Acabei de voltar do colóquio do Dr. A. Paoloni, um dos autores do artigo.
Ele cobriu vários pontos, explicou detalhadamente o processo de sincronização dos relógios e do cálculo dos atrasos devido ao trânsito do sinal pelo equipamento, também falou do método de medida da geodésica e da distância entre os labs. Até a dilatação térmica da fibra óptica que manda o sinal do GPS para o lab foi levada em conta e desconsiderada.
Os pontos mais "frágeis" da calibração são a geodésica e o método de "visão comum" do GPS, que faz os dois receptores receberem o sinal do mesmo satélite.
Quanto à geodésica, os caras mediram as distâncias com precisão de 20cm (que dá 0,6ns de diferença no tempo de voo da luz) e parece que poderiam ter reduzido o erro para 6cm, mas como eles não tinham autorização para fechar o túnel inteiro (o laboratório fica dentro de uma montanha e é acessado através de um túnel rodoviário), tiveram que se contentar com medidas ao longo de uma só faixa da pista.
Quanto à sincronização por visão comum, a principal crítica diz respeito a possíveis diferenças na composição da ionosfera no caminho do sinal entre o satélite e cada um dos laboratórios, mas medidas de calibração desse método em outros lugares mantêm o erro abaixo dos 3ns. Além disso, a diferença de tempo também foi calibrada carregando um relógio portátil de um lab ao outro e medindo a sincronia e a diferença de fase, que ficou abaixo dos 2ns também.
Quanto à ideia que postaram aqui de mandar um sinal de luz sincronizado com os neutrinos, claro que não dá pra fazer assim, pois o caminho do feixe passa 11km abaixo da superfície, mas entendi que eles estão preparando detectores de muons, que são produzidos ao mesmo tempo que os neutrinos, e isso pode ajudar a detectar erros sistemáticos.
Outra ideia que estão procurando implementar é sincronizar os relógios com fibra óptica, o que reduziria o erro dessa parte para a casa dos picossegundos.
Entre as questões da plateia, uma que chamou a atenção foi a possibilidade de a velocidade da luz que temos como referência conter um erro sistemático, mas a precisão das medidas que definiram a velocidade da luz (que hoje é fixa e é a base da definição do metro) são da ordem de 10-13 e 10-9, e a diferença relativa entre a velocidade medida dos neutrinos e a velocidade da luz é de 10-5, então acho que isso está descartado.
Pessoalmente, o cara disse que procura várias fontes de erro sistemático e disse que ouve muito comentários do tipo "vocês estão obviamente errados", a que ele responde com "errados, talvez, mas não obviamente". Os resultados enviados para publicação correspondem a feixes de 2008 e 2009, feixes de 2010 e 2011 estão sendo analisados.