A propósito, Blues Brother, Sir Karl Popper era um entusiasmado adepto da democracia ateniense. A maior parte do Volume 1 de "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos" utiliza Atenas como o paradigma da sociedade aberta.
Esse trecho do discurso de Péricles (em homenagem aos mortos na Guerra do Peloponese) eu li pela primeira vez nesse livro do Karl Popper:
"Nosso sistema político não compete com instituições que vigoram em outra parte. Não copiamos nossos vizinhos, mas tentamos ser um exemplo. Nossa administração favorece a maioria em vez da minoria: por isso é chamada "democracia". As leis concedem justiça igual para todos igualmente em suas disputas privadas, mas não ignoramos as reivindicações do mérito. Quando um cidadão se distingue, então será ele chamado a servir ao Estado, de preferência a outros, não como questão de privilégio, mas como recompensa ao merecimento; e a pobreza não é obstáculo para tal. A liberdade de que gozamos estende também à vida comum; não temos suspeitas uns dos outros e nem importunamos o próximo se ele prefere agir como lhe apraz... Mas esta liberdade não nos priva de lei. Somos ensinados a respeitar os magistrados e as leis e a nunca esquecer que devemos proteger os ofendidos. E somos também ensinados a observar aquelas leis não escritas cuja sanção repousa apenas no consenso universal do que é justo...
Nossa cidade tem as portas abertas ao mundo; nunca expulsamos um estrangeiro... Somos livres para viver exatamente como nos apraz, contudo sempre estamos dispostos a enfrentar qualquer perigo ... Amamos a beleza sem comprazer-nos em fantasias, e embora tentemos aprimorar nossa inteligência, isso não nos enfraquece a vontade... Não consiste para nós uma desgraça admitir que alguém é pobre; mas consideramos desgraçado não fazer esforços para evitar isso. Um cidadão ateniense não deve negligenciar as coisas públicas quando atende a seus negócios privados... Consideramos o homem que não toma interesse pelo Estado não como inofensivo, mas como inútil; e embora apenas poucos possam dar origem a uma política, somos todos capazes de julgá-la. Não encaramos a discussão como uma pedra de tropeço no caminho da ação política, mas como uma preliminar indispensável para agir sabiamente... Acreditamos que a felicidade é o fruto da liberdade, e a liberdade o do valor, e não recuamos ante os perigos da guerra... Em resumo: proclamo que Atenas é a Escola da Grécia e que o Ateniense, individualmente, cresce desenvolvendo-se em feliz versatilidade, em presteza para enfrentar emergências e em confiança em si mesmo."