pelo qual o universo passou a existir... as evidências conhecidas não apontam para o "ele sempre foi"... isso significa que a honestidade intelectual deve aceitar o "retorno" à possibilidade "Deus" como explicação racional... o que não é o mesmo que identificar essa possibilidade com a verdade..., pois novas evidências no futuro podem reduzir as probabilidades da possibilidade "Deus".
Sim, o Big Bang reforçou a possibilidade "Deus",... não há como fugir disso e manter a honestidade intelectual, ...mas não fez mais do que isso.   
Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #3 Online: 12 de Janeiro de 2011, 15:35:06 »
Ola Geotecton,

Por isso coloco que não podemos afastar nenhuma hipótese(criado ou não)......Somente isto. Em nenhum momento coloco que ele foi criado, mas sim na hipótese de ter sido criado.

Abs
Felipe

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #4 Online: 12 de Janeiro de 2011, 16:27:29 »
O estado actual da ciência aponta para o Big Bang como "evento" pelo qual o universo passou a existir... as evidências conhecidas não apontam para o "ele sempre foi"... isso significa que a honestidade intelectual deve aceitar o "retorno" à possibilidade "Deus" como explicação racional... o que não é o mesmo que identificar essa possibilidade com a verdade..., pois novas evidências no futuro podem reduzir as probabilidades da possibilidade "Deus".
Sim, o Big Bang reforçou a possibilidade "Deus",... não há como fugir disso e manter a honestidade intelectual, ...mas não fez mais do que isso.   

Completamente equivocado. Segundo o modelo padrão do universo, o Big Bang não pode ter sido causado, pois a causalidade é uma propriedade do universo que só passou a existira após o Big Bang, então longe de reforçar a possibilidade de Deus, a teoria moderna da origem do universo a exclui completamente. Procurar um tempo antes do Big Bang equivale a procurar um ponto ao norte do Polo Norte, ou seja, não existe. Deus simplesmente não teria tempo para criar o universo.

Todavia, existem físicos que teorizam que o Big Bang não foi a origem do tempo e nem da matéria, mas que na verdade ele representa um evento local de transformação da matéria que ocorreu em um multiverso maior e isso poderia ser compatível com um universo que sempre existiu, mas a ideia mais aceita é a que mencionei no parágrafo anterior.

De qualquer maneira, mesmo que fosse preciso invocar uma causa para explicar a origem do universo (mas quero destacar que não é preciso, como já foi explicado), Deus seria um péssimo candidato a causa primeira. Invocar um ser inteligente e consciente como explicação para a existência de tudo o que observamos não explica a origem dessa inteligência consciente, o que é um mistério maior ainda que o que pretendemos explicar com isso. Os defensores dessa tese, porém, numa demonstração obscena de covardia intelectual se recusam a reconhecer que as propriedades cognitivas desse ser carecem de explicação e etiquetam esse ser como "causa primeira" incontestável.

Inteligência não é um "fluido", uma "força vital", uma "energia sutil" ou o que quer que seja. Inteligência é um processo complexo que exige um sistema de computação sofisticado - um cérebro, uma CPU ou coisa que o valha. É por isso que elétrons, moléculas e cristais não são inteligentes. É por isso que pedras, cachoeiras e nuvens não têm vida interior. Se existe um Deus inteligente que criou o universo deliberadamente ele tem que ter algo análogo a um cérebro. Esse "tem" em negrito é consequência direta da própria causalidade, que é exatamente o princípio pelo qual os teístas insistem que deve haver um Deus: o pensamento não foge causalidade, o pensamento não "brota" por mágica sem que uma "engrenagem" precisasse girar para produzi-lo; caso contrário ele violaria a causalidade. A consequência direta de existir uma relação universal de causalidade (que os teístas até querem que seja mais universal ainda e se extenda ad eternum em vez de ter sua origem coincidindo com a origem do universo, como quer a física) é que tudo que existe deve ser "mecânico", ou seja, ter "partes móveis" que funcionam segundo relações causais entre elas. Se você tem um pensamento é porque você tem neurônios que passam sinais químicos para seus vizinhos por meio de seus axônios e o padrão de atividade que é gerado em bilhões de neurônios é computado segundo regras próprias que os traduzem em informações válidas. Não é porque a fada do pensamento usou sua varinha mágica e fez plim.

Parece, entretanto, que os teístas acreditam que essa fada do pensamento ou fada da inteligência existe na "cabeça" de Deus. Que para ele essa causalidade que queremos ver em todos os lugares não existe. Se cada pensamento de Deus é não-mecânico, incausado, então eles não estão concedendo a ele só a causa primeira do universo, Deus usa e abusa de causas primeiras para processar cada informação, acumular cada conhecimento, longe de ser uma causa primeira, ele é infinitas causas primeiras, é um pesadelo lógico. Se por outro lado, pensamos num Deus mecânico, cheio de "engrenagens" e "partes móveis", pergunta-se de onde vieram essas engrenagens e partes móveis. No caso do nosso próprio cérebro a explicação é extremamente poderosa e elegante: a seleção natural favoreceu a especialização de células e tecidos ao longo do tempo e ao cabo de algumas centenas de milhões de anos o grau de especialização que foi alcançado graças à acumulação de mutações benéficas resultou no que temos hoje. No caso do "cérebro" de Deus não há explicação possível, apenas a aceitação covarde e obscurantista de que é assim.

Concluindo: a ciência tem conseguido dar explicações de como a complexidade que observamos emerge de causas simples, algumas tão simples que chegam a ser autoevidentes, como é o caso da seleção natural (existe variação entre organismos autorreplicadores, assim sendo, dentre esses organismos aqueles cujas variações lhes ajudarem a se autorreplicar melhor se autorreplicarão mais e aumentarão sua proporção relativa na população de todos os autorreplicadores. Realmente essa ideia é tão simples, tão autoevidente, que a recusa em aceitá-la só pode ser creditada a burrice ou má-intenção). Por outro lado a insistência no mito de Deus procura explicar a complexidade inserindo mais complexidade ao problema, o que de fato fica longe de explicar qualquer coisa.

Offline Bolsonaro neles

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #5 Online: 12 de Janeiro de 2011, 17:29:21 »
Desde os primórdios, até hoje em dia...

O homem ainda faz o que o macaco fazia, eu não trabalhava, eu não sabia, o homem criava e tb destruía!!

Homem primata, capitalista e selvagem, ô ô ô...

Offline Bolsonaro neles

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #6 Online: 12 de Janeiro de 2011, 17:29:57 »
hehe, foi mal aí... não resisti...

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #7 Online: 12 de Janeiro de 2011, 17:33:13 »
Isso é uma música?

Offline Dr. Manhattan

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #8 Online: 12 de Janeiro de 2011, 17:40:27 »
hehe, foi mal aí... não resisti...

Você vai morrer. E não vai pro céu.
Tem que aprender. A vida é cruel.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #9 Online: 12 de Janeiro de 2011, 18:30:34 »
Ola Uniliníli,

"Completamente equivocado. Segundo o modelo padrão do universo, o Big Bang não pode ter sido causado, pois a causalidade é uma propriedade do universo que só passou a existira após o Big Bang, então longe de reforçar a possibilidade de Deus, a teoria moderna da origem do universo a exclui completamente. Procurar um tempo antes do Big Bang equivale a procurar um ponto ao norte do Polo Norte, ou seja, não existe. Deus simplesmente não teria tempo para criar o universo."

