Autor Tópico: Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller  (Lida 2894 vezes)

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Offline Peter Joseph

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E aí, acham que o Senhor Rifkin tem alguma razão?

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Uma visão extrema: o capitalismo perderá a dominância e dará lugar à economia colaborativa, compartilhada, em meados do século XXI.

O raciocínio é desenvolvido em "Sociedade com Custo Marginal Zero", do economista norte-americano Jeremy Rifkin, que ensina executivos a tornar suas empresas sustentáveis na escola de negócios Wharton (da Universidade da Pensilvânia, nos EUA).

Para ele, o dinamismo e a eficiência produtiva do sistema, somados à evolução das máquinas, serão os responsáveis por seu colapso.

Rifkin aponta que o grande e constante avanço tecnológico possibilita um ritmo de produção cada vez mais acelerado, tornando o custo marginal –preço para produzir uma unidade a mais de determinado produto– muito próximo de zero. Assim, o acesso a tudo se torna mais fácil.

Com essa perspectiva, relata que lucros das corporações começam a diminuir, a ideia de propriedade vai se enfraquecendo e uma economia baseada em escassez é substituída por uma cena de abundância. As pessoas passam a compartilhar bens, desfrutam de produtos ou serviços, sem necessariamente comprá-los.

Para Rifkin, uma sociedade com essa característica torna-se um cenário ideal para promover o bem-estar geral, representando o triunfo do capitalismo e, ao mesmo tempo, a sua inevitável saída do palco mundial.

De acordo com o autor, "enquanto o mercado capitalista baseia-se no interesse próprio e é guiado pelo ganho material, os bens comuns sociais são motivados por interesses colaborativos e guiados por um profundo desejo de se conectar com os outros e de compartilhar".

Posse X Acesso

Rifkin diz que, se a propriedade privada é a característica definidora de um sistema capitalista, então o automóvel particular é seu símbolo de status. Comparando novas gerações com a sua, o autor vê um decréscimo no número de jovens que dão extrema importância aos automóveis.

Ele destaca empresas como a Zipcar ou a City Car Share, nos EUA, cujo objetivo é disponibilizar veículos e estimular a ideia de acesso –não mais a posse.

A tendência de compartilhar tudo deve aumentar e, no futuro, chegar aos carros autônomos, sem motorista –por exemplo, os desenvolvidos pelo Google.

Além de veículos, casas, roupas e outros itens passam a ter evidência no compartilhamento e já têm impacto na economia, aponta o autor.

"A busca do interesse próprio está sendo moderada pela pressão de interesses colaborativos, e o tradicional sonho de enriquecimento financeiro está sendo suplantado pelo sonho de uma qualidade de vida sustentável", escreve o autor.

Trabalho

A tecnologia, que faz alcançarmos baixos custos na produção marginal, também afeta o mercado de trabalho.

Internet das coisas (objetos interconectados que geram benefícios para o cotidiano), big data (coleta e análise de muitos dados), algoritmos, inteligência artificial e robótica ajudam na substituição da mão de obra humana nos setores mais variados, aponta Rifkin.

A perspectiva levantada por ele é de centenas de milhões de pessoas sem emprego na primeira metade do século XXI. Mas a substituição de pessoas por máquinas não é exatamente motivo para pânico, de acordo com o autor.

Rifkin enxerga oportunidades para empreendedores sociais e empregos em organizações sem fins lucrativos.

Há outras chances em um meio conectado com a internet das coisas, que o autor considera a alma gêmea do modelo emergente de bens comuns.

Com auxílio de impressoras 3D, por exemplo, as pessoas passam a ser "prosumidores", ou seja, produtores e consumidores ao mesmo tempo –de uma simples caneta a um móvel.

Jeremy Rifkin assume ter uma posição ambígua em relação ao capitalismo. Para ele, o sistema foi o mecanismo mais ágil e eficiente para organizar a economia no passado. Mas ele não lamenta o fim do regime.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/12/1715273-obra-preve-fim-do-capitalismo-para-dar-lugar-a-economia-colaborativa.shtml
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Offline Peter Joseph

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #1 Online: 08 de Dezembro de 2015, 10:52:27 »
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Rifkin aponta que o grande e constante avanço tecnológico possibilita um ritmo de produção cada vez mais acelerado, tornando o custo marginal –preço para produzir uma unidade a mais de determinado produto– muito próximo de zero. Assim, o acesso a tudo se torna mais fácil.

