Autor Tópico: A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"  (Lida 3624 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #50 Online: 04 de Janeiro de 2020, 13:26:38 »
Toda vez que eu olho para o enunciado do tópico, tenho um desconforto, parece algo meio criacionistóide/anti-ciência. Ou aquelas coisas ideológicas/astro-turfers anti-ensino público ou anti-investimento público em pesquisa, vindo dalgum site onde talvez se encontrasse também questionamentos da relação fumo-câncer e etc.

Uma noção que super-valorizasse o papel do estabelecimento acadêmico no desenvolvimento tecnológico ou mesmo científico deve até ser algo relativamente raro, com as pessoas em vez disso talvez super-valorizando os momentos "eureka," e menosprezando a lapidação e aperfeiçoamento gradual, que se alimentará da produção científica.

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #51 Online: 05 de Janeiro de 2020, 12:51:47 »
A glorificação de momentos "eurekas" jamais foi fator impeditivo da hegemonia da ideia das teorias científicas-acadêmicas como causa da origem e desenvolvimento da tecnologia, pois os insights também acontecem na ciência acadêmica. Embora os insights possam transmitir a impressão de serem súbitos, muitas vezes, são o resultado de muito raciocínio e trabalho esforçado anteriores. Raciocínio e trabalho esforçado anteriores que usualmente são atribuídos, de forma desproporcional, à ciência acadêmica.

Offline Horacio

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #52 Online: 09 de Janeiro de 2020, 15:09:25 »

Enfim, se eu estiver de algum modo certo sobre isso, a civilização ocidental deve muito aos agiotas.

Uma boa metáfora para a sociedade ocidental atual é de um agiota embriagado pela ganancia que perdeu a capacidade de calcular a relação risco/recompensa. O desenvolvimento tecnológico exponencial foi impulsionado por essa perda cognitiva, que nos levou a apostas cada vez mais altas em tecnologias cada vez menos controláveis, simplesmente porque até agora tem dado retornos espetaculares graças à capacidade de alavacangem praticamente infinita que o casamento entre a mentalidade usuraria e a mentalidade tecnocrata possibilita.
« Última modificação: 09 de Janeiro de 2020, 15:12:20 por Horacio »

Offline Pedro Reis

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #53 Online: 09 de Janeiro de 2020, 16:44:00 »
A glorificação de momentos "eurekas" jamais foi fator impeditivo da hegemonia da ideia das teorias científicas-acadêmicas como causa da origem e desenvolvimento da tecnologia, pois os insights também acontecem na ciência acadêmica. Embora os insights possam transmitir a impressão de serem súbitos, muitas vezes, são o resultado de muito raciocínio e trabalho esforçado anteriores. Raciocínio e trabalho esforçado anteriores que usualmente são atribuídos, de forma desproporcional, à ciência acadêmica.

Uma boa medida da importância do papel da ciência acadêmica pode ser dada por um simples experimento mental: imagine que todas as universidades foram extintas e toda a produção acadêmica exterminada.

Neste cenário, consequentemente, como você imaginaria o desenvolvimento tecnológico nos próximos 50 anos?

Mais ou menos como o do Burundi, onde não se investe em ciência acadêmica? Ou, olhando por outro prisma, que país alcançou desenvolvimento tecnológico sem antes investir na excelência acadêmica?

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #54 Online: 09 de Janeiro de 2020, 17:13:48 »
Aí sim o Verdadeiro conhecimento científico e inovação tecnológica prosperariam. Pois exterminar as "universidades" e "produção" "acadêmica" é praticamente sinônimo de exterminar o marxismo "cultural" e "científico" que pervade o meio "acadêmico" e "intelectual" na modernidade laica/atéia.

Acabaria-se com histerias ambientalistas, político-corretismo androheterobrancocristofóbico, e ateísmo newtoniano fundamentalista. Exploraria-se livremente às verdades implicitas às negações dessas fraudes intelectuais, e dessa exploração decorreria um imenso avanço tecnológico e intelectual, tal como se observava antes do estabelecimento do comunismo. Talvez uns 80% disso só no fim da histeria ambientalista, segundo a qual deveríamos todos viver como índios infanticidas, em harmonia com a natureza e com os deuses pagãos.





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https://www.unido.org/news/developing-countries-can-learn-south-koreas-research-and-development-experience

... South Korea notched top scores worldwide for manufacturing value-added, as well as for tertiary efficiency - a measure that includes enrollment in higher education and the concentration of science and engineering graduates. It was ranked second for R&D intensity, high-tech density and patent activity, and ranked sixth for researcher concentration.

Over the past four decades South Korea has demonstrated incredible economic growth and global integration to become a high-tech industrialized economy. In the 1960s, GDP per capita was comparable with levels in the poorer countries of Africa and Asia. In 2004, South Korea joined the trillion-dollar club of world economies. ...

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #55 Online: 09 de Janeiro de 2020, 21:23:33 »
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Uma boa medida da importância do papel da ciência acadêmica pode ser dada por um simples experimento mental: imagine que todas as universidades foram extintas e toda a produção acadêmica exterminada.

Neste cenário, consequentemente, como você imaginaria o desenvolvimento tecnológico nos próximos 50 anos?

Extinguir as universidades em experimentos mentais não isola os efeitos da ciência acadêmica, uma vez que as universidades não ensinam apenas teorias científicas, mas também técnicas que funcionam através de ajustes aleatórios, heurísticas, prática e aprendizagem. Qualquer que tenha sido o avanço conquistado pelos acadêmicos das universidades na área de Gastronomia, certamente não foi a retroengenharia do sabor da comida observando o rótulo com as informações nutricionais que fez isso. E é concebível que maioria das disciplinas se parece muito mais com a culinária do que com a física pura.

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Mais ou menos como o do Burundi, onde não se investe em ciência acadêmica? Ou, olhando por outro prisma, que país alcançou desenvolvimento tecnológico sem antes investir na excelência acadêmica?

Não fiz qualquer apologia ao não gasto (público ou privado) em pesquisa científica. O que eu tratei como ilusão foi a importância que dão ao gasto (público ou privado) em pesquisa dirigida, coisa que já expliquei detalhadamente no meu segundo post deste tópico. A pesquisa descentralizada e oportunista também é uma ideia compatível com a ideia de gasto (público ou privado) em pesquisa científica.
« Última modificação: 09 de Janeiro de 2020, 22:32:41 por -Huxley- »

Offline Pedro Reis

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #56 Online: 09 de Janeiro de 2020, 22:51:41 »
Então pense de outra forma:

Como poderia existir um sistema de GPS sem a teoria da relatividade?

Seria possível projetar um motor eficiente sem medições precisas de torque e potência?

Haveria reator nuclear antes de E = m.c²?

A indústria poderia projetar materiais plásticos com características adequadas de resistência, maleabilidade e aparência para cada aplicação, sem nenhum conhecimento teórico de química?

Antes de Bernouilli ninguém saberia que formato teria uma asa que fizesse um aparelho mais pesado que o ar sair do chão. E muito menos saberia como calcular a área dessa asa e a velocidade de decolagem em função do peso do avião. Sem mencionar que estes requisitos devem ser relacionados com a potência necessária, e como esta se relaciona com as diversas especificações do projeto de um motor.

Ou, sintetizando a questão, poderíamos nos perguntar porque os antigos alquimistas, que se valiam apenas de heurísticas e práticas de tentativa e erro (e consequementemente algum misticismo e superstição), não obtiveram nenhum resultado prático em séculos de tentativas. O que diferencia alquimistas de modernos químicos e engenheiros químicos?

