Autor Tópico: Como convencer alguém da importância de aprender ciência  (Lida 4972 vezes)

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Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #25 Online: 22 de Janeiro de 2016, 10:35:43 »

"Se tirassem física, matemática e química do Ensino Médio, não faria diferença nenhuma para quem pretende cursar direito, por exemplo"



Eu vou dizer uma coisa: nós raramente sentimos necessidade daquilo que não sabemos.

Porque se você não sabe você não usa. Se você não usa não lhe está sendo útil.



Você sabe  compor uma música de funk ?

Você sabe cantar uma música de funk ?

Você sabe falar Tupi Guarani ?

Você sabe tocar harpa ?

Você sabe tocar violoncelo ?

Você sabe  mergulhar de escafandro em grandes profundidades ?

Você sabe dirigir um M1A2  ?

Você sabe desarmar uma mina terrestre ?

Você sabe operar um Bofors 40 mm ?

Você sabe compor uma música para uma orquestra ?

Você sabe compor um samba ?

Você sabe cantar  um samba ?

Você sabe cultivar soja corretamente ?

Você sabe preparar um solo bruto no Tocantins desde o estágio inicial até o ponto em que esteja adequado para receber uma semeadura  de sementes de soja ?

Você sabe cultivar mandioca ?

Você sabe cultivar cana e  depois produzir álcool e acúcar ?

Você sabe identificar plantas com propriedades medicinais  na  selva amazônica ?

« Última modificação: 22 de Janeiro de 2016, 11:12:53 por JJ »


Offline -Huxley-

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #27 Online: 22 de Janeiro de 2016, 11:28:05 »
Não existe evidência da eficácia da transferência de habilidades do domínio de problemas bem-estruturados para problemas mal-estruturados... Grande parte do que é aprendido em sala de aula permanece em sala de aula. Educação científica na sala de aula jamais será suficiente para a questão de se resolver problemas mal-definidos. Ver seção 9. "O que são problemas mal-definidos? Como solucioná-los?" do meu tópico:

../forum/topic=25875.0.html

É por isso que grandes médicos e arquitetos antigos conseguiram fazer realizações notáveis, a despeito da baixa compreensão de teorias científicas. Fenomenologia, heurísticas e truques práticos...Aleatoriedade, ambiguidade, incerteza, aventuras, autodescoberta, episódios quase traumáticos. Tudo isso faz parte da educação de um indivíduo, mas é difícil achá-lo em sala de aula.

Daí, não se segue que a carreira de um indivíduo na área de Humanas deve ser o guia para a educação. Educa-se para a vida, não para uma carreira específica ou para a sala de aula. Um problema sério em determinadas disciplinas é o surgimento de idiotas savants, pessoas sem erudição que acham que o conhecimento da área dele é insular e cometem graves erros de conhecimento na própria profissão por causa disso.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #28 Online: 22 de Janeiro de 2016, 11:43:59 »
Não existe evidência da eficácia da transferência de habilidades do domínio de problemas bem-estruturados para problemas mal-estruturados.

Um repertório maior em habilidades para lidar com problemas "estruturados" deve ser melhor do que um menor, por maiores chances de encontrar analogias no problema "não estruturado". Destrinchá-lo em problemas estruturados menores.

Um problema sério em determinadas disciplinas é o surgimento de idiotas savants, pessoas sem erudição que acham que o conhecimento da área dele é insular e cometem graves erros de conhecimento na própria profissão por causa disso.

O que é uma boa razão para uma formação "pré-profissional" mais abrangente, em vez das pessoas se focarem só no tido como mínimo necessário para uma profissão. Além de "ampliar os horizontes".

Offline Lorentz

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #29 Online: 22 de Janeiro de 2016, 13:42:09 »

"Se tirassem física, matemática e química do Ensino Médio, não faria diferença nenhuma para quem pretende cursar direito, por exemplo"



Eu vou dizer uma coisa: nós raramente sentimos necessidade daquilo que não sabemos.

Porque se você não sabe você não usa. Se você não usa não lhe está sendo útil.