Com essa perspectiva, relata que lucros das corporações começam a diminuir, a ideia de propriedade vai se enfraquecendo e uma economia baseada em escassez é substituída por uma cena de abundância.

Esta é a grande questão central do processo de esvaziamento do capitalismo, ao meu ver. O capitalismo é totalmente construído e voltado para administrar escassez, ele não sabe lidar com abundância, isto está fora da caixa pra ele. Por isto vai entrar cada vez mais em contradição até não ser mais prático/funcional como modelo econômico.

Não tenho dúvidas, portanto, de que tanta automação e comunicação tornarão obrigatória a mudança para algo diferente. Só não acho que seja garantido que a mudança se dará pra algo melhor do que temos ou mesmo "colaborativo". Este algo melhor/colaborativo para ser garantido, devemos buscá-lo diretamente e não deixar acontecer, como se fosse algo que será atingido naturalmente, apenas relaxando e esperando.
« Última modificação: 08 de Dezembro de 2015, 11:09:24 por Peter Joseph »
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Offline Lorentz

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #2 Online: 08 de Dezembro de 2015, 11:34:00 »
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Offline Peter Joseph

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #3 Online: 08 de Dezembro de 2015, 12:05:35 »
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Penso que esta economia colaborativa que já experimentamos é uma adaptação obrigatória que já começou, diante das mudanças tecnológicas que vem ocorrendo. Mas creio que chegará a um ponto, não muito distante no futuro, onde haverá uma ruptura irreconciliável no sistema, devido à evolução exponencial da tecnologia, que causará desemprego em massa, pouco consumo e superprodução. Neste momento não haverá mais como o capitalismo se reinventar, e algo diferente deverá dominar o cenário econômico. A ideia cada vez mais popular da renda incondicional, é mais uma adaptação obrigatória diante dos novos tempos que também já está ocorrendo (o que não acho sustentável a longo prazo).
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Offline Lorentz

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #4 Online: 08 de Dezembro de 2015, 12:49:08 »
O capitalismo é só uma fundação, onde várias coisas podem ser criadas por cima. Até o socialismo depende de uma base capitalista pra funcionar. A maior crítica ao fracasso de Cuba pelas viúvas da USSR é o embargo dos EUA.

Igrejas e ONGs vivem de doações e trabalho voluntário, e por aí vai.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #5 Online: 08 de Dezembro de 2015, 22:01:18 »
Capitalismo é em essência colaborativo.

Uma empresa são um monte de empregados, laboradores, co-laborando.

Uma empresa que compra produtos ou serviços de outra para fazer os seus, idem.

Mesmo profissionais individuais terão níveis indiretos de colaboradores, nem que seja o próprio cliente.


Geralmente a coisa é intermediada por transferência de dinheiro, mas permuta em alguns casos será uma possibilidade explorada, ainda que possivelmente isso seja menos conveniente tanto em termos práticos, como dificultado por legislação, talvez possa acabar enquadrando isso como uma forma de sonegação em alguns casos.

https://en.wikipedia.org/wiki/Barter#Modern_developments



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Eu, o lápis
de Leonard Read


[...] Eu, o Lápis, apesar de parecer simples, mereço todo seu maravilhamento e espanto, como tentarei demonstrar. Na verdade, se você tentar me compreender — não, isso é pedir demais de alguém —, se você puder perceber a maravilha que eu simbolizo, você pode ajudar a salvar a liberdade que a humanidade está infelizmente perdendo. Tenho uma lição profunda a ensinar.  E posso ensiná-la melhor do que um automóvel ou um avião ou uma máquina lava-louças porque... bem, porque eu sou aparentemente muito simples.

Simples?  Sim.  E mesmo assim, não há uma única pessoa na face da terra que consiga me produzir.  Parece fantástico, não?  Especialmente quando se sabe que, apenas nos EUA, existem em torno de um a um bilhão e meio da membros da minha espécie produzidos a cada ano. [...]

