A dificuldade de achar os representantes "da esquerda" provavelmente se deve ao tipo de pautas que se espera que defendam para serem enquadrados no rótulo de esquerdistas. A pessoa que não defende as pautas mais "espantalhos" da esquerda (imposto de grandes fortunas, estatização de empresas, calote na dívida pública etc.) tende a não ser vista como "esquerdista" aqui no fórum, assim como em ambientes com maior predominância da esquerda as pessoas que não defendem as pautas "espantalhos" da direita (proibição do aborto e das drogas, redução da maioridade penal etc.) tendem a não ser vistas como pessoas de direita.
Os razoáveis são sempre "puxados" por outros razoáveis para a ideologia de quem está se referindo a eles.
Eu acho que tem um pouco disso, mas mesmo algo voluntário, uma intenção em tentar se dissociar da esquerda, mesmo quando se é a favor de algo mais tipicamente esquerdista -- então a estratégia é chamar-se de "liberal". Até a aversão a "progressivo" é um pouco mais alta do que eu esperava. Um pouco como se brinca/acusa social-democratas de "socialistas envergonhados", progressistas envergonhados se rotulam liberais, com o benefício de, quando também advogam por maior liberalismo econômico, "unificar" o rótulo.
Mas em parte isso se deve não só a esquerda petista estar se afundando cada vez mais na lama, mas como reflexo do próprio maniqueísmo esquerdista anterior, quando direita que era mais palavrão. Estava me esforçando para tentar pensar em esquerdistas mais ou menos análogos, próximos, os nomes que me ocorreram foram Arnaldo Jabor e até Fernando Gabeira. Mas a esquerda que se declara "dona" do rótulo provavelmente rotula a esses de traidores fachistas neoliberais de direita hoje em dia (se não forem de extrema-direita, apesar de "fachista" já deixar algo redundante).
Agora parece que presenciamos o pêndulo já começar a cair para o outro lado novamente. A direita orgulhosa como detentora da moral e dos bons costumes, execrando a tudo que puder ser associado à esquerda. Apenas com o benefício de ter assimilado algo do esquerdismo ao mesmo tempo, em vez de ser simplesmente um retrocesso nesse aspecto.
Ostermann fala em abolir o estado como algo teórico, ele não é tão pragmático na teoria. O que eu acho bom.
Estava vendo uns vídeos dele agora, esse foi um dos melhores pontos. Ter voluntarianismo mais como um norte moral do que como uma meta revolucionária.