Você sabe  compor uma música de funk ?

Você sabe cantar uma música de funk ?

Você sabe falar Tupi Guarani ?

Você sabe tocar harpa ?

Você sabe tocar violoncelo ?

Você sabe  mergulhar de escafandro em grandes profundidades ?

Você sabe dirigir um M1A2  ?

Você sabe desarmar uma mina terrestre ?

Você sabe operar um Bofors 40 mm ?

Você sabe compor uma música para uma orquestra ?

Você sabe compor um samba ?

Você sabe cantar  um samba ?

Você sabe cultivar soja corretamente ?

Você sabe preparar um solo bruto no Tocantins desde o estágio inicial até o ponto em que esteja adequado para receber uma semeadura  de sementes de soja ?

Você sabe cultivar mandioca ?

Você sabe cultivar cana e  depois produzir álcool e acúcar ?

Você sabe identificar plantas com propriedades medicinais  na  selva amazônica ?



Você sabe das consequências do aquecimento global? Muitos não sabem, e ignoram porque não entendem da ciência por trás disso. Agora me diga, existe uma maneira de não ser afetado pelo aquecimento global? Será que somente os que não entendem ou que não acreditam é que sofrerão?
"Amy, technology isn't intrinsically good or bad. It's all in how you use it, like the death ray." - Professor Hubert J. Farnsworth


Offline Lorentz

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #31 Online: 22 de Janeiro de 2016, 15:33:43 »
Então as crianças devem ser postas para aprender aquilo que as elites julgam necessário, sob a mira de fuzis, é isso?

Acho que as crianças deveriam não só escolher o que aprender, mas também o que comer.
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Offline Pedro Reis

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #33 Online: 23 de Janeiro de 2016, 02:16:03 »
Funk eu sei fazer. Também sei cultivar mandioca. Tenho alguma noção de cultivo de cana e soja.

O resto realmente não manjo muito, e exatamente por isso falta não me faz. Ah, mas se eu soubesse tocar harpa ou violino seria maravilhoso. Não poderia mais imaginar minha vida sem isso.

Mas na sua lista só constam habilidades muito específicas. Não é, nem de longe, uma comparação justa com o que se pretende de um ensino fundamental e médio.

Ou por acaso você defende que saber ler e escrever é tão inútil para um agricultor de mandioca quanto saber cultivar mandioca é inútil para um romancista?

A função do ensino básico é te dar àquelas ferramentas...  básicas, claro... que vão te permitir adquirir ferramentas mais avançadas e especificas, necessárias ao melhor aproveitamento das suas aptidões naturais.

Creio que comparar um conhecimento fundamental de Matemática com um conhecimento elementar de corte e costura é non sense.

Uma vez assinei contrato com um pequeno empreiteiro para ele fazer uma casinha bem simples de fim de semana para mim. Antes eu tinha feito o "dever de casa": procurei um bom construtor, peguei referências, fui ver obras que ele estava fazendo, tudo como mando o figurino... cheguei a aprovar o projeto na prefeitura, mas eu não sabia que o cara estava com câncer e ele faleceu na semana que iriamos assinar contrato.

Ai acabei construiindo com o 1º imbecil que encontrei. Mas antes eu desenhei o novo projeto nos mínimos detalhes. Tudo em 3D, "construi" a casinha já no terreno com o SketchUP, usando uma modelagem tridimensional do terreno a partir de uma foto de satélite.

Além de estar tudo detalhado, desde a parte elétrica e hidráulica, achei que não haveria problema porque além de tudo era um projetinho extremamente simples. O mais simples que você pode imaginar.

Bom, pra resumir... foi uma dor de cabeça do início ao fim. A quantidade de m* que o cara fez é inenarrável. Alem de vigarista, salafrário, mentiroso, mau caráter, o pior defeito que o sujeito tinha era que ele não sabia pensar: não tinha organização nem método, simplesmente ia fazendo as coisas e tudo dando errado.

