Mas eu não estou afirmando (e talvez nem essa bióloga esteja) que as pessoas e os animais são predominantemente promíscuos, seja por motivos biológicos e/ou sociais/culturais, mas sim que são bem mais promíscuos (ou bem menos monogâmicos) do que se supunha, tanto que com base em novos estudos caiu consideravelmente o percentual de aves consideradas monogâmicas. (...)
Ademais, se não podemos afirmar algo em absoluto sobre o comportamento das aves, que dirá sobre o comportamento humano que é bem mais complexo, imagine então supor explicações apenas com base em supostos traços biológicos evolutivos que não se podem testar, desprezando toda a complexa rede sociocultural que envolve a questão.
Você não está afirmando, e tampouco a Psicologia Evolutiva está afirmando o oposto.
Trago um curto trecho de uma das duas Bíblias da Psicologia Evolutiva (diria, o Novo Testamento; o Velho Testamento seria
Sociobiology: The New Synthesis, do mesmo Edward O Wilson citado no trecho abaixo) mostrando como o espantalho
a Psicologia Evolutiva faz afirmações em absoluto sobre o comportamento de qualquer espécie, despreza a complexidade sociocultural, é determinista, et cetera é antigo e está cansado de apanhar:
(...)
Stephen Jay Gould, Richard Lewontin, and other signatories of the "Against 'Sociobiology" manifesto wrote:
"We are not denying that are genetic components to human behavior. But we suspect that human biological universals are to be iscovered more in generalities of eating, excreting, and sleeping than in such specific and highly variable habits as warfare, sexual exploitation of women and the use of money as a medium of exchange"
(...)
"Thus, my criticism of Wilson does not invoke a non-biological "enviromenmentalism"; it merely pits the oncept of biological potentiality, with a brain capable of a full range of human behaviors and predisposed to none, against the idea of biological determinism, with specific genes for specific behavioral traits"
The idea of "biological determinism" - that genes cause behavior with 100 percent certainly - and the idea that every behavioral traits has its own gene, are obviously daft (never mind that Wilson never embrace them). So Gould's dichotomy would seem to leave "biological potentiality" as the only reasonable choice. But what does that mean? The Claim that brain is "capable of a full range of human behaviors" is almost a tautology: how could the brain not be capable of a full range of human behaviors? And the claim that the brain is not predisposed to any human behavior is just a version of the Blank Slate. "Predisposed to none" literally means that all human behaviors have identical probabilities of occurring. So if any person anywhere on the planet has ever committed some act in some circunstance - abjuring food or sex, impaling himself with spikes, killing her child - then the brain has no predisposition to avoid that act as compared with the alternatives, such as enjoying food and sex, protecting one's body, or cherishing one's child"
Você está certíssima em dizer que variáveis ambientais influenciam nos padrões comportamentais como por exemplo, os que viraram o tema do tópico. Está erradíssima em achar que isto refuta em qualquer, no mínimo, nível as alegações da Psicologia Evolutiva, da Sociobiologia ou dos demais ramos da Biologia interessados em comportamento animal (inclusive humano).
Sugiro o artigo a seguir sobre a "biologia" dos sistemas de acasalamento, mas... as pessoas e os animais (como um grupo homogêneo, como você parece defender) não são mesmo "predominantemente promíscuos ou monogâmicos" (ou poligínicos... ou poliândricos...) porque estas predominâncias são dadas por uma soma de variáveis biológicas (inclusive as ambientais, que tecnicamente não deixam de ser biológicas, porque para funcionarem dependem de variáveis "não ambientais") como história evolutiva, padrão de forrageamento, distribuição de recursos, estratégia demográfica...
para cada táxon.
http://science.sciencemag.org/content/197/4300/215O que faz aves canoras tenderem mais à monogamia (por monogamia aqui eu chamo casais onde tanto o macho quanto a fêmea tendem fortemente a ser fieis) é sobretudo o fato de que suas estratégias típicas de forrageamento (voar a longas distâncias pra buscar comida) junto com suas estratégias demográficas típicas (a classe de animais mais "K estrategista", ao lado dos mamíferos) fazem com que o cuidado parental mútuo seja necessário para manutenção e proteção da vida dos filhotes (revezamento do ninho). Claro que isto está bem correlacionado com o caráter evolutivo compartilhado por todas as aves de poder realizar a maior parte da gestação extra-corpo.