Concordo que, a princípio, só tem sentido falarmos em causa-efeito dentro do universo, não fazendo sentido algum falar em relação de causa-efeito "dentro de uma realidade não-local". Porém, será que na relação da não-localidade com o universo teríamos tb esta restrição? Ou seja, será mesmo que algo não-local não pode ser a causa de um universo, mesmo que, "internamente" à não-localidade, a relação de causa-efeito não faça sentido ?

Por exemplo, vamos supor que criemos um outro universo, em laboratório (isto é teoricamente possível - este universo seria um universo que se desenvolveria em uma "bolha", "separado" do nosso. Não nos aniquilaria).

Vamos supor qeu este universo venha a se desenvolver e gerar seres inteligentes, e que estes seres tenham a mesma discussão que estamos tendo, chegando à sua conclusão. Apesar de chegarem a mesma conclusão que vc, eles estarão enganados, pois o universo deles teve uma origem, de natureza não-local (em relação ao universo deles).

Além disso, em qualquer interpretação da MQ, incluindo a das variáveis ocultas, a não-localidade está presente, "interagindo" com nosso universo, nas relações de causa-efeito instantâneas. Creio que isto evidencia alguma possibilidade de interação entre algo não-local com nosso universo. Se esta é a única forma de interação possível (sem a possibilidade de uma interação "criativa" - algo não-local gerar o universo), sinceramente, não sei se é logicamente demonstrável.

"Todavia, existem físicos que teorizam que o Big Bang não foi a origem do tempo e nem da matéria, mas que na verdade ele representa um evento local de transformação da matéria que ocorreu em um multiverso maior e isso poderia ser compatível com um universo que sempre existiu, mas a ideia mais aceita é a que mencionei no parágrafo anterior."

Um problema dos multiversos (que eu vejo, e é semelhante ao dos modelos cíclicos), que chamo(ou chamam) de Paradoxo do momento presente,  é que vc tem uma sequência infinita de derivações de universos, com tempos não ifinitesimais envolvidos. Então, o que fez com que chegássemos a nosso momento presente, dado que tivemos infinitos eventos com tempos não infinitesimais, para chegarmos aqui ?

Além disso, parte da comunidade científica é contra o modelo do big-bang justamente por pregar o surgimento do universo do nada ("ex nihilo" - o que não é encarado como sendo racional), possibilitando uma interpretação criacionista, pra o surgimento do universo.

Se a "criação" tem seus problemas, o surgimento do nada absoluto também os tem.

Gostaria dos argumentos que expus(vou postar uma análise da falácia da causa-primeira e de modelos cosmologicos que tem muito do que falei aqui. Comente por favor, mesmo qeu seja para jogar pedras argumentativas.)

"Inteligência não é um "fluido", uma "força vital", uma "energia sutil" ou o que quer que seja. Inteligência é um processo complexo que exige um sistema de computação sofisticado - um cérebro, uma CPU ou coisa que o valha. É por isso que elétrons, moléculas e cristais não são inteligentes. É por isso que pedras, cachoeiras e nuvens não têm vida interior. Se existe um Deus inteligente que criou o universo deliberadamente ele tem que ter algo análogo a um cérebro. Esse "tem" em negrito é consequência direta da própria causalidade, que é exatamente o princípio pelo qual os teístas insistem que deve haver um Deus: o pensamento não foge causalidade, o pensamento não "brota" por mágica sem que uma "engrenagem" precisasse girar para produzi-lo; caso contrário ele violaria a causalidade. A consequência direta de existir uma relação universal de causalidade (que os teístas até querem que seja mais universal ainda e se extenda ad eternum em vez de ter sua origem coincidindo com a origem do universo, como quer a física) é que tudo que existe deve ser "mecânico", ou seja, ter "partes móveis" que funcionam segundo relações causais entre elas. Se você tem um pensamento é porque você tem neurônios que passam sinais químicos para seus vizinhos por meio de seus axônios e o padrão de atividade que é gerado em bilhões de neurônios é computado segundo regras próprias que os traduzem em informações válidas. Não é porque a fada do pensamento usou sua varinha mágica e fez plim."

Quem é inteligente: o computador, que porcessa o software, ou o software que usa o arranjo físico do computador para executar suas funções ? Acho que isto também é uma discussão filosófica. Até pq informação não é uma coisa material.

"Concluindo: a ciência tem conseguido dar explicações de como a complexidade que observamos emerge de causas simples, algumas tão simples que chegam a ser autoevidentes, como é o caso da seleção natural (existe variação entre organismos autorreplicadores, assim sendo, dentre esses organismos aqueles cujas variações lhes ajudarem a se autorreplicar melhor se autorreplicarão mais e aumentarão sua proporção relativa na população de todos os autorreplicadores. Realmente essa ideia é tão simples, tão autoevidente, que a recusa em aceitá-la só pode ser creditada a burrice ou má-intenção). Por outro lado a insistência no mito de Deus procura explicar a complexidade inserindo mais complexidade ao problema, o que de fato fica longe de explicar qualquer coisa."

Concordo em parte. A evolução é um fato. Agora, o surgimento do universo, em minha opinião, admite a possibilidade de criação (por parte de algum "agente" não-local - claro, se o modelo do big-bang estiver correto).

Abs
Felipe


Offline Geotecton

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #10 Online: 12 de Janeiro de 2011, 18:49:53 »
Eu não defendo uma existência ex nihilo e sim a "eternidade" da matéria e energia, mesmo que sob uma forma desconhecida na singularidade que deu origem ao(este?) Universo, supondo que teoria cosmológica do Big Bang esteja correta.

É evidente que eu não tenho conhecimento do que ocorria (se é que ocorria algo) pré-Big-Bang, mas me parecem ilógicas as hipóteses que usam deus e o nada ontológico, pois ambas necessitariam violar o princípio da causalidade, a não ser, é claro, que se utilize de petições de princípio, como foi observado pelo uiliníli. Afinal de contas, como afirma o cosmólogo Mario Novello, "é impossível não existir".
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Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #11 Online: 12 de Janeiro de 2011, 19:04:02 »
Ola Geotecton,

Mas o Big-Bang estando correto, só nos resta duas opções : ex nihilo ou alguma forma de criação.

Para a sua defesa (materia/energia etenras), somente uma teoria cíclica, nos modelos atuais, serviria...O que, em minha opinião, leva ao problema do momento presente.

Mas em nenhum momento eu utilizei Petição de Princípio...pelo contrário, considerei as duas possibilidades existentes, criação ou não.

É impossível não existir ? Acho grande mistério é pq existe algo, ao invés de não existir nada.

Abs
Felipe

Offline Geotecton

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #12 Online: 12 de Janeiro de 2011, 19:23:42 »
Ola Geotecton,

Olá Feliperj.

Desculpe a péssima educação, por não cumprimenta-lo antes.


Mas o Big-Bang estando correto, só nos resta duas opções : ex nihilo ou alguma forma de criação.

