[...]
O que é que garante que esse tipo de proteção não poderá causar uma estagnação tecnológica no Brasil, com as indústrias se acomodando em tecnologias ultrapassadas e deixando de investir em inovação e pesquisa? Quem garante que essa proteção econômica não pode levar a uma defasagem ainda maior em diversos ramos da ciência aqui no Brasil?
[...]
Basta lembrar o que aconteceu com a nascente indústria brasileira de informática no início da década de 80 do século passado.
Exatamente.
Esse artigo fala por si só.
Esse outro aqui tem uma análise mais longa, incluindo esses pontos:
a proliferação desenfreada de empresas nacionais se mostrou, alguns anos mais tarde, um erro. "A demanda interna não justificava a quantidade de fabricantes que surgiram"
O resultado foi a oferta de produtos muito mais caros do que a média global, de qualidade inferior e, pior, sem o desenvolvimento de tecnologia nacional. As máquinas custavam em média US$ 5 mil. Além disso, quando chegavam ao mercado, já eram consideradas obsoletas. Como a lei impedia que equipamentos disponíveis localmente fossem importados, vários outros setores, como o têxtil e o automobilístico, ficaram tecnologicamente atrasados.
No plano internacional, as acusações mais pesadas vinham das contínuas quebras de patentes cometidas por empresas brasileiras, sob a proteção da lei. E quando finalmente as portas do mercado se abriram, em 1992, o governo parece ter abandonado a indústria nacional. "Quando a reserva acabou de forma brusca e inesperada - o que ocorreu antes que a indústria nacional estivesse pronta -, a maioria das empresas nacionais não conseguiu concorrer com as gigantes estrangeiras" [...].
Grande parte das empresas de hardware teve o mesmo fim. Ficaram afundadas em dívidas e desapareceram do dia para a noite. Outras foram incorporadas a multinacionais ou a bancos.
E continuando, um único bom exemplo:
"Como fazer com que 50 empresas pequenas competissem com uma gigante multinacional? Impossível"
A Itautec, que começou como um braço de tecnologia do banco Itaú, foi a única que manteve sua essência.
"Sabíamos que só sobreviveríamos se tivéssemos condições de exportar"
Atualmente, a empresa é um dos fornecedores globais do setor de tecnologia com operações em nove países: Argentina, Brasil, Chile, Equador, Espanha, Estados Unidos, Portugal, México e Venezuela. E possui mais de cinco mil funcionários.
A proteção nacional não deixou apenas uma herança negativa. [...] "Os profissionais brasileiros de tecnologia têm reconhecimento internacional", afirma Mayer. E, em vez de acertar no hardware, como acreditavam os adeptos da reserva de mercado, a grande chance de sucesso em tecnologia está, agora, nas áreas de serviço e desenvolvimento de software. "Tínhamos concorrência desde o início. Isso fez com que ganhássemos em qualidade", afirma Laércio Cosentino, presidente da Totvs. Hoje a empresa é líder absoluta do mercado brasileiro de software de gestão empresarial (ERP, da sigla em inglês). Além disso, é a segunda no ranking da América Latina e a oitava na classificação global. Não era esta a intenção dos idealizadores da lei. Mas este é o tipo de efeito colateral que não dá para reclamar.
Pqp, SÓ a Itautec se beneficiou realmente daquela lei? Só? A situação foi pior ainda do que eu pensava.
De acordo com esse artigo ela foi a única que percebeu a pegadinha, viu que a reserva econômica sozinha não passava de um paliativo e criou coragem de competir de igual para igual inclusive no mercado externo, sobre o qual nosso governo não tem controle direto.
Agora é saber até que ponto as medidas econômicas atuais chegam.
E quanto às chances do tiro sair pela culatra como no século passado, tornando a indústria nacional obsoleta e ultrapassada?
O objetivo é totalmente contrário; proteger a indústria e agrícultura, os empregos e proteger as empresas frete a concorrência internacional...
Só se for pelo ponto de vista da economia, como o _Juca_ explicou. Mas isso não responde minha pergunta.
O que é que garante que esse tipo de proteção não poderá causar uma estagnação tecnológica no Brasil, com as indústrias se acomodando em tecnologias ultrapassadas e deixando de investir em inovação e pesquisa? Quem garante que essa proteção econômica não pode levar a uma defasagem ainda maior em diversos ramos da ciência aqui no Brasil?
Não conheço nem entendo bem dessas medidas econômicas para saber exatamente o que elas afetam, por isso a pergunta.
A estagnação é culpa das empresas, não do governo, afinal concorrência menor não é justificativa para diminuir capital ou investimentos. É bastante difícil prever como a indústria vai se comportar, já que não é possível se basear em experências anteriores.
Não subestime os atrativos da ganância sobre a ambição. Se alguém (ou no caso, uma empresa) já tem uma situação econômica balanceada, e aí pode simplesmente manter essa situação econômica indefinidamente sem trabalhar mais, para quê vai investir?
Em terra de cego não é preciso ter mais que um olho, não é preciso nem saber ler.