Em mamíferos a coisa muda bastante de figura pelo fato de que somos vivíparos e, errr, mamíferos. O cuidado estritamente biparental tende a ser menos crítico. A monogamia restrita com ambos macho e fêmea sendo predominantemente fiéis é rara. É comum haver um padrão mais poligínico, em que machos com maior chance de sustentar/proteger proles maiores (frequentemente pela proteção de territórios ricos em recurso) consigam cópulas com números maiores de fêmeas (
o dia da secretária não é uma construção social), enquanto machos com menos aptidão em conseguir/proteger recursos são menos/nunca selecionados.
Em outros grupos (os que fazem fecundação na água, por exemplo) a promiscuidade tenderá a ser o padrão pela dificuldade de endereçar os gametas (ainda que haja estratégias neste sentido em algumas espécies como a aproximação aos pares para despejo sincronizado dos gametas no meio).
A despeito destes padrões gerais dentro dos
taxa maiores que usei como exemplo, outros fatores biológicos podem individualizar os padrões por
taxa menores ou até por populações de uma mesma espécie. Por exemplo, este bonito estudo observacional E molecular feito com uma populações de pequenos antílopes monogâmicos da Namíbia não encontrou qualquer evidência de acasalamento extra-par:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1688408/pdf/9178540.pdf
Mas nesse exemplo o que se estuda são as causas proximais (hormônios, genética, neurodesenvolvimento etc.) para entender as diferenças claramente observadas, outra coisa é analisar as causas distais, que tentam explicar evolutivamente por que existem essas diferenças biológicas, por que homens e mulheres foram moldados de forma diferente ao longo da evolução. Outra coisa mais diferente ainda, é identificar um comportamento e procurar uma causa biológica evolutiva para ele, que nesse caso, diante da falta de dados, seria mera especulação.
Não há esta dicotomia entre causas
distais e proximais em biologia, moça; seja no campo comportamental, médico ou qualquer outro. Exemplo: as razões pelas quais usamos camundongos em laboratórios pra teste de vacinas incluem o fator "distal" de que
Mus musculus é um Rodentia, portanto um animal evolutivamente próximo o suficiente de nós para compartilhar conosco boa parte de nossa fisiologia. A 'história evolutiva' é tão ferramenta para compreender como nossos 'hormônios, genética, neurodesenvolvimento' funcionam quanto nossos 'hormônios, genética, neurodesenvolvimento' são importantes (isso você admite, que bom) para compreender nossos dimorfismos cognitivo-comportamentais.
Não é apenas nas 'pseudocientíficas' pesquisas em comportamento humano que eles estão sempre casados, o "distal" e o "proximal". Assim também estão em pesquisas de farmacognosia, de terapia oncológica... de qualquer aspecto baseado em Biologia.
"Evo Psych 101: Rats and people are the same, but men and women are different. —Anonymous"
O problema do
Anonymous reside no "the same": aí ele comete uma falácia conhecida como
equívoco que consiste em usar dois termos em duas premissas diferentes com o detalhe de que estes termos são morfologicamente idênticos ("different" = "not
the same"), mas semanticamente distintos.
Assim:
A: Todo homem reprodutivamente saudável tem pênis
B: A Freya é um homem reprodutivamente saudável.
Logo: a Freya têm penis!
. Claro que as duas premissas são verdadeiras, mas a conclusão não é válida, porque homem na primeira premissa é 'indivíduo masculino da espécie humana' enquanto na segunda é apenas 'espécime humano'.
Uma falácia muito utilizada por
outros negacionistas da Ciência (os criacionistas) com a mesma estrutura que esta que o Anonymous usou é "Dois irmãos gêmeos não-verdadeiros são apenas 50%
idênticos geneticamente entre si, como macacos podem ser 98%
idênticos geneticamente ao homem?". Esta é uma falácia muito tipicamente usada por criacionistas, e não por acaso, é a muitíssimo parecida com a do
Anonymous, percebe?
Sobre esta semelhança entre negacionistas da Evolução e negacionistas da Psicologia Evolutiva, Pinker fala neste vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=s7vq3TclNZA
ou que existem padrões objetivos de beleza.
Você também acha que padrões de beleza são meramente/fundamentalmente construção social?

E nem vou mencionar a seletividade na interpretação de dados. rs
Por favor, mencione: me dê a chance de demonstrar que é apenas impressão sua