Mas este é o ponto Feliperj. A singularidade da qual ocorreu o Big Bang já é "algo" e que ocupava um "ponto" em "meio a alguma coisa".


Para a sua defesa (materia/energia eternas), somente uma teoria cíclica, nos modelos atuais, serviria...O que, em minha opinião, leva ao problema do momento presente.

Que parece ser um problema menor que uma "origem de forma criada" ou uma "origem ex nihilo".


Mas em nenhum momento eu utilizei Petição de Princípio...pelo contrário, considerei as duas possibilidades existentes, criação ou não.

Meu texto não ficou claro. Eu não atribuí a voce a petição de princípio mas aos defensores das propostas antagônicas.


É impossível não existir ? Acho grande mistério é pq existe algo, ao invés de não existir nada.

Estais com uma dúvida heideggeriana!


Abs
Felipe

Um abraço para voce também.

Geotecton
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Offline Pagão

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #13 Online: 12 de Janeiro de 2011, 19:54:44 »
Interessante post o do uiliníli, contudo...
 
Os teístas procuram atributos ou características obrigatórias para Deus, mas não esperava que os ateístas também se julgassem conhecedores do que teria de ser Deus se Ele existisse!

Como o famoso filósofo ateu Antony Flew disse (após a descoberta do Big Bang ter contribuido para a sua "conversão" ao Deísmo):

- A existência de Deus é inexplicável para nós, mas não para o próprio Deus -
e
- Faça a sua escolha: Deus ou o Universo. Um deles sempre existiu -

Pessoalmente, admito como provável que exista uma fonte eterna e infinita de tudo o que existe... agora, qual será essa fonte?
 
Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #14 Online: 12 de Janeiro de 2011, 23:38:55 »
"Completamente equivocado. Segundo o modelo padrão do universo, o Big Bang não pode ter sido causado, pois a causalidade é uma propriedade do universo que só passou a existira após o Big Bang, então longe de reforçar a possibilidade de Deus, a teoria moderna da origem do universo a exclui completamente. Procurar um tempo antes do Big Bang equivale a procurar um ponto ao norte do Polo Norte, ou seja, não existe. Deus simplesmente não teria tempo para criar o universo."

Concordo que, a princípio, só tem sentido falarmos em causa-efeito dentro do universo, não fazendo sentido algum falar em relação de causa-efeito "dentro de uma realidade não-local". Porém, será que na relação da não-localidade com o universo teríamos tb esta restrição? Ou seja, será mesmo que algo não-local não pode ser a causa de um universo, mesmo que, "internamente" à não-localidade, a relação de causa-efeito não faça sentido ?

Por exemplo, vamos supor que criemos um outro universo, em laboratório (isto é teoricamente possível - este universo seria um universo que se desenvolveria em uma "bolha", "separado" do nosso. Não nos aniquilaria).

Vamos supor qeu este universo venha a se desenvolver e gerar seres inteligentes, e que estes seres tenham a mesma discussão que estamos tendo, chegando à sua conclusão. Apesar de chegarem a mesma conclusão que vc, eles estarão enganados, pois o universo deles teve uma origem, de natureza não-local (em relação ao universo deles).

Além disso, em qualquer interpretação da MQ, incluindo a das variáveis ocultas, a não-localidade está presente, "interagindo" com nosso universo, nas relações de causa-efeito instantâneas. Creio que isto evidencia alguma possibilidade de interação entre algo não-local com nosso universo. Se esta é a única forma de interação possível (sem a possibilidade de uma interação "criativa" - algo não-local gerar o universo), sinceramente, não sei se é logicamente demonstrável.

Tomando o seu exemplo do universo gerado em laboratório, ainda que os detalhes sobre os bastidores da geração desse segundo universo sejam desconhecidos e talvez até incogniscíveis pelos seus habitantes, a evolução das criaturas inteligentes que criaram o segundo universo (nós) é bem explicável segundo leis que não violam a causalidade. É muito diferente da hipótese de um Deus que existe desde sempre e sempre teve propriedades inexplicáveis, como uma inteligência absurdamente grande.

Repare que meu problema maior não é com a possibilidade de uma explicação não-local para a origem do universo, sendo que até fiz uma concessão a isso apenas para demonstrar que a ideia de um deus inteligente não seria a melhor candidata mesmo no caso de se fazer necessário apelar para esse tipo de explicação. Seu próprio exemplo de cientistas gerando um universo em labaratório é bem mais lógica que Deus.

Mas não custa nada chamar a atenção novamente para o fato de que o modelo padrão do Big Bang dispensa a necessidade de causas exteriores. A sua pergunta "será que na relação da não-localidade com o universo teríamos tb esta restrição? Ou seja, será mesmo que algo não-local não pode ser a causa de um universo, mesmo que, "internamente" à não-localidade, a relação de causa-efeito não faça sentido ?" não é cabível dentro do modelo cosmológico mais aceito pela física, que é o de que o universo é tudo e só o que existe e que não há um "lado de fora". Mas, supondo que haja mesmo assim, a realidade é que nada sabemos sobre esse "lado de fora" e só podemos adivinhar o que vale e o que não vale nessa realidade. Seu chute é tão bom quanto o meu e dizer que essa realidade é o domínio de Deus ou do Monstro Espaguete Voador dá no mesmo. A Navalha do Occam, entretanto, nos adverte que uma vez que não é preciso invocar a existência do não-local para explicar o universo, essa ideia deveria ser rejeitada.

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"Todavia, existem físicos que teorizam que o Big Bang não foi a origem do tempo e nem da matéria, mas que na verdade ele representa um evento local de transformação da matéria que ocorreu em um multiverso maior e isso poderia ser compatível com um universo que sempre existiu, mas a ideia mais aceita é a que mencionei no parágrafo anterior."

Um problema dos multiversos (que eu vejo, e é semelhante ao dos modelos cíclicos), que chamo(ou chamam) de Paradoxo do momento presente,  é que vc tem uma sequência infinita de derivações de universos, com tempos não ifinitesimais envolvidos. Então, o que fez com que chegássemos a nosso momento presente, dado que tivemos infinitos eventos com tempos não infinitesimais, para chegarmos aqui ?

Existem duas teorias diferentes que acredito que você está confundindo. Uma é a hipótese teórica da existência do multiverso e outra é a interpretação dos muitos-mundos na Mecânica Quântica. Você está falando dessa segunda, eu estava falando da primeira. De qualquer maneira, esse paradoxo a que você se refere só existe se você considerar que o tempo é contínuo, coisa que ele não é. O tempo é discreto e a quantidade de eventos ocorridos até o tempo presente é finito, embora muito grande. Você poderia insistir que o tempo é contínuo sim e eu adoraria que você me convencesse disso, pois nesse caso eu poderia te apresentar ao Argumento Cosmológico Kalam em favor do ateísmo, que é um argumento belíssimo que demonstra que o universo é contingente sem precisar da existência de Deus, mas que tem esse pequeno defeito de assumir que o tempo é contínuo.

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Além disso, parte da comunidade científica é contra o modelo do big-bang justamente por pregar o surgimento do universo do nada ("ex nihilo" - o que não é encarado como sendo racional), possibilitando uma interpretação criacionista, pra o surgimento do universo.

