Lógica, 859601175: o argumento é válido quando as premissas são verdadeiras e se relacionam adequadamente à conclusão.
1) A inércia leva ao sofrimento. 2) O estado natural da vida não é a inércia. 3) Logo, o estado natural da vida não é sofrimento.
Você trata sofrimento e prazer como uma relação binária, quando está mais para uma escala gradual de bem estar onde entre o sofrimento e o prazer há uma variedade de estados mentais e físicos, controlada pelo cérebro que, em condições normais, trabalha para mantê-la estabilizada na média (bem estar), corrigindo quimicamente altos (prazer) e baixos (dor), promovidos tanto por fatores internos (orgânicos) quanto externos. Tanto o prazer quanto a dor podem eventualmente ser intensos, atingindo níveis extremos que, em condições normais, voltam a se estabilizar, mais rápido, formando um pico, ou mais lentamente, formando uma curva. O estado natural da vida, de forma geral, portanto, não é sofrimento nem prazer, mas bem estar (satisfação). É o que sugere, por exemplo, esse estudo por você citado, veja aqui. As pessoas, em geral, avaliam seu nível de bem estar como um todo.
Sim, são binários. A própria assimetria diz isso. Se qualquer um observar a vida através da teoria da evolução, haverá de concordar comigo. Me diga se somos alguma coisa além de moléculas de DNA querendo se reproduzir? Todos os animais são programados não para estarem satisfeitos, mas sim para seguirem em frente numa corrente de desejos que nunca acaba. A vida cria um problema que não precisava existir para depois oferecer a possibilidade de esse problema ser saciado temporariamente.
Esses desejos, se não cumpridos, levam à dor. Portanto sim, o estado natural da vida é o de sofrimento. Tudo o que há na vida é uma fricção com dor e migalhas de prazer que não leva a lugar algum. O que todos os animais conquistaram de tão importante em bilhões de anos de sobrevivência que justifica todo o sofrimento desnecessário que ocorreu e continuará a ocorrer no mundo animal e nas sociedades humanas?
Eu já te expliquei que esse grau de avaliação não significa nada. Isso somente quer dizer que as pessoas são cegas diante de um problema que as fez se sentirem piores do que antes, porém por conta de que o hospedeiro do DNA precisa sobreviver, imediatamente são ativados viés de otimismo que as fazem enxergar uma falsa realidade.
Se a dor é onipresente porque não é possível escapar dela, o mesmo vale para o prazer, pois esse também é inescapável, já que o que mantém a vida gera prazer. Desde que a vida existe também não houve um dia sequer sem um nascimento, mas não me consta que o otimismo seja uma doutrina. Por que interromper esse ciclo se nada obriga os pessimistas a se reproduzirem? Isso sim é doutrinário, pois pretende se impor em vez de apenas de expor. Não é porque alguns sobrevalorizam o sofrimento que isso tem que ser válido para todos. Como, de fato, não é. Mundo perfeito é uma utopia e utopias não levam a mundos perfeitos, mas a mundos tirânicos.
O prazer é inescapável? Então por que não nascemos e permanecemos em inércia? Sabe aqueles bebês que nasceram com câncer e tiveram uma existência composta quase que exclusivamente de dor? Então, cadê o prazer inescapável ali? E que horrível que continuaram a ter nascimentos. Pessoas apostando com o bem-estar alheio por simples segundos de prazer egoísta.
Por que interromper esse ciclo, você pergunta? Talvez porque seja imoral apostar com o bem-estar alheio, criar uma máquina de desejos que não precisava existir ao custo de haver a possibilidade sofrimento extremo? Lembre-se que ninguém é privado de prazer ao inexistir, isso não faz diferença. E a ausência de dor é boa mesmo que não haja ninguém para experimentar este bem. Por outro lado, você não pode apostar que a vida de outra pessoa será para sempre boa num mundo onde há guerras, depressão, violência, bullying, morte, decepções, desastres naturais, tédio, entre tantas outras coisas.
