Autor Tópico: O combinado nunca sai caro (parte I)  (Lida 4867 vezes)

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Offline Donatello

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O combinado nunca sai caro (parte I)
« Online: 11 de Maio de 2011, 00:17:34 »
Se tem uma coisa no reino da sexualidade que não me estimula de modo algum é a idéia de fazer sexo com puta: o melhor sinônimo que conheço para sexo pago é punheta cara.


Vamos?


Entretanto, acho que a atividade da puta e do gigolô deveria ser considerada tão legítima quanto a atividade de vender Bíblias ou fabricar bala de erva-cidreira. O fato de eu achar tanto uma quanto a outra coisa horríveis não deve ser suficiente para que se as considere imorais ou criminosas.

Prostituição é uma atividade econômica baseada na prestação de serviços entre um ente chamado puta/gigolô e outro ente chamado cliente no qual ambos acertam pacifica e antecipadamente um preço  levando em conta o tipo e serviço prestado (com boquete ou sem boquete, com cuzinho ou sem cuzinho, passivo ou ativo...) e o tempo dedicado (relax de 15 minutos, relax de 30 minutos, balada a noite toda...). É portanto uma atividade que não envolve a priori qualquer ato de violência e que nem faz suspeitar a princípio de qualquer grave perigo ou dano aos próprios participantes e muito menos a terceiros. É claro que como diversas outras atividades econômicas a prostituição tem seus riscos e com em diversas atividades estes riscos podem ser minimizados se tanto fornecedor quanto cliente tomarem algumas precauções.

De qualquer modo, falar no Brasil que a prostituição deve ser legal é chover no molhado: embora tenha muita gente que ache que deveria, no Brasil (ao contrário do que ocorre em diversos países, inclusive no Ocidente) não é ilegal se prostituir

Mas... pasme, é ilegal ajudar alguém que queira se prostituir a fazê-lo.

Pense, se você fosse uma prostituta talvez você achasse legal oferecer seus préstimos em um lugar construido especificamente para este fim: com toda a infra-estrutura necessaria: camas, cadeiras eróticas, brinquedos, boate. Talvez você gostasse ainda da idéia de ter alguém que divulgasse seus serviços conjuntamente com o de outras concorrentes em jornais e revistas, quecriasse uma logomarca que identificasse o seu serviço e o de outras colegas, resultando em uma propaganda mais ampla e eficaz e a um custo menor; talvez você considerasse que é boa idéia operar em um local conhecido e no qual os potenciais fregueses sabem que existem muitas fornecedoras do que trabalhar num conjugadinho escondido no Centro da cidade do qual ninguém ouviu falar ou sabe como chegar.

Se você pensasse assim você teria considerado praticamente todas as razões que levam um comerciante a optar por instalar seu negócio num shopping e não numa loja de rua. Na verdade, embora os estabelecimentos destinados a prostituição no Brasil sejam chamados desde há muito tempo de bordéis, bem que alguém poderia renomear para shopping de puta. Acontece que estranhamente a legislação brasileira não considera de modo algum que o comerciante seja a princípio uma vítima da exploração do administrador doshopping onde instalou a sua loja mas considera que a quenga de bordel (ou shopping de puta) não possa ser qualquer coisa além de vítima do cafetão ( ou administrador do shopping de puta).


Bordel em Amsterdam


Isto implica que de modo bem imbecil a lei brasileira estabelece como criminoso todo o indivíduo que ofereça infra-estrutura para que um grupo de garotas ou garotos de programa exerça sua atividade profissional/econômica mediante acordo prévio e pacificamente assumido que estipule vantagens e obrigações de ambos os lados.

E é aí que chegamos no ponto crucial desta divagação: o acordo prévio. Uma prostituta é uma profissional honesta quando oferece o aluguel de alguma coisa que realmente é dela a um preço previamente combinado: um boquete é x reais, um relax completo é y reais, com cuzinho x+y reais. Compra quem quiser, eu como nunca quis nunca comprei.

O cafetão também deveria ser considerado um empresário honesto quando oferecesse pacificamente o aluguel de um conjunto de bens e serviços que efetivamente prestasse mediante uma taxa que sendo fixa ou variável também fosse pré-acordada tendo a prostituta a opção de pagá-la e usufruir dos benefícios ou não pagá-la e ir se prostituir por conta própria.

