To esperando alguém ler a carta do Einstein que postei algumas paginas atrás, mas coincidentemente ninguem leu, só porque mostra claramente que a posição de Einstein em relação à metafísica é muito diferente da que reina como um mito na cabeça dos colonizados.
Até porque, diferente dos colonizados, ele sabia o que singificava metafísica e não o tinha como um conceito vulgar, como ele é tomado aqui normalmente.
Mas não é uma carta, é um artigo publicado em uma conferência na Holanda em 1920.
Porém você poderia ser mais específico e mostrar onde e como exatamente o artigo "descamba" para a metafísica? Não estou afirmando que não, nem discutindo física com você, mas se o ponto central da sua argumentação é a de que conceitualmente a teoria e/ou os pontos de vista de Einstein implicam necessariamente na idéia de Deus, então você, até por uma questão de didática, poderia esclarecer aos menos versados em Física como o artigo em questão, ao sugerir que o espaço-tempo concebido como um intermediador ( meio ) de fenômenos físicos poderia ser considerado como um NOVO conceito de éter, estaria também implicitamente concluindo que a natureza possui um viés ( ou origem ) metafísico.
Porque explicitamente, pelo menos, isso não é dito.
Hum... Enquanto eu não domino tensores, versores, e essas papagaiadas da modelagem matemática, conceitualmente continuo com o próprio Einstein, o espaço-tempo é um éter no sentido Aristotélico, Parmenidico, classico...
Mas dessa forma você não está com Einstein. Boa parte do artigo é dedicado a explicar como o espaço-tempo, visto como um novo conceito de éter, essencialmente diverge da idéia de éter assumida por Lorentz, e esta sim, se aproximaria mais de um éter no sentido daquele proposto por Aristóteles.
But this conception of the ether to which we are led by Mach's way of thinking differs essentially from the ether as conceived by Newton, by Fresnel, and by Lorentz.
The ether of the general theory of relativity is a medium which is itself devoid of all mechanical and kinematical qualities, but helps to determine mechanical (and electromagnetic) events.
What is fundamentally new in the ether of the general theory of relativity as opposed to the ether of Lorentz consists in this, that the state of the former is at every place determined by connections with the matter and the state of the ether in neighbouring places, which are amenable to law in the form of differential equations,; whereas the state of the Lorentzian ether in the absence of electromagnetic fields is conditioned by nothing outside itself, and is everywhere the same.
Citando o Físico e Historiador da Ciência Roberto Martins em palestra proferiada na Unicamp.
“Se por acaso Einstein tivesse morrido e não publicado o artigo sobre a relatividade especial, ainda assim ela teria surgido porque havia várias outras pessoas trabalhando na mesma direção.” As equações básicas dessa teoria são as chamadas “transformações de Lorentz”. Ele mostra que não se pode medir a velocidade em relação ao éter, mas não exige que se negue a existência do éter. Segundo Poincaré, não interessava se o éter realmente existia. O importante, segundo ele, era que tudo acontecia como se ele existisse e essa hipótese era adequada para a explicação dos fenômenos.
“Do grupo de cientistas que desenvolveram a teoria da relatividade especial, Einstein tinha uma posição diferente”, relatou Martins. Ele seguiu basicamente a posição filosófica do austríaco Ernst Mach (1838-1916), segundo a qual não se deveria utilizar na ciência nada que não pudesse ser observado ou medido – a ciência só deveria trabalhar com coisas que pudéssemos medir e observar. Ele tinha atacado diretamente o espaço e o tempo absolutos do Newton porque não preenchiam esses requisitos. Einstein aderiu à crítica de Mach ao éter e rejeitou seu uso na física.
Quando Einstein começou a trabalhar na teoria da relatividade geral – e não da relatividade especial, tratada até aqui – ele utilizou o conceito de espaço-tempo (como se fosse uma só palavra) criado pelo matemático lituano Hermann Minkowski (1864-1909). O espaço-tempo de Minkowski era principalmente uma ferramenta matemática. É com esse instrumental que Einstein construiu a teoria da relatividade geral. Na relatividade especial o espaço é plano, chato. Na relatividade geral, o espaço-tempo é complicado, curvo, e isso produz efeitos importantes. Essas curvaturas são produzidas pela presença ou proximidade de matéria e energia que produzem deformações. “Nessa teoria, o Sol não atrai os planetas, ele produz uma deformação no espaço-tempo e os planetas, ao se moverem nesse espaço-tempo curvo, são obrigados a seguir trajetórias especiais”, explicou Martins.
Um amigo de Einstein, o holandês Paul Ehrenfest (1880-1933), viu algo estranho na relatividade geral e escreve uma carta para ele em 1918 com uma questão interessante. Na teoria da relatividade especial Einstein jogou o éter fora; na relatividade geral ele propôs um novo éter – o espaço-tempo seria esse novo éter. Einstein deu uma resposta a Ehrenfest em uma conferência na Holanda, em 1920, que se tornou famosa e foi publicada na forma de um livro com o título Éter e teoria da relatividade.