Acho que essas questões já foram tratadas antes, não é mesmo? Recapitulando: o Big Bang não pode ter sido causado se não havia causalidade "antes" do Big Bang, aliás, não existe algo como um "antes do Big Bang", logo a interpretação criacionista é simplesmente equivocada. Também não faz sentido dizer criação a partir do nada, não é como se existisse o 'nada' e de repente "KABUM!!!!" Big Bang! Não! Você está insistindo no erro de imaginar um tempo antes do Big Bang! Você está procurando um ponto ao norte do Polo do Norte, está procurando um número positivo menor que zero! Não existe, tire isso da cabeça. Esse 'nada' que você imagina que existiu "antes do Big Bang" simplesmente nunca existiu porque não existe "antes do Big Bang". O tempo não existe "desde sempre", o tempo começou a existir a partir do Big Bang. Aliás, precisamos redefinir o que entendemos como "desde sempre", pois imaginamos isso como se pudéssemos regredir infinitamente no tempo, coisa que não podemos. Podemos regredir somente até certo ponto e não mais. É contra-intuitivo, mas a Física frequentemente é... pense nisso como análogo à velocidade da luz. Para um leigo parece estranho pensar que existe uma velocidade máxima possível, que você não pode "fazer mais uma forcinha" e acelerar um pouco mais, pense no como foi difícil você aceitar isso da primeira vez que escutou isso. É igual a situar a origem do tempo no Big Bang.

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Se a "criação" tem seus problemas, o surgimento do nada absoluto também os tem.

Ainda bem que a Teoria do Big Bang não fala de surgimento a partir do nada absoluto, não é?

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"Inteligência não é um "fluido", uma "força vital", uma "energia sutil" ou o que quer que seja. Inteligência é um processo complexo que exige um sistema de computação sofisticado - um cérebro, uma CPU ou coisa que o valha. É por isso que elétrons, moléculas e cristais não são inteligentes. É por isso que pedras, cachoeiras e nuvens não têm vida interior. Se existe um Deus inteligente que criou o universo deliberadamente ele tem que ter algo análogo a um cérebro. Esse "tem" em negrito é consequência direta da própria causalidade, que é exatamente o princípio pelo qual os teístas insistem que deve haver um Deus: o pensamento não foge causalidade, o pensamento não "brota" por mágica sem que uma "engrenagem" precisasse girar para produzi-lo; caso contrário ele violaria a causalidade. A consequência direta de existir uma relação universal de causalidade (que os teístas até querem que seja mais universal ainda e se extenda ad eternum em vez de ter sua origem coincidindo com a origem do universo, como quer a física) é que tudo que existe deve ser "mecânico", ou seja, ter "partes móveis" que funcionam segundo relações causais entre elas. Se você tem um pensamento é porque você tem neurônios que passam sinais químicos para seus vizinhos por meio de seus axônios e o padrão de atividade que é gerado em bilhões de neurônios é computado segundo regras próprias que os traduzem em informações válidas. Não é porque a fada do pensamento usou sua varinha mágica e fez plim."

Quem é inteligente: o computador, que porcessa o software, ou o software que usa o arranjo físico do computador para executar suas funções ? Acho que isto também é uma discussão filosófica. Até pq informação não é uma coisa material.

Você sabia que nos primeiros computadores não havia essa divisão clara entre hardware e software? Isso é algo mais recente que só apareceu quando surgiram os primeiros sistemas operacionais, que criam uma interface mais amigável, o usuário final só não vê isso acontecendo. E os computadores lidam com informação bem material sim! A informação para ele são os bits, que nada mais são do que cargas elétricas... Nosso DNA também tem informação na forma de diferentes tipos de moléculas, as famosas adenina, guanina, timina e citosina. Igualmente nosso cérebro trata informação bem material na forma de reações eletroquímicas nos nossos neurônios. Não tenha dúvida, informação é matéria. Então não dá para separar hardware de software, pois um depende do outro, um não existe sem o outro. Nós temos a ilusão de que é outra coisa assim como quando você olha para o monitor do seu computador você tem a ilusão de que é algo mais que correntes elétricas passando aqui e ali. Não é extraordinário assistira a um filme no seu computador e pensar que no fundo todas essas cores, sons e movimentos não são nada mais do que cargas elétricas passando nos lugares certos?

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"Concluindo: a ciência tem conseguido dar explicações de como a complexidade que observamos emerge de causas simples, algumas tão simples que chegam a ser autoevidentes, como é o caso da seleção natural (existe variação entre organismos autorreplicadores, assim sendo, dentre esses organismos aqueles cujas variações lhes ajudarem a se autorreplicar melhor se autorreplicarão mais e aumentarão sua proporção relativa na população de todos os autorreplicadores. Realmente essa ideia é tão simples, tão autoevidente, que a recusa em aceitá-la só pode ser creditada a burrice ou má-intenção). Por outro lado a insistência no mito de Deus procura explicar a complexidade inserindo mais complexidade ao problema, o que de fato fica longe de explicar qualquer coisa."

Concordo em parte. A evolução é um fato. Agora, o surgimento do universo, em minha opinião, admite a possibilidade de criação (por parte de algum "agente" não-local - claro, se o modelo do big-bang estiver correto).

Se o modelo do Big Bang estiver correto, definitivamente a possibilidade de criação por um agente não-local está indubitavelmente excluída. Para ressuscitar essa possibilidade, necessariamente o modelo do Big Bang deve estar errado. Não é por acaso que Stephen Hawking disse que não precisamos de Deus para explicar o universo, ele disse isso porque é fato. Com as teorias atuais da Física não há lugar para Deus na criação do universo, essa é uma hipótese desnecessária e pouco parcimoniosa.

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Abs
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Idem!
« Última modificação: 12 de Janeiro de 2011, 23:45:41 por uiliníli »

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #15 Online: 12 de Janeiro de 2011, 23:44:54 »
Interessante post o do uiliníli, contudo...
 
Os teístas procuram atributos ou características obrigatórias para Deus, mas não esperava que os ateístas também se julgassem conhecedores do que teria de ser Deus se Ele existisse!

Estou levando adiante as consequências da causalidade, coisa que os teístas covardemente ignoram. E que você está ignorando também, mudando de assunto. Responda a meu post anterior ou é fim de papo entre nós dois.

Offline Enio

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #16 Online: 13 de Janeiro de 2011, 00:25:58 »
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Pessoalmente, admito como provável que exista uma fonte eterna e infinita de tudo o que existe... agora, qual será essa fonte?
Considero esta fonte como algo fora dos limites do nosso universo, e das dimensões perceptíveis. Seria uma causa atemporal, não uma entidade, como defendem as religiões. Se por acaso tiver consciência (algo que duvido), então esta consciência, desta causa primária, terá sua origem num mecanismo desta causa primária.

O nosso universo seria somente uma consequência desta causa primária. Com relação à inteligência, não tenho mais problemas com isso, já que esta causa considero como sem consciência, já que não seria uma entidade. O problema está no fato de concebermos Deus como entidade, mas não mais tenho problemas com isso.