Simples assim: dois ou mais adultos, de comum acordo, sem prejuízos a terceiros: foi combinado? Então está no preço.



Quenga acertando as contas com cafetina em Nevada, Estados Unidos



Avançar para a parte II
« Última modificação: 11 de Maio de 2011, 10:05:55 por Donatello van Dijck »

Offline Südenbauer

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #1 Online: 11 de Maio de 2011, 12:44:54 »
Outra coisa que eu não entendo é o alarde que fazem sobre o turismo sexual.
« Última modificação: 11 de Maio de 2011, 12:49:21 por Dr. Strangelove »

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #2 Online: 11 de Maio de 2011, 12:49:53 »
Outra coisa que eu não entendo é o alarde que fazem sobre o "turismo sexual".
Não pega bem porque alguns anuncios no exterior faz pouco tempo, exibiam meninas e meninos que não pareciam ter mais do que 14 anos como principal chamativo.
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Offline Südenbauer

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #3 Online: 11 de Maio de 2011, 12:55:25 »
Exploração de menores aí já  é outra questão... mas o turismo sexual por si não tem nada de errado. Já ouvi falar em "passa uma imagem negativa do país". Bom, se a gente tem um monte de puta... paciência!

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #4 Online: 11 de Maio de 2011, 13:14:04 »
Exploração de menores aí já  é outra questão... mas o turismo sexual por si não tem nada de errado. Já ouvi falar em "passa uma imagem negativa do país". Bom, se a gente tem um monte de puta... paciência!
Neste caso, pra mim essa reclamação cai na mesma daquele pessoal que está falando dos filmes Velozes e Furiosos 5 e de Rio porque eles não retrataram com fidelidade nosso país e porque parece que fizeram a PMERJ de palhaça conseguindo escapar deles depois do assalto. Tinha um biólogo choramingando que as araras azuis não tem 4 dedos, mas sim 3. Poutz.

Mas geralmente esse pessoal só faz barulho, ninguém presta atençao neles por mais do que uma semana.

Os do turismo sexual mesmo só tem voz durante o carnaval, depois somem todos.
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Offline Chemistry

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #5 Online: 12 de Maio de 2011, 10:57:58 »
Já pararam para pensar o pq a f1, tem sempre sua última corrida no Braisl?
"O que me preocupa não é o grito dos maus,

é o silêncio dos bons."

Offline Barata Tenno

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #6 Online: 12 de Maio de 2011, 11:36:57 »
Já pararam para pensar o pq a f1, tem sempre sua última corrida no Braisl?
Sempre não, durante muuuuuito tempo o Brasil foi uma das primeiras corridas.
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Offline Derfel

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #7 Online: 12 de Maio de 2011, 18:53:48 »
Tendo a concordar com você, Donatello, mas uma coisa você está se esquecendo: nem todas as quengas são quengas porque querem, mas são obrigadas a sê-las por exploração do cafetão. Aí entra desde tráfico de pessoas até cárcere privado. E isso é bem mais comum do que leva a pensar no seu texto: lembro que houve uma matéria sobre isso, em relação a bordeis de beira de estrada, na globo. Também não é raro alguém ser contratado no Brasil para trabalhar na Europa (principalmente Espanha, Itália e Holanda) e lá chegando tem o passaporte retido e é obrigado a se prostituir. Atrevo-me a pensar que esses casos são mais comuns que a quenga idealizada do texto.

http://www.observatoriodeseguranca.org/relatorios/trafico

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #8 Online: 12 de Maio de 2011, 18:56:27 »
Tendo a concordar com você, Donatello, mas uma coisa você está se esquecendo: nem todas as quengas são quengas porque querem, mas são obrigadas a sê-las por exploração do cafetão. Aí entra desde tráfico de pessoas até cárcere privado. E isso é bem mais comum do que leva a pensar no seu texto: lembro que houve uma matéria sobre isso, em relação a bordeis de beira de estrada, na globo. Também não é raro alguém ser contratado no Brasil para trabalhar na Europa (principalmente Espanha, Itália e Holanda) e lá chegando tem o passaporte retido e é obrigado a se prostituir. Atrevo-me a pensar que esses casos são mais comuns que a quenga idealizada do texto.

http://www.observatoriodeseguranca.org/relatorios/trafico

Se não me engano, o tráfico internacional de seres humanos, uma grande parte para a prostituição, é um dos 3 mais lucrativos crimes no mundo, junto com o tráfico de drogas e de armas.