Offline -Huxley-

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #6 Online: 08 de Dezembro de 2015, 23:57:12 »
Acho que "economia colaborativa" não é o que o traduz bem o que Rifkin quis dizer sobre o que substituirá o capitalismo. Acho que ele quis dizer "economia do código aberto", algo como "no futuro, as mercadorias serão como o Linux". Há muito tempo, é fácil entender como isso funciona em produtos digitais. Só agora estamos começando a entender como isso funciona com os produtos físicos com a revolução dos makers e da fabricação digital desktop (impressora 3D e afins), afinal já existem produtos físicos com o código aberto. Já abri um tópico sobre isso e meu segundo post fala sobre essa possibilidade mencionada por Rifkin:

../forum/topic=27706.0.html


Citar
Já li um pouco a versão em português do livro citado no artigo. Ele também fala sobre como essas pequenas empresas de makers poderão ser geradoras de empregos, citando a sua ideia central exposta no livro A Cauda Longa, que diz respeito à estratégia dos empreendedores de se vender uma grande variedade de itens onde cada um vende pequenas quantidades, ao invés de apenas os poucos itens populares que vendem muito. Também há a menção a possibilidade de o baixo custo dessas tecnologias levarem a empreendimentos de "código aberto", o que levaria a tecnologia de fabricação a algo mais voltado a questões de preocupação de compartilhamento de acesso, tal como já acontece atualmente com os softwares. A autossuficiência seria algo a sonhar num futuro em que tecnologia diminuiria drasticamente a escassez. Anderson cita o projeto da Global Village Construction Set como precursor dessa ideia de autossuficiência. Vejam: http://opensourceecology.org/gvcs.php
« Última modificação: 09 de Dezembro de 2015, 00:03:07 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #7 Online: 09 de Dezembro de 2015, 00:18:13 »
Acho que essas coisas serão bem menos revolucionárias do que as pessoas mais empolgadas acham.

Linux é um dos sistemas mais usados em super-computadores e muito popular em servidores... talvez essa seja a maior transformação.

Impressoras 3d serão um "segundo fôlego" ao artesanato e manufatura de algumas coisas, mas não a panacéia de fazer tudo igual, com igual qualidade ao produzido industrialmente (ou artesanalmente, mas com outras ferramentas), e "de graça". Seria mais algo um pouco mais como existirem impressoras laser domésticas foi para a imprensa. Nem se faz livros idênticos aos comprados. Ou o barateamento e portatilidade de ferramentas mais especializadas diversas. Nada que se diga, "minha nossa, como isso é extremamente revolucionário e vai mudar a vida de todos de forma inimaginável".



Acho que mais do que de "código aberto" deve se referir a uma combinação de "sharing economy" e coisas "de graça" pagas por anúncios, como google/várias coisas na net (ou até alguns jornais de papel), que, em última instância dependem de compras tradicionais, do que é anunciado (além de adicionais, o modelo "freemium"/"gratispecial"). Além de doações em alguns casos, como wikipédia e até o visualizador de conteúdo da rede internacional de computadores, Firefox.


De link em link na wikipédia, esse autor conduziu a esse artigo:

https://en.wikipedia.org/wiki/Distributed_economy


Different types of economies



Meh.

Skorpios

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #8 Online: 09 de Dezembro de 2015, 08:24:10 »
Recebi esse artigo sobre o assunto:

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https://www.linkedin.com/pulse/o-mito-da-economia-colaborativa-e-fim-do-capitalismo-ricardo-couto]O mito da economia colaborativa e o fim do capitalismo[/url]

Atualmente tem pipocado na mídia, em geral, matérias sobre a economia colaborativa. Pra usar um exemplo atual, uma matéria da Folha: Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller.

    Me pergunto: como pode alguém ser tão inocente assim para desconstruir um sistema econômico inteiro a partir de um princípio que é, basicamente, fruto desse sistema econômico?

Vejamos.. pegando o exemplo de automóveis e transporte. Se passarmos a usar carros compartilhados ou alugados (táxi, Uber, futuramente o Google Car sem motorista), esse carro será de uma empresa. Essa empresa deterá o bem e o oferecerá como serviço. No caso do Uber, o motorista é o dono do carro então o bem é propriedade do sujeito antes de tudo. Não há compartilhamento do bem, há um serviço oferecido que depende da propriedade privada.

Sem carro próprio, sem Uber.
Sem casa/apartamento próprio, sem AirBnb.
Sem propriedade privada, sem economia colaborativa.

Concordaria se o texto falasse em redução no consumo ou, melhor dizendo, na redução do consumismo. Isso é realmente um conceito que está mudando aos poucos. Sou totalmente a favor disso, inclusive. Mas, no caso, a propriedade privada tem que ser de alguém. As pessoas podem ter um estilo de vida que priorize menos propriedades mas os bens precisam ser de alguém, é difícil pensar num carro que seja de várias pessoas. Pode até existir uma comunidade "dona" do carro. Seria um caminho muito interessante. A logística seria complicada mas o conceito é ótimo. Mas isso, definitivamente, não é economia colaborativa. O nome disse é mais antigo e desvalorizado atualmente: comunidade.