Offline Bolsonaro neles

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #17 Online: 13 de Janeiro de 2011, 11:19:24 »

Offline Pagão

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #18 Online: 13 de Janeiro de 2011, 12:16:10 »
Se o modelo do Big Bang estiver correto, definitivamente a possibilidade de criação por um agente não-local está indubitavelmente excluída. Para ressuscitar essa possibilidade, necessariamente o modelo do Big Bang deve estar errado. Não é por acaso que Stephen Hawking disse que não precisamos de Deus para explicar o universo, ele disse isso porque é fato. Com as teorias atuais da Física não há lugar para Deus na criação do universo, essa é uma hipótese desnecessária e pouco parcimoniosa.




Se isso fosse, como explicar o entusiasmo do Papa Pio XII e do actual Bento XVI para com a teoria do Big Bang, por um lado, e, por outro, a perseguição aos seus seguidores e repúdio da mesma teoria na União Soviética, onde o Big Bang foi encarado como uma invenção de teístas?

Além disso, explicar o Universo e as suas leis não é mesmo o mesmo que dizer que se sabe porque o Universo existe ao invés de simplesmente não existir (Hawking parece que referiu esta segunda questão como algo que ele gostaria de saber).

"a não existência é impossível"...quanto a isso...sou simplesmente cético.
Nenhuma argumentação racional exerce efeitos racionais sobre um indivíduo que não deseje adotar uma atitude racional. - K.Popper

Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #19 Online: 13 de Janeiro de 2011, 12:35:11 »
Ola Uiliníli,

"Tomando o seu exemplo do universo gerado em laboratório, ainda que os detalhes sobre os bastidores da geração desse segundo universo sejam desconhecidos e talvez até incogniscíveis pelos seus habitantes, a evolução das criaturas inteligentes que criaram o segundo universo (nós) é bem explicável segundo leis que não violam a causalidade. É muito diferente da hipótese de um Deus que existe desde sempre e sempre teve propriedades inexplicáveis, como uma inteligência absurdamente grande."

Concordo qeu o exemplo não viola. Mas a hipóstese de um Deus, não necessariamente viola este princípio.

"Repare que meu problema maior não é com a possibilidade de uma explicação não-local para a origem do universo, sendo que até fiz uma concessão a isso apenas para demonstrar que a ideia de um deus inteligente não seria a melhor candidata mesmo no caso de se fazer necessário apelar para esse tipo de explicação. Seu próprio exemplo de cientistas gerando um universo em labaratório é bem mais lógica que Deus."

Ok. Mas não descarta a possiilidade de outro tipo de criador. E o que escrevi é somente sobre isso : possibilidades.

"Mas não custa nada chamar a atenção novamente para o fato de que o modelo padrão do Big Bang dispensa a necessidade de causas exteriores. A sua pergunta "será que na relação da não-localidade com o universo teríamos tb esta restrição? Ou seja, será mesmo que algo não-local não pode ser a causa de um universo, mesmo que, "internamente" à não-localidade, a relação de causa-efeito não faça sentido ?" não é cabível dentro do modelo cosmológico mais aceito pela física, que é o de que o universo é tudo e só o que existe e que não há um "lado de fora". Mas, supondo que haja mesmo assim, a realidade é que nada sabemos sobre esse "lado de fora" e só podemos adivinhar o que vale e o que não vale nessa realidade. Seu chute é tão bom quanto o meu e dizer que essa realidade é o domínio de Deus ou do Monstro Espaguete Voador dá no mesmo. A Navalha do Occam, entretanto, nos adverte que uma vez que não é preciso invocar a existência do não-local para explicar o universo, essa ideia deveria ser rejeitada."

Qual o argumento para o que vc está afirmando (que o big-bang dispensa necessidade de causas anteriores? Vc leu o livro do Novello "Do Big-Bang ao Universo Eterno". Ele fala justamente o contrário do que vc está falando). O lá fora é a prórpria não-localidade que, inclusive, interage "até hj" com nosso universo.

Se este "Monstro Espaguete Voador" tiver as caracteristicas do que chamo de criador (somente o nome/interpretação diferente), concordo.

O que vc fala é um ponto de vista filosófico, não científico (que o universo é tudo que existe,etc..).Então, vc está partindo de uma hipotese (que o universo é tudo que existe) para negar a possibilidade de existencia de um possivel criador, o que seria Petição de Principio. O lá fora existe : não-loclidade.

Novamete pergunto : qual o argumento para esta não necessidade ? Existe um modelo cosmológico, com inicio, que poderia apoiar o que vc está falando, mas este modelo não é o padrão. Este modelo é baseado, se não me engano, nas soluções de Godell para as equações da TRG.(o Hawkings não gosta muito da possibilidade de existência destes "tempos  cíclicos")

Neste modelo, temos um ciclo de tempo fechado(vc vai do passado para o futuro e volta para o passado) no início, ou seja, com o tempo semrpe existindo, que por algum motivo desconhecido "explode" e o espaço-tempo "toma" a cara do que vemos hj. (desculpe-me se ficou confuso, mas é que eu li uma vez sobre este modelo. Possivelmente a escolha das palavras não foi a mais adequada).


"Existem duas teorias diferentes que acredito que você está confundindo. Uma é a hipótese teórica da existência do multiverso e outra é a interpretação dos muitos-mundos na Mecânica Quântica. Você está falando dessa segunda, eu estava falando da primeira. De qualquer maneira, esse paradoxo a que você se refere só existe se você considerar que o tempo é contínuo, coisa que ele não é. O tempo é discreto e a quantidade de eventos ocorridos até o tempo presente é finito, embora muito grande. Você poderia insistir que o tempo é contínuo sim e eu adoraria que você me convencesse disso, pois nesse caso eu poderia te apresentar ao Argumento Cosmológico Kalam em favor do ateísmo, que é um argumento belíssimo que demonstra que o universo é contingente sem precisar da existência de Deus, mas que tem esse pequeno defeito de assumir que o tempo é contínuo."

Acho que não. Nesta teoria dos multiversos, não são universos que geram outros universos, através de seus buracos negros ?

Ainda não sabemos (a física) se o tempo é contínuo ou discreto (existe a possibilidade do próprio espaço ser discreto tb). O tempo é "discreto", no sentido que ele é medido através de uma comparação com um padrão (não lembro qual o padrão, mas acho que é o ciclo de vibração de algum cristal - quartzo). E, mesmo com o tempo discreto, o paradoxo continua, pois o que interessa no argumento não é a natureza continua ou não, mas sim se a duração do evento é infinitesimalmente pequena ou não.

E por favor, mas apresente este argumento, não conheço mas gostaria de conhecer.