Citar
Segundo o Relatório do UNODC, um traficante na Bélgica importava mulheres da
África e vendia cada uma a US$ 8 mil. Mas estima-se que as cifras possam chegar a até US$
30 mil por vítima. Prostitutas russas na Alemanha que ganham US$ 7,5 mil por mês são
forçadas a entregar pelos menos US$ 7 mil a donos de bordel. São mulheres escravizadas,
física e mentalmente, incapazes de pagar suas dívidas ou de pedir ajuda às autoridades
locais. O medo de deportação e de que as famílias sofram maus-tratos pelos criminosos nos
países de origem deixa as vítimas quase sem saída.

[...]

Uma dessas ações, de violação dos direitos humanos,
é o tráfico de pessoas para a exploração sexual ou o trabalho forçado, crime que rompe a
barreira do tempo e que, para continuar existindo, revestiu-se de formas diferentes,
“adaptadas” à modernidade. Essa prática movimenta um grande “mercado” mundial,
razão pela qual torna-se penosa a busca pela sua erradicação. Estima-se que os lucros
gerados por essa prática seja em torno de US$ 31.654 (bilhões) em todo o mundo.
http://www.direitosdacrianca.org.br/midiateca/publicacoes/cartilha-da-politica-nacional-de-enfrentamento-ao-trafico-de-pessoas
« Última modificação: 12 de Maio de 2011, 19:10:49 por Diegojaf »
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #9 Online: 12 de Maio de 2011, 21:59:28 »
Tendo a concordar com você, Donatello, mas uma coisa você está se esquecendo: nem todas as quengas são quengas porque querem, mas são obrigadas a sê-las por exploração do cafetão. Aí entra desde tráfico de pessoas até cárcere privado. E isso é bem mais comum do que leva a pensar no seu texto: lembro que houve uma matéria sobre isso, em relação a bordeis de beira de estrada, na globo. Também não é raro alguém ser contratado no Brasil para trabalhar na Europa (principalmente Espanha, Itália e Holanda) e lá chegando tem o passaporte retido e é obrigado a se prostituir. Atrevo-me a pensar que esses casos são mais comuns que a quenga idealizada do texto.

http://www.observatoriodeseguranca.org/relatorios/trafico
Eu ia tocar neste ponto após a interferência do Strangelove mas deixei passar. Sabia que em algum momento o ponto apareceria mais claramente: é óbvio que muitos cafetões exploram suas quengas, o estereótipo não se criou do nada. Mas o que é a violência aqui? A manutenção de um espaço para a prática da prostituição? A intermediação do serviço? Ou o exercício de algum modo de coerção que leve a prostituta a aceitar as condições do cafetão sem escrúpulos?

Eu acho que esta é a mesma falha (que aqui aparece em maior escala até) de se opor à legalização das drogas porque os vendedores são geralmente assassinos frios e estão ligados à crimes como sequestro e assalto. Ora: a relação com quadrilhas de criminosos armadas até os dentes não é intrínseca ao comércio de drogas: que os digam a InBev, o Bar Heavy Duty na Rua Ceará, a Siboney, o Bar Bukowski, a Heineken, a Souza Cruz, a Pernod Ricard, a Bacardi, o boteco aí perto da sua casa.

Do mesmo modo o rufianismo e o lenocínio não são intrínsecos à violência praticada contra algumas prostitutas. E do mesmo modo que acontece com as drogas eu acho que a criminalização do rufianismo colabora (e muito) exatamente com a ocorrência de violência em algumas relações cafetão X prostituta. Que grande dificuldade haveria em concentrar esforços em combater as casas de prostituição cujos proprietários de alguma forma violentam suas prostitutas sem importunar aquelas casas que têm relações dignas e pacíficas com suas "funcionárias/colaboradoras". Já imaginou se proibissem a oferta de segurança privada visando conter o crescimento das milícias cariocas? Não lhe parece a mesma lógica? E faria algum fuck sentido?