O ponto sendo desconsiderado é que ambas as abordagens não são mutuamente excludentes, mas necessárias e complementares. A teoria é importante para se saber o que se está fazendo, para construir modelos. As teorias também dão a contribuição essencial dos conceitos precisamente definidos: como energia, potência, força, etc. Sem os quais qualquer forma de engenharia não poderia existir senão em um nível muito elementar. Sem mencionar todo o arcabouço matemático, fundamentado, em última instância, pela própria Matemática, mas também provido pelas aplicações teóricas da matemática específicas de cada campo da engenharia. Como o cálculo estrutural na Engenharia Civil, por exemplo.

Mas o papel fundamental do conhecimento teórico no desenvolvimento da moderna tecnologia de ponta, não elimina a necessidade de intuição e de ajustes. No entanto, apenas com intuição e testes, consegue-se muito pouco.

Um exemplo histórico:

As bombas aspirantes semelhantes àquelas que se vê em filmes de faroeste já eram conhecidas dos romanos. Talvez antes até já fossem utilizadas pelos gregos. Mas durante séculos inventores tentaram aperfeiçoar o mecanismo para que fosse capaz de elevar água a mais de 10,3 metros, quando instaladas ao nível do mar. Todos falharam e todos se basearam somente na própria intuição e nas tentativas que sempre resultavam em erro. E o que mais estes inventores tinham em comum era o fato de nenhum deles ter a mínima compreensão teórica do funcionamento desse tipo de bomba.

Até que no séc. XVII Torricelli explicou o fenômeno e mostrou o porquê dessa limitação em 10,3 metros para a elevação da coluna d´água. Esse conhecimento eliminou a necessidade de experimentos e ideias inúteis e abriu caminho para o desenvolvimento de sistemas realmente mais eficientes de bombeamento.

O que não significa que nenhum projetista de bomba hidráulica tenha se valido de intuição e de testes em seu trabalho.

Offline Pedro Reis

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #57 Online: 09 de Janeiro de 2020, 23:05:08 »
Uma história engraçada que poderia ser usada equivocadamente como exemplo de que ciência é dispensável à engenharia é a do "patinho feio" de Brasília.

Patinho feio foi um carro de corrida projetado por um bando de garotos de uma pequena oficina de fundo de quintal que chegou em segundo lugar em uma etapa do campeonato brasileiro de automobilismo.

E só não ganhou porque, liderando a prova, queimou uma lanterna e o regulamento exigia que se trocasse a lâmpada.

Foi em 1967, quando mal existia indústria automobilística no Brasil e os carros que participavam eram todos importados. Eram de fábricas como a Mercedez ou a Ford, que tinham suas próprias equipes participando do campeonato que era uma espécie de vitrine para colocarem suas marcas no mercado brasileiro.

Contra estas multinacionais, a turma da oficina Camber pegou o fusca batido da mãe de um dos mecânicos e construiu sobre o chassi um carro de corrida: o patinho feio.  Que acabou sendo o carro mais rápido que participou da etapa de Brasília.

Outra curiosidade sobre a Camber é que dela saíram 3 pilotos de fórmula 1. Entre eles o tricampeão Nelson Piquet.



Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #59 Online: 10 de Janeiro de 2020, 00:26:56 »
Pedro Reis,

A minha abordagem não tem sido afirmar que introspecção racionalista e empirismo são mutuamente excludentes. "Empirismo puro" não existe, mesmo os enunciados de observação dos práticos empregam pelo menos um mínimo de teoria. O que eu defendo é que o conhecimento que obtemos por meio da improvisação, fuçando e bisbilhotando, via tentativa e erro, experiência e repetição é imensamente superior àquele obtido por meio de raciocínio introspectivo.

As coisas sofisticadas inventadas sem teorias acadêmicas de universidades são impressionantes. Vejam os objetos arquitetônicos como as pirâmides e as belas catedrais da Europa. Nenhum teorema...E os construtores conseguiam descobrir a resistência dos materiais sem as equações que temos hoje. De acordo com o historiador de ciência medieval Guy Beaujouan, antes do século XIII, não mais que cinco pessoas em toda a Europa sabiam como fazer uma operação de divisão. Também vale mencionar que os engenheiros romanos construíram aqueodutos sem matemática alguma (isto é, análise quantitativa de fórmulas).

No livro do bioquímico Terence Kealey, ele fala que a máquina a vapor surgiu de uma tecnologia pré-existente (existia um modelo de como construi-la desde Hero de Alexandria, há dois milênios atrás), tendo sido construída por homens de pouca instrução, que aplicaram o bom senso e intuição prática para resolver problemas mecânicos que o afligiam. Ele também menciona que as tecnologias têxteis que deram o salto para o mundo moderno não devem nada à ciência:

Citação de: Terence Kealey no livro The Economics Laws of Scientific Research
Em 1733, John Graw inventou a máquina de ficar, que, como o próprio nome indica, mecanizou a fiação. Esses grandes avanços na tecnologia têxtil, bem como os de Wyatt e Paul (o spinning frame, 1758) e Arkwright (tear hidráulico, 1769), pressagiaram a Revolução Industrial, sem, no entanto, dever nada à ciência; foram desenvolvimentos empíricos com base na tentativa e erro, e experimentações de artesãos que estavam tentando melhorar a produtividade (e, assim, os lucros) de suas fábricas.".
 

Eu não chamaria todas essas coisas que descrevi atrás de "engenharia muito elementar".

Mesmo quando surgiram engenheiros que aprenderam teorias acadêmicas nas universidades, ainda assim existiu inovação construída e utilizada de maneira completamente experimental, por tentativa e erro. Phil Scranton, professor da Rutgers University, entregou um artigo que descreveu que essa foi a história da inovação do motor a jato.
« Última modificação: 10 de Janeiro de 2020, 01:09:58 por -Huxley- »

Offline Pedro Reis

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #60 Online: 10 de Janeiro de 2020, 01:10:39 »
É sério? Quantos destes engenheiros eram curiosos sem diploma?

Se isto fosse totalmente verdade, a indústria aeroespacial contrataria apenas mecânicos sem diploma pagando uma fração do salário de um engenheiro altamente qualificado. Não contratariam também consultores para as mais diversas especialidades. Com intuição e tentativa e erro se obteria os mesmos resultados.

Mas não dá para não enxergar a relação direta que existe entre a qualidade da formação do pessoal trabalhando em pesquisa e desenvolvimento e os resultados.

Os irmãos caipira norte-americanos, mecânicos de bicicleta, podem construir um avião rudimentar. Mas não adianta botar esses caras para trabalhar na Boeing porque não vão dar contribuição nenhuma para o desenvolvimento de modernos motores a jato. Não importa o que esse Phil Scranton diga sobre isso.

Offline Horacio

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #61 Online: 10 de Janeiro de 2020, 03:09:48 »
O maior problema foi a tecnologia de montagem de espantalhos ter caido na mão dos otarios. Os pardais perderam todo respeito e as cabeças dos bonecos ficaram parecendo a Ilha das Cagarras, não fazem mais efeito algum. O que fazer? Gerador de lero-lero? Muito manjado. Vamos ver qual tecnologia a Astroturfe vai adotar nas proximas versões do produto. :ok:

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #62 Online: 10 de Janeiro de 2020, 04:08:39 »
É sério? Quantos destes engenheiros eram curiosos sem diploma?