Uma deficiência dos operários, porém que não tem desculpa para o empreiteiro, é que eles não sabiam fazer os cálculos mais elementares, e isso rotineiramente era um fonte de problemas.

O sujeito era tão débil mental que pôs a caixa dágua, fechou o telhado mas esqueceu de pôr a tampa na caixa! Liguei pra ele ( porque a obra era em um lugar distante da cidade onde eu moro ), e disse: "bom, você tem a medida da tampa, você tem a medida do alçapão, veja se a metade do diâmetro da tampa é um pouco menor que a diagonal do alçapão. Se for basta dobrar a tampa ao meio e entrar com ela no forro da casa."

Como ele não sabia fazer essa conta e era sem ideia demais para pelo menos tentar desse jeito, o cara mandou destalhar parte do telhado para entrar com a tampa.

O pior é que ela teria entrado facilmente pelo alçapão.

É para isso que serve a Educação. Para a pessoa adquirir o conhecimento básico necessário para ter um entendimento mínimo do mundo em que vive, desenvolver o senso crítico, a habilidade de pensar por si mesmo, e também adquirir aqueles conhecimentos elementares que podem ser úteis a desde um peão de obra até um chef de cozinha, ou até mesmo a um advogado.

Não dá para comparar com a necessidade de se saber desarmar minas terrestres.

Offline Pedro Reis

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #34 Online: 23 de Janeiro de 2016, 02:33:23 »
A melhor defesa que se pode fazer de uma boa educação é observar a diferença de nível e qualidade de vida entre países quem têm uma população bem instruída e aqueles que não.

O que é que tem no Japão? Não tem petróleo, não tem minério, não tem grandes extensões de terras férteis, não tem espaço, não tem fontes de energia, não tem floresta amazônica...

Tem é gente demais, inverno rigoroso, terremotos e tsunamis.

Mas tem japonês. E japonês estuda.

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #35 Online: 23 de Janeiro de 2016, 08:04:54 »
Funk eu sei fazer. Também sei cultivar mandioca. Tenho alguma noção de cultivo de cana e soja.

O resto realmente não manjo muito, e exatamente por isso falta não me faz. Ah, mas se eu soubesse tocar harpa ou violino seria maravilhoso. Não poderia mais imaginar minha vida sem isso.

Mas na sua lista só constam habilidades muito específicas. Não é, nem de longe, uma comparação justa com o que se pretende de um ensino fundamental e médio.

Ou por acaso você defende que saber ler e escrever é tão inútil para um agricultor de mandioca quanto saber cultivar mandioca é inútil para um romancista?

Não eu não defendi isso.  Repare que minha crítica foi específica ao atual conteúdo do ensino médio, e mais especificamente ainda eu me referi a conteúdos de matemática do ensino médio (entre parênteses também fiz referência a física e química).

Com relação a serem habilidades muito específicas,  resolver na mão os problemas dos conteúdos de matemática do ensino médio também são  habilidades muito específicas,  são tão específicas, que a grande maioria das pessoas  que aprenderam durante o ensino médio alguns anos depois esquecem, pois realmente não precisam no seu dia a dia, mesmo no seu dia a dia de tarefas profissionais.

Repare também que não estou sugerindo a eliminação de vez destes conteúdos, e sim a eliminação da obrigatoriedade para todos.  Deixá-la como opcionais  para  quem tiver interesse.


« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 09:42:22 por JJ »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #36 Online: 23 de Janeiro de 2016, 08:11:49 »
A melhor defesa que se pode fazer de uma boa educação é observar a diferença de nível e qualidade de vida entre países quem têm uma população bem instruída e aqueles que não.

O que é que tem no Japão? Não tem petróleo, não tem minério, não tem grandes extensões de terras férteis, não tem espaço, não tem fontes de energia, não tem floresta amazônica...

Tem é gente demais, inverno rigoroso, terremotos e tsunamis.

Mas tem japonês. E japonês estuda.



Certamente que você sabe que isto é uma grande simplificação da realidade,  certamente que você sabe que estudar (conteúdos de matemática do ensino médio)  deve estar correlacionado a uma série de fatores que tornaram o país desenvolvido, ao invés de que estudar  (conteúdos de matemática do ensino médio) seja a causa primordial de que o Japão seja um país desenvolvido.




« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 09:56:47 por JJ »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #37 Online: 23 de Janeiro de 2016, 08:20:37 »

Você sabe das consequências do aquecimento global? Muitos não sabem, e ignoram porque não entendem da ciência por trás disso. Agora me diga, existe uma maneira de não ser afetado pelo aquecimento global? Será que somente os que não entendem ou que não acreditam é que sofrerão?


Sei. E sei que não é necessário  aprender e usar o conteúdo de matemática do ensino médio para saber disso.  Para isso, basta saber ler bem e interpretar bem um texto em português.




« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 08:59:06 por JJ »

Offline homemcinza

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #38 Online: 23 de Janeiro de 2016, 12:24:32 »
...
É para isso que serve a Educação. Para a pessoa adquirir o conhecimento básico necessário para ter um entendimento mínimo do mundo em que vive, desenvolver o senso crítico, a habilidade de pensar por si mesmo, e também adquirir aqueles conhecimentos elementares que podem ser úteis a desde um peão de obra até um chef de cozinha, ou até mesmo a um advogado.

Não dá para comparar com a necessidade de se saber desarmar minas terrestres.

Sua história do pedreiro me fez lembrar de uma aluna de 15 anos.  Ela desconhece totalmente conceitos como "meio", "dobro", de algum numero, ou "largura" e "altura" de uma imagem.
 Varios alunos meus não sabem utilizar sequer "ler uma regua" destas comuns, escolares. Ai tem aulas em que eu tenho de trabalhar so tentando enfiar na cabeça deles estes conceitos.

Aí me pergunto o que ficam fazendo até essa idade na escola. O que aprendem?
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 12:53:26 por homemcinza »
Ceticismo é para poucos!


Offline homemcinza

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #40 Online: 23 de Janeiro de 2016, 12:52:27 »
O que são altura e largura de números? :hein:

Era pra ser "meio, dobro, de algum numero, medida etc". Acabei editando e colocando largura e altura depois, ai ficou assim. Já corrigido. :ok:
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 13:02:41 por homemcinza »
Ceticismo é para poucos!


Offline Pedro Reis

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #42 Online: 23 de Janeiro de 2016, 18:45:43 »
No "post" anterior eu falava justamente sobre isso: o absurdo desse ensino de "faz-de-conta".

Alguém tem que ter a coragem de dizer que o rei está nu. A escola não está ensinando nada!

O ensino custa caro, a escola absorve ( pelo menos em termos de tempo ) grande parte da vida dos jovens, os professores se matando em 7 empregos simultâneos, mas a efetividade não corresponde a todo este investimento.

O problema não está no currículo, naquilo que se propõe que o aluno aprenda. O problema está no fato de que o aluno NÃO APRENDE! Não, na verdade o problema mesmo está no fato de que o aluno não tem consciência de que não aprendeu. Quando ele passa de ano tem a ilusão de que isso significa que ele aprendeu algo de substancial do que deveria ter sido ensinado, e, por meio de algum acordo não escrito, todos parecem concordar com essa ilusão. Todos: pais, professores, diretores de escola, os caras que elaboram a LDBDEN, o MEC... Todos, por alguma razão que desconheço, fingem que a média escolar representa de alguma forma o aproveitamento daquilo que foi ensinado.

Quando, obviamente, se alunos de 15 anos não sabem ler uma régua e mesmo assim chegaram onde estão, a escola não está servindo para nada.

É por isso que o JJ, e muitos que pensam como ele, acham que muito do atual conteúdo não serve pra nada. Simplesmente porque não está servindo mesmo! Mas não porque sejam conhecimentos inúteis ou irrelevantes, mas meramente porque os alunos progridem de série sem assimilar nada destes conteúdos e ainda com a ilusão de que aprenderam.