Ainda: em relação à prostituição, duvido mesmo que a maioria das prostitutas estejam em tal profissão porque sejam ou tenham sido em algum momento coagidas. Duvido. Conheço (ou conheci) algumas prostitutas, estudei com uma, fui amigo de infância de outra, fui vizinho de algumas. As que falavam comigo sobre a profissão não falavam como se estivessem em fuga ou coagidas. Uma delas foi morar na Itália SABENDO que ia se prostituir. Como eu disse, não frequento e nunca sequer fui a um puteiro, mas no Rio há centenas ou milhares deles: nunca ouvi falar de uma prostituta ou garoto de programa sequer na minha cidade que tenha denunciado algum bordel por estar sendo obrigada a trabalhar.

Tudo bem: você pode responder "dãããããããã, se denunciarem morrem"; mas se as pessoas denuciarem o tráfico também sabem que correm risco de vida e mesmo assim já ouvi muitos casos de denúncia a traficantes, idem em relação às milícias, idem em relação à máfia do bicho. Nunca em mais de trinta anos morando no Rio ter ouvido falar de sequer uma prostituta que tenha escrito uma carta a um jornal, a uma rádio, ido a uma delegacia, acusado através de um e-mail anônimo... a nenhum dono de bordel da cidade me parece significativo de que a idéia de uma relação pacífica e consensual, boa para ambos os lados, entre as quengas e os cafetões (pelo menos nesta minha parte do mundo) não é tão distante da realidade.
« Última modificação: 12 de Maio de 2011, 22:13:15 por Donatello van Dijck »

Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #10 Online: 12 de Maio de 2011, 22:04:34 »
E mesmo que eu esteja errado quanto a isso: mesmo que apenas um em cada dois mil bordéis no mundo fosse administrado de tal modo que apenas pessoas que desejassem se prostituir trabalhassem neles e de modo que as relações contratuais fossem previa e pacificamente acordadas com o aceite de ambos os lados e a clara definição de direitos e deveres... mesmo que só houvesse um em cada 5000. Estes deveriam ser considerados legais, ao meu ver.

E isto não impediria nem atrapalharia a eficiência do combate a todos os outros onde a relação fosse algo parecida com escravidão.

Offline Derfel

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #11 Online: 13 de Maio de 2011, 16:14:02 »
Mas mesmo onde a prostituição é legalizada isso ocorre: http://www.rnw.nl/portugues/article/brasileiras-s%C3%A3o-v%C3%ADtimas-do-tr%C3%A1fico-humano

O problema não é a prostituição em si (que acho que deveria ser legalizada até por uma questão sanitária), mas o que está por trás dela. Uma pessoa querer prestar o serviço tudo bem, o problema é ser obrigada a se prostituir seja por pressão do cafetão seja por fatores econômicos.

Offline _Juca_

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #12 Online: 13 de Maio de 2011, 18:19:43 »
O problema pra mim é que em 99% dos casos, a prostituição esta ligada à marginalidade. Seja por falta de opção, seja por ser uma opção mais óbvia, ou por ser financeiramente menos pior...

Offline Liddell Heart

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #13 Online: 13 de Maio de 2011, 18:32:49 »
Mas mesmo onde a prostituição é legalizada isso ocorre: http://www.rnw.nl/portugues/article/brasileiras-s%C3%A3o-v%C3%ADtimas-do-tr%C3%A1fico-humano

O problema não é a prostituição em si (que acho que deveria ser legalizada até por uma questão sanitária), mas o que está por trás dela. Uma pessoa querer prestar o serviço tudo bem, o problema é ser obrigada a se prostituir seja por pressão do cafetão seja por fatores econômicos.