Se isto fosse totalmente verdade, a indústria aeroespacial contrataria apenas mecânicos sem diploma pagando uma fração do salário de um engenheiro altamente qualificado. Não contratariam também consultores para as mais diversas especialidades. Com intuição e tentativa e erro se obteria os mesmos resultados.

Mas não dá para não enxergar a relação direta que existe entre a qualidade da formação do pessoal trabalhando em pesquisa e desenvolvimento e os resultados.

Os irmãos caipira norte-americanos, mecânicos de bicicleta, podem construir um avião rudimentar. Mas não adianta botar esses caras para trabalhar na Boeing porque não vão dar contribuição nenhuma para o desenvolvimento de modernos motores a jato. Não importa o que esse Phil Scranton diga sobre isso.

Scranton não disse que o motor a jato foi originado e desenvolvido por mecânicos sem diploma, mas sim por engenheiros que promoveram ajustes sem compreender "por que isso funciona". Isto é, os engenheiros construíram e utilizaram motores a jato de maneira completamente experimental, por tentativa e erro, sem que ninguém compreendesse realmente a teoria. Segundo ele, a teoria veio depois, de uma forma débil, para satisfazer o intelectual obcecado por números. Entre negar que foram os físicos que originaram e desenvolveram o motor a jato e dizer que foram homens de pouca instrução ou não-engenheiros que originaram e desenvolveram o motor a jato, existe uma diferença enorme.
« Última modificação: 10 de Janeiro de 2020, 04:13:11 por -Huxley- »

Offline JJ

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #63 Online: 10 de Janeiro de 2020, 10:10:20 »
Toda vez que eu olho para o enunciado do tópico, tenho um desconforto, parece algo meio criacionistóide/anti-ciência. Ou aquelas coisas ideológicas/astro-turfers anti-ensino público ou anti-investimento público em pesquisa, vindo dalgum site onde talvez se encontrasse também questionamentos da relação fumo-câncer e etc.




O título é claramente um ataque  a  atividade  de pesquisa científica,  a ideia é  que  pesquisas científicas não são realmente importantes para ter desenvolvimento tecnológico, então podemos tranquilamente atacar os gastos estatais em pesquisas científicas.

Isso é uma clara tática liberal contra gastos com universidades.  A ideologia implícita é bastante clara.

No geral os old new libers brazucas odeiam uma boa parte do Estado brasileiro,  e odeiam ter que pagar impostos para o Estado gastar com universidades, e uma forma de diminuir a necessidade de impostos é atacando as universidades públicas do Brasil, e assim atacar o financiamento das universidades públicas brasileiras.  E um texto desse tipo ajuda a consolidar uma mentalidade de desprezo pelas universidades brasileiras   (  se  ciência não tem importância para desenvolvimento tecnológico, então gastar com pesquisas científicas em universidades públicas é desperdício do dinheiro dos pagadores de impostos).


A ideia é essa.   E   Mi co ses   aprova. 


E se Mi co ses aprova, tá beleza.    :ok:




« Última modificação: 10 de Janeiro de 2020, 10:42:32 por JJ »

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #64 Online: 10 de Janeiro de 2020, 11:50:12 »
Toda vez que eu olho para o enunciado do tópico, tenho um desconforto, parece algo meio criacionistóide/anti-ciência. Ou aquelas coisas ideológicas/astro-turfers anti-ensino público ou anti-investimento público em pesquisa, vindo dalgum site onde talvez se encontrasse também questionamentos da relação fumo-câncer e etc.




O título é claramente um ataque  a  atividade  de pesquisa científica,  a ideia é  que  pesquisas científicas não são realmente importantes para ter desenvolvimento tecnológico, então podemos tranquilamente atacar os gastos estatais em pesquisas científicas.

Isso é uma clara tática liberal contra gastos com universidades.  A ideologia implícita é bastante clara.

No geral os old new libers brazucas odeiam uma boa parte do Estado brasileiro,  e odeiam ter que pagar impostos para o Estado gastar com universidades, e uma forma de diminuir a necessidade de impostos é atacando as universidades públicas do Brasil, e assim atacar o financiamento das universidades públicas brasileiras.  E um texto desse tipo ajuda a consolidar uma mentalidade de desprezo pelas universidades brasileiras   (  se  ciência não tem importância para desenvolvimento tecnológico, então gastar com pesquisas científicas em universidades públicas é desperdício do dinheiro dos pagadores de impostos).


A ideia é essa.   E   Mi co ses   aprova. 


E se Mi co ses aprova, tá beleza.    :ok:






Depois do que escrevi no último parágrafo do post de ontem às 21:23:33 e ler uma alegação de que fiz ataque ao gasto público com pesquisa científica, eu bem que poderia criar um título de tópico especial para o JJ: "A arte de ignorar os argumentos alheios".
« Última modificação: 10 de Janeiro de 2020, 11:58:59 por -Huxley- »

Offline Sergiomgbr

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #65 Online: 10 de Janeiro de 2020, 15:12:01 »
Toda vez que eu olho para o enunciado do tópico, tenho um desconforto, parece algo meio criacionistóide/anti-ciência. Ou aquelas coisas ideológicas/astro-turfers anti-ensino público ou anti-investimento público em pesquisa, vindo dalgum site onde talvez se encontrasse também questionamentos da relação fumo-câncer e etc.




O título é claramente um ataque  a  atividade  de pesquisa científica,  a ideia é  que  pesquisas científicas não são realmente importantes para ter desenvolvimento tecnológico, então podemos tranquilamente atacar os gastos estatais em pesquisas científicas.

Isso é uma clara tática liberal contra gastos com universidades.  A ideologia implícita é bastante clara.

No geral os old new libers brazucas odeiam uma boa parte do Estado brasileiro,  e odeiam ter que pagar impostos para o Estado gastar com universidades, e uma forma de diminuir a necessidade de impostos é atacando as universidades públicas do Brasil, e assim atacar o financiamento das universidades públicas brasileiras.  E um texto desse tipo ajuda a consolidar uma mentalidade de desprezo pelas universidades brasileiras   (  se  ciência não tem importância para desenvolvimento tecnológico, então gastar com pesquisas científicas em universidades públicas é desperdício do dinheiro dos pagadores de impostos).


A ideia é essa.   E   Mi co ses   aprova. 


E se Mi co ses aprova, tá beleza.    :ok:
Estás "comendo mosca" se pensas que a sociedade seja contra as universidades e suas atribuições. O que ninguém que seja sensato quer e bancar o tubo de dinheiro pra maconheiro miquinho pesquisar o cú do próximo.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Cinzu

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #66 Online: 21 de Janeiro de 2020, 12:02:55 »
É sério? Quantos destes engenheiros eram curiosos sem diploma?

Se isto fosse totalmente verdade, a indústria aeroespacial contrataria apenas mecânicos sem diploma pagando uma fração do salário de um engenheiro altamente qualificado. Não contratariam também consultores para as mais diversas especialidades. Com intuição e tentativa e erro se obteria os mesmos resultados.

Mas não dá para não enxergar a relação direta que existe entre a qualidade da formação do pessoal trabalhando em pesquisa e desenvolvimento e os resultados.

Os irmãos caipira norte-americanos, mecânicos de bicicleta, podem construir um avião rudimentar. Mas não adianta botar esses caras para trabalhar na Boeing porque não vão dar contribuição nenhuma para o desenvolvimento de modernos motores a jato. Não importa o que esse Phil Scranton diga sobre isso.

Acho que essa frase por si só já seria mais que motivo pra encerrar qualquer discussão nesse tópico.