Claro, como não aprenderam mas acham que aprenderam porque possuem um diploma dizendo que aprenderam, todo este desconhecimento não tem nenhuma utilidade para eles. Nem utilidade prática, imediata, nem como algo que possam usar de maneira flexível e criativa para lidar com as situações mais variadas, que é o que ocorre ao conhecimento real. Também não é útil para contribuir para a estruturação intelectual, para o desenvolvimento do raciocínio sistemático e organizado, do senso crítico, para se ter uma consciência de unidade e relacionamento entre os diversos tipos de informações que recebemos cada vez com maior velocidade e intensidade, para ser capaz de interpretar estas informações dentro dos contextos mais amplos a que estas pertencem, e cujo conhecimento ( destes contextos ) é essencial para o real entendimento destas próprias informações.

Então se iludem mais uma vez achando que saber História Antiga ( como surgiu a Civilização ), como o Império Romano e a Antiga Grécia moldaram o nosso mundo, como o Mercantilismo se relaciona com o surgimento do moderno capitalismo juntamente com o papel da Revolução Industrial, e etc, etc, etc... não lhes serve pra nada, porque apesar de terem "estudado" estes assuntos, não conseguem ver uma importância destes conhecimentos em suas vidas.

Mas a ilusão advém de na verdade NÃO possuírem estes conhecimentos. Eles "estudaram", quer dizer, passaram por este sistema abstrato e mecânico que em nada resulta, e confundem o produto deste sistema com conhecimento. Dessa forma o  conhecimento lhes parece inútil, quando na verdade inútil é o sistema.

Você aprendeu ( e provavelmente já esqueceu ) que uma função é uma relação. Mas antes aprendeu ( e também já esqueceu ) que relação é qualquer tipo de associação entre elementos de conjuntos. Então lhe foi dito ( mas você não se lembra ) que função é uma relação entre um conjunto chamado Domínio e outro conjunto denominado Contradomínio, onde para TODO elemento do Domínio está associado UM e APENAS UM elemento no conjunto Contradomínio.

Se por milagre você decorou e não esqueceu a definição acima agora se pergunta: "E dai?Que diferença fez na minha vida saber disso?"

Mas você não percebeu que foi definida exatamente desta forma, e não de outra qualquer, para que função fosse a ferramenta matemática para modelar todos os fenômenos de causa e efeito do universo que puderem ter suas causas e efeitos expressos quantitativamente.

E tudo ( ou quase tudo ) no nosso universo envolve fenômenos de causa e efeito. E quando são fenômenos quantitativos e que podem ser modelados de forma determinística ( não probabilística ), uma ( ou mais de uma ) função os modela.

Ou seja, uma função é um oráculo! Algo capaz de prever as consequências das causas e, por conseguinte, até o futuro. Algo que os homens vinham buscando na magia desde tempos pré-históricos, mas que ao contrario do I-Ching, do tarôt, e da Astrologia, funciona mesmo. E funciona sempre!

E tem muita gente hoje com diploma universitário gastando uma grana com astrólogo e se perguntando pra que serviu ter "aprendido" funções.

Se ele ao menos tivesse aprendido...

Offline Pedro Reis

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #43 Online: 23 de Janeiro de 2016, 18:54:00 »
Recomento muito o documentário abaixo para o JJ.

A respeito de uma experiência pioneira no ensino público de São Paulo. Como a escola poderia ser e a diferença que fez na vida de quem teve o privilégio de ter sido aluno em um projeto Vocacional.

<a href="https://www.youtube.com/v/u0NbxuFPCrg" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/u0NbxuFPCrg</a>

Offline -Huxley-

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #44 Online: 23 de Janeiro de 2016, 21:29:27 »

Um repertório maior em habilidades para lidar com problemas "estruturados" deve ser melhor do que um menor, por maiores chances de encontrar analogias no problema "não estruturado". Destrinchá-lo em problemas estruturados menores.

