Enxadristas profissionais mulheres costumam treinar contra homens? Há estatísticas de resultados de partidas inter-gênero? Talvez analisar o desempenho das mulheres em partidas contra homens seja mais realista do que analisar o desempenho em torneios mistos ou rankings, que trazem esse viés do número desproporcional de homens.
Não tenho dados, mas imagino que isso ainda vá ser a maioria das partidas das mulheres, mesmo que eventualmente também tenham uma tendência maior do que o normal em jogar contra mulheres.
Acho que os rankings absolutos (ranking ELO e similares), que são mistos, são já suficientemente informativos quase que independentemente de eventuais heterogeneidades como essas. Isso é, não deve ser fundamentalmente diferente de você ter um ranking baixo e jogar mais desproporcionalmente contra pessoas com ranking próximo ao seu (ou em sua proximidade geográfica), o que é apenas o natural de ocorrer. Também devem ser mais informativos do que resultados de torneios de qualquer tipo, algo bem mais artificial. Então não haverá o risco "de longo prazo" de pessoas ou grupos arbitrários de pessoas com rankings mais fracos serem na verdade mais fortes ou vice-versa.
Esses rankings são produzidos mais ou menos da seguinte forma: todo mundo começa com um mesmo ranking arbitrário. A cada partida, é descontada ou acrescentada (para vitória ou derrota) uma quantidade de pontos modulada pelo ranking do adversário (quanto maior a diferença ou talvez de acordo com o número absoluto, maior a diferença adicionada ou subtraída de cada ranking). Acho que é um dos únicos casos em que conseguem ter um ranking tão preditivo.
É o mesmo funcionamento do ranking de seleções da FIFA. A dificuldade que eu vejo não é em relação à preditividade, é isolar variáveis para algum indício razoavelmente aceitável de diferença "intrínseca" no desempenho de homens e mulheres. Por isso o ranking em si não serve, já que está "contaminado" pela desproporção entre os gêneros, mas talvez fosse possível, analisando um volume grande de dados de partidas individuais, avaliar se as mulheres vão significativamente melhor contra homens ou contra outras mulheres. Ou se os homens vão significativamente melhor contra mulheres do que contra outros homens. Mas pensando melhor acho que nem isso iria fornecer informação confiável, já que o emparelhamento de adversários tende a ser feito com base no ranking, eliminando a aleatoriedade e ocultando a aparição do efeito. Teria que ser mesmo um experimento desenhado especificamente para esse fim, e eu nem saberia dizer no momento como teria que ser feito.
Eu não entendi que "diferença intrínseca" é essa que pretenderia encontrar (ou não). E nem como isso seria melhor detectado com emparelhamento mais aleatório/desproporcional de adversários, que parece logicamente ser a conclusão do contrário mascarar o que se quer detectar.
Isso já não estaria razoavelmente esclarecido naqueles estudos citados sobre como a quantidade parece já explicar bem próximo de "tudo"? Até mais do que eu imaginaria ser esperado se poder explicar mesmo ainda dentro da assunção de diferenças cognifivas inatas serem desprezíveis.
Sex Differences in Intellectual
Performance
Analysis of a Large Cohort of Competitive Chess Players
Christopher F. Chabris1 and Mark E. Glickman2
ABSTRACT—Only 1% of the world’s chess grandmasters are
women. This underrepresentation is unlikely to be caused
by discrimination, because chess ratings objectively reflect
competitive results. Using data on the ratings of more than
250,000 tournament players over 13 years, we investigated
several potential explanations for the male domination of
elite chess. We found that (a) the ratings of men are higher
on average than those of women, but no more variable; (b)
matched boys and girls improve and drop out at equal
rates, but boys begin chess competition in greater numbers
and at higher performance levels than girls; and (c) in
locales where at least 50% of the new young players are
girls, their initial ratings are not lower than those of boys.
We conclude that the greater number of men at the highest
levels in chess can be explained by the greater number of
boys who enter chess at the lowest levels.
http://www.chabris.com/Chabris2006b.pdf
...
The authors analyzed the population of about 120,000 German players as recorded by the German chess federation in April 2007. Based on more than 3,000 tournaments per year, the German chess federation measures the skill level of all competitive and most hobby players in the country (the rating correlates highly with the widely known Elo rating). The sample population included 113,386 men and 7,013 women (a ratio of 16:1).
First, the researchers estimated the expected performance of the top 100 male and top 100 female players. Then, they compared the expected differences in points between these high-ranking male and female players with the actual point differences. Theoretically, the size difference between the male and female groups should correspond to the point differences between the top performers in the two groups.
