A interpretação de "muitos mundos" não vai contra o princípio da parcimônia?
De certa forma análogo à falta de parcimônia do dualismo, postulando um "outro mundo". Só que isso multiplicando a falta de parcimônia pelo número de mundos que se supusesse estarem se formando a todo instante.
Seria esse o único caso na ciência onde a hipótese mais simples também tem alguma implicação meio intuitivamente absurda? Se há outros casos, há também casos onde teorias complementares ou alternativas removeram o absurdo de forma satisfatória?
A interpretação de muitos mundos não postula outros mundos. Ele é uma conseqüência do formalismo "puro" - a interpretação postula apenas a Eq. de Schrödinger, que governa a evolução temporal da "função de onda".
Vamos supor que eu faça uma medida de "docinho"* de um elétron e que os resultados possíveis são "pouco doce" e "doce pra caralho". Esses resultados são representados por dois "ramos" da função de onda, podendo haver interferência (interação, digamos) entre eles. Vamos supor que eu meça "docinho" e o resultado é "pouco doce". Em seguida, eu meço de novo e o resultado é "pouco doce" e nunca "doce pra caralho". Nós normalmente dizemos que houve um colapso da função de onda - só existe agora o ramo "pouco doce". Mas essa interpretação traz o "problema da medida", isto é, explicar porquê houve o colapso se, afinal de contas, só houveram as interações usuais físicas.
O que a interpretação de muitos mundos diz é que não há colapso - depois da medida, ainda existem os dois ramos na equação de Schrödinger. É o que a equação diz, porque haveria de ser diferente? Temos que dar um jeito de interpretar a resposta, e não corrigi-la com um postulado extra, esse tal de "colapso". A interpretação é falar de "muitos mundos" - os ramos existem, mas em mundos diferentes, e se uma pessoa continua medindo "pouco doce", é porque ela está em um ramo.
A interpretação de muitos mundos é
sweet. É a única que conheço que respeita o princípio da localidade, também. Mas há alguns problemas nela...
* Estou usando "docinho" porque não importa - pode ser qualquer observável físico.