"Acho que essas questões já foram tratadas antes, não é mesmo? Recapitulando: o Big Bang não pode ter sido causado se não havia causalidade "antes" do Big Bang, aliás, não existe algo como um "antes do Big Bang", logo a interpretação criacionista é simplesmente equivocada. Também não faz sentido dizer criação a partir do nada, não é como se existisse o 'nada' e de repente "KABUM!!!!" Big Bang! Não! Você está insistindo no erro de imaginar um tempo antes do Big Bang! Você está procurando um ponto ao norte do Polo do Norte, está procurando um número positivo menor que zero! Não existe, tire isso da cabeça. Esse 'nada' que você imagina que existiu "antes do Big Bang" simplesmente nunca existiu porque não existe "antes do Big Bang". O tempo não existe "desde sempre", o tempo começou a existir a partir do Big Bang. Aliás, precisamos redefinir o que entendemos como "desde sempre", pois imaginamos isso como se pudéssemos regredir infinitamente no tempo, coisa que não podemos. Podemos regredir somente até certo ponto e não mais. É contra-intuitivo, mas a Física frequentemente é... pense nisso como análogo à velocidade da luz. Para um leigo parece estranho pensar que existe uma velocidade máxima possível, que você não pode "fazer mais uma forcinha" e acelerar um pouco mais, pense no como foi difícil você aceitar isso da primeira vez que escutou isso. É igual a situar a origem do tempo no Big Bang."

Não. Eu imagino o nada absoluto, o mesmo nada que "existe" hj, e interage com nosso universo nos fenômenos instantâneos(nao-localidade), a não existência de espaço-tempo e a existência dos mesmos, através do big-bang.


"Ainda bem que a Teoria do Big Bang não fala de surgimento a partir do nada absoluto, não é?"


Não concordo. E o Mario Novello tb não ::) (argumento da autoridade...rs)

"Você sabia que nos primeiros computadores não havia essa divisão clara entre hardware e software? Isso é algo mais recente que só apareceu quando surgiram os primeiros sistemas operacionais, que criam uma interface mais amigável, o usuário final só não vê isso acontecendo. E os computadores lidam com informação bem material sim! A informação para ele são os bits, que nada mais são do que cargas elétricas... Nosso DNA também tem informação na forma de diferentes tipos de moléculas, as famosas adenina, guanina, timina e citosina. Igualmente nosso cérebro trata informação bem material na forma de reações eletroquímicas nos nossos neurônios. Não tenha dúvida, informação é matéria. Então não dá para separar hardware de software, pois um depende do outro, um não existe sem o outro. Nós temos a ilusão de que é outra coisa assim como quando você olha para o monitor do seu computador você tem a ilusão de que é algo mais que correntes elétricas passando aqui e ali. Não é extraordinário assistira a um filme no seu computador e pensar que no fundo todas essas cores, sons e movimentos não são nada mais do que cargas elétricas passando nos lugares certos?"

A diferença é que o software "saía" diretamente da cabeça dos operadores, para o computador, sem uma linguagem de alto nível. Eletricidade é eletricidade, eletron é eletron, informação é imformação. Aliás, esta questão da natureza da informação ainda está em aberto e gerando muitos debates entre os teóricos da informação.

Eu acho tudo que envolve tecnologia, percepção extraodinário...Como disse uma amigo meu : é "mágica".

"Se o modelo do Big Bang estiver correto, definitivamente a possibilidade de criação por um agente não-local está indubitavelmente excluída. Para ressuscitar essa possibilidade, necessariamente o modelo do Big Bang deve estar errado. Não é por acaso que Stephen Hawking disse que não precisamos de Deus para explicar o universo, ele disse isso porque é fato. Com as teorias atuais da Física não há lugar para Deus na criação do universo, essa é uma hipótese desnecessária e pouco parcimoniosa."

Mas isto é uma conclusão sua, não da comunidade científica. Ainda não li o livro do Hawkings, mas ouvi falar que ele postula que a gravidade existia "antes" da existência do espaço-tempo (posso estar enganado). Então, o prórpio argumento do Hawkings, nesse caso, vai contra o que vc está falando.

Ps: naõ se esqueça de enviar o argumento que vc falou.

Abs
Felipe





Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #20 Online: 13 de Janeiro de 2011, 13:27:49 »
Ola Uiliníli,

Somente para informação sobre a opinião do Hawkings, tirada de um post daqui :

"O livro "The Grand Design", escrito em parceria com o físico norte-americano Leonard Mlodinow, será lançado na próxima quinta-feira (9).

Segundo Hawking, o Big Bang foi uma consequência inevitável" das leis da Física.
"Dado que existe uma lei como a da gravidade, o Universo pôde criar-se e se cria a partir do nada", afirmou. "A criação espontânea é a razão por que há algo em lugar do nada, de por que existe o Universo e por que existimos."

"Não é necessário invocar a Deus para acender o pavio e colocar o Universo em marcha", acrescenta.
Esta posição representa, segundo o "Times", uma evolução em relação ao que o cientista tbritânico havia escrito anteriormente sobre o tema.
Em sua "História do Tempo" (1998), um dos grandes best-sellers da literatura científica, Hawking sugeria que não existia incompatibilidade entre a noção de Deus como criador e uma compreensão científica do Universo."


Abs
Felipe

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #21 Online: 13 de Janeiro de 2011, 14:53:04 »
"Tomando o seu exemplo do universo gerado em laboratório, ainda que os detalhes sobre os bastidores da geração desse segundo universo sejam desconhecidos e talvez até incogniscíveis pelos seus habitantes, a evolução das criaturas inteligentes que criaram o segundo universo (nós) é bem explicável segundo leis que não violam a causalidade. É muito diferente da hipótese de um Deus que existe desde sempre e sempre teve propriedades inexplicáveis, como uma inteligência absurdamente grande."

Concordo qeu o exemplo não viola. Mas a hipóstese de um Deus, não necessariamente viola este princípio.

Se Deus é definido como uma inteligência criativa que sempre existiu na sua forma atual, então ele viola a causalidade. Conceitos mais frouxos de divindade nas quais de alguma forma elas possam ter evoluído de formas mais básicas segundo leis pré-existentes não a viola, mas tampouco responde o nosso problema de explicar as origens e é cortado pela Navalha do Occam.

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"Repare que meu problema maior não é com a possibilidade de uma explicação não-local para a origem do universo, sendo que até fiz uma concessão a isso apenas para demonstrar que a ideia de um deus inteligente não seria a melhor candidata mesmo no caso de se fazer necessário apelar para esse tipo de explicação. Seu próprio exemplo de cientistas gerando um universo em labaratório é bem mais lógica que Deus."

Ok. Mas não descarta a possiilidade de outro tipo de criador. E o que escrevi é somente sobre isso : possibilidades.

Possibilidade há até de existir Papai Noel. É possível haver um monstro no Lago Ness. É possível haver uma chaleira de ouro flutuando no cinturão de asteroides. É possível que a Scarlett Johansson se dê conta de que eu sou o homem da vida dela. Possibilidades não são coisas muito úteis.

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"Mas não custa nada chamar a atenção novamente para o fato de que o modelo padrão do Big Bang dispensa a necessidade de causas exteriores. A sua pergunta "será que na relação da não-localidade com o universo teríamos tb esta restrição? Ou seja, será mesmo que algo não-local não pode ser a causa de um universo, mesmo que, "internamente" à não-localidade, a relação de causa-efeito não faça sentido ?" não é cabível dentro do modelo cosmológico mais aceito pela física, que é o de que o universo é tudo e só o que existe e que não há um "lado de fora". Mas, supondo que haja mesmo assim, a realidade é que nada sabemos sobre esse "lado de fora" e só podemos adivinhar o que vale e o que não vale nessa realidade. Seu chute é tão bom quanto o meu e dizer que essa realidade é o domínio de Deus ou do Monstro Espaguete Voador dá no mesmo. A Navalha do Occam, entretanto, nos adverte que uma vez que não é preciso invocar a existência do não-local para explicar o universo, essa ideia deveria ser rejeitada."