É realmente muita coincidência que os maiores desenvolvimentos tecnológicos da sociedade vieram justamente nos séculos mais recentes, quando a ciência finalmente passou a se desenvolver e deixar de ser bruxaria.

Eu sinceramente gostaria de entender o que se passa na mente de quem acha que:

- Engenheiros de Simulação seriam capazes de desenvolver softwares de modelagem computacional sem conhecimento de matemática e física;

- Engenheiros Civis seriam capazes de dosar concretos de alta resistência sem conhecer métodos de dosagem amplamente estudados e testados em laboratório;

- Engenheiros de Materiais seriam capazes de estimar a vida útil de materiais sem a utilização de métodos que foram desenvolvidos baseados no conhecimento de mecanismos de degradação, como corrosão e fadiga;

- Engenheiros Hidráulicos poderiam ser capazes de calcular o escoamento de fluidos sem utilizar mecânica dos fluidos;

- Engenheiros Mecânicos seriam capazes de determinar com precisão os efeitos causados por impactos em carros sem precisar fazer análise dinâmica;

- Engenheiros Estruturais poderiam hoje calcular prédios de mais de 100 andares sem ter estudado teoria de estruturas.

Ademais, praticamente todas as Normas Técnicas que Engenheiros seguem atualmente são redigidas por comissões formadas por professores pesquisadores especialistas no tema, e que estão a cada ano revisando-as de forma a inserir metodologias e critérios mais desenvolvidos, com base nas pesquisas que são publicadas.
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #67 Online: 21 de Janeiro de 2020, 14:32:10 »
A farsa da necessidade das teorias acadêmicas burguesas para tecnologia e desenvolvimento expõe claramente como o desenvolvimento sul-coreano e o sub-desenvolvimento brasileiro são uma grande manipulação globalista.

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #68 Online: 21 de Janeiro de 2020, 22:49:33 »
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Acho que essa frase por si só já seria mais que motivo pra encerrar qualquer discussão nesse tópico.


(Nota minha:  referência a "É sério? Quantos destes engenheiros eram curiosos sem diploma? Se isto fosse totalmente verdade, a indústria aeroespacial contrataria apenas mecânicos sem diploma pagando uma fração do salário de um engenheiro altamente qualificado. Não contratariam também consultores para as mais diversas especialidades. Com intuição e tentativa e erro se obteria os mesmos resultados.

Não entendi o que tem de tão devastador na frase negritada. Eu já disse que jamais falei em "ausência de engenheiros aeroespaciais" na invenção do motor a jato. Eu só me referi ao caráter completamente experimental da introdução dessa inovação específica feita pelos engenheiros, algo descrito por Phil Scranton. Isso não foi desmentido.

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É realmente muita coincidência que os maiores desenvolvimentos tecnológicos da sociedade vieram justamente nos séculos mais recentes, quando a ciência finalmente passou a se desenvolver e deixar de ser bruxaria.


Falso! A ciência não foi "inventada há poucos séculos atrás", uma vez que ela existe PLENAMENTE desde a Antiguidade, como mostra a história da Astronomia. O que aconteceu a partir de poucos séculos atrás foi somente a facilitação que a presença de instituições econômicas inclusivas trouxe ao desenvolvimento tecnológico. Mais instituições econômicas inclusivas, mais recursos econômicos para investimento em ciência e  tecnologia. Simples assim. O maior responsável pelo início do crescimento de instituições econômicas inclusivas foi um acontecimento histórico institucional, a Revolução Gloriosa de 1688, como demonstraram Acemoglu e Robinson no livro Por que as Nações Fracassam. Foi o avanço institucional e o consequente crescimento econômico sustentado que causaram o boom no desenvolvimento da ciência e da tecnologia, e não o contrário. Ademais, na Idade Contemporânea, quase todo desenvolvimento tecnológico predominantemente empírico foi acompanhado de um desenvolvimento teórico posterior, o que cria uma "ilusão dos ornitólogos que ensinaram os pássaros a voarem".


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Eu sinceramente gostaria de entender o que se passa na mente de quem acha que:


Os exemplos que pôs abaixo mostram que não entendestes bulhufas do que eu quis dizer no tópico.  Dizer coisas como "As pessoas não reconhecem adequadamente a natureza predominantemente empírica da inovação tecnológica, que se deu por meio da improvisação, fuçando e bisbilhotando, via tentativa e erro, experiência e repetição" ou "A maioria das coisas que acreditamos terem sido inventadas por universidades foram na verdade descobertas por improviso e depois legitimadas por algum tipo de formalização" NÃO SÃO equivalentes a dizer "Todas as teorias da ciência acadêmica foram dispensáveis em ajudar a tecnologia".

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- Engenheiros de Simulação seriam capazes de desenvolver softwares de modelagem computacional sem conhecimento de matemática e física;


O exemplo que você pôs foi sobre computação, cujos origem e desenvolvimento eu já tinha comentado no segundo post do tópico. Eu disse que, apesar de a ciência ter tido alguma utilidade nesse percurso, já que a tecnologia computacional depende da ciência na maior parte de seus aspectos, em nenhum momento a ciência acadêmica contribuiu para ajudar a definir a direção, tendo servido só para descobertas casuais em um ambiente opaco, com praticamente nenhum ocupante. O processo permaneceu auto-orientado e imprevisível em cada uma de suas etapas. Logo, nenhum mérito da ciência básica nesse aspecto.



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- Engenheiros Civis seriam capazes de dosar concretos de alta resistência sem conhecer métodos de dosagem amplamente estudados e testados em laboratório;



Sem laboratório de ciência algum, os engenheiros romanos da Antiguidade, famosos pelos seus aqueodutos, construíram obras durabilíssimas feitas de concreto:
https://gizmodo.uol.com.br/segredo-concreto-romano-indestrutivel

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- Engenheiros de Materiais seriam capazes de estimar a vida útil de materiais sem a utilização de métodos que foram desenvolvidos baseados no conhecimento de mecanismos de degradação, como corrosão e fadiga;


Como eu já disse, engenheiros da Idade Antiga e da Idade Média já fizeram o papel de engenheiros de materiais amadores e fizeram isso eficazmente para determinados materiais:

Citação de: -Huxley-
As coisas sofisticadas inventadas sem teorias acadêmicas de universidades são impressionantes. Vejam os objetos arquitetônicos como as pirâmides e as belas catedrais da Europa. Nenhum teorema...E os construtores conseguiam descobrir a resistência dos materiais sem as equações que temos hoje. De acordo com o historiador de ciência medieval Guy Beaujouan, antes do século XIII, não mais que cinco pessoas em toda a Europa sabiam como fazer uma operação de divisão. Também vale mencionar que os engenheiros romanos construíram aqueodutos sem matemática alguma (isto é, análise quantitativa de fórmulas).


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- Engenheiros Hidráulicos poderiam ser capazes de calcular o escoamento de fluidos sem utilizar mecânica dos fluidos;


Engenheiros romanos da Antiguidade construíram aqueodutos impressionantes sem ter qualquer livro de mecânica de fluidos disponível.

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- Engenheiros Mecânicos seriam capazes de determinar com precisão os efeitos causados por impactos em carros sem precisar fazer análise dinâmica;


Nunca se testou essa teoria em ambientais medievais, pois não existiam automóveis na Idade Média ou nas eras anteriores. Mas os medievais não precisaram estudar dinâmica na universidade para construir armaduras de soldados eficazes, em que as armas de corte raramente penetravam e as de impacto eram defletidas em suas curvaturas. 