Voltando ao assunto.. segundo o autor (tanto do livro quanto da matéria), seriam empresas as donas das propriedades privadas. Empresas. Ou seja, a diferença é que sairíamos de uma propriedade privada individual para uma propriedade privada corporativa ou empresarial. Esses proprietários dos veículos compartilhados iriam lucrar absurdamente com isso. Seria um monopólio ou, quem sabe, um oligopólio de veículos. Seria o ápice do capitalismo na sua pior forma.

Uma definição de capitalismo segundo o Google (não precisamos ir a fundo nisso, certo?):

    Capitalismo: sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas ou indivíduos que contratam mão de obra em troca de salário.

Bem, a propriedade privada e o capital estaria nas mãos de algumas poucas empresas que ofereceriam serviços. Só que, ao invés de contratar mão de obra para oferecer esse serviço, iriam fazê-lo através da retribuição às pessoas em termos percentuais a partir da produção desta. É assim que funciona o Uber. Algumas empresas sequer teriam mão de obra para os serviços, como o carro do Google sem motorista. Isso é o "Capitalismo 2.0: a evolução"? Detém-se os meios de produção e a mão de obra sequer é fixa pois é paga apenas se e quando produzir?

Na matéria ainda se fala sobre o custo marginal chegar próximo de zero. Oras, lei básica de gestão de produção: se a demanda diminui (redução de consumo), a produção em larga escala também. Básico de economia: quanto mais próximo do unitário é a produção, mais cara ela fica.

Fazendo um exercício simples de economia: supondo que, em 2016, metade das pessoas optem por usar táxi e Uber ao invés de comprar automóveis. As frotas que estão nos pátios vão cair de preço pra conseguir vender. Assim que esgotarem essas frotas, as montadoras vão diminuir a produção. Produzindo menos, são menos unidades, menos empregos, menos carros. E produzindo pouco, seu custo de produção será maior. Resultado: carros mais caros e empresas comprando esses carros para oferecê-los como serviço.

Podemos falar em impressoras 3D (um dos meus sonhos de consumo é ter uma, ops, não pode falar consumo que é feio) e o sujeito prosumidor (ao mesmo tempo, cria e consome). Mas daí a uma impressora 3D "imprimir" carros há uma grande distância. Misturar situações incompatíveis como forma de argumentação tem nome: enganação.
     Isso é o capitalismo na sua pior forma. Empresas detendo toda a propriedade e oferecendo às pessoas serviços mais caros do que se elas todas tivessem seus próprios carros.

Melhor seria não precisarmos de carros, seria termos transporte de qualidade — não como o metrô de São Paulo, que demora 20 anos pra abrir uma nova estação e nem pode ser alvo de investigação porque as contas estão sob sigilo (mas isso é outro assunto absurdo). Melhor mesmo seria se usássemos carros apenas para situações que realmente fizessem diferença, não para dar a algumas poucas empresas o domínio do direito de ir e vir cobrando pedágio.
Brastemp e "meu" aparelho de filtro de água

Um bom exemplo, real, que acontece comigo. A Brastemp oferece alguns filtros de água por assinatura. Eles oferecem um serviço que incluem o aparelho. Eles não vendem o aparelho, mesmo se você quiser comprar (eu pedi pra comprar e não me vendem). Enfim, fiz a assinatura porque ganhava dois meses grátis e o meu filtro tinha quebrado. Quando tive que pagar, resolvi fazer as contas. Pelo valor que eu gastava por ano com a Brastemp, eu compraria 2 filtros com a mesma qualidade. Ou seja, 6 meses de assinatura e o valor era o mesmo que eu parcelar um novinho nas Casas Bahia. Meus cálculos incluiram depreciação e manutenção. Meu aparelho anterior, de qualidade inferior, durou mais de 3 anos e custou o equivalente a 3 ou 4 mensalidades da Brastemp. Imagino que este devesse durar mais do que isso ou a mesma coisa.

