Colocar a fé e a razão como duas formas equivalentes de crer somente abre o caminho à irracionalidade... para quê ter o esforço, o trabalho, a tenacidade, a dúvida, que o uso da razão implica?
Pagão,
Seria irracionalidade se fossem duas formas equivalentes. Mas são, na verdade, antes duas formas distintas que procedem de um mesmo impulso da vontade. Algo que demonstra isso são as ideias intuitivas sem traçado racional aparente mas que podem ser incrivelmente corretas. Em algumas áreas positivas isso às vezes é bem recorrente, e não apenas nas Artes.
A memória e as conexões psicológicas formadoras do conhecimento são coisas complexas. Se você aprendeu algo, construiu aos poucos e usando a cabeça o resultado que conquistou, racionalmente, mas por algum motivo não consegue exprimir, explicar, por uma barreira didática qualquer, aquilo que você sabe, pode ser que em uma situação prática você simplesmente saiba e afirme alguma coisa, sem um traçado lógico-racional que demonstre como isso funcione e que gere convencimento, mas o simples fato de saber como é, e não como exprimir, pode pura e simplesmente ser traduzido em "ter fé que é deste jeito", e estar certo inclusive.
Quando falo de "fé", nesse contexto, não estou falando de estupidez crônica e necessidade de crer em algo por deficiência emocional/fraqueza, aquilo que faz com que as pessoas deixem de usar a cabeça. Refiro-me às certezas que não podem ser exprimidas ou mesmo rastreadas, mas que podem estar indubitavelmente corretas, na prática.
Mas também não faço apologia à "certeza tácita" em detrimento do esforço do pensamento. Nesse caso, sim, estaria defendendo o culto à irracionalidade. Apenas me refiro ao "inaudito" correto, o que não se diz mas que se comprova, algo que sabemos existir e que precisa ser investigado, não idolatrado.