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Engenheiros Estruturais poderiam hoje calcular prédios de mais de 100 andares sem ter estudado teoria de estruturas.


"Teorias" da Engenharia Civil são aproximadamente tão teorias científicas quanto às "teorias" da culinária. Especialistas em culinária, mesmo aqueles com formação na Universidade de Havard, não fizerem a retroengenharia do sabor da comida observando o rótulo com as informações nutricionais. De modo análogo, o que se questiona na Engenharia Civil não é sua eficácia, mas sim a existência de um efeito contundente da chamada "base epistemológica" (conceito de Joel Mokyr), isto é, um corpo de teorias a partir do qual outras teorias podem ser diretamente derivadas. Eu já expliquei isso neste tópico no post de 17 de Setembro de 2019, 22:17:40.



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Ademais, praticamente todas as Normas Técnicas que Engenheiros seguem atualmente são redigidas por comissões formadas por professores pesquisadores especialistas no tema, e que estão a cada ano revisando-as de forma a inserir metodologias e critérios mais desenvolvidos, com base nas pesquisas que são publicadas.


Mais uma vez, houve aí confusão entre técnica e ciência. Engenheiros da Idade Média e da Antiguidade também tinham normas técnicas. Porém, tanto nesse caso como no de seus sucessores, isso não prova que as teorias da ciência acadêmica tiveram um papel primário nas disciplinas, como já comentei na resposta do parágrafo anterior.
« Última modificação: 21 de Janeiro de 2020, 23:38:42 por -Huxley- »

Offline Sdelareza

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #69 Online: 21 de Janeiro de 2020, 23:06:25 »
É sério? Quantos destes engenheiros eram curiosos sem diploma?

Se isto fosse totalmente verdade, a indústria aeroespacial contrataria apenas mecânicos sem diploma pagando uma fração do salário de um engenheiro altamente qualificado. Não contratariam também consultores para as mais diversas especialidades. Com intuição e tentativa e erro se obteria os mesmos resultados.

Mas não dá para não enxergar a relação direta que existe entre a qualidade da formação do pessoal trabalhando em pesquisa e desenvolvimento e os resultados.

Os irmãos caipira norte-americanos, mecânicos de bicicleta, podem construir um avião rudimentar. Mas não adianta botar esses caras para trabalhar na Boeing porque não vão dar contribuição nenhuma para o desenvolvimento de modernos motores a jato. Não importa o que esse Phil Scranton diga sobre isso.

Acho que essa frase por si só já seria mais que motivo pra encerrar qualquer discussão nesse tópico.

É realmente muita coincidência que os maiores desenvolvimentos tecnológicos da sociedade vieram justamente nos séculos mais recentes, quando a ciência finalmente passou a se desenvolver e deixar de ser bruxaria.

Eu sinceramente gostaria de entender o que se passa na mente de quem acha que:

- Engenheiros de Simulação seriam capazes de desenvolver softwares de modelagem computacional sem conhecimento de matemática e física;

- Engenheiros Civis seriam capazes de dosar concretos de alta resistência sem conhecer métodos de dosagem amplamente estudados e testados em laboratório;

- Engenheiros de Materiais seriam capazes de estimar a vida útil de materiais sem a utilização de métodos que foram desenvolvidos baseados no conhecimento de mecanismos de degradação, como corrosão e fadiga;

- Engenheiros Hidráulicos poderiam ser capazes de calcular o escoamento de fluidos sem utilizar mecânica dos fluidos;

- Engenheiros Mecânicos seriam capazes de determinar com precisão os efeitos causados por impactos em carros sem precisar fazer análise dinâmica;

- Engenheiros Estruturais poderiam hoje calcular prédios de mais de 100 andares sem ter estudado teoria de estruturas.

Ademais, praticamente todas as Normas Técnicas que Engenheiros seguem atualmente são redigidas por comissões formadas por professores pesquisadores especialistas no tema, e que estão a cada ano revisando-as de forma a inserir metodologias e critérios mais desenvolvidos, com base nas pesquisas que são publicadas.

Isso não foi problema. Antigamente, como havia pouquíssimas especializações, era
comum a pessoa ser ao mesmo tempo matemático, engenheiro, arquiteto ou até médico.

O problema é que exercer várias tarefas simultaneamente não deve ser particularmente produtivo.
Duvido que hoje haja polímatas capazes de serem feras em duas ou mais áreas. Sobretudo que
o conhecimento das diferentes áreas tornou-se beeeem mais complexo do que na época de Leonardo Da Vinci.

Então foi a introdução de um número maior de disciplinas especializadas que impulsionou o conhecimento científico e tecnológico.

Como mencionei no início do tópico, James Watt teve apoio e ajuda de universidades.

Outro passo fundamental foi a introdução do método científico por Galileu (e penso, até por Kepler): traduzir observações experimentais
sob formulas matemáticas.  Avanços numa área abstrata como a matemática são necessários para ajudar a compreender fenômenos naturais. Por exemplo, parece que a Teoria da Relatividade foi inspirada em parte na geometria não euclidiana.

Offline Cinzu

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #70 Online: 22 de Janeiro de 2020, 01:32:20 »
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- Engenheiros de Simulação seriam capazes de desenvolver softwares de modelagem computacional sem conhecimento de matemática e física;


O exemplo que você pôs foi sobre computação, cujos origem e desenvolvimento eu já tinha comentado no segundo post do tópico. Eu disse que, apesar de a ciência ter tido alguma utilidade nesse percurso, já que a tecnologia computacional depende da ciência na maior parte de seus aspectos, em nenhum momento a ciência acadêmica contribuiu para ajudar a definir a direção, tendo servido só para descobertas casuais em um ambiente opaco, com praticamente nenhum ocupante. O processo permaneceu auto-orientado e imprevisível em cada uma de suas etapas. Logo, nenhum mérito da ciência básica nesse aspecto.



Citar

- Engenheiros Civis seriam capazes de dosar concretos de alta resistência sem conhecer métodos de dosagem amplamente estudados e testados em laboratório;



Sem laboratório de ciência algum, os engenheiros romanos da Antiguidade, famosos pelos seus aqueodutos, construíram obras durabilíssimas feitas de concreto:
https://gizmodo.uol.com.br/segredo-concreto-romano-indestrutivel

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- Engenheiros de Materiais seriam capazes de estimar a vida útil de materiais sem a utilização de métodos que foram desenvolvidos baseados no conhecimento de mecanismos de degradação, como corrosão e fadiga;


Como eu já disse, engenheiros da Idade Antiga e da Idade Média já fizeram o papel de engenheiros de materiais amadores e fizeram isso eficazmente para determinados materiais:

Citação de: -Huxley-
As coisas sofisticadas inventadas sem teorias acadêmicas de universidades são impressionantes. Vejam os objetos arquitetônicos como as pirâmides e as belas catedrais da Europa. Nenhum teorema...E os construtores conseguiam descobrir a resistência dos materiais sem as equações que temos hoje. De acordo com o historiador de ciência medieval Guy Beaujouan, antes do século XIII, não mais que cinco pessoas em toda a Europa sabiam como fazer uma operação de divisão. Também vale mencionar que os engenheiros romanos construíram aqueodutos sem matemática alguma (isto é, análise quantitativa de fórmulas).


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- Engenheiros Hidráulicos poderiam ser capazes de calcular o escoamento de fluidos sem utilizar mecânica dos fluidos;


Engenheiros romanos da Antiguidade construíram aqueodutos impressionantes sem ter qualquer livro de mecânica de fluidos disponível.