Mas fica bonito, atual, hype e tudo mais, dizer que eu não tenho propriedade sobre o bem. Que, ao invés de um produto (coisa capitalista), eu adquiri um serviço (coisa capitalista também, não?). Mas a Brastemp lucrou muito com minha assinatura. Lucrou bem mais do que lucraria se eu comprasse o aparelho. Deve ser por isso que não permitem a venda.

    Essa é a grande mentira da economia colaborativa: o fim do capitalismo. Economia colaborativa depende da propriedade e quem detiver a propriedade será o novo senhor feudal.

Offline Fernando Silva

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #9 Online: 09 de Dezembro de 2015, 09:06:51 »
Esta é a grande questão central do processo de esvaziamento do capitalismo, ao meu ver. O capitalismo é totalmente construído e voltado para administrar escassez, ele não sabe lidar com abundância, isto está fora da caixa pra ele. Por isto vai entrar cada vez mais em contradição até não ser mais prático/funcional como modelo econômico.
Se e quando essa utópica abundância for a regra, então pode ser que as prioridades mudem.
Afinal, ninguém briga por areia no meio do deserto.

Ainda assim, essa abundância será resultado de tecnologias avançadas, de meios de produção que pertencerão a alguém.
Ela não surgirá do nada. Não estará lá, de graça, como a areia do deserto.

Já produtos criados por um sistema colaborativo, como o Linux, são um nicho. São algo que se torna possível dentro de uma sociedade capitalista.
Não são uma alternativa ao capitalismo, são uma consequência dele.

Offline -Huxley-

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #10 Online: 09 de Dezembro de 2015, 10:38:39 »
Quando se fala em "extinção do capitalismo", muitos autores consideram a definição de capitalismo de Marx, segundo o qual ele é o sistema em que há distinção entre a figura do proprietário dos meios de produção e a figura da mão-de-obra (atualmente, a figura do empreendedor individual existe, mas a contribuição dela para o PIB é pequena). Todavia, essa é uma discussão ideológica inútil.

Mais interessante é saber se haverá uma razoável auto-suficiência na produção de bens físicos comparável a que existe nos softwares. Até onde li de Rifkin, ele não considera "economia do grátis" como a "economia do almoço grátis". Veja o caso do mercado de softwares através do Freemium atualmente. Ele é um modelo de negócio em que se ganha dinheiro pela porta lateral, mas isso não impede que já haja uma auto-suficiência razoável. Quem compra um computador, tem disponível o Linux ou o Android como sistema operacional, tem o Google Chrome para navegar na internet, tem o Google Docs para editar textos e tem o software antivírus gratuito do Avira. Quem é miserável e teve que ralar para comprar um computador, não tem a desculpa de falta de dinheiro para se beneficiar do valor dos softwares.

Falar da ineficácia atual das impressoras 3D em produzir carros é inútil. Se estamos falando de um futuro daqui ao ano do último dia do último forista da atual "turma" do Clube Cético, o rumo é fundamentalmente imprevisível e ele pode ser bem mais otimista que a hipótese do refinamento da impressora 3D. Até lá, poderá ser inventado um montador molecular ou um replicador. Assim, poderíamos construir objetos a partir de outros quase a partir de nada, ou melhor, a partir de um conjunto de materiais brutos que seriam transformados no momento do aperto do botão de um replicador. Trilhões e trilhões de nanorobôs convergiriam esses materiais brutos, cada um deles programados para desmontá-los, e em seguida remontá-los em um produto totalmente novo. Assim, poderíamos fabricar qualquer coisa. Talvez prédios ou cidades inteiras fossem construídos assim.
« Última modificação: 09 de Dezembro de 2015, 10:53:05 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #11 Online: 09 de Dezembro de 2015, 18:41:37 »
Mas aí é fim do capitalismo mesmo. Os nanobots fazem todo o trabalho, e ficamos todos deitados numa rede, bebendo nossa bebida favorita. Ou no ambiente que quisermos, todo ele nano-transformável ao comando de voz, ou leitura mental...

O debate será então sobre se devem ser impostos limites na expansão do tecido do espaço-tempo que cada um utiliza para si, os riscos e complicações que essa expansão acelerada do universo em nível local pode acarretar. Talvez a melhor alternativa fosse a auto-miniaturização, ou o aproveitamento do espaço de dimensões extras, existentes ou fabricadas.