Existe alguma medida para impedir a prostituição "obrigatória"?
"Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria."
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"Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la."
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Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #14 Online: 13 de Maio de 2011, 20:11:08 »
Mas mesmo onde a prostituição é legalizada isso ocorre: http://www.rnw.nl/portugues/article/brasileiras-s%C3%A3o-v%C3%ADtimas-do-tr%C3%A1fico-humano

O problema não é a prostituição em si (que acho que deveria ser legalizada até por uma questão sanitária), mas o que está por trás dela. Uma pessoa querer prestar o serviço tudo bem, o problema é ser obrigada a se prostituir seja por pressão do cafetão seja por fatores econômicos.
O problema pra mim é que em 99% dos casos, a prostituição esta ligada à marginalidade. Seja por falta de opção, seja por ser uma opção mais óbvia, ou por ser financeiramente menos pior...
Derfel, ainda não entendi muito bem seu posicionamento. No Brasil a prostituição já é legalizada, o que não é legalizada é a profissão de cafetão que, pelo que entendi, você concorda que não deva ser legal. Mas os porquês de não dever ser legal (a profissão de cafetão) não ficaram claros pra mim. Ou entendi errado, quando você diz que a prostituição deve ser legalizada você inclui o cafetinismo?

Volto a comparar: proibir a manutenção de puteiros alegando que muitos donos de bordel abusam de suas garotas ou mantém sob ameaça suas quengas é o mesmo fechar as empresas de segurança alegando que na Zona Oeste do Rio tem um monte milicianos que obrigam os moradores a contratar o serviço e matam quem não aceitar.

Não faz sentido: se existem bordéis (sejam 99% ou 99,99%... e eu duvido que cheguem perto disso) onde as mulheres são obrigadas ou coagidas pelos cafetões a se prostituir que ESTES cafetões sejam caçados e punidos. Posso parecer grosseiro aqui, posso ser até, mas dizer que muitas prostitutas ainda trabalham sob pressão ou ameaça de seus patrões não acrescenta idéia alguma ao tópico.

O argumento de que as que não são forçadas pelos cafetões são forçadas pelas condições econômicas (ie: por serem muito pobres, com baixa qualificação profissional e poucos anos de estudo, que não tem outra opção... o que já é um estereótipo não muito condizente com a realidade, mas a idéia com certeza era essa) me parece ainda mais raso: serventes da construção civil também só optam por esta profissão por serem muito pobres e terem pouco estudo e qualificação e não terem nada melhor par aceitar... ganham uma merreca como recompensa... na verdade entre a opção de fazer sexo umas 3 vezes por dia sob uma recompensa de 150 reais/dia e a de quebrar pedra/carregar saco de cimento/misturar massa/levantar massa 8 horas por dia debaixo de um sol quente sob a recompensa de 800 pratas/mês não sei se sobraria alguma dúvida em alguém aqui sobre qual a mais inglória. A mim não sobra dúvida alguma.

E eu não sei de ninguém que defenda a criminalização da profissão de dono de empreiteira por isso.
« Última modificação: 13 de Maio de 2011, 20:34:06 por Donatello van Dijck »

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #15 Online: 13 de Maio de 2011, 20:23:51 »
No Brasil, as prostitutas mais organizadas se safam numa zona cinzenta da lei em "clínicas" onde não há uma relação de servidão e hierarquia entre elas, ou seja, não existe uma cafetina, Geralmente elas se revezam como "secretárias" e quando ocorrem batidas policiais, não dá nada (a não ser quando são encontradas drogas e afins).
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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #16 Online: 13 de Maio de 2011, 20:31:33 »
Ahhh, sim, valeu pela informação abalizada, e isso reforça o ponto que a mim é óbvio: mesmo que exista (e eu acredito que exista) esta história de prostituta vitimizada por um cafetão ela não é nem de perto a regra (pelo menos por aqui).

Aliás, eu ia te perguntar e acabei esquecendo: você já atendeu ou sequer ouviu falar de alguma ocorrência em que algum garoto/garota de programa tenha prestado queixa por estar sendo forçado/induzido/coagido a se prostituir? Ou as incursões são sempre batidas expontâneas ou resultado de denúncias de vizinhos, como me parece?

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #17 Online: 13 de Maio de 2011, 20:42:10 »
Aliás, eu ia te perguntar e acabei esquecendo: você já atendeu ou sequer ouviu falar de alguma ocorrência em que algum garoto/garota de programa tenha prestado queixa por estar sendo forçado/induzido/coagido a se prostituir? Ou as incursões são sempre batidas expontâneas ou resultado de denúncias de vizinhos, como me parece?

Batidas em "Zagas Balas" (Zonas Boêmias) só ocorrem no caso de denuncias de uso de drogas ou de pedofília.