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- Engenheiros Mecânicos seriam capazes de determinar com precisão os efeitos causados por impactos em carros sem precisar fazer análise dinâmica;


Nunca se testou essa teoria em ambientais medievais, pois não existiam automóveis na Idade Média ou nas eras anteriores. Mas os medievais não precisaram estudar dinâmica na universidade para construir armaduras de soldados eficazes, em que as armas de corte raramente penetravam e as de impacto eram defletidas em suas curvaturas. 



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Engenheiros Estruturais poderiam hoje calcular prédios de mais de 100 andares sem ter estudado teoria de estruturas.


"Teorias" da Engenharia Civil são aproximadamente tão teorias científicas quanto às "teorias" da culinária. Especialistas em culinária, mesmo aqueles com formação na Universidade de Havard, não fizerem a retroengenharia do sabor da comida observando o rótulo com as informações nutricionais. De modo análogo, o que se questiona na Engenharia Civil não é sua eficácia, mas sim a existência de um efeito contundente da chamada "base epistemológica" (conceito de Joel Mokyr), isto é, um corpo de teorias a partir do qual outras teorias podem ser diretamente derivadas. Eu já expliquei isso neste tópico no post de 17 de Setembro de 2019, 22:17:40.

Mas quanta baboseira!

Veja que mencionei Engenheiro de Simulação, e não Computação. A função de um Engenheiro de Simulação não é desenvolver sistemas computacionais, mas desenvolver softwares para simular o comportamento de determinados fenômenos físicos, coisa que só é possível com conhecimento de matemática e física.

Se uma empresa está desenvolvendo um novo modelo de celular, existem basicamente duas formas de saber qual o dano que aquele celular vai sofrer com uma queda de x metros:

1. Fabricar e jogar o celular da altura x e avaliar os estragos;
2. Simular computacionalmente a queda do celular da altura x e calcular com certa precisão os efeitos.

Na primeira opção, a empresa teria que fabricar uma série de celulares diferentes e estragá-los até chegar em um modelo ideal, que seja capaz de resistir à altura x. Já na segunda, a empresa poderia simular diversas possibilidades em um software de modelagem e fazer o teste uma única vez para confirmar se o processo teórico está correto.

Porém, para o desenvolvimento do software capaz de efetuar tais modelagens, seria necessário:
1. conhecimento em programação, obviamente;
2. conhecimento do comportamento dos componentes que compõem o celular e como eles se interagem - atrito, deformação, tensões, elasticidade.
3. conhecimento sobre dinâmica de impacto;
4. capacidade de desenvolver modelos matemáticos que descrevem com exatidão os itens 2 e 3;
5. capacidade de desenvolver um algoritmo que permita implementar os modelos matemáticos descritos pelo item 4.

Se você pedir para um TI qualquer que manja de programação escrever um algoritmo que calcula o impacto de corpos inelásticos com comportamento não linear anisotrópico, ele muito provavelmente não vai saber. Então por isso a necessidade de alguém com conhecimentos específicos.

Quanto aos outros comentários, não vejo necessidade de responder um por um, já que a resposta foi basicamente a mesma: "engenheiros romanos da antiguidade faziam coisas semelhantes"

Não, não faziam. Primeiro que nem sei se é correto chamá-los de engenheiros. Empilhar pedras não é engenharia. Construir 100 casas diferentes onde uma vai ficar de pé e depois usar essa casa como padrão para reproduzir outras não é, nem de longe, qualquer coisa próxima da engenharia que é praticada hoje.

Engenharia é um processo de previsão e otimização. É eu saber, antes mesmo de construir, qual é a carga máxima que uma ponte suporta. E caso eu altere a geometria da ponte, posso responder essa mesma pergunta apenas com cálculos, sem a necessidade de construir uma nova ponte para testar.

O exemplo do Engenheiro de Simulação que mencionei se aplica perfeitamente bem à qualquer engenharia hoje. A função do engenheiro hoje não é só empilhar blocos para que um prédio de 10 andares fique de pé, mas testar diferentes posicionamentos de pilares, dimensões, quantidade de aço, resistência, dosagem, etc, para que o prédio suporte, com o menor custo possível, as ações que estará sujeito - peso próprio, efeitos do vento, sismos, etc.

Teoria de Estruturas (que você compara com teorias da culinária) é basicamente física e matemática aplicada.

Isso é um memorial de cálculo de um edifício: https://www.eec.ufg.br/up/140/o/PROJETO_DE_UM_EDIF%C3%8DCIO_DE_NOVE_PAVIMENTOS_EM_ALVENARIA_ESTRUTURAL_-_COMPLETO.pdf

Isso é uma norma de estruturas de concreto: https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-de-edificios/abnt-6118-projeto-de-estruturas-de-concreto-procedimento

Os critérios e fórmulas que você enxerga não foram inventados. São baseados em estudos e pesquisas científicas. Qualquer Engenheiro hoje é obrigado a dimensionar de acordo com a norma.

O fato de engenheiros romanos desenvolverem objetos duráveis é irrelevante. Para o engenheiro não basta construir uma coisa durável. Um pedreiro pode fazer isso, simplesmente construindo uma casa gastando quantidades absurdas de material, de modo que ela vai provavelmente durar. O engenheiro, por outro lado, deve saber responder QUANTO TEMPO vai durar aquilo que ele construiu. Mesmo construções como pontes e barragens, possuem um tempo de vida útil estimado. Se você gasta mais para fazer algo que vai durar mais do que deveria, você está sendo ineficiente. E a única maneira de estimar a durabilidade de alguma coisa é conhecendo processos químicos e físicos de degradação, assim como a capacidade de aplicar estimativas de cálculo que permitem prever a degradação de determinado material sob certas condições ambientais de temperatura, umidade, presença de CO2 no ar, e por aí vai.
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #71 Online: 22 de Janeiro de 2020, 05:07:23 »
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- Engenheiros de Simulação seriam capazes de desenvolver softwares de modelagem computacional sem conhecimento de matemática e física;


O exemplo que você pôs foi sobre computação, cujos origem e desenvolvimento eu já tinha comentado no segundo post do tópico. Eu disse que, apesar de a ciência ter tido alguma utilidade nesse percurso, já que a tecnologia computacional depende da ciência na maior parte de seus aspectos, em nenhum momento a ciência acadêmica contribuiu para ajudar a definir a direção, tendo servido só para descobertas casuais em um ambiente opaco, com praticamente nenhum ocupante. O processo permaneceu auto-orientado e imprevisível em cada uma de suas etapas. Logo, nenhum mérito da ciência básica nesse aspecto.



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- Engenheiros Civis seriam capazes de dosar concretos de alta resistência sem conhecer métodos de dosagem amplamente estudados e testados em laboratório;



Sem laboratório de ciência algum, os engenheiros romanos da Antiguidade, famosos pelos seus aqueodutos, construíram obras durabilíssimas feitas de concreto:
https://gizmodo.uol.com.br/segredo-concreto-romano-indestrutivel

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- Engenheiros de Materiais seriam capazes de estimar a vida útil de materiais sem a utilização de métodos que foram desenvolvidos baseados no conhecimento de mecanismos de degradação, como corrosão e fadiga;


Como eu já disse, engenheiros da Idade Antiga e da Idade Média já fizeram o papel de engenheiros de materiais amadores e fizeram isso eficazmente para determinados materiais:

Citação de: -Huxley-
As coisas sofisticadas inventadas sem teorias acadêmicas de universidades são impressionantes. Vejam os objetos arquitetônicos como as pirâmides e as belas catedrais da Europa. Nenhum teorema...E os construtores conseguiam descobrir a resistência dos materiais sem as equações que temos hoje. De acordo com o historiador de ciência medieval Guy Beaujouan, antes do século XIII, não mais que cinco pessoas em toda a Europa sabiam como fazer uma operação de divisão. Também vale mencionar que os engenheiros romanos construíram aqueodutos sem matemática alguma (isto é, análise quantitativa de fórmulas).