(se não formos nós extintos pelos robôs antes disso, é claro)



Recebi esse artigo sobre o assunto:

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Voltando ao assunto.. segundo o autor (tanto do livro quanto da matéria), seriam empresas as donas das propriedades privadas. Empresas. Ou seja, a diferença é que sairíamos de uma propriedade privada individual para uma propriedade privada corporativa ou empresarial. Esses proprietários dos veículos compartilhados iriam lucrar absurdamente com isso. Seria um monopólio ou, quem sabe, um oligopólio de veículos. Seria o ápice do capitalismo na sua pior forma.

Interessante. Mas aí novamente fabricantes de carro (e de motos) teriam incentivo em popularizá-los, o que tenderia a equilibrar as coisas, teoricamente. Se é que a coisa chegaria naturalmente a esse nível, mais ou menos pelo mesmo motivo. Principalmente motos, acho que tenderiam a continuar sendo uma opção para quem quer ter mais liberdade e praticidade, mesmo que usasse os taxis/etc na maior parte do tempo.

Offline -Huxley-

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #12 Online: 09 de Dezembro de 2015, 23:14:40 »
Já ouviram falar da Better Place? Ele é um modelo de negócio em que se mostra como um carro pode ser grátis. Como as pessoas percebem que o custo de um carro vai além do preço de compra, a Better Place planeja dar o carro de graça enquanto vende as milhas por menos do que você pagaria por um carro tradicional, isso se você assinar um contrato de três anos com ela e morar em um local onde o serviço é disponibilizado. A Better Place consegue fazer isso porque seus carros são elétricos, e a eletricidade é mais barata do que a gasolina. A empresa prevê duas categorias de clientes: aqueles que compram o carro e recebem a bateria de graça e aqueles que recebem os dois de graça.
« Última modificação: 09 de Dezembro de 2015, 23:25:53 por -Huxley- »


Offline -Huxley-

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #14 Online: 10 de Dezembro de 2015, 09:23:27 »
Meio como aparelho de telefone "de graça", só que com carro.



É, eu li que o modelo de negócio dela foi inspirado na telefonia. Mas há grande variação nas estratégias para o Freemium, assim como os bens que são alvos dele. Existe também livro didático, curso universitário, software médico, ações (mercado financeiro), loja (os produtos da mesma), passagem área e bicicleta grátis. O livro Free - Grátis: o futuro dos preços de Chris Anderson é instrutivo sobre esse assunto.
« Última modificação: 10 de Dezembro de 2015, 09:29:03 por -Huxley- »

Offline -Huxley-

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #15 Online: 10 de Dezembro de 2015, 09:37:50 »
Curiosamente, a editora brasileira fez questão de diminuir o valor dos argumentos do livro de Chris Anderson, assim só o audiobook em inglês está disponível gratuitamente para nós:

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Não por acaso a última frase do livro é: “os empreendedores da Web precisam inventar não somente produtos que as pessoas adorem, como também produtos pelos quais elas pagarão. O Grátis pode ser o melhor preço, mas não pode ser o único”. Curioso, nesse aspecto, que o próprio livro de Anderson no Brasil não seja disponibilizado gratuitamente. Porque no livro ele cita diversas vezes sua própria experiência, dizendo que a obra está disponível em versão e-book, à venda em PDF ou na versão impressa, porque sua principal fonte de receita são palestras customizadas a determinada empresa ou instituição que queira contratá-lo. Agora, no Brasil, se você acessar a versão do Scrib do livro, em http://www.scribd.com/doc/17135767/FREE-by-Chris-Anderson, verá a antipática mensagem: “Sorry, this content is geographically restricted”.

Mais do que atrapalhar os argumentos do próprio livro de Anderson, essa estratégia mostra como nossas editoras estão despreparadas para lidar com o mercado digital, agindo como as jurássicas gravadoras de CDs e DVDs, insistindo em manter indústrias físicas centradas em meia dúzia de privilegiados e dificultando o surgimento de um mercado digital amplo e diversificado. Mas isso é outra história que abordarei em nova coluna.

http://www.bookess.com/blog/30-09-2010/free-o-futuro-dos-precos-e-ser-gratis.html

Para quem não sabe, Chris Anderson é o dono do TED Talks, outro exemplo de Freemium.
« Última modificação: 10 de Dezembro de 2015, 11:12:43 por -Huxley- »

