Não li o livro. Custa R$ 77,50 na cultura, então, abri o tópico por isso, pra saber se é uma teoria bem fundamentada, etc. antes de comprá-lo.
foi um amigo recomendou o livro. "sensacional", pontificou. e que mudou sua maneira de entender o comportamento humano, etc.
Pessoalmente, eu não recomendo o
Tábula Rasa de Steven Pinker. Se eu fosse professor de psicologia e estivesse fazendo recomendações sobre obras de psicologia evolutiva, os livros dos autores da chamada escola de psicologia evolutiva de Santa Barbara estariam na minha lista negra. A exceção seria se o leitor em potencial de tais autores lesse esse artigo primeiramente:
Buller, David J. Quatro equívocos da psicologia evolutiva popular.
Scientific American Brasil. Ano 7 , Nº 81, p. 62-69, 2009.
Existe outra ressalva. Apesar do uso da genética comportamental ter apoiado alegações com pesquisas empíricas cuidadosas em animais, infelizmente o mesmo nível de testabilidade não foi alcançado em humanos. Os humanos, por questões éticas, não podem ser deliberadamente cruzados ou criados em ambientes diferentes, ou serem alterados experimentalmente. Esse detalhe explica as limitações da genética comportamental humana, sobretudo o alcance informativo dos estudos de hereditariedade. Isso é explicado detalhadamente no livro de Douglas Futuyma que já te indiquei há algum tempo atrás.
questionei que alguns comportamentos são aparentemente contrários ao instinto. por exemplo: o celibato. Outro exemplo: o cara deixa de pegar uma gostosa porque não tá com preservativo, e tem medo de pegar uma DST, ou engravidar a moça, etc. Eu disse que isso iria contra o instindo de transar com a jovem. Segundo esse meu amigo, Pinker diz que mesmo esse comportamento tem uma base biológica - a pessoa se preocupa em não morrer, no caso da DST; ou em não se ferrar, no caso da gravidez. Seriam os instintos subjacentes da sobrevivência e de bem-estar. Eu duvidei um pouco de que comportamentos muito racionalizados e aparentemente contrários ao instinto tenham origens biológicas evolutivas.
Trata-se de um questionamento complexo demais para ser respondido completamente num único post de fórum, e talvez num único livro. Mas vou adiantando algumas coisas que quase todos os psicólogos concordam. Não existe "comportamento altamente reflexivo desprovido de origem evolutiva", já que a aprendizagem complexa seria impossível de ocorrer sem a evolução adaptativa e sem o programa de afeto escrito no DNA. Ademais, no que diz respeito à questão
inato x adquirido, o geneticista Massimo Pigluicci falou:
“Os biólogos se deram conta de que, se você modifica ou os genes ou o meio ambiente, o comportamento resultante pode mudar drasticamente. O truque, então, não está em dividir as causas entre o que é inato e o que é adquirido, e sim avaliar [a maneira] como os genes e o ambiente dialogam para gerar o aspecto e o comportamento de um indivíduo.”
SHENK, David.
O gênio em todos nós. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2011.
Para entender a influência do
inato na psicologia humana, é preciso entender os conceitos de "programa de afeto" e os seus tipos: "programa de afeto aberto" e "programa de afeto fechado". Ademais, é preciso entender os conceitos de "tema evolutivo" de comportamento e "variação de tema evolutivo" de comportamento.
A Linguagem das Emoções de Paul Ekman foi o livro pelo qual aprendi plenamente esses conceitos.
Para entender a influência do
adquirido na psicologia humana, é preciso entender os conceitos de aprendizagem, o que inclui as suas três formas: condicionamento clássico, condicionamento operante e aprendizagem complexa por observação. O capítulo sobre aprendizagem do livro
Psicologia (9ª edição) de David Myers explica bem esses conceitos.
Sobre essa questão
inato x adquirido, eu já criei um tópico sobre esse assunto, mas nem pense que ele vá chegar perto de fornecer uma explicação completa para o que você procura:
../forum/topic=24930.0.html Então, _tiago, tentando tornar mais específico:
1 - essa (em vermelho e itálico, acima) é uma das ideias do autor no livro?
2 - Essa ideia é aceita pelos demais especialistas - os tais pares?
1- Exclua o "e aparentemente contrários ao instinto", e assim eu diria que, não só o Pinker, mas quase todos os psicólogos concordariam com o que está em vermelho e itálico. É dificílimo até imaginar o que seria um "raciocínio humano totalmente desprovido de origem evolutiva".
2- Existe diferença entre a psicologia evolutiva aceita pelos psicológos darwinistas mais entusiasmados e a psicologia evolutiva daqueles que veem a psicologia evolutiva de Pinker e companhia como um “paradigma panglossiano” ou uma “psicologia evolutiva popular”, ou ainda, uma “ciência
soft”. Como diria um biólogo evolutivo:
“É certamente verdade que nosso comportamento é geneticamente determinado, no sentido de que nossas capacidades residem na organização de nosso sistema nervoso, e que seria muito diferente se tivéssemos o cérebro de um chimpanzé ou 15 cm de altura ou não tivéssemos polegares opostos. De maior interesse é a questão se possuímos genes para comportamentos particulares ou mecanismos neuropsicológicos que geram respostas específicas a certos estímulos ou circunstâncias ambientais.”
“Psicólogos evolutivos acreditam que a mente inclui muitos de tais módulos especializados para diferentes tipos de tarefas cognitivas, tal como os vários órgãos do corpo servem a diferentes funções adaptativas. Assim como os sociobiologistas, eles esperam que o raciocínio adaptacionista, junto com suposições oriundas dos problemas adaptativos enfrentados pelos ancestrais no Pleistoceno, gerem previsões sobre os mecanismos psicológicos adaptativos.
(...)
Os oponentes da psicologia evolutiva e da sociobiologia, em contraste, vêem a mente como um mecanismo relativamente livre de conteúdo que pode ser empregado para resolver qualquer um de uma vasta variedade de problemas, em semelhança com um computador de uso geral que pode ser suprido com uma variedade ilimitada de algoritmos.”
FUTUYMA, Douglas J.
Biologia evolutiva. 3. ed. São Paulo: Editora Funpec, 2009.