Qual o argumento para o que vc está afirmando (que o big-bang dispensa necessidade de causas anteriores? Vc leu o livro do Novello "Do Big-Bang ao Universo Eterno". Ele fala justamente o contrário do que vc está falando). O lá fora é a prórpria não-localidade que, inclusive, interage "até hj" com nosso universo.

Não li, do Novello li apenas um livro chamado "O Círculo do Tempo." Mas eu asseguro a você que o que estou dizendo está de pleno acordo com o mainstream da cosmologia, inclusive a cosmologia de Stephen Hawking. Nas palavras dele, o universo é "autocontido." Todavia Hawking se permite falar especulativamente na possibilidade de existir outros universos também, mas nesse caso o multiverso seria ele que seria eterno ou autocontido e os universos bebês que brotariam dele seriam universos como o nosso gerados por esses tais efeitos "não-locais" a ele. Eu posso aceitar isso como possibilidade, mas de qualquer forma essa teoria alternativa dispensa Deus tanto quanto a do universo autocontido que estou defendendo.

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Se este "Monstro Espaguete Voador" tiver as caracteristicas do que chamo de criador (somente o nome/interpretação diferente), concordo.

Mas os detalhes são importantes. E se em vez de um criador houver vários, por exemplo? E se tivermos um panteão de deuses, em vez de um único? Isso não é um detalhe importante? E os teístas adoram atribuir implicações morais à existência de Deus, nesse caso a personalidade desse(s) deus(es) seria um detalhe importante também.

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O que vc fala é um ponto de vista filosófico, não científico (que o universo é tudo que existe,etc..).Então, vc está partindo de uma hipotese (que o universo é tudo que existe) para negar a possibilidade de existencia de um possivel criador, o que seria Petição de Principio. O lá fora existe : não-loclidade.

Pelo contrário, o que eu falo é um ponto de vista científico, e não filosófico. O universo que a gente conhece é o único que a gente conhece, não temos evidência nenhuma para sustentar que existam outros. Ausência de evidência não é evidência da ausência, claro, mas se você afirma que existem outros universos além do que a gente observa o ônus da prova é seu! Você é que está invertendo o ônus da prova e fazendo uma petição de princípio. Para ser sincero, pessoalmente, eu adoraria que existisse um multiverso, eu acho essa uma ideia interessantíssima!

E veja você também que eu não estou apenas excluindo a não-localidade para negar a existência de Deus, em um post meu anterior a este eu fiz a concessão de que existissem eventos não-locais e ataquei a ideia de Deus diretamente dizendo que se esse tipo de evento existisse ele não deveria ser uma entidade inteligente e complexa, lembra? Então eu não tenho problemas com eventos não-locais ― exceto o problema de eles no momento serem completamente desnecessários para explicar a existência do universo e poderem muito bem ser cortados pela Navalha da Occam.

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Novamete pergunto : qual o argumento para esta não necessidade ? Existe um modelo cosmológico, com inicio, que poderia apoiar o que vc está falando, mas este modelo não é o padrão. Este modelo é baseado, se não me engano, nas soluções de Godell para as equações da TRG.(o Hawkings não gosta muito da possibilidade de existência destes "tempos  cíclicos")

Cara, tudo o que eu estou falando sobre o Big Bang é um modelo cosmológico. Aliás, "um modelo cosmológico" não, o modelo cosmológico padrão, o modelo mais aceito pela comunidade científica. Eu não estou inventando nada, tudo isso que eu estou falando eu estou tirando de leituras que fiz. Leituras de livros do próprio Stephen Hawking, aliás (e a grafia certa do nome dele é Hawking, sem 's'.)

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Neste modelo, temos um ciclo de tempo fechado(vc vai do passado para o futuro e volta para o passado) no início, ou seja, com o tempo semrpe existindo, que por algum motivo desconhecido "explode" e o espaço-tempo "toma" a cara do que vemos hj. (desculpe-me se ficou confuso, mas é que eu li uma vez sobre este modelo. Possivelmente a escolha das palavras não foi a mais adequada).

Ficou confuso realmente, mas está desculpado :P


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"Existem duas teorias diferentes que acredito que você está confundindo. Uma é a hipótese teórica da existência do multiverso e outra é a interpretação dos muitos-mundos na Mecânica Quântica. Você está falando dessa segunda, eu estava falando da primeira. De qualquer maneira, esse paradoxo a que você se refere só existe se você considerar que o tempo é contínuo, coisa que ele não é. O tempo é discreto e a quantidade de eventos ocorridos até o tempo presente é finito, embora muito grande. Você poderia insistir que o tempo é contínuo sim e eu adoraria que você me convencesse disso, pois nesse caso eu poderia te apresentar ao Argumento Cosmológico Kalam em favor do ateísmo, que é um argumento belíssimo que demonstra que o universo é contingente sem precisar da existência de Deus, mas que tem esse pequeno defeito de assumir que o tempo é contínuo."

Acho que não. Nesta teoria dos multiversos, não são universos que geram outros universos, através de seus buracos negros ?

Sim, mas nesse modelo de universos serem gerados por buracos negros não é necessariamente verdade que existam universos com histórias alternativas ao nosso, por exemplo, universos exatamente iguais ao nosso exceto pelo spin de um elétron. Esse modelo com infinitas histórias alternativas é a interpretação dos muitos mundos da MQ, que é uma teoria completamente diferente.

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Ainda não sabemos (a física) se o tempo é contínuo ou discreto (existe a possibilidade do próprio espaço ser discreto tb). O tempo é "discreto", no sentido que ele é medido através de uma comparação com um padrão (não lembro qual o padrão, mas acho que é o ciclo de vibração de algum cristal - quartzo). E, mesmo com o tempo discreto, o paradoxo continua, pois o que interessa no argumento não é a natureza continua ou não, mas sim se a duração do evento é infinitesimalmente pequena ou não.

Eu não estou convencido de que o tempo e o espaço possam ser contínuos, mas confesso que tampouco entendi a razão de o tempo ser discreto não refutar a ideia toda do paradoxo que é a de haver infinitos intervalos de tempo entre dois instantes. Se o tempo for discreto já refutamos uma premissa do suposto paradoxo. Mas, de qualquer forma, acho que esta discussão está meio fora do assunto principal do tópico, não?

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E por favor, mas apresente este argumento, não conheço mas gostaria de conhecer.