"Não é porque alguns sobrevalorizam o sofrimento que isso tem que ser válido para todos." Quantas pessoas suicidas é aceitável para você? 40.000 nos EUA por si só não é suficiente, então o quão alto esse número teria de ser antes de você pensar que ter filhos é imoral? Além disso, as minorias têm direitos. Se cinco pessoas se beneficiariam de estuprar alguém, isso não torna estupro correto. Também não é correto torturar uma minoria de pessoas através da imposição de vida sobre elas somente para que outros sejam beneficiados.
O sofrimento não é a única coisa que existe e nem a mais importante, não para todos.
O fato de a dor não ser a "mais importante" pra você implica que será assim para todos? É correto você apostar que a vida inteira de outra pessoa será boa o suficiente para que um dia ela nunca se arrependa de ter nascido? Você está criando a deprivação de desejos primeiro para depois ter a possibilidade de que um prazer temporário seja alcançado. Lembre-se que esse prazer temporário nunca precisou existir. Dizer que seres inexistentes sentem falta de prazer não faz sentido, porque eles não desejam nada.
Uma vez que crianças não podem consentir sobre nascer, é antiético impor a vida (dar à luz) num mundo em que existe o potencial de sofrimento extremo. Ter filhos significa apostar com o bem-estar de outra pessoa. Isso significa realizar experimentos que você não pode controlar em que alguém paga o preço. Significa brincar de Deus e não ter poderes divinos para lidar com as consequências. Em suma, é uma loucura.
Porque temos um cérebro pensante. Nada disso serve para nos distanciar da realidade, mas para atendê-la. Essa é nossa realidade. Somos seres ativos, curiosos e criativos, movidos por desafios. Essa é nossa ferramenta de sobrevivência em vez de garras ou presas. Todas as nossas invenções e descobertas são consequência dessa condição. É o que somos.
Tal cérebro é repleto de viés e pode ser facilmente enganado. Não fomos programados para enxergar a realidade, mas para sobreviver. Tão somente isto. Caso contrário, não impressionaria que a maioria das pessoas que vive nesse mundo se dizem felizes quando existe sofrimento desnecessário numa existência sem sentido algum. Mas é claro que elas não iam ver por esse lado, não é mesmo? É egoísmo demais se colocar no lado do sofrimento alheio e entender que essa dor só poderia ser evitada com garantia se nada tivesse existido em primeiro lugar.
Entendo, porque também tenho dificuldades de compreender seu ponto de vista. Preciso fazer um exercício de empatia que vai contra o que penso, sinto e valorizo.
O maior exercício de empatia que pode ser feito é com a dor animal e a dor dos nossos semelhantes. Perguntar se isso foi necessário, perguntar se se está conseguindo alguma coisa com tudo isso. E, também entender que a melhor maneira de acabar com toda dor é através da não-procriação.
É simples demais. Adotar a postura antinatalista é ver a vida como ela é e tentar acabar com a dor. Não significa que você não pode ser feliz. Só significa que você entende que ninguém está te pedindo para vir ao mundo para experimentar o que quer que seja. Só se procria por motivos egoístas ao custo de apostar com a vida de outra pessoa.
Absolutamente nada justifica o sofrimento dos seres sencientes. Não tem como construir nada de valor mediante isso simplesmente porque a vida não é nada mais do que uma molécula de DNA acidental querendo se replicar.
Que tal um thought experiment? Suponha que haja um botão ao qual você pode apertar para que o Big-Bang ocorra. Você sabe que apertá-lo implicará em bilhões de anos de animais se matando nas selvas e reproduzindo e se matando de novo sem motivo algum. Mesmo assim, você vai lá e aperta. Suponha, agora que ocorra uma Terceira Guerra Mundial. Quantas vidas teriam de ser perdidas para que você concordasse comigo e dissesse: "é verdade, todo esse sofrimento poderia ser impedido se nada existisse. Isso é um jogo horrível e o melhor que os seres poderiam fazer é parar de procriar".