Offline Peter Joseph

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #16 Online: 10 de Dezembro de 2015, 11:25:26 »
Acho que estão ignorando que a abundância cada vez maior, produzida pelo avanço na automação e nas comunicações na busca por menores custos de produção, irá gerar muito desemprego, diminuir a renda e o consumo. Geração de abundância é inversamente proporcional à utilização de trabalho humano. Na minha opinião é isto que irá produzir a impossibilidade prática do capitalismo e nos obrigará a buscar outra forma da sociedade existir, o que não garante que o que virá será uma sociedade pós-escassez livre ou mesmo algo "colaborativo", sendo possivelmente talvez até pior para a maioria do que o que temos agora. Não creio que mudaremos por que uma "economia colaborativa" irá crescer naturalmente e tornar o sistema atual obsoleto, mudaremos por que seremos obrigados. Economia colaborativa é só uma das possibilidades de futuro.
« Última modificação: 10 de Dezembro de 2015, 11:31:06 por Peter Joseph »
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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #17 Online: 10 de Dezembro de 2015, 11:33:15 »
Acho que estão ignorando que a abundância cada vez maior, produzida pelo avanço na automação e nas comunicações na busca por menores custos de produção, irá gerar muito desemprego, diminuir a renda e o consumo.

Na sua opinião, isso já está acontecendo ou ainda vai acontecer? Porque todos os dados apontam para uma oferta cada vez maior de emprego e renda.
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Offline Peter Joseph

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #18 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:03:38 »
Acho que estão ignorando que a abundância cada vez maior, produzida pelo avanço na automação e nas comunicações na busca por menores custos de produção, irá gerar muito desemprego, diminuir a renda e o consumo.

Na sua opinião, isso já está acontecendo ou ainda vai acontecer? Porque todos os dados apontam para uma oferta cada vez maior de emprego e renda.

Entendo já estar ocorrendo, mas ainda no começo. A quais dados você se refere? A OIT - Organização Internacional do Trabalho afirma o contrário, que os níveis de emprego só tem piorado desde 2008 e tende a piorar mais...

Citar
OIT prevê que desemprego cresce até 2019

Genebra - O número de pessoas sem trabalho deve crescer em 11 milhões nos próximos quatro anos e isto está agravando as desigualdades no mundo, adverte a Organização Mundial do Trabalho (OIT) em um relatório publicado nesta terça-feira.

Em 2019, mais de 219 milhões de pessoas poderão estar sem trabalho no planeta, segundo o relatório publicado em Genebra.

"Se perderam mais de 61 milhões de postos de trabalho desde o início da crise mundial de 2008 e nossas projeções mostram que o desemprego seguirá crescendo até o final da década", afirmou o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

http://exame.abril.com.br/economia/noticias/oit-preve-que-desemprego-cresce-ate-2019

E as previsões para o Comércio Mundial também não é das melhores...

Citar
OCDE alerta para desaceleração do comércio global e corta crescimento
Os fluxos do comércio global têm caído perigosamente a níveis normalmente associados à recessão global...
http://m.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1703891-ocde-alerta-para-desaceleracao-do-comercio-global-e-corta-crescimento.shtml?mobile

Alguns economistas de nome já estão dando o braço a torcer para o fato de que a automação é um ingrediente importante nesta crise econômica mundial iniciada em 2008. Dois exemplos são Joseph Stiglitz e Paul Krugman.
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Offline Lorentz

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #19 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:11:52 »
Neste caso do último link, o desemprego aumentou porque o consumo caiu, e o consumo caiu por causa da recessão, devido a fatores como guerras, governos incompetentes e etc.

A população cresceu cresceu em bilhões nas últimas décadas, e a automação também. E nem por isso vemos esses bilhões de pessoas desempregadas. A taxa de desemprego sempre flutua nos 5%-10% na maioria dos países desenvolvidos.

Uma coisa é certa, só é possível ter 7 bilhões de habitantes no mundo se todas essas pessoas tem acesso a alimentos, moradia e renda.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #20 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:12:36 »


Citar
https://en.wikipedia.org/wiki/Technological_unemployment

[...] Some recent studies however, such as a 2015 paper by Georg Graetz and Guy Michaels, found that at least in the area they studied - the impact of industrial robots - innovation is boosting pay for highly skilled workers while having a more negative impact on those with low to medium skills.[17] A 2015 report by Carl Benedikt Frey, Michael Osborne and Citi research, agreed that innovation had been disruptive mostly to middle skilled jobs, yet predicted that in the next ten years the impact of automation would fall most heavily on those with low skills.[18] [...]


O jeito vai ser inventarem a máquina do tempo e os desempregados irem para o passado procurar emprego.








