O modelo interativo da viagem da sonda Rosetta em tempo real, apresentada pela ESA, foi feita por investigadores portugueses, três em Braga e três em Berlim. E demorou um ano a construir.
O modelo interativo utilizado pela ESA foi criado por empresas portuguesas
Autor
Pedro Esteves
As imagens, gráficos e vídeo correram mundo. Explicam com grande precisão a viagem de 10 anos da sonda Rosetta até ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, desde o lançamento em 2004 às quase duas voltas ao Sol que foram precisas para chegar hoje ao destino. As distâncias que este software processa são gigantescas, medem-se em triliões de quilómetros, mas o modelo informático utilizado pela Agência Espacial Europeia (ESA) foi feito aqui bem perto, por duas empresas portuguesas.
A TECField, sediada em Braga e a Science Office em Berlim (empresa de portugueses) desenvolveram de raiz o software que permite processar, em tempo real, os dados adquiridos pela ESA. “Estou muito satisfeito”, contou com orgulho ao Observador João Martinho Moura, fundador da TECField e investigador de interação e arte digital da Universidade do Minho.
Há um ano e meio a TECField e a Science Office fizeram uma proposta à ESA para desenvolver uma aplicação para o programa Rosetta, como resposta à necessidade da Agência Espacial em criar um sistema de visualização interativa, em especial porque “uma viagem como esta envolve grandes distâncias, difíceis de compreender”. Para isso foi criado um simulador fácil de utilizar e compreender, mas a eventual simplicidade é apenas ilusória: o software é capaz de processar um milhão de dados em simultâneo, atualizados em permanência pela ESA. João Martinho Moura explicou ao Observador que o software está instalado nos servidores da ESA e que é a partir dos dados recolhidos em permanência pela missão que vão sendo ajustadas as distâncias, cada vez com maior grau de precisão.
“A maioria das pessoas só agora está a ouvir falar nesta missão, mas a sonda já anda em viagem há 10 anos, já passou por outros momentos importantes, tais como a passagem pelo planeta Marte e por outros corpos celestes. Daí a necessidade de criar mais que um simples filme”, explicou. A ESA pediu uma componente interativa e a necessidade aguçou o engenho da Science Office (coordenação técnica) e da TECField (programação e desenho) e envolveu apenas seis pessoas, três de cada empresa. Ao longo de um ano, desenvolveram o projeto que foi apresentado publicamente pela ESA, pela primeira vez em janeiro quando a Rosetta “acordou” já perto do cometa 67P.
Esta aplicação foi criada com uma tecnologia chamada WebGL, a arquitetura e o design foram criados de raiz para o efeito. Mas aparte da competência técnica e gráfica, o fundador da TECField reconhece que “a curiosidade pela astronomia já existia, mas acabou por ter de ser mais aprofundada por toda a equipa”. A empresa foi fundada há cinco anos e, apesar deste projeto ser o que teve mais visibilidade, desde o início que se especializou no desenho de software de precisão, “um critério decisivo para a decisão final da Agência Espacial Europeia”.
http://observador.pt/2014/11/12/a-viagem-da-rosetta-apresentada-pela-esa-foi-desenhada-por-portugueses/