Já chorei minhas pitangas sobre a ridícula nota que tirei na redação do ENEM lá no
muro das lamentações, ainda estou um tanto borocochô, o SISU tá aí rolando e eu não sei no que vai dar, mas provavelmente vai "dar rúim"... E acabo de ler uma matéria em O Globo sobre o tema. Minha questão não é nem sobre a justiça da minha correção ou desta pobre coitada que nem eu... mas sobre a produtividade em usar redação como método avaliatório de acesso à faculdade e sobre em determinados casos (como no ENEM) esta ser a prova de maior peso.
A avaliação de uma redação não depende apenas da capacidade do redator escrever ou desenvolver seus raciocínios. Depende obviamente da boa vontade do corretor para com as idéias expostas ou pelo menos da boa vontade do corretor em deixar um pouco de lado suas próprias idéias sobre o tema na hora de compor a nota, o que acho até mais difícil.
Ainda, e talvez mais importante: a avaliação não depende apenas do conhecimento dos alunos, depende do nível de conhecimento dos professores: um típico professor de Espanhol formado pela Estácio de Sá dificilmente atribuiria uma mesma nota a uma redação que um típico professor de Inglês formado pela USP, seja qual for a redação. A experiência me convence de que indivíduos que se matriculam nas universidades particulares de shopping da esquina costumam ter uma distância de conhecimento enorme em relação aos que acessam as públicas para as mesmas carreiras (com excessões, mas raríssimas, creio que ninguém aqui discorda). E também me é bastante óbvio que esta distância "cognitiva" ou "de bagagem intelectual/acadêmica/profissional" só se agrava ao longo dos cursos. É quase certo que a competência do segundo em identificar um texto bem escrito em relação ao primeiro é imensamente superior. Mas ambos podem ser selecionados para corrigir provas diferentes ou para compor a nota de uma mesma prova.
Pergunta: é justo, e mais do que justo, desejável para o que se propõe: selecionar os indivíduos com maior volume de conhecimento, que uma nota sujeita a tamanhas variáveis, se configure na nota de maior peso no ENEM (a única que pode chegar a 1.000 inteiros a partir da adoção do TRI) ou no caso de algumas intituições, como a UFRJ, ela ainda seja multiplicada para ter ainda mais peso?
Sei que a imensa maioria dos foristas já passaram há muito tempo desta fase braba de vestibulares. Eu também devia ter passado, mas enfim... acho que cabe refletir sobre isso, inclusive sobre o impacto dos métodos de seleção acadêmica, sobre como estas mudanças nos vestibulares para as públicas nos últimos anos podem refletir nos resultados da educação superior (e por isso coloquei nesta seção, embora não fale sobre Física/Biologia/Cibernética/etc acho que é a que melhor se aplica).
A história desta menina, que tenho certeza de que é a minha também, me
MEC cogita erro de digitação em revisão de nota do Enem 2011
RIO - O Ministério da Educação (MEC) admitiu um possível erro de digitação na revisão da nota de uma candidata ao Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Em um dos casos mais discrepantes, a estudante carioca Bianca Peixoto teve três notas diferentes atribuídas ao seu texto: 800, pelo primeiro corretor, 0 pelo segundo e 440 pelo supervisor de correção (em um máximo de 1.000). Graças a uma liminar concedida pela Justiça Federal no Rio*, ela teve acesso à redação e redigiu um recurso com ajuda de dois professores, enviado ao MEC por email.
No último sábado, Bianca recebeu uma resposta do MEC com informações conflitantes: no terceiro parágrafo, informa-se que "a nota atribuída ao participante pelo corretor-supervisor foi de 680" e, no quinto, que "a observação dos critérios (...) mostra a justeza da pontuação do corretor supervisor, 440".
Também por email, a assessoria de imprensa do MEC disse que "pode ter sido um erro de digitação, e a nota dela é 440 e está mantida". No entanto, segundo Diogo Rezende, advogado de Bianca, o 3º Juizado Especial Federal mandaria intimar o MEC para correção da nota.
— O juiz deu prazo de 24 horas para o MEC corrigir a nota para 680 sob pena de multa — disse Rezende.
Enquanto isso, a estudante continua aflita, sem uma definição sobre sua nota. Candidata a uma vaga em Medicina, ela diz que sempre tirou boas notas em redação:
— Estou muito chateada, chorei muito quando soube que a nota havia sido mantida. A argumentação do MEC é muito incoerente, pois julgaram minha redação inteira apenas pelo primeiro parágrafo — lamenta Bianca.
A pedido d’O GLOBO, um professor de redação que é corretor do Enem 2011 corrigiu a redação de Bianca e atribuiu uma nota de 720.
— Li a redação e apliquei a grade de acordo com o treinamento que recebi do próprio CESPE/UnB. Fiz questão de ser rigoroso na correção, e a nota dela, na pior das hipóteses, receber 720, mas também poderia dar 800 tranquilamente. O corretor que deu 0 só leu o primeiro parágrafo — disse o corretor, que não pode se identificar por ter assinado um termo de sigilo. — Apesar de em alguns momentos o parecer justificar com alguma pertinência a nota de 440, a atribuição dos pontos não condiz em nada com a grade que deveria ser, de fato aplicada. É muito revoltante!
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/vestibular/mec-cogita-erro-de-digitacao-em-revisao-de-nota-do-enem-2011-3627805#ixzz1j6U5abzX
PS.: parabéns à menina

por ter levado a questão "pro pau", não cabia recurso nem vistas de prova pelas regras do ENEM*, mesmo que ela não ganhe nada (ie: não tenha sua nota recorrigida justamente) chamou a atenção de parte da mídia e sociedade para o problema. É o que eu e muita gente deveria ter feito, se não fossemos um bando de inertes.