Não há nenhuma afirmação que possa dar outra explicação a como agimos diariamente, nem nada que desdiga a definição de livre arbítrio. Nada.
Pode ser também que seu cérebro aprendeu a "crer" que está no comando para tornar o sistema como um todo menos apavorante, mais amigável.
O vídeo abaixo não é agradável. Recomenda-se que não seja exibido para pessoas sensíveis.
https://www.youtube.com/v/cTX96twG0okMostra uma cena que já se repetiu e se registrou muitas vezes: a de um monge budista se auto-imolando por alguma causa. Escolhi este porque é menos chocante que outros mais tenebrosos onde o sujeito se deixa queimar mais lentamente.
O impressionante é que o monge permanece impassível, não move um músculo quando as chamas começam a consumir seu corpo. Quando um ocidental vê uma cena destas imagina que o homem esteja em uma espécie de transe, mas não é isso, ele está em estado meditativo, o que é muito diferente.
O que isso tem a ver com o livre arbítrio? Bom... já houve aqui algumas discussões sobre a natureza do fenômeno da consciência, e nessas discussões eu vi o Banzai mencionar certos experimentos que teriam determinado que pensamentos se formam no cérebro antes mesmo que o individuo tome consciência deles. Por exemplo, uma ação já está determinada antes do impulso para a ação.
É a moderna neurofisiologia descobrindo aquilo que os monges budistas afirmam há milênios. Pensamento não é consciência. O cérebro é um órgão como outro qualquer, funcionando a sua revelia tanto quanto o seu estômago realiza a digestão independentemente da sua vontade, controle e consciência.
Qualquer um pode verificar esta verdade por experiência direta através da prática da meditação. ( Mas só é possivel por experiência direta, pessoal. ) Não é nada dificílimo, mas como qualquer coisa, alguns terão mais facilidade que outros.
A meditação consiste em não pensar, mas tentar não pensar é inútil. Se alguém tentar não pensar em elefante nos próximos 2 minutos irá passar os próximos 2 minutos pensando só em elefantes.
A técnica é concentrar na respiração e não lutar contra a mente, deixar os pensamentos virem e partirem, sem lutar contra isso. Com algum tempo de prática a pessoa é capaz de observar seus próprios pensamentos se formando e se diluindo. Muito da mesma forma como você é capaz de observar seu próprio coração batendo, ou seu estômago roncando. Não é diferente disso.
Pode observar como seus pensamentos, suas emoções, o processamento das informações que chegam dos sentidos, enfim, toda a atividade da mente ocorre autonomamente. E a sua consciência ali, separada, de fora, observando tudo. Totalmente dissociada.
Era assim que estava aquele monge enquanto queimava até a morte. Não estava em transe, ele sentiu toda a dor do seu corpo em chamas, sentiu o cheiro, ouvia os sons, e tudo mais enquanto esteve vivo. Mas era um homem que chegou a um tal estágio de meditação que tinha a capacidade de observar todas estas coisas como que estando dissociado delas.
A consciência observando serenamente a tudo pelo qual a mente passava.
Então talvez não exista mesmo livre arbítrio, no mesmo sentido que nós não controlamos nem um ínfimo da atividade da mente.
Mas não significa que não exista consciência. Embora eu não saiba exatamente o que venha - e como venha - a ser isto.