Offline Lorentz

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #21 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:20:45 »
Os haitianos que vem para o Brasil em sua maioria conseguem empregos. Em plena crise. Como explicar isso?
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Offline Peter Joseph

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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #22 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:29:24 »


Este livro é muito bom mesmo. Aqui tem a versão dele traduzida e disponível on line gratuitamente: http://robosvaoroubarteuempregomasok.blogspot.com.br/2014/12/apresentacao-desta-traducao.html

E só pra acrescentar os dados trazidos pelo Buckaroo, aqui o que diz o relatório recente do Bank of América sobre a questão:
Citar
No Japão, robôs alocados na linha de produção de automóveis já trabalham, sem descansar um segundo e sem supervisão, por trinta dias ininterruptos. Em todo o mundo, foram realizadas, no ano passado, 570 mil cirurgias assistidas por robôs; e no Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, um supercomputador que dá assistência a elas é capaz de ler e processar 1 milhão de textos por segundo, para orientar diagnósticos e procedimentos. Em breve, será possível transferir para máquinas profissões penosas (como chapeiro em restaurantes industriais), subalternas (como cuidador de idosos) ou maçantes (como analista de crédito). Mas todos estes desenvolvimentos, que poderiam aliviar a vida humana, estão prestes a se converter num tormento, multiplicando desigualdade e desemprego.

Estas observações não vêm de estudos hipotéticos de intelectuais marxistas, mas de um relatório ainda inédito, produzido pelo Bank of America e relatado na edição de hoje do Guardian. Está em curso, diz o estudo, uma quarta revolução industrial – depois da máquina a vapor, da produção em massa e da eletrônica.

O desenvolvimento da inteligência artificial está produzindo máquinas cada vez mais capazes não apenas de adquirir habilidade manual, mas de executar certas tarefas analíticas, que antes exigiriam avaliação humana. As consequências são impressionantes. Enquanto usam-se em média, no mundo, 66 robôs para cada 10 mil humanos empregados, na indústria automobilística nipônica esta relação disparou para 1520 / 10 mil. Em apenas dois meses de 2014, o Google adquiriu nada menos que oito empresas robóticas. Certos do mundo financeiro esperam eliminar, com a automação, o equivalente a 9 trilhões de dólares em salários, por ano.

O próprio estudo do Bank of America reconhece: nas condições atuais, a consequência natural será a eliminação, nos próximos vinte anos, de 35% dos postos de trabalho no Reino Unido; de 47% nos Estados Unidos; e talvez de um percentual ainda maior em economias como a brasileira, onde as ocupações são, em média, de qualificação mais baixa. Porque, segundo o próprio relatório “as perdas de emprego irão se concentrar no parte mais baixa da escala de salários”.

As sociedades humanas estarão condenadas a se tornar cada vez mais desiguais e insustentáveis, à medida em que se desenvolvem tecnicamente? Esta questão tem inspirado grandes autores e obras contemporâneos. Em O Relatório Lugano, a cientista política franco-norte-americana Susan George imagina um plano, formulado por grandes estrategistas do sistema, para eliminar 1/3 dos habitantes do planeta – que se tornaram supérfluos, com o advento de novas tecnologias e podem constituir ameaça de rebelião.

Já o economista britânico Guy Standing busca as alternativas. Em O Precariado, a nova classe perigosa, ele argumenta que é preciso inventar, coletivamente, caminhos para evitar a ruptura tecnológica. Sua proposta essencial: desvincular trabalho de existência, algo presente no imaginário humano desde os livros sagrados (“Comerás teu pão com o suor de teu rosto”, diz o Gêneis). Instituir a Renda Cidadã global, assegurada a todos os seres humanos do planeta e capaz de assegurar uma vida digna e frugal.

http://outraspalavras.net/blog/2015/11/05/automacao-a-ambigua-revolucao-dos-robos/
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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #23 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:36:49 »


Abundância é inversamente proporcional ao uso de trabalho humano. Então, se queremos abundância de verdade, o trabalho humano deve ser eliminado o máximo possível.
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Re:Capitalismo dará lugar à economia colaborativa, prevê autor de best-seller
« Resposta #24 Online: 10 de Dezembro de 2015, 12:39:27 »
Os haitianos que vem para o Brasil em sua maioria conseguem empregos. Em plena crise. Como explicar isso?

Haitianos enfrentam dificuldades para conseguir emprego no Brasil
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