De ser ateu eu realmente não sei porque não sou (ideologicamente, é claro). Para quem se define ateu, entendo que não há muitos benefícios vivendo num mundo de crentes. Há, mesmo, muitas desvantagens. Eu penso que se é para abraçar alguma doutrina que tenha, como único fim, o "alívio de dores", deve ser melhor abraçar a doutrina da maioria.
Agora, se a pergunta fosse "Quais os benefícios de ser plenamente cônscio da inexistência de deuses e de quaisquer outros artefados mágicos criados pela mente?", vejo um único benefício que, por si só, já justifica o status mental sobre qualquer outro possível benefício e minha resposta é imediata: a totalidade da ciência. Ciência existe onde não existe magia. Muitos crentes (que não vêem a si próprios assim mas que, contudo, o são) pensam que é possível tal aberração porque não percebem que apenas caminham por trilhas já abertas por pioneiros que fizeram o "trabalho sujo" anteriormente. Se estas "trilhas" não tivessem sido abertas, seriam inevitavelmente crentes confessos até para si mesmos. Não há ciência sem o abandono (ou isenção?; não sei o quanto ou de que forma esse "abandono" seria viável *antecipadamente*; crentes só abandonam crenças quando conseguem enxergar uma *vantagem* maior no ato, não uma *razão* maior, por isso são incapazes de fazer ciência) da crença. Ciência, *como instituição humana*, avança, precisamente, pelo abandono de crenças. Muitas crenças já tiveram que ser abandonadas para que esta trilha científica se abrisse e não há alternativa: outras crenças mais terão que ser abandonadas para seguir adiante. Um avanço científico nunca ocorre sem que passe por cima do cadáver de alguma crença. E essa é uma das muitas características úteis para diferenciar ciência de tecnologia -- duas coisas TOTALMENTE diversas ainda que interrelacionadas e a cada dia mais confundidas uma com a outra por uma ingente e crescente maioria. Tecnologia pode conviver com crenças (e este, diga-se de passagem, é o grande drama da humanidade); ciência, não.