Mas o que te leva a crer que a ausência de um deus e/ou um propósito maior e incognoscível, nos levaria, necessariamente, a um vazio existencial tedioso?
Tudo o que sabemos me leva a crer que no mundo apenas existe vazio, aleatoriedade e despropósito. Qual seria o propósito de galáxias colidirem? Por que nós existimos perto de uma estrela que, num futuro distante, irá morrer e vaporizar todo tipo de vida ao seu redor? Quando elimina-se prazeres temporários da equação e analisa-se a vida objetivamente, tudo me parece muito sem sentido. Somos como formigas numa galáxia imensa que continuam seguindo em frente, só que sem saber para onde, com qual objetivo. Vivendo apenas para satisfazer seus desejos temporários, individuais e subjetivos de modo a fingir com que seu curto período de existência tenha valido a pena, quando na verdade seria muito melhor que nada existisse desde o princípio.
Há sofrimento e angústia demais na vida para eu querer justificar que nossa existência é um privilégio.
Sim, foi nesse sentido instintivo que eu quis dizer.
Não só humanos buscam o prazer e a fuga da dor, mas nós, talvez pela racionalidade, temos uma insatisfação constante que, quem sabe, pode ter sido um fator que nos levou tão mais longe do que outros. Não sei, só estou divagando sem nenhuma base... 
Concordo que nossa insatisfação aliada à racionalidade nos levou bem longe como espécie. Talvez seja justamente isso que move o capitalismo. Não só teríamos que seguir em frente, mas também nos é imposta a obrigação de trabalhar melhor que os outros, numa competição incessante.
Aí é que está. O conceito de 'vida boa' é muito individual. Mas acho que no geral estamos condicionados a crer que a vida só pode ser boa e valer a pena se houver um sentido maior, um propósito divino, uma continuidade da consciência após a morte.
Isso não seria um reflexo do quanto a valorizamos, com todos seus prós e contras?
É uma questão delicada. Primeiramente, não sabemos se a vida seria somente tédio caso houvesse apenas felicidade, ou se é a existência dos momentos ruins que nos proporcionam essa diferenciação e, portanto, uma valorização do que é bom. Sou da opinião de que nossa inexistência seria superior, visto que a existência (principalmente como a temos hoje), abre a possibilidade de sofrimento para bilhões de vidas, e que felicidade de um ou de outro não serve como justificativa para aqueles que estão no fundo do poço.
O propósito é um dos pontos, enquanto o sofrimento é outro deles. Forçoso notar que, esse sentido não precisa ser necessariamente divino, mas é bem difícil pensarmos em um sentido que não seja como aqueles que se encontram em filmes, como por exemplo que vivemos para sermos testados. Isso por si só não me soa muito bem. Sobre a morte, acredito que o homem naturalmente teme o desconhecido, e a morte seria o maior deles. Somos o único animal que sabe que vai morrer, não obstante conhecer o nosso destino último não é o bastante para nos deixar tranquilos a respeito dele. Além desconhecer o seu paradeiro após a morte, outro motivo para temer é não querer perder contato com aqueles que ama, desejar viver mais um dia para fazer aquilo que gosta, etc. A morte seria um cessar de tudo isso, uma "novidade total" para o indivíduo. Seria como um sono profundo, com exceção de que durante esse sono, ele não acordará nunca mais.
Não é incomum casos de depressivos que não se suicidam por temer a morte. Caso realmente soubéssemos que há um paraíso post-mortem, sem dúvidas o número de suicídios seria altíssimo. Mas no fundo, nós temos ciência de que não existe. Sabemos que não existe porque temos tanto medo de morrer, que até nosso desejo de que exista um céu não é suficiente para nos sucumbir ao suicídio diante de tantos momentos difíceis e angustiantes.
Exato.
Cada um cria seu sentido e pondera se, diante dos pós e contras da existência, a vida vale a pena ou não.
Entretanto, o fato de existirem condições miseráveis de existência, não significa que as pessoas submetidas a essas condições prefeririam não ter nascido caso não haja um deus ou um propósito maior. Para você ou para mim, certas condições de existência seriam tão insuportáveis a ponto de julgarmos que a vida não vale a pena sem um deus, sem uma recompensa ou "prêmio" numa vida posterior por termos aguentado essa existência. Para outras isso é indiferente/dispensável. A título de exemplo, vamos pegar o caso do Stephen Hawking que, além de dar um propósito louvável à sua existência, por várias vezes demonstra sua satisfação em estar vivo - apesar das condições - e continuar vivendo o máximo que puder, ainda que não acredite na existência de um propósito maior.
Talvez tudo seja apenas uma questão de ponto de vista, e ficarmos felizes por sermos somente infelizes! :hihi
O problema é que nem todos são como Hawking. O caso dele é realmente louvável no que diz respeito a embora ter a esmagadora maioria do corpo paralisado, ainda assim deseja viver o máximo que puder. Para outras pessoas, tanto faz a vida ter um sentido/objetivo ou não, tanto faz se as coisas forem justas o suficiente ou não, porque no final das contas, elas não se encontram num estado de sofrimento o bastante para renunciar a vida. A força de viver dele realmente justifica as centenas de milhares de pessoas que se suicidam todo ano? Eu diria que não.
É por isto que me interesso pelo absurdismo. No Mito de Sísifo, Albert Camus retrata um mortal que foi condenado pelos Deuses a carregar uma pedra por cima de uma montanha por toda a eternidade, sabendo que no final ela sempre iria rolar para baixo. É essa vontade de viver que nos impele a continuar carregando a pedra que é a nossa vida, mesmo sabendo que no final, tudo é temporário, e nossos esforços são em vão. Mas quando penso sobre todos os pontos que aqui citei, realmente acho que seria melhor não haver nada do que existir vida, especialmente se for vida inteligente como nós.
Esse gif que você compartilhou é bastante interessante e ao mesmo tempo me lembra de uma citação de Schopenhauer: "A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado". Ou seja: "A função do hospício não é colocar os loucos lá dentro, é garantir que os que estão fora não são loucos. Os que estão fora olham, e dizem "Bom, eu não estou lá então eu devo ser normal".