"E" isso evidencia o uso como forma de criar uma resposta emocional.
Ou uma tentativa de fazer pessoas que já estão acostumadas com a ideia, para quem ela já se tornou banal e aceitável, a reavaliarem suas visões.
Não, me parece mais histeria mesmo.
Tem que se esforçar muito (ou ser muito acrítico) para por tanto peso nos "problemas", dada a popularidade da prática.
Se for fazer as contas, deveriam também ser críticos ardentes de sair de casa para ir no supermercado, pois em qualquer sociedade isso deve ter matado, traumatizado ou lesado mais seriamente mais pessoas do que a circuncisão.
Se for para se focar especificamente na integridade funcional dos genitais masculinos, faria mais sentido se focar numa contrariedade à domesticação de cães e de esportes com bola, ao menos sem protetores. Isso também deve ter "castrado" mais gente em qualquer intervalo de tempo. Até "brincadeiras" de criança de dar tapas no saco já castraram mais.
Não são mais controversos do que pseudo-controvérsias como se fumo realmente causa câncer e etc.
Coisa de "fringes" polemizando contra o que é bem aceito.
Não é questão tanto de benefício individual, mas epidemiológico.
Duas popuçãoes idealmente iguais em todas as características, exceto em circuncisão, a com circuncisão terá menores taxas de algumas DST, câncer peniano, etc.
Não é que o individual também não valha; você pode ter um filho e pensar que "tudo bem" se as chances dele forem do grupo maior se considerar a diferença negligenciável e que pode prevenir isso só com por educação. Mas provavelmente é o que pensaram também os pais daqueles que tiveram esses problemas.
Isso é como falar "você pode atravessar a rua achando que está seguro, mas provavelmente é isso que quem morreu atropelado pensou também". As pessoas não vivem suas vidas tentando minimizar o máximo possível as chances de morrerem em detrimento de outras coisas que consideram mais valiosas, não tem porque ser diferente nesse caso, e a integridade física e plena função dos órgãos sexuais é para muitos bem mais valioso do que diminuir seus riscos que já são mínimos de daqui a vinte anos contrair uma doença que já pode até ter cura. Para os que não é, ainda há a opção de abrir mão.
A mesma argumentação serve para o outro lado também. Poderia dizer que "há riscos para o uso de cintos de segurança e air-bags", ir até o mercado, etc., que apenas 1 em um fuzilhão vezes que se anda de carro ou a pé acontece algum acidente, apenas 0,001% se teria proveito do uso de cintos, airbags e capacetes (e ninguém anda de capacete à pé), então deve-se banir essas coisas e dizer que os pais que colocam as crianças em cadeirinhas nos carros são monstros (por acaso acho que já ouvi argumentação mais contundente sobre as cadeirinhas serem mesmo ruins, mas não vem ao caso).
Os benefícios só foram demonstrados para heterossexuais, para homossexuais a circuncisão não oferece proteção e esse é o grupo mais afetado por HIV em países desenvolvidos.
As coisas não deixam de valer por mágica nos países desenvolvidos, até porque essas variáveis epidemiológicas não são uniformes para toda a população.
Circuncisão de rotina em países com baixa incidência de AIDS (a enorme maioria) é matar uma mosca com uma bala de canhão, câncer peniano tem incidência de 1:250.000 em países desenvolvidos e AIDS afeta menos de 0,2% da população. Felizmente os órgãos públicos de saúde europeus, australianos, canadenses e americanos reconhecem isso e a circuncisão está em vias de banimento em alguns lugares.
Provavelmente/quase certemante muito mais pessoas morrem ou sofrem com câncer peniano e outras DSTs além de AIDS (e AIDS) que teriam suas chances reduzidas com circuncisão, do que pessoas têm problemas, quaisquer problemas, com circuncisão.
Talvez o único lugar onde isso realmente seja recomendado seja em países do sul da Africa onde AIDS é mesmo uma epidemia.
Lá pode ser mais útil/fazer mais diferença numericamente, isso não significa que deva ser banido em outros lugares e que os pais devam ser linchados.
Isso não significa que uma estrutura não tenha função. Para se ter estruturas sem função ou até mal-adaptativas basta que elas não sejam mal-adaptativas suficientes e que eventuais variações sem tal função não só não tenham qualquer prejuízo estrutural ou inviabiliade de desenvolvimento nessa condição como tenham vantagem reprodutiva suficiente, o que não será sempre o caso.
Ex.: provavelmente é impossível que evoluam mãos ou pés sem qualquer mínimo vestígio de "membrana" entre os dedos, porque essa membrana não só é anterior à separação dos dedos, como é praticamente resultado inevitável de se ter a pele que temos embalando as mãos ou os pés. Variações de "membranas interdigitais vestigiais" para algo ainda menor, também nunca seriam selecionadas, não conferem vantagem reprodutiva significativa.
É verdade, prepúcio é um pedaçinho de pele inútil que só está lá por uma grande coincidência evolutiva. Você tem algum estudo que apoie isso que você disse?
Eu não tenho qualquer opinião "evolutiva" sobre a origem do prepúcio, apenas os dados que se têm sobre a prática da circuncisão e sua popularidade já são suficientes para, uma vez que populações inteiras praticam ou praticavam circuncisão e levam vidas normais. Essa especulação de algo "super adaptativo" é que é mais onerosa, circuncidados não têm menos filhos (argumento adaptativo) ou outros problemas, mas menores chances de diversos problemas.
Voltando ao tópico, mesmo fimose (desconhecida em outros primatas, provavelmente bem mais rara, e nem por isso adaptação nossa) não impede a reprodução.
Prepúcio é norma, fimose é uma doença, é óbvio que não é adaptação.
O ponto é que os organismos não são "hiper adaptados", com tudo perfeito feito um projeto divino, mas basta que funcionem, que se reproduzam. A seleção natural não garante adaptação "perfeita".
De qualquer forma, circuncisão (masculina) e "circuncisão" feminina não são comparáveis, tanto pela homologia fazer a operação correspondente no homem ser bem mais drástica, como as formas de mutilação genital feminina serem diversas.
A OMS recomenda/aprova circuncisão de verdade, e condena veementemente "circuncisão" feminina, SÃO coisas absolutamente diferentes, não tem como equiparar.
Recomenda em casos específicos. Eu não equiparei, mas elas são comparáveis no quesito remoção de órgão sexual funcional por motivações culturais, é impossível negar isso.
Eu não tenho conhecimento de qualquer utilidade ou benefício da "circuncisão" feminina, além de ser uma operação mais drástica ("apenas" pela homologia da operação correspondente; se bem que nem é apenas "uma operação", e pode envolver até costura dos lábios, deixando só uma passagem para urina, o que seria quase que o inverso da circuncisão masculina, meio como se costurassem o prepúcio "fechado").
Quanto a "remoção de órgão funcional," seria mais comparável a algo como remoção profilática da vesícula, antes de se ter pedras na vesícula, ou ainda algo menos significativo em funcionalidade (novamente, uma vasta parte da população humana pratica e praticou historicamente circuncisão, e não se têm nada que indique que fossem populações traumatizadas ou minimamente disfuncionais, o que não é o caso com a "circuncisão" feminina, segundo os estudos e compilações divulgados por órgãos de credibilidade, como a OMS).