A indústria naval dos anos 60 e 70 experimentou um boom parecido com o que temos hoje. Só que naquela época havia dois contratantes. A Petrobras, através da Fronape (hoje Transpetro), e a Vale (que compunha a frota Doce Nave). A primeira encomendava navios petroleiros e a segunda encomendava graneleiros, bauxiteiros e correlatos. Havia os navios encomendados pela Marinha, mas na maior parte das vezes eram fabricados pelo Arsenal de Marinha, na Ilha das cobras, no Rio de Janeiro, onde meu pai era torneiro de madeira e fabricava timões. Enfim, era uma indústria que dependia 100% do governo e acabou derrocando devido ao desenvolvimento dos estaleiros nos Tigres Asiáticos (predominantemente Cingapura, Coréia e Japão) que aliavam alta tecnologia a mão-de-obra barata vinda da China (o Japão não usava mão-de-obra chinesa, mas era mais tecnológico que os demais). Nos anos 80, o Brasil não existiu e nos anos 90, a Vale foi privatizada e a Petrobras se tornou mais profissional. Ambas passaram a mandar suas encomendas para o exterior que, via de regra, custava um terço do preço. Já a Marinha não investiu mais devido a cortes em seu orçamento.
Hoje (da década de 2000 pra cá), a coisa não é diferente. Talvez seja até pior. A Indústria naval brasileira se tornou monocontratante. Só a Petrobras encomenda. Há algumas empresas estrangeiras que encomendam no Brasil, mas é para atender aos contratos com a Petrobras e têm que observar as obrigações contratuais de conteúdo nacional. Não lhes é permitido contratar lá fora. A Marinha contratou a fabricação de alguns submarinos nucleares e a Odebrecht está construindo nas dependências da Nuclep, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, mas o cronograma é para mais de dez anos cada submarino. Enfim, não existe vida para a Indústria Naval Brasileira fora da caridade dos governos. Um governo menos populista encomendaria nos tigres Asiáticos. Hoje a China tem uma indústria naval bastante desenvolvida e barata. Se eu fosse construir, é lá que eu encomendaria.
A mão-de-obra brasileira é cara, escassa e cheia de direitos trabalhistas cuja pertinência não vou discutir aqui. Mas a verdade é que ela, aliada à falta de recursos tecnológicos e nenhuma vontade de investimento em tecnologia por parte dos estaleiros são os culpados da falta de competitividade internacional. A Industria naval brasileira é a cara do braziu de merda.