Não nego que exercitar o pensamento analítico em tarefas acadêmicas faça bem. Eu estava me referindo mais às ferramentas utilizadas nas mesmas. Livros didáticos geralmente tentam nos fazer acreditar, em suas seções sobre pesquisa aplicada, que teorias científicas são confiáveis para a tomada de decisão. Isso, sem dúvida, é verdade para o caso da física, pois erros em física ficam menores de teoria em teoria e é comum ver descobertas que foram guiadas por teorias que fizeram previsões precisas fantásticas. Mas teorias científicas não são confiáveis para tomada de decisão em domínios de “caudas grossas” (ver meu último post em “Perguntas sobre política, economia e história que não merecem um tópico próprio”). Achar o isomorfismo estrutural básico dos problemas nesse caso que mencionei é uma situação crítica, logo a questão da transferência por analogias pode ser colocada em xeque, assim como a ideia de desmembrar a totalidade de um problema mal-estruturado puro em elementos mais simples. Para entender isso, temos que lembrar que as predições científicas são carregadas de abordagem estatística, o que significa que precisamos de probabilidades para julgar o grau de convergência entre os dados e as predições de qualquer teoria. Mas se há um problema irremediável de mensuração probabilística, o que vai predominar são a tentativa de cálculo de probabilidades e “mais informações para análise” trazerem erros de amostragem e invenções de epifenômenos que se possam imaginar equivocadamente como causas.

Todavia, há um continuum entre problemas bem-estruturados e problemas mal-estruturados. Assim como há meio-termos entre eles. Eis um exemplo. A medicina moderna também se baseia em teorias biológicas, embora o gerar-e-testar seja uma heurística comum na resolução de problemas médicos. Sendo assim, alguns especialistas mencionam que os créditos recebidos pelas teorias científicas são exagerados. James Le Fanu diz em “The Rise and Fall of Modern Medicine”:

“Talvez seja compreensível que os médicos e cientistas queiram assumir o crédito pela ascensão da medicina moderna, sem admitir, ou, até mesmo, reconhecer, os mistérios da natureza, que desempenharam um papel tão importante. Não é de admirar que eles tenham passado a acreditar que sua contribuição intelectual foi ainda maior do que realmente foi, e que compreendessem mais do que compreendiam. Eles foram incapazes de reconhecer a natureza predominantemente empírica da inovação tecnológica e dos medicamentos, que possibilitou avanços espetaculares no tratamento de doenças, sem exigir qualquer compreensão profunda de suas causas ou de sua história natural.”

O que foi dito acima é que a fenomenologia médica (a detecção de regularidades empíricas sem grandes pretensões teóricas, de forma parecida como faziam os grandes médicos da Grécia Antiga) teve seu crédito indevidamente roubado pelas teorias científicas, já que fizeram as últimas parecerem mais heroínas do que realmente foram. E já existiram erros em se rejeitar a fenomenologia. Considere o caso de que, bem antes de sabermos a respeito de bactérias e do papel delas nas doenças, os médicos rejeitaram a prática de lavar as mãos porque elas não faziam sentido para eles, apesar da evidência de uma diminuição significativa das mortes em hospitais.
« Última modificação: 23 de Janeiro de 2016, 23:52:35 por -Huxley- »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #45 Online: 24 de Janeiro de 2016, 10:23:04 »
No "post" anterior eu falava justamente sobre isso: o absurdo desse ensino de "faz-de-conta".

Alguém tem que ter a coragem de dizer que o rei está nu. A escola não está ensinando nada!

O ensino custa caro, a escola absorve ( pelo menos em termos de tempo ) grande parte da vida dos jovens, os professores se matando em 7 empregos simultâneos, mas a efetividade não corresponde a todo este investimento.

O problema não está no currículo, naquilo que se propõe que o aluno aprenda. O problema está no fato de que o aluno NÃO APRENDE!


Peraê,   :b ,   Pedro.


Me parece estar havendo uma generalização indevida, pois há alunos que aprendem uma grande parte dos conteúdos e há alunos que não aprendem sequer a metade ou até um terço dos conteúdos. Não  é verdadeiro que nenhum aluno não aprenda* grande parte dos conteúdos (do programa do ano escolar).