Ocorrências com prostitutas já atendi somente de caras que não querem pagar. Quando ocorrem a gente chega no local e a situação já se resolveu e o inadimplente já se mandou.

Mas muito mais frequentes (e algumas vezes hilárias) são as ocorrências de quando o cara é furtado pela(o) garota(o) de programa. Costuma rolar pelo menos 2 vezes por final de semana. Os diálogos são mais ou menos assim:

- O que houve?
- A menina me roubou R$300!!!!
- Uhnn sim. E como ela era?
- Erm... 1,80, negra, ombros largos, voz grave...
- Senhor, era um garoto de programa?
- (olhando pra baixo) É...
- Ok...
- Mas vocês precisam colocar isso?
- Sim.
- Mas eu sou casado!!!
- E?
- Olha, pensando melhor, eu acho que deixei o dinheiro em minha casa.

Geralmente o cara acaba fazendo, senão vai preso por denuncia falsa de crime.
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Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #18 Online: 13 de Maio de 2011, 21:08:32 »
Ou seja: o estereótipo de pobrezinhas das prostitutas forçadas pelos seus cafetões a se prostituir, pelo menos por aqui, é realmente falso. Eu palpito que em grande parte esta história de tráfico de mulheres também seja mal contada, mais ou menos pelo mesmo caminho.

Agora: este negócio de obrigar o cara a manter a denúncia... cês não tem coração não? :o

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #19 Online: 13 de Maio de 2011, 21:21:08 »
Ou seja: o estereótipo de pobrezinhas das prostitutas forçadas pelos seus cafetões a se prostituir, pelo menos por aqui, é realmente falso. Eu palpito que em grande parte esta história de tráfico de mulheres também seja mal contada, mais ou menos pelo mesmo caminho.

Cara, negócio é que não devemos pensar só nas cidades grandes. Aqui a coisa é completamente diferente.

Enquanto viajei pelo Norte de MG, em regiões miseráveis, via meninas de 8 anos indo de caminhão em caminhão atrás de trabalho. Quando elas não eram aceitas, mandavam a irmã, prima, irmão, de várias idades e tipos, até que o cara aceitasse. E viravam mulheres, mães e continuavam na mesma vida, da mesma forma que eram mandados pelos pais, mandam as filhas e filhos. E é esse grupo que entra pras cifras do tráfico nacional e internacional de mulheres. E não são 5, 10, 20 cidades. É um número gigante se você pegar cada pequena cidade do país que está a mais de 100km da capital, onde estes efeitos de "falta de opção" pra classes mais baixas começa a se evidenciar.

Eu vejo aqui que você está se prendendo à personificação de prostituta como dona do próprio nariz, mas e essas meninas que realmente foram obrigadas pelos pais durante a infância e em alguns casos, vendidas? Elas não seriam uma grande excessão a essa regra de "puta faz porque quer/precisa voluntariamente."?

Agora: este negócio de obrigar o cara a manter a denúncia... cês não tem coração não? :o

O deslocamento de uma viatura para atender a um chamado em MG custa cerca de R$800,00 (isso em 2006). Quando o cara comete um engano de boa-fé, é uma coisa. Quando ele age de má-fé, cana.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline _Juca_

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #20 Online: 13 de Maio de 2011, 21:30:53 »

O deslocamento de uma viatura para atender a um chamado em MG custa cerca de R$800,00 (isso em 2006). Quando o cara comete um engano de boa-fé, é uma coisa. Quando ele age de má-fé, cana.

Oitocentos reais???? :susto: Tá certo isso Jaf?

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #21 Online: 13 de Maio de 2011, 21:35:29 »

O deslocamento de uma viatura para atender a um chamado em MG custa cerca de R$800,00 (isso em 2006). Quando o cara comete um engano de boa-fé, é uma coisa. Quando ele age de má-fé, cana.

Oitocentos reais???? :susto: Tá certo isso Jaf?

Esse era o valor de 2006. Entram no cálculo treinamento, salário-hora, combustível, custo da manutenção da viatura, do armamento, da infra-estrutura de atendimento (telefonistas, sistemas, computadores, mais treinamento, etc...).