Compreender o que significa a morte pode ter diferentes implicações. Isso é subjetivo. Enquanto para alguns pode significar perda de tempo, para outros significa que não há tempo a perder. O mesmo vale para considerar a consciência um erro ou acerto da natureza. Objetivamente falando a consciência é simplesmente consequência de um processo natural. Como não lamentamos pelos os bebês que nunca nasceram? Essa é uma das grandes lamentações humanas. Não por acaso desenvolvemos técnicas de fertilização artificiais. Não se procria mais ao máximo possível porque as condições atualmente o permitem, na maior parte do tempo essa foi exatamente a nossa realidade. Se hoje planejamos a vida é justamente porque podemos nos dar ao luxo de valorizar o bem estar, a maior qualidade de vida possível. Mesmo motivo pelo qual em certas condições a procriação é desaconselhada.
É subjetivo. Mas você não vê gatos elucubrando e sofrendo por "saber que irão morrer". Isso só se aplica à espécie humana. A consciência é um erro porque criou sofrimento sem propósito. Se eu jogar uma pedra, ninguém se importa. Mas no momento que eu causar dor a outro ser senciente, isso se torna um problema.
Se alguém se lamenta por um potencial ser que nunca pediu nada, eu vejo essa pessoa como delirante. O que ela está fazendo é projetar a sua visão individual sob "um nada". Algo que não tem desejos e não tem dor. Se tal ser potencial conseguir prazer que nunca precisou existir e que nunca lhe fez falta em primeiro lugar, então ótimo. Mas e caso a existência desse ser se torne sofrida? A culpa vai ser dos pais por terem procriado. Pois foram eles que criaram a possibilidade dele sofrer.
Para mim vivemos uma época indiscutivelmente melhor do que qualquer outra na história humana, embora longe do ideal, com muito ainda o que ser melhorado para a nossa e as demais espécies. Eu prefiro a opção de continuarmos tentando fazer do mundo um lugar cada vez melhor.
Ok, mas do que isso importa? Ainda há sofrimento sem sentido e as pessoas continuam procriando que nem coelhos. Mesmo que um dia conseguíssemos eliminar todo sofrimento, o que seria da humanidade? Só um corpo ao qual você oferece Big-Macs e ele sorri. Qual é o propósito disso? Isso justifica o sofrimento passado? Sabe, a discussão até está cansando porque eu não vejo como refutar isso. Não é questão de opinião, mas de simplesmente entender que você está impondo à vida a um ser que nunca desejou nada ao custo dele sofrer. É uma aposta egoísta e maquiavélica.
Gostaria de saber se ao ler meus argumentos consegui mudar a opinião de algum user. Pois o único postando nesse tópico há um bom tempo é somente você. Não sei se os outros acham o tema desinteressante ou só concordam com a sua postura e estão aguardando uma "conclusão" ao invés de dizer o que pensam.
Seria omissivo se não confrontasse e condenasse as perspectivas alheias (moralismo), mas procurasse antes compreendê-las (empatia) e respeitá-las (ética). Querer intervir no curso natural da vida é ativismo, não que isso seja necessariamente ruim, assim somos nós, cada um defendendo seu ideal de vida.
O que se condena é impor vida à outros seres. É claro que cada opinião vai confrontar perspectivas diferentes. Não tem como compreender o natalismo por todas as razões que já foram exaustivamente citadas acima. Tanto é que eu não sei mais o que falar. Ou o sujeito experiencia sofrimento individual ou alheio o suficiente para entender que fazer uma aposta desse nível é imoral, ou ele provavelmente não vai entender do que eu estou falando porque a "religião" pró-vida é a pior que existe e a mais complicada de se remover.
A consideramos um bem pelo qual vale a pena lutar, apesar dos pesares.
A felicidade de muitos justifica a tristeza de poucos? É ideal procriar se o seu filho tem chance de se encontrar numa existência que mais parece um pesadelo? Isso é ser empático e compreender que ninguém pede para nascer e ninguém sente falta de prazeres porque a priori ninguém deseja nada.