De todos os "conceitos" que enumeraste, à exceção do "trabalho" (caso seja tomado em seu sentido estrita e matematizavelmente físico e não em quantitativismos pior que arbitrários, espúrios, como ideias como "mais-valia"),
O trabalho mais comumente exercido nos dias atuais, ou seja, o compulsório, obrigatório para a sobrevivência, é algo já sem sentido diante da realidade técnica atual. Trabalhos repetitivos e monótonos, que em muitos casos existem simplesmente para manter pessoas empregadas e nada mais, podem ser automatizados em sua grande maioria, gerando, além de muito maior produtividade, também mais tempo para as pessoas se dedicarem ao que realmente gostam de fazer.
A robótica, nos dias de hoje, supera em muito a capacidade física do ser humano médio, contando que há um rápido avanço nos processos de cálculo que continuam a exceder largamente o raciocínio humano. O resultado é a capacidade da indústria em empregar máquinas, o que, invariavelmente, tem mais capacidade produtiva do que o trabalho humano, juntamente com o incentivo financeiro extremamente notável de reduzir a dependência dos proprietários de negócios de muitas formas. Conquanto as máquinas requeiram manutenção, elas não precisam de seguro de saúde, seguro-desemprego, férias, proteção sindical e muitos outros atributos característicos do trabalho humano dos dias de hoje. Portanto, na estreita lógica inerente à busca pelo lucro, é natural que as empresas sempre busquem a mecanização, dadas as suas vantagens de custo em longo prazo e, portanto, de eficiência de mercado.
Assim como a eficiência de mercado não considera o que, em geral, realmente está sendo comprado e vendido, desde que se mantenha o consumo cíclico a um ritmo aceitável, os papéis de trabalho assumidos hoje na produção são igualmente arbitrários do ponto de vista do mercado. Em tese, poderíamos imaginar um mundo onde as pessoas estão sendo pagas para fazer o que poderia ser considerado ocupações "inúteis", do ponto de vista de utilidade, gerando altos níveis de PIB praticamente sem uma verdadeira contribuição social. De fato, mesmo hoje nós poderíamos voltar atrás e perguntar a nós mesmos qual é o papel social de muitas instituições, e talvez chegar à conclusão de que elas servem somente para manter o dinheiro em movimento, não para criar ou realmente contribuir com qualquer coisa tangível em benefício da sociedade. No entanto, um valor cultural dominante nos dias de hoje é o de "ganhar a vida" trabalhando, mesmo sendo totalmente possível gerar abundância para satisfazer as necessidades básicas de todos seres humanos. Iniciativas como a "renda básica garantida" (basic income) é algo totalmente aplicável, que, ao garantir uma renda mínima para um padrão de vida aceitável, acabaria com a pobreza, a fome e o desemprego. Restando somente aqueles empregos ainda não automatizáveis a serem disputados pelos que querem (podem?) maior acesso a recursos materiais.
Uma implicação desse novo nível de eficiência de produção é que a satisfação das necessidades da população mundial nunca foi tão possível. É fácil ver que sem a interferência da lógica de mercado sobre esta nova capacidade técnica, poderia ser considerado, relativamente, uma "abundância" da maioria dos bens de manutenção da vida proporcionado para a população.
O outro ponto desta questão é o desemprego tecnológico, que pode tornar inviável ao atual modelo econômico. A suposição de que a inovação tecnológica gerará novas formas de emprego em harmonia com os deslocados por ela, estabelecendo um equilíbrio, é realmente pouco defensável se levarmos em conta a taxa de mudança na inovação, juntamente com os interesses de redução de custos das empresas. Além disso, a taxa de mudança do desenvolvimento tecnológico excede em muito a taxa de novas criações de trabalho. Este problema é único, pois também se assume que a sociedade humana sempre necessitará novas formas de emprego. É nesse ponto que os valores culturais subjetivos devem ser considerados. Tendo em conta que a nossa condição sociológica atual exige o emprego humano como a espinha dorsal da sustentabilidade do mercado, portanto, da eficiência de mercado, a ética do "trabalho" e suas associações de identidade, culturalmente, têm perpetuado um conceito em que a real função do trabalho - a sua verdadeira utilidade - torna-se menos importante do que o simples ato de trabalhar.
o negritado é o apenas sujeito a interpretatividades. Todos os outros são puramente arbitrários. Os "egoísmo e competitividade" do comportamento humano são fatores naturais dimanantes da complexidade da máquina humana, sendo mesmo eventuais "exceções" nada mais que mais da regra.