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- Engenheiros Hidráulicos poderiam ser capazes de calcular o escoamento de fluidos sem utilizar mecânica dos fluidos;


Engenheiros romanos da Antiguidade construíram aqueodutos impressionantes sem ter qualquer livro de mecânica de fluidos disponível.

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- Engenheiros Mecânicos seriam capazes de determinar com precisão os efeitos causados por impactos em carros sem precisar fazer análise dinâmica;


Nunca se testou essa teoria em ambientais medievais, pois não existiam automóveis na Idade Média ou nas eras anteriores. Mas os medievais não precisaram estudar dinâmica na universidade para construir armaduras de soldados eficazes, em que as armas de corte raramente penetravam e as de impacto eram defletidas em suas curvaturas. 



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Engenheiros Estruturais poderiam hoje calcular prédios de mais de 100 andares sem ter estudado teoria de estruturas.


"Teorias" da Engenharia Civil são aproximadamente tão teorias científicas quanto às "teorias" da culinária. Especialistas em culinária, mesmo aqueles com formação na Universidade de Havard, não fizerem a retroengenharia do sabor da comida observando o rótulo com as informações nutricionais. De modo análogo, o que se questiona na Engenharia Civil não é sua eficácia, mas sim a existência de um efeito contundente da chamada "base epistemológica" (conceito de Joel Mokyr), isto é, um corpo de teorias a partir do qual outras teorias podem ser diretamente derivadas. Eu já expliquei isso neste tópico no post de 17 de Setembro de 2019, 22:17:40.

Mas quanta baboseira!

Veja que mencionei Engenheiro de Simulação, e não Computação. A função de um Engenheiro de Simulação não é desenvolver sistemas computacionais, mas desenvolver softwares para simular o comportamento de determinados fenômenos físicos, coisa que só é possível com conhecimento de matemática e física.

Se uma empresa está desenvolvendo um novo modelo de celular, existem basicamente duas formas de saber qual o dano que aquele celular vai sofrer com uma queda de x metros:

1. Fabricar e jogar o celular da altura x e avaliar os estragos;
2. Simular computacionalmente a queda do celular da altura x e calcular com certa precisão os efeitos.

Na primeira opção, a empresa teria que fabricar uma série de celulares diferentes e estragá-los até chegar em um modelo ideal, que seja capaz de resistir à altura x. Já na segunda, a empresa poderia simular diversas possibilidades em um software de modelagem e fazer o teste uma única vez para confirmar se o processo teórico está correto.

Porém, para o desenvolvimento do software capaz de efetuar tais modelagens, seria necessário:
1. conhecimento em programação, obviamente;
2. conhecimento do comportamento dos componentes que compõem o celular e como eles se interagem - atrito, deformação, tensões, elasticidade.
3. conhecimento sobre dinâmica de impacto;
4. capacidade de desenvolver modelos matemáticos que descrevem com exatidão os itens 2 e 3;
5. capacidade de desenvolver um algoritmo que permita implementar os modelos matemáticos descritos pelo item 4.

Se você pedir para um TI qualquer que manja de programação escrever um algoritmo que calcula o impacto de corpos inelásticos com comportamento não linear anisotrópico, ele muito provavelmente não vai saber. Então por isso a necessidade de alguém com conhecimentos específicos.

Quanto aos outros comentários, não vejo necessidade de responder um por um, já que a resposta foi basicamente a mesma: "engenheiros romanos da antiguidade faziam coisas semelhantes"

Não, não faziam. Primeiro que nem sei se é correto chamá-los de engenheiros. Empilhar pedras não é engenharia. Construir 100 casas diferentes onde uma vai ficar de pé e depois usar essa casa como padrão para reproduzir outras não é, nem de longe, qualquer coisa próxima da engenharia que é praticada hoje.

Engenharia é um processo de previsão e otimização. É eu saber, antes mesmo de construir, qual é a carga máxima que uma ponte suporta. E caso eu altere a geometria da ponte, posso responder essa mesma pergunta apenas com cálculos, sem a necessidade de construir uma nova ponte para testar.

O exemplo do Engenheiro de Simulação que mencionei se aplica perfeitamente bem à qualquer engenharia hoje. A função do engenheiro hoje não é só empilhar blocos para que um prédio de 10 andares fique de pé, mas testar diferentes posicionamentos de pilares, dimensões, quantidade de aço, resistência, dosagem, etc, para que o prédio suporte, com o menor custo possível, as ações que estará sujeito - peso próprio, efeitos do vento, sismos, etc.

Teoria de Estruturas (que você compara com teorias da culinária) é basicamente física e matemática aplicada.

Isso é um memorial de cálculo de um edifício: https://www.eec.ufg.br/up/140/o/PROJETO_DE_UM_EDIF%C3%8DCIO_DE_NOVE_PAVIMENTOS_EM_ALVENARIA_ESTRUTURAL_-_COMPLETO.pdf

Isso é uma norma de estruturas de concreto: https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-de-edificios/abnt-6118-projeto-de-estruturas-de-concreto-procedimento

Os critérios e fórmulas que você enxerga não foram inventados. São baseados em estudos e pesquisas científicas. Qualquer Engenheiro hoje é obrigado a dimensionar de acordo com a norma.

O fato de engenheiros romanos desenvolverem objetos duráveis é irrelevante. Para o engenheiro não basta construir uma coisa durável. Um pedreiro pode fazer isso, simplesmente construindo uma casa gastando quantidades absurdas de material, de modo que ela vai provavelmente durar. O engenheiro, por outro lado, deve saber responder QUANTO TEMPO vai durar aquilo que ele construiu. Mesmo construções como pontes e barragens, possuem um tempo de vida útil estimado. Se você gasta mais para fazer algo que vai durar mais do que deveria, você está sendo ineficiente. E a única maneira de estimar a durabilidade de alguma coisa é conhecendo processos químicos e físicos de degradação, assim como a capacidade de aplicar estimativas de cálculo que permitem prever a degradação de determinado material sob certas condições ambientais de temperatura, umidade, presença de CO2 no ar, e por aí vai.

Lamento informar isso, mas simulação computacional não lida apenas com física e processos físicos de curto prazo. Mas também com sistemas complexos (inclusive sistemas artificiais criados pelo homem) cheios de interdependências - difíceis de detectar -  e respostas não lineares. E, o mais importante, lida com o risco, inclusive de eventos raros que causam ruína sistêmica. Simulação computacional que supostamente mensura precisamente o risco, principalmente de acontecimentos raros, não passa de bullshit cientificista. Por quê?

