DBohr, eu sinceramente acho que o volume destas reclamações quanto a sarradas no transporte coletivo é muito mais fruto da interpretação dada ao fato do que do próprio fato.
Velho, em coletivos lotados as pessoas se encocham e se sarram, quase sempre involuntariamente. Eu perdi a conta de quantas vezes eu presenciei em ônibus lotados mulheres feias, mas feias mesmo, tipo: daquelas que você nunca ia pensar em tirar casquinha: reclamando aos berros que estavam sendo sarradas por caras que eram claramente muito melhor apresentados que elas, e velho, em cenas que eu próprio presenciei de perto e que eram claramente simples resultado do esfrega natural de um metrô.
Eu particularmente fico até sem graça de entrar em uma condução lotada as vezes, sério mesmo, porque eu cago de medo de que algum dia destes alguma mulher resolva dar um escândalo porque eu esbarrei com minha área de lazer na região búndica dela, fico mesmo, tenso.
É claro que eu não elimino a certeza de que alguns homens o façam de propósito assim como tenho certeza absoluta de que o inverso também exista (inclusive já ouvi relatos de mulheres neste sentido).
De qualquer forma, uma lei como esta trata homens como tarados a priori, não se justificaria nem mesmo se esta postura (de entrar em ônibus lotado pra se porveitá) fosse realmente uma característica mais masculina que feminina, o que definitivamente não acho que seja.
Seria exatamente a mesma coisa que se baseando no número de pessoas que prestaram ocorrências dando queixa de assalto em coletivos e que traçaram o retrato falado dando conta de um negro ou mulato (eu não tenho dúvidas de que há mais queixas de assaltos cometidos por negros do que por brancos, e as explicações mais prováveis não envolvem genética) um outro Picciani ou uma outra Rosinha decidissem criar um vagão exclusivo para brancos para que os brancos que não quisessem correr o risco de terem suas carteiras batidas por negros pudessem viajar em paz. Não vejo a menor diferença conceitual. Não interessa o número de pessoas que você entrevistou e que disseram já ter sido assaltadas por um homem negro, não interessa o número de pessoas que ligou para o DiskAssembléia reclamendo que foi assaltada por uma quadrilha formada por quatro mulatos. Criar lei que tratem homens negros como assaltantes a priori não devia estar em cogitação.
E no caso específico desta lei eu acho que ela mescla duplamente (como não é nem novidade) conceitos feminazis e machistas. Não consigo deixar de entender também que o número de reclamações contra esbarrões masculinos em mulheres nos metrôs tenha sua origem mais profunda na idéia arcaica ainda sobrevivente de que mulheres precisam se manter intocadas, puras, quase-virgens, de família (e o seu paralelo igualmente arcaico de que os homens devam ser garanhões).
Então fica assim:
1- O número de homens e mulheres que efetivamente pegam conduções lotadas para tirar casquinha de algum passageiro/passageira (hehehehehe) é provavelmente mínimo em ambos os gêneros.
2- O número de passageiros/passageiras que em situação de superlotação+curva+solavando acabam eventualmente batendo suas partes íntimas em partes íntimas de outros passageiros ou tocando nas partes íntimas de outros passageiros enquanto passam ou se ajeitam é da ordem da totalidade dos usuários de transportes urbanos.
3- Como se é esperado dos homens que mantenham a pose de garanhão não é comum que um rapaz que sofreu contato (proposital ou não, dificilmente dá pra saber) de uma bunda novinha com sua região peniana num ônibus lotado reclame em voz alta, muito menos que ligue para a Assembléia Legislativa sugerindo uma lei que proiba mulheres de entrar em ônibus lotado.
4- Como ainda é esperado que mulheres se mantenham sempre puras e virgens e mais do que isso, que pareçam sempre puras e virgens, então é esperado que o menor e qualquer toque de um homem (voluntário ou não) em alguma parte mais íntima de uma passageira resulte em pelo menos um bem audível "Epa! Epa! Cuidado aê, ô!".
5- A Assemmbléia Legislativa recebe muito mais notificações sobre mulheres queixosas de terem sido sarradas do que sobre homens queixosos de terem sido embundados.
6- Cria-se mais uma lei que pretende chegar à igualdade através da construção de desigualdades.