A base geral do conceito de Mercado Monetário (capitalista, de livre mercado) tem fundamentalmente a ver com os pressupostos relativos ao comportamento humano, aos valores tradicionais e a uma visão intuitiva da história - e não a um raciocínio emergente, a medidas reais de saúde pública, à capacidade técnica ou à responsabilidade ecológica. É uma abordagem não-técnica e filosófica que simplesmente assume que as decisões humanas feitas por meio de sua lógica interna e de seu sistema de incentivos irão produzir um resultado responsável, sustentável e humano, impulsionadas pela noção ilusória de "liberdade de escolha" que, em uma perspectiva de funcionalidade social, parece equivalente a uma anarquia organizacional.
É por isso que o modelo de uma economia monetária de mercado é muitas vezes considerado religioso, pois seu mecanismo causal é baseado em suposições praticamente supersticiosas sobre a condição humana, havendo pouca correlação com os entendimentos científicos emergentes sobre nós mesmos e sobre a rígida relação simbiótica/sinérgica entre o nosso habitat e as leis naturais que o regem. A razão de que um sistema social baseado diretamente em uma visão científica, que compreenda e maximize tecnicamente a sustentabilidade e a prosperidade, não pode ser superada por uma outra abordagem, por mais corajosa que tal afirmação possa parecer. Por quê? Porque simplesmente não há outra abordagem quando a lógica natural e unificada do Método Científico é aceita como o mecanismo fundamental de causalidade física e inter-relações.
Enquanto atualmente muitos argumentam sobre as especificidades do Debate Natureza vs Criação - do Behaviorismo de "tábula rasa" ao determinismo genético - tornou-se claro, no mínimo, que a nossa biologia, nossa psicologia e nossa condição sociológica estão inexoravelmente ligadas ao ambiente em que vivemos, tanto do ponto de vista da adaptação evolutiva geracional (Evolução Biológica), como dos preconceitos e valores de curto prazo que absorvemos do nosso meio ambiente (Evolução Cultural).
Então, antes de entrar em detalhes sobre este assunto, vale a pena notar que a nossa própria definição de ser humano, na visão de longo e curto prazo, é baseada em um processo de adaptação às condições existentes, incluindo os próprios genes. Isso não quer dizer que é preciso ignorar a relevância genética, mas que é preciso destacar o processo do qual fazemos parte, uma vez que a relação gene-ambiente só pode ser considerada como uma interação contínua, com as consequências em grande parte resultando das condições ambientais a curto e longo prazo. Se este não fosse o caso, não haveria dúvidas em admitir que a espécie humana provavelmente teria desaparecido há muito tempo devido a uma falha em se adaptar.
Além disso, embora esteja claro que nós, seres humanos, ainda mantemos reações "inatas" e previsíveis de sobrevivência pessoal, também temos a capacidade de evoluir os nossos comportamentos através do pensamento, consciência e educação, o que nos permite, de fato, controlar e superar essas reações e impulsos primitivos, se as condições necessárias forem mantidas e reforçadas. Esta é uma distinção muito importante e é, de muitas maneiras, o que separa a variedade dos seres humanos dos outros primatas.
Uma observação rápida sobre a diversidade histórica da conduta humana ao longo do tempo, em contraposição ao ritmo relativamente lento de maiores mudanças estruturais em nossos cérebros e DNA nos últimos dois mil anos, mostra que a nossa capacidade de adaptação (via pensamento / educação) é enorme ao nível cultural.
Parece que somos capazes de nos comportarmos de muitas maneiras possíveis, e que uma "natureza humana" fixa, ou um conjunto universal e inalterável de traços comportamentais e de reações comuns a todos os seres humanos, sem exceção, não pode ser considerada válida. Em vez disso, parece haver um espectro de possíveis comportamentos e reações previsíveis, todos mais ou menos dependentes do tipo de desenvolvimento, educação, estímulos e condições que tivemos.
O fato é que comportamentos egoístas e competitivos não são inatos ou obrigatórios, mas um reflexo das necessidade impostas pelo ambiente social e natural em interação com cargas genéticas únicas, que serão mais ou menos adaptadas ao ambiente a nós imposto. Se o ambiente impõe competitividade e escassez para sobreviver, o sistema límbico cerebral terá reações (físico-químicas) conscientes e inconscientes no sentido de se auto proteger, sendo que os que possuírem genes favoráveis a comportamentos competitivos, serão os mais adaptados a viverem neste ambiente.