Não sei quanto seria hoje. Se não me engano, o responsável pelo cálculo era o CRISP-UFMG. Procurarei depois.
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Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #22 Online: 13 de Maio de 2011, 21:35:39 »
Jaf

1 Sim, são, só não são nem um pouco importantes ao tópico, cara.

Volto ao esquema, releia a frase assim: "você está se prendendo aos contratantes de serviço de segurança particular pessoal pelo próprio nariz, mas e essas pessoas que realmente foram obrigadas pelos serviços de segurança privada da Zona Oeste do Rio, em alguns casos com uma pistola na cabeça , e em outros com ameaças não tão veladas a contratar serviços de segurança? Elas não seriam uma grande excessão a essa regra de "contrata serviço de segurança privada quem quer/precisa voluntariamente."?

Eu estou dfendendo apenas estes tantos prostíbulos que você ou seus colegas já visitaram e que não têm nem sombra de coação/obrigação por parte dos cafetões em relação às quengas. Se existem alguns onde realmente o estereótipo se aplique, que os donos apodreçam na cadeia.

Basta, ao contrário da lei atual, estabelecer que "com evidência de coação=crime", "sem evidência de coação=legal"... e aplicar a lei, que é o mais difícil por aqui, independente de como ela esteja redigida ou o que ela diga.

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2 Era brincadeira (pelo fato de que todo mundo ia ficar sabendo que o cara gosta de um creme na rosca, coitado :hihi:)... eu entendo a necessidade de punir a falsa notificação :)
« Última modificação: 13 de Maio de 2011, 21:47:57 por Donatello van Dijck »

Offline Diegojaf

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #23 Online: 13 de Maio de 2011, 21:49:57 »
Jaf

1 Sim, são, só não são nem um pouco importantes ao tópico, cara.

Volto ao esquema, releia a frase assim: "você está se prendendo aos contratantes de serviço de segurança particular pessoal pelo próprio nariz, mas e essas pessoas que realmente foram obrigadas pelos serviços de segurança privada da Zona Oeste do Rio, em alguns casos com uma pistola na cabeça , e em outros com ameaças não tão veladas a contratar serviços de segurança? Elas não seriam uma grande excessão a essa regra de "contrata serviço de segurança privada quem quer/precisa voluntariamente."?

Mas ali não é segurança privada, é extorsão.

Eu estou falando apenas destes tantos prostíbulos que você ou seus colegas já visitaram e que não têm nem sombra de coação/obrigação por parte dos cafetões em relação às quengas. Se existem alguns onde realmente o estereótipo se aplique, que os donos apodreçam na cadeia. Basta, ao contrário da lei atual, estabelecer que "com evidência de coação=crime", "sem evidência de coação=legal"... e aplicar a lei, que é o mais difícil.

Problema aí é que hoje, a política nacional de combate a crimes sexuais e tráfico de pessoas vê essas situações como excessões. Dessa forma, o tratamento padrão será o destinado às prostitutas de cidades do interior.

Sinceramente, não sei quem é regra e quem é excessão. São muitas cidades pelos interiores afora e é um número muito difícil de aferir, mas hoje, a própria justiça pelo que vejo, já trata com diferença as putas da "cidade" e as do "campo". A lei existe, mas chegou a tal ponto de "cada caso é um caso" que praticamente não se aplica rufianismo em grandes cidades, salvo em casos de grande repercussão, como aquele em SP, RJ onde um famoso dono de boate e uma assecla se viram presos pela PF.


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2 Era brincadeira... eu entendo a necessidade de punir a falsa notificação :)
Já é.
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Offline Donatello

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Re: O combinado nunca sai caro (parte I)
« Resposta #24 Online: 13 de Maio de 2011, 22:07:22 »
Citar
Mas ali não é segurança privada, é extorsão.
Eu nunca fui fã de fotopostagem mas me deu uma baita vontade de postar uma caricatura de um moleque com os braços erguidos gritando BINGO!!!.  :)

Porque ali no bordel do estereótipo também não é mero rufianismo: é estupro, extorsão, cárcere privado...

A segurança privada e o rufianismo são problemas do mesmo nível (nível zero); o estupro, o cárcere privado, a extorsão ou que diabo for associados seja à segurança privada, seja ao rufianismo... são problemas de outros níveis.
« Última modificação: 13 de Maio de 2011, 22:10:53 por Donatello van Dijck »

 

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