Essas são as palavras que meu âmago me dizia nos últimos dias. Em decorrência de uma grande frustração cheguei – na hora da fraqueza – imaginar que, talvez, quem sabe, se arriscando, uma divindade poderia me socorrer naquele momento de angústia.
Sou tradutor, membro desse site já há bastante tempo, mas devido aos últimos acontecimentos me afastei um pouco aqui da turma. Hoje, isolado num quarto de hotel, resolvi dar uma passada.
Bem, há uns dois meses recebi uma proposta de trabalho numa grande mineradora na região da Serra Pelada – Pará. Aceitei. Lá, fazia traduções de textos, conversações etc. Mas como sou uma pessoa muito dependente da família, e por estar distante, comecei a beber num fim de semana. Foi muito vinho – infelizmente não posso beber, pois sou alcoólico. Mas vejam! isso não quer dizer que vivo com a cara cheia, sou alcoólico abstêmio, às vezes tenho recaídas. Tenho me mantido sóbrio significativamente.
Voltemos ao assunto. Bem, devido à angústia da ressaca na segunda, acabei bebendo outra vez. Nisso, fiquei ausente por três dias da empresa – isso jamais aconteceu antes em minha vida profissional, mas também jamais me senti tão distante e desprotegido (falta da família). Enfim, na quinta-feira daquela semana voltei ao trabalho, entrei na sala de minha coordenadora e me desculpei pela negligência, e que estava disposto a reparar o erro da melhor maneira possível.
Eu já havia realizado um trabalho ao longo daquele período – tradução, inclusive interpretação simultânea em algumas ocasiões. A coordenadora olhou pra mim e disse: “ok, eu vou ver isso”. Os dias se passaram, voltei a realizar meu trabalho, mas algo terrível aconteceu na empresa. Descobriu-se que um rombo de 15 milhões havia sido feito naquela ocasião. A empresa, diante disso, começou a demitir muita gente, umas 200 pessoas. E imaginem que estava nesse meio? Exatamente, foi isso. Mas o que me deixou decepcionado foi o fato de que eu, pelo que percebi, fui demitido pelo a falha dos três dias. Um pretexto para que fosse demitido naquela hora de crise da empresa. Éramos três tradutores, um tinha que ir. Sobrou pra mim que estava manchado.
Voltando atrás um pouco. Quando eu estava na angústia da perda por conta de minha recaída, senti-me deprimido, desorientado, cheio de remorso, e nessa onda de tristeza, eu me perguntava: “Será que há um deus que possa me ajudar agora?”. O fim é que fui demitido. Voltei ao normal, ainda estou no hotel esperando que eles deem a rescisão e me liberem.
Queridos, por mais que eu tenha questionado, refletido e me dado a chance de acreditar, cada vez mais me convenço de que deus é produto da fraqueza humana. Quase sempre nas horas de angústia a fraqueza faz com que ele emerja do sofrimento – mas apenas como produto do próprio sofrimento. Não digo isso em relação aos céticos mais experientes.
Estou firme e ciente de que meus problemas resolverei eu, e não uma entidade que irá se materializar dos meus pensamentos nas horas de angústia. Eu sei disso. Não adianta, isso é da fraqueza.
P.S.
Gostaria de pedir aos colegas que não brincassem com a questão do alcoolismo, isso é um problema sério, não é “falta de vergonha” como alguns dizem. Sou uma pessoa séria, tenho uma família, respeito, ética e amo a verdade. Infelizmente, tenho essa maldita doença, por isso recomendo que sejam amigáveis com essa questão, pois esse é um lugar onde já encontrei muito conforto, e espero que continue assim. Um abraço, Feliz Natal e mais um ano de vida e de Clube Cético.
Rony