« Última modificação: 24 de Janeiro de 2016, 10:35:06 por JJ »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #46 Online: 24 de Janeiro de 2016, 10:27:57 »
Não, na verdade o problema mesmo está no fato de que o aluno não tem consciência de que não aprendeu. Quando ele passa de ano tem a ilusão de que isso significa que ele aprendeu algo de substancial do que deveria ter sido ensinado, e, por meio de algum acordo não escrito, todos parecem concordar com essa ilusão. Todos: pais, professores, diretores de escola, os caras que elaboram a LDBDEN, o MEC... Todos, por alguma razão que desconheço, fingem que a média escolar representa de alguma forma o aproveitamento daquilo que foi ensinado.

Quando, obviamente, se alunos de 15 anos não sabem ler uma régua e mesmo assim chegaram onde estão, a escola não está servindo para nada.


É minoria em relação à massa, mas há alunos que aprendem  uma tonelada de conteúdos cobrados em vestibulares concorridos.  Pode até ser que seja um aprendizado “mecânico”, mas eles aprendem  o conteúdo necessário para resolver o problema,  marcar a resposta correta, e fazer pontos na prova.

Pode até ser que eles não tenham uma compreensão mais profunda  do que estejam fazendo, mas dada a tonelada de conteúdos que eles tem que aprender para conseguirem passar nos vestibulares mais concorridos, isto é bastante compreensível.


« Última modificação: 24 de Janeiro de 2016, 10:31:51 por JJ »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #47 Online: 24 de Janeiro de 2016, 10:47:02 »
E tudo ( ou quase tudo ) no nosso universo envolve fenômenos de causa e efeito. E quando são fenômenos quantitativos e que podem ser modelados de forma determinística ( não probabilística ), uma ( ou mais de uma ) função os modela.

Ou seja, uma função é um oráculo! Algo capaz de prever as consequências das causas e, por conseguinte, até o futuro. Algo que os homens vinham buscando na magia desde tempos pré-históricos, mas que ao contrario do I-Ching, do tarôt, e da Astrologia, funciona mesmo. E funciona sempre!

E tem muita gente hoje com diploma universitário gastando uma grana com astrólogo e se perguntando pra que serviu ter "aprendido" funções.

Se ele ao menos tivesse aprendido...



Perguntas que as pessoas fazem para I-Ching, tarôt, e para astrologia, geralmente não são questões passíveis de serem respondidas por funções matemáticas.  As funções matemáticas servem bem para um certo conjunto de fenômenos naturais, especialmente fenômenos da física e da química (da biologia até certo ponto),  mas saindo dessas áreas elas geralmente não são suficientes para fazer boas previsões até em ditas ciências como a capenga economia.


« Última modificação: 24 de Janeiro de 2016, 11:20:10 por JJ »

Offline JJ

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #48 Online: 24 de Janeiro de 2016, 10:57:21 »

“Talvez seja compreensível que os médicos e cientistas queiram assumir o crédito pela ascensão da medicina moderna, sem admitir, ou, até mesmo, reconhecer, os mistérios da natureza, que desempenharam um papel tão importante. Não é de admirar que eles tenham passado a acreditar que sua contribuição intelectual foi ainda maior do que realmente foi, e que compreendessem mais do que compreendiam. Eles foram incapazes de reconhecer a natureza predominantemente empírica da inovação tecnológica e dos medicamentos, que possibilitou avanços espetaculares no tratamento de doenças, sem exigir qualquer compreensão profunda de suas causas ou de sua história natural.”




Já li que em relação à aproximadamente 80% dos medicamentos,  não se sabe realmente como eles agem nos organismos, apenas se sabe, através de testes estatísticos, que o efeito observado deve ser causado pelo medicamento aplicado.



Offline Buckaroo Banzai

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Re:Como convencer alguém da importância de aprender ciência
« Resposta #49 Online: 24 de Janeiro de 2016, 13:54:55 »
E isso provavelmente ainda deve ser confiando no que é promovido pela indústria*, sem uma análise mais rigorosa do que realmente funciona.



* não sou anti-indústria farmacêutica

 

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