Algumas dessas suposições adaptativas sobre o corpo da mulher são provavelmente equivocadas.
Os seios fartos não se correlacionam nada* com melhor capacidade de amamentação (seios inexistem em outras espécies aparentadas que amamentam perfeitamente bem, e até mesmo homens, sabe-se lá como, podem amamentar sem desenvolver seios), e os quadris das australopitecinas até me parecem também ser melhores para o parto, o canal de modo geral era proporcionalmente mais largo. Ao mesmo tempo, já em Homo sapiens, enquanto a largura "de lado a lado" aumentou, o diâmetro diminuiu um pouco proporcionalmente, ficou mais chato (ou "platipóide" em vez de "ginóide"). Provavelmente não o suficiente para ser um problema significativo, de qualquer forma, ainda que seja possível algo evoluir por seleção sexual e ser mal-adaptativo ao mesmo tempo. O que diga-se de passagem é o caso dos seios e amamentação, eles tornam mais difícil amamentar, a mulher precisa tomar cuidado para não sufocar o bebê.
E que eu saiba nunca houveram essas taxas "muito altas" de mortes pelos bebês não conseguirem passar pelo canal. De qualquer forma isso não se deve à largura do canal em si, mas à posição do bebê antes do parto e outras complicações que não são exatamente ordinárias e não foram pressão seletiva para o aumento na largura do canal.
As teorias mais recentes sobre evolução desses dimorfismos sexuais em humanos (ou mais especificamente humanas, já que divergiram mais) parecem tender a atribuir tudo principalmente à seleção sexual "pura", sem trazer de carona algo realmente adaptativo ("runaway sexual selection"). O instinto de atração por alguma característica pode surgir sem que essa característica traga qualquer vantagem, mas ela então passa a levar alguma vantagem apenas por causa disso, por ser considerada atraente. Nesses casos está havendo a reprodução das duas coisas, tanto do instinto para achar a característica atraente, quanto da característica em si. Eu não tenho bem certeza mas me parece que esse tipo de seleção sexual é uma das melhores explicações para casos de diversidade de espécies em que não há qualquer diferença adaptativa/de nicho aparente, exemplos sendo um monte de ruminantes africanos que mudam principalmente só nos tipos dos chifres e uma porção de aves também (não só pavão e outras aves com adornos mais extravagantes, mas uma grande variedade de espécies).
* bem, talvez isso não seja exatamente correto, mas não é a correlação causal que pode se imaginar, mas seria mais algo relacionado à sensibilidade aos hormônios que feminilizam o corpo, ou produção insuficiente dos mesmos; se alguma dessas duas coisas ocorrem, serão afetadas tanto as características mais diretamente relacionadas à fertilidade quanto características apenas "superficiais", já que compartilham os mesmos gatilhos. .