Como sugere a Teoria dos Valores Extremos, não podemos calcular os riscos e as probabilidades de impactos e acontecimentos muito raros. Quanto mais raro o acontecimento, menos remediável, e menor o nosso conhecimento sobre sua frequência. Sabemos muito menos sobre inundações centenárias do que sobre as de cinco anos atrás - o erro se amplia quando se trata de pequenas probabilidades. Ademais, sistemas complexos criados pelo homem tendem a desenvolver cascatas e cadeias descontroladas de reações que fazem diminuir e, inclusive eliminam a previsibilidade. O mundo pode estar se aprimorando em conhecimento tecnológico, mas, paradoxalmente, isso tem tornado as coisas muito mais imprevisíveis. Quem duvida disso, veja o grau de previsão baixo dos modelos de climatologia que tentam prever o clima no longo prazo do IPCC, como demonstrou Nate Silver no livro O Sinal e o Ruído. Também não é estranho que artigos escritos a partir da psicologia empírica mostram resultados de corte sem uma única afirmação biológica acabam sendo mais preditivos do que neurobiologia e artigos que discutem a parte neural da tomada de decisão. Teorias vem e vão na psicologia, na medicina e em outros domínios complexos. Já as regularidades empíricas catalogadas são bem mais duráveis no tempo.

Isso tudo sugere que a maioria das tecnologias que são objetos de estudo das engenharias assemelha-se à culinária, muito mais do que a Fisica. As engenharias continuam a ser um modelo de aprendizagem (principalmente heurística), com alguma ciência teórica de fundo.  E se ela abandonasse o modelo de aprendizagem, seria em nome do método "baseado em evidências", apoiados menos em teorias físicas e mais na catalogação de regularidades empíricas, a fenomenologia, que expliquei no primeiro post do tópico. Análise complexa de causas com teorias científicas como protagonistas em engenharia geralmente é só encheção de linguiça cosmética de disciplina que tenta ser ciência, mas não é (ciência fornece certezas, mas não eficácia; a maioria das engenharias fornece eficácia, mas não certeza). Algo análogo acontece com a relação entre a medicina e a compreensão de teorias biológicas. Pelos motivos que já expliquei no primeiro post deste tópico, é um erro grotesco descrever a Medicina tão somente como uma "Biologia Aplicada".
« Última modificação: 22 de Janeiro de 2020, 11:41:56 por -Huxley- »

Offline Cinzu

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #72 Online: 22 de Janeiro de 2020, 12:02:22 »
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Análise complexa de causas com teorias científicas como protagonistas em engenharia geralmente é só encheção de linguiça cosmética de disciplina que tenta ser ciência, mas não é.

Até achei que estivesse falando sério a princípio, mas parece estar trollando. Com todo o respeito, mas dizer isso é desconhecer absolutamente a função de um engenheiro nos dias de hoje.

Você tem alguma ideia do que é um software de elementos finitos, utilizado por praticamente qualquer engenheiro estrutural ou mecânico? É pura matemática e física aplicada.

É impossível você saber com precisão numérica como um objeto de geometria irregular vai se comportar quando sujeito a determinado esfoço, em outras palavras, quais vão ser as tensões e deformações em cada ponto deste objeto, sem utilizar qualquer simulação que utilize física e matemática.

Sobre sistemas complexos, já existem diversas aplicações deles, e que funcionam. O fato de não sermos capazes de estimar com acurácia aceitável a previsão do tempo daqui 1 mês, não significa que não podemos prevê-la amanhã, ou daqui 2 dias, com uma taxa de acerto superior à 90%.

Citar
De acordo com os meteorologistas, hoje, uma previsão feita com até 24 horas de antecedência tem até 95% de acerto. Há alguns anos, esse índice não chegava a 90%. Evoluiu muito, afirma Kondraski, que desde 1995 trabalha como meteorologista.

Segundo Fabiana, do Climatempo, houve grande melhoria também nos computadores utilizados para fazer a previsão do tempo e, toda vez que há um evento que não é percebido, como na última terça-feira, faz-se um estudo para saber porque não o detectaram.

As chances de acerto, no entanto, diminuem significativamente com o aumento do intervalo de tempo. Com cinco dias de antecedência, os acertos caem para cerca de 80%. Quando começou, Kondraski diz que o índice de 70% de acerto adotado hoje para previsões com sete dias de antecedência era usado para cinco dias.

No Inpe, Kondraski esclarece ainda que há previsões feitas com até 15 dias, mas, nestes casos, a chance de erro é de 50%.

Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/previsao-do-tempo-nunca-tera-100-de-acerto-dizem-meteorologistas/n1237622175915.html

Quando algum fenômeno é extremamente sensível às condições iniciais e depende de uma quantidade enorme de fatores (aka Teoria do Caos), sua previsão torna-se difícil devido à falta de dados disponíveis, e não porque as teorias científicas são furadas.
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Offline -Huxley-

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #73 Online: 22 de Janeiro de 2020, 12:03:46 »
Agora, vamos para a alegação de que os engenheiros pré-modernos não eram engenheiros de verdade, pois os engenheiros de verdade constroem coisas fazendo otimização. Ora, isso não foi um demérito dos engenheiros romanos. Se os romanos tivessem construído os aquedutos com ajuda das fórmulas matemáticas, seus aquedutos não existiriam mais, já que um efeito patente colateral da matemática é fazer as pessoas superotimizarem e encurtarem caminho, causando fragilidade. As obras dos engenheiros romanos estavam relativamente blindadas contra eventos "cisnes negros" que causam ruína (e morte), como, por exemplo, um terremoto de alto impacto. Para os objetivos de suas obras, o gerenciamento de risco dos engenheiros romanos estava essencialmente correto no contexto de sua época. Precisamos produzir redundância, uma margem de segurança, evitando a otimização, atenuando (e, até mesmo, removendo) as assimetrias em nossa sensibilidade aos riscos.

Ademais, a engenharia pré-formalização não está restrita apenas aos objetos relativamente simples como pontes e aquedutos. Eu já disse aqui que Terence Kealey já demonstrou que a máquina a vapor e certas tecnologias têxteis do início da revolução industrial inglesa foram inventadas por homens de pouca instrução (amadores) que aplicaram bom senso aos problemas mecânicos que os afligiam nas suas fábricas. Esses senhores também seriam "não-engenheiros" ou "não-seguidores de normas técnicas"?!?!
« Última modificação: 22 de Janeiro de 2020, 12:10:23 por -Huxley- »

Offline Cinzu

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Re:A mentira de que "as teorias acadêmicas originaram e desenvolveram a tecnologia"
« Resposta #74 Online: 22 de Janeiro de 2020, 12:08:58 »
Agora, vamos para a alegação de que os engenheiros pré-modernos não eram engenheiros de verdade, pois os engenheiros de verdade constroem coisas fazendo otimização. Ora, isso não foi um demérito dos engenheiros romanos. Se os romanos tivessem construído os aquedutos com ajuda das fórmulas matemáticas, seus aquedutos não existiriam mais, já que um efeito patente colateral da matemática é fazer as pessoas superotimizarem e encurtarem caminho, causando fragilidade. As obras dos engenheiros romanos estavam relativamente blindadas contra eventos "cisnes negros" que causam ruína (e morte), como, por exemplo, um terremoto de alto impacto. Para os objetivos de suas obras, o gerenciamento de risco dos engenheiros romanos estavam essencialmente correto no contexto de sua época. Precisamos produzir redundância, uma margem de segurança, evitando a otimização, atenuando (e, até mesmo, removendo) as assimetrias em nossa sensibilidade aos riscos.

Para isso, existe algo chamado coeficiente de segurança, que leva em conta as incertezas do modelo matemático.

Se você usa um coeficiente de segurança alto demais a ponto de blindar sua estrutura contra eventos extremamente raros (como um terremoto de magnitude muito superior à qualquer outra já registrada na região), então sua estrutura torna-se inviável do ponto de vista econômico.

Segurança, a partir de certo ponto, passa a ser um fator desfavorável, e não favorável.
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