Vou te passar um link, mas não se assuste com o texto gigantesco... ../forum/topic=759.775.html#msg548608

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"Acho que essas questões já foram tratadas antes, não é mesmo? Recapitulando: o Big Bang não pode ter sido causado se não havia causalidade "antes" do Big Bang, aliás, não existe algo como um "antes do Big Bang", logo a interpretação criacionista é simplesmente equivocada. Também não faz sentido dizer criação a partir do nada, não é como se existisse o 'nada' e de repente "KABUM!!!!" Big Bang! Não! Você está insistindo no erro de imaginar um tempo antes do Big Bang! Você está procurando um ponto ao norte do Polo do Norte, está procurando um número positivo menor que zero! Não existe, tire isso da cabeça. Esse 'nada' que você imagina que existiu "antes do Big Bang" simplesmente nunca existiu porque não existe "antes do Big Bang". O tempo não existe "desde sempre", o tempo começou a existir a partir do Big Bang. Aliás, precisamos redefinir o que entendemos como "desde sempre", pois imaginamos isso como se pudéssemos regredir infinitamente no tempo, coisa que não podemos. Podemos regredir somente até certo ponto e não mais. É contra-intuitivo, mas a Física frequentemente é... pense nisso como análogo à velocidade da luz. Para um leigo parece estranho pensar que existe uma velocidade máxima possível, que você não pode "fazer mais uma forcinha" e acelerar um pouco mais, pense no como foi difícil você aceitar isso da primeira vez que escutou isso. É igual a situar a origem do tempo no Big Bang."

Não. Eu imagino o nada absoluto, o mesmo nada que "existe" hj, e interage com nosso universo nos fenômenos instantâneos(nao-localidade), a não existência de espaço-tempo e a existência dos mesmos, através do big-bang.

Não é porque você abstrair o nada que ele tem significado Físico. E como o "nada" pode interagir com alguma coisa? Se interage não é "nada", é alguma coisa. Aliás, minha definição de existência é exatamente essa: interagir. Outra coisa: espaço e tempo são propriedades do universo. Se não há universo, não há espaço-tempo. Se há espaço-tempo, então há universo. Simples assim.

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"Ainda bem que a Teoria do Big Bang não fala de surgimento a partir do nada absoluto, não é?"


Não concordo. E o Mario Novello tb não ::) (argumento da autoridade...rs)

Então eu chamo o Hawking. A minha autoridade é mais autoritária que a sua :P

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"Você sabia que nos primeiros computadores não havia essa divisão clara entre hardware e software? Isso é algo mais recente que só apareceu quando surgiram os primeiros sistemas operacionais, que criam uma interface mais amigável, o usuário final só não vê isso acontecendo. E os computadores lidam com informação bem material sim! A informação para ele são os bits, que nada mais são do que cargas elétricas... Nosso DNA também tem informação na forma de diferentes tipos de moléculas, as famosas adenina, guanina, timina e citosina. Igualmente nosso cérebro trata informação bem material na forma de reações eletroquímicas nos nossos neurônios. Não tenha dúvida, informação é matéria. Então não dá para separar hardware de software, pois um depende do outro, um não existe sem o outro. Nós temos a ilusão de que é outra coisa assim como quando você olha para o monitor do seu computador você tem a ilusão de que é algo mais que correntes elétricas passando aqui e ali. Não é extraordinário assistira a um filme no seu computador e pensar que no fundo todas essas cores, sons e movimentos não são nada mais do que cargas elétricas passando nos lugares certos?"

A diferença é que o software "saía" diretamente da cabeça dos operadores, para o computador, sem uma linguagem de alto nível. Eletricidade é eletricidade, eletron é eletron, informação é imformação. Aliás, esta questão da natureza da informação ainda está em aberto e gerando muitos debates entre os teóricos da informação.

Eu acho tudo que envolve tecnologia, percepção extraodinário...Como disse uma amigo meu : é "mágica".

Como disse Arthur C. Clarke, "Tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia." Clarke, como escritor de ficção científica que era, provavelmente estava imaginando tecnologia alienígena ao dizer isso, mas a verdade é que muitas das tecnologias que usamos no dia-a-dia são para nós indistinguíveis da magia. Tudo o que a gente não entende parece mágica e a própria "mágica" que os ilusionistas fazem nos palcos também nos parece incompreensível, embora sempre sejam apenas truques que nós não entendemos. O fato é que mágica é só um sinônimo para ignorância. Como ignoramos como a mente funciona, a preenchemos também com mágica, com fantasmas.

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"Se o modelo do Big Bang estiver correto, definitivamente a possibilidade de criação por um agente não-local está indubitavelmente excluída. Para ressuscitar essa possibilidade, necessariamente o modelo do Big Bang deve estar errado. Não é por acaso que Stephen Hawking disse que não precisamos de Deus para explicar o universo, ele disse isso porque é fato. Com as teorias atuais da Física não há lugar para Deus na criação do universo, essa é uma hipótese desnecessária e pouco parcimoniosa."

Mas isto é uma conclusão sua, não da comunidade científica. Ainda não li o livro do Hawkings, mas ouvi falar que ele postula que a gravidade existia "antes" da existência do espaço-tempo (posso estar enganado). Então, o prórpio argumento do Hawkings, nesse caso, vai contra o que vc está falando.

Para sua informação, o Stephen Hawking fez a seguinte informação em seu último livro: "Não é preciso Deus para criar o universo." Simples assim. Claro que a ciência nunca poderá dizer categoricamente "Deus não existe, está provado." Isso é impossível. "Não é preciso Deus para criar o universo" é a conclusão mais forte a que a ciência pode chegar a esse respeito e é exatamente a declaração dada por um dos maiores físicos de nossa era e compartilhada por centenas de outros físicos de alta categoria: Deus é uma hipótese desnescessária. Não precisamos dele para explicar o universo. Podemos cortá-lo na Navalha de Occam sem dó e nem piedade.

Claro, isso não quer dizer que ele não exista, somente que ele está na mesma categoria dos duendes para explicar o sumiço das meias e dos faunos para explicar a chuva.

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Ps: naõ se esqueça de enviar o argumento que vc falou.

Abs
Felipe


Mandado no link acima. Está sendo um prazer discutir com você, mas essa discussão já está beeemmm longa, será que podemos tentar reduzi-la nos próximos posts?

[]'s!
« Última modificação: 13 de Janeiro de 2011, 14:55:24 por uiliníli »

Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #22 Online: 13 de Janeiro de 2011, 15:11:47 »
Ola Uniliníli,

Concordo....acho que estamos chegando ao ponto onde não teremos mais avanço ::))

Abs
Felipe

Offline uiliníli

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #23 Online: 13 de Janeiro de 2011, 18:16:18 »
Ufa, que bom, eu não tenho muita estamina para debates :P

Offline Feliperj

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Re: A Lógica e o Criador - Encontro Improvável
« Resposta #24 Online: 13 de Janeiro de 2011, 18:40:41 »
Ola uiliníli,

O livro do Hawking (sem s:) já esta´sendo vendido no Brasil ?

Em tempo, li um texto traduzido, e ele fala no surgimento de um multiverso do nada (ex nihilo), sendo que, depois, ele fala que as leis da física criaram este mutliverso. (acho que ele já não serve para defender a sua posição qto ao big-bag ser ou não um surgimento do nada)

Ou seja, para Hawking, o nada é as leis da física.Não é uma postura recente, ele já defendia a existência das leis da física, "antes" do big-bang.

Se o Hawking acha que o nada é a "realidade" onde as leis da física estão, eu acho que é a realidade onde um criador este ::))

Abs
Felipe


 

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