The results showed that the top three women had more points than expected, the next 70 or so pairs showed a small advantage for the men, and the last 20 pairs showed a small advantage for the women. Overall, men performed slightly better than expected, with an average advantage of 353 points, whereas the expected advantage was 341 points. Nevertheless, about 96% of the actual difference between genders could be explained by the statistical fact that the extreme values from a large sample are likely to be larger than those from a small one.
...
http://phys.org/news/2009-01-men-higher-women-chess-biological.html#jCp
Acho que a hipótese de "diferenças intrínsecas" precisaria pegar uma porrada de meninos e meninas com "valores" iguais de competitividade e interesse em xadrez, ensinar xadrez a todos, e ver como diferem nessa assimilação inicial num ambiente bastante controlado. Bastante improvável. Ao mesmo tempo já teria também a assunção que variações normais em competitividade e interesse não são já "intrínsecas", o que acho até razoável, mas é o tipo de coisa que comumente é colocada como a favor de diferenças intrínsecas. E ainda assim você só estaria falando de diferenças intrinsecas na infância, não no decorrer da adolescência e idade adulta, onde poderiam se reverter ou ampliar.
Porque você sempre pode supor que, mesmo pessoas de mesmo ranking podem ter diferenças intrínsecas/inatas na outra direção, até mesmo se a pessoa com desempenho inferior é a "bem dotada".
Diferenças em disputas entre indivíduos de sexos diferentes, com isso "evidenciado", vão tender a dizer mais sobre efeitos de intimidação por estereótipo do que qualquer capacidade intrínseca, a menos que essa suscetibilidade também seja considerada como uma fragilidade intrínseca de quem é mais suscetível a perder desempenho com isso.
Em esportes "físicos", além da técnica, que tende poder ser mais "comum"*, haverá sempre diferenças de constituição física, a maioria variações existentes independentemente do sexo, apesar de correlatas. Valendo tanto para diferenças onde a vantagem seja masculina ou feminina. (A diferença relevante com menos sobreposição deve ser a da morfologia dos quadris e ângulo do fêmur, acho que não se tem estudos que tentem isolar o que elas significariam em desempenho(s)).
Mas de forma parecida com que se tem ELOs ou QI, pode-se dizer deve existir algo como um "quociente atlético", com uma grande sobreposição, onde pessoas com o mesmo "QA" tenderão a empatar com pessoas do mesmo "QA", independentemente do sexo, embora haja mais homens com maior "QA"** e mais mulheres com menor, mesmo para a mesma altura (tendência a no mínimo maior volume pulmonar para a mesma altura).
Isso é verdade, mas em outros esportes como vôlei, basquete e handebol as adaptações permitem que a "jogabilidade" do feminino seja muito parecida com a do masculino. No futebol a diferença é muito discrepante. Meu ponto é que para diminuir essas discrepâncias não é necessário adaptar tanta coisa como tempo de jogo e dimensões do campo como defende o texto do ilisp. Com exceção do tamanho da baliza, que realmente deveria ser menor, o resto da diferença deve diminuir naturalmente com o tempo e com a evolução tática e técnica das equipes, maior profissionalização, criação de ligas, atração de investimentos etc. como aconteceu no masculino.
Seria interessante que se derivasse isso de alguma avaliação física da média dos atletas. Como, quanto tempo homens conseguem fazer uma série de exercícios predominantemente aeróbicos, dividido pela área do campo ou tempo, e alterar um ou outro de acordo com o que se quisesse preservar (como menos tempo de jogo para manter as dimensões do campo). Proporção entre o tamanho dos goleiros e do gol também talvez fosse interessante.
Uma vez vi qualquer coisa sobre como a postura, gestual do goleiro tem um efeito psicológico sobre quem chuta, fazendo-o parecer maior ou menor, e isso mexe com as chances (goleiros aparentemente maiores tendendo a fazer a pessoa aumentar as chances de chutar fora, acho). Mas não lembro direito se era bem isso ou o quanto isso era significativo.
"Evidência" anedótica de fugas da regra quem só jogou futebol de quadra/futsal e não muito: os três melhores goleiros que já vi, acho que talvez em opinião bastante consensual dentro de toda a "população" com quem costumava jogar, eram um excepcionalmente baixinho (japonês), um médio/médio-baixo, e uma menina (crente!). Acho que nesse tamanho do gol pessoas mais altas não devem ter nenhuma vantagem, se não for, talvez, desvantajoso até.
Acho que achei. Se for isso é um pouco contrário ao que disse:
https://www.researchgate.net/publication/235381598_The_mere_presence_of_a_goalkeeper_affects_the_accuracy_of_penalty_kicks