Permita-me discordar totalmente de suas definições, já que elas me parecem totalmente nonsense. Ateísmo, por definição, é apenas e tão somente a não crença em deuses. Ponto! Ateísmo é uma definição polar (tipo sim/não) e nenhuma definição desse tipo admite qualquer tipo de qualificativo. Não existe, portanto, isso que define como "ateísmo político" ou "ateísmo psicológico". Seria o mesmo que definir coisas como "ausência vermelha" ou "inexistência verde", o que só é possível como licença poética.
Fique a vontade para discordar das minhas definições assim como eu discordo das suas. Primeiramente cada ateu tem o seu ateísmo e poder ficar nesse ateísmo dogmático e simplificado, segundo a minha modesta opinião
A poesia e a arte representam aspectos importantes da humanidade, ajudando na sua criatividade e conseguentemente no avanço científico, como postulou Herbert Spencer no embasamento de sua psicologia.
Para Marx, a religião é o ópio do povo e justamente por este fator de alienação para com a realidade que a religião inflige. Por isso a busca de um paraíso celeste deveria ser substituída pelo paraíso socialista.
Marx publicou seus estudos durante o auge da revolução industrial, período em que os trabalhadores e a classe proletária não gozavam de direito algum e em uma época em que os estados europeus finalmente começavam a tomar forma (unificações alemã e italiana, definição de espaços étnicos europeus, etc). Marx explica claramente o papel da religião como um dos artifícios de dominação sobre os povos (ele ainda não conhecia a mídia de massa...). A menção ao ateísmo, como postura filosófica, é muito pequena, na obra de Marx.
Pequena porém muito contundente. Ele demonstra este aspecto de desilusão com a realidade, de desgosto com ela e a aceitação das maravilhas da fantasia como uma forma de amenizar este sofrimento. Por isso a associação da religião com o ópio.
Porém vou mais longe ainda e digo que pelo ateísmo cético, o de Carl Sagan, a beleza estonteante do universo é muito superior a qualquer tipo de religião.
Primeiramente, todo ateísmo é, necessariamente, cético (ou então será apenas uma opção vazia). A postura de Sagan, em relação à ciência é de deslumbramento frente ao que ela descobre e conclui. Muitos cientistas (entre eles Einstein, que era deísta) experimentam esse mesmo sentimento. Incluo-me nessa lista. Em minha opinião, existe muito mais poesia na realidade do que na fantasia e no sonho.
Também já me opus a esta definição de ateísmo cético com o ateísmo dogmático. Eu não tenho dúvida alguma de que deus não é um ser real. A postura de Sagan é também um argumento de autoridade que gostamos de utilizar no meio cético. A sua base psicológica é muito fraca e fácil de derrubar, como a sua utilização da falácia do argumento de autoridade, que já é uma falácia por si própria, é uma regra do ceticismo de Sagan.
E eu pessoalmente não tenho como negar, por isso digo alegoricamente, que esta "religião ateísta" é muito mais sublime pela sua "verdade revelada". E Sagan tem muito este aspecto religioso com a ciência, que faz parte da "bíblia" ateísta de Dawkins, o seu primeiro capítulo discorrendo sobre esta religiosidade científica em Sagan e em Einstein.
Maravilhar-se é muito diferente do que o zelo religioso. A maior homenagem que se pode prestar à ciência é justamente duvidar de suas conclusões, continuar pesquisando e admitir que o método científico não inclui a verdade absoluta e que tudo o que afirmamos hoje pode ser questionado amanhã, pelo próprio método da ciência. A verdade absoluta é totalmente acientífica e não existem respostas fáceis em nenhum campo de pesquisa. Se você quiser a certeza e a resposta fácil, procure uma religião.
Esse tipo de argumento que me parece ser um terço ateísta, com direito a uma ética de humildade diante da grande realidade desconhecida. Para mim a ciência é a certeza, é a verdade absoluta, é o conhecimento real. Já a religião é a mentira, é a enganação, é a resposta errada. Não significa ser fácil ou difícil, pois o conhecimento científico é bem disponível e faz parte do nosso embasamento em nossas discussões nó fórum, por exemplo, além das produções acadêmicas que são científicas também.
Minha opinião sobre Dawkins (e eu poderia incluir, também, Dennett, Harris e Huitchens): ele é um cientista de contribuições modestas e que toma o ateísmo como uma cruzada. Penso que isso é pura perda de energia. Deixe quietinho e as religiões tornam-se irrelevantes, como se pode observar pela situação atual das mesmas na Europa. O grande problema dos 4 cavaleiros reside na impaciência e intolerância que os mesmos têm com o ser humano (submetido a milhares de anos de religião). Além disso, utilizam-se do mesmo tipo de discurso e pregação usado pelos pastores fundamentalistas. Há uma enorme distância entre Dawkins e Sagan: a distância da compreensão do ambiente humano.
Então você está validando uma resposta positiva ao tópico e relacionando o comportamento destes como tipicamente religioso. Este é um entendimento comum sobre estes autores e que não se restringe aos crentes, como logo afirmaram acima. Porém somos, aqui, inúmeros leitores que apreciam os livros destes ícones do ateísmo. Sagan não era propriamente ateu, estava mais para agnóstico, daí o enfoque no cetismo científico.
Porém para compreender esta sublimação do senso de religiosidade, deste religare, é possível com o ateísmo psicológico, mesmo com Freud. É este que demonstra a força dos instintos sexuais (máquinas gênicas replicantes) e seu aproveitamento social para a espécie (a sublimação). Numa tese de biologia e psicanálise, misturam Freud, Dawkins e Dennett, genial
Nada disso deveria ser misturado, não é mesmo? Sugiro, também, que reestude as obras de Freud para entender a diferença entre sublimação sexual e a projeção da ciência ao sublime, produzida por Sagan (o qual jamais propôs essa forma de sublimação como mecanismo fisiológico).
Tudo é misturado. E a mistura é para saber separar bem tudo. A sublimação não é um mecanismo fisiológico e sim psicológico. O que liga o fisiológico ao psicológico que é abordado na tese e de maneira muito brilhante. Mas não se preocupe, a psicologia cognitiva me aguarda
Mas Sagan é especial mesmo, eu o tenho como um gênio, principalmente na divulgação científica (assim como o Dawkins). Estes dominaram a mídia televisiva, depois do sucesso de seus livros, e transmitiram a informação que científica que detinham com grande sucesso.
Para simplificar de forma objetiva e diferenciar o meu ateísmo, este vai além de Dawkins e Sagan, e é neste ponto que se diferencia, pois engloba Marx, Freud, Feuerbach, Onfray, entre outros. E estas pessoas tem no ateísmo um traço marcante de suas vidas, queira você ou não
O fato de uma ou mais pessoas terem o ateísmo como traço marcante de suas vidas é totalmente irrelevante. Isso não passa de puro argumento de autoridade.
É como eu disse acima. Uma regra da listinha de falácias do
Mundo assombrado pelos demônios é muito simplista. O histórico disto é que ficamos tentando enquadrar os argumentos alheios em alguma possível falha deste mandamentos do argumento perfeito.
Mas de qualquer forma, agradeço as suas respostas e me sinto honrado. Sei que você é das antigas por aqui e já ouvi histórias destes tempos nos encontros