A decisão do Ratzinger , apesar de quase inédita e surpreendente , é bastante lúcida e bem coerente do ponto de vista da política católica.
As razões que ele apresenta são certamente as verdadeiras: a ICAR está enfrentando uma crise mundial com a perda de fiéis nos países da América Latina para os evangélicos , a crise de confiança devido aos escandalos de pedofilia nos EUA e Europa (em um contexto de aumento demográfico da população de origem latina nos EUA) , a crônica incapacidade de avançar sobre a Ásia e Oriente Médio onde não constitui nenhum desafio sério ao Islã , o avanço das populações islãmicas na Europa pela migração , o avanço do laicismo e dos sem-religião ( que já estão em terceiro lugar a nível mundial , atrás de cristãos e muçulmanos)...
Para comandar uma instituição multinacional como a ICAR é preciso alguém que tenha , além de clareza ideológica e capacidade de articulação política ( a nível de cúpula mas também de massas) , capacidade física e mental ; Ratzinger certamente não quer repetir o triste espetáculo de uma decadência fisica e mental mediatizada como o foi a do Wojtyla.
Ele sabe que demonstrações extremas de sofrimento físico podem ter precedentes históricos na cristandade mas são políticamente pouco frutíferos , o de Wojtyla rendeu uma beatificação que só serve aos já conversos mas não muda uma palha em ampliar as hostes católicas.
E ,ao contrário de Wojtyla ,Ratzinger não é pop mas primeiramente um dos mais importantes teólogos conservadores e foi um dos principais formuladores das políticas do papado anterior. Sair do pontificado significa dar um descanso para o corpo e deixar a mente atuar no que sabe de melhor: organização politico-ideológica.
E dado o contexto atual acho muito provável que o novo Papa seja da América Latina ou EUA (e aposto minhas fichas na AL).