Concordo, Criso.
Penso, ao contrário disso, que as superstições são um fardo pesado e inútil na vida das pessoas. Prometem o paraíso, mas entregam o inferno, promovendo uma existência frustrante, cheia de medos e culpas inúteis.
Então, sim. O ateísmo é uma postura muito mais confortável do meu ponto de vista. Torna tudo mais simples. Sem tempo a perder com superstições me permito aproveitar mais e melhor o tempo.
AlienígenA, só você pegou o "espírito" do tópico, que não tem muito a ver com a realidade ou não das especulações religiosas ou niilistas, mas com o efeito prático delas na consciência e na conduta. Justamente pelo motivo que você disse, me soa muito mais aterrorizante uma existência que gira em torno de um juiz absolutista transcendental do que uma mera aglomeração fortuita e efêmera.
Com certeza é mais aterrorizante. E se o medo em certa medida é útil, em excesso, assim como em falta, é nocivo.
Entretanto penso que, por outro lado, uma postura niilista, de que não há absolutamente moral/razão/sentido para as coisas, pode servir de justificativa para um comportamento irresponsável, inconsequente, descompromissado com a virtude e com ideais mais nobres.
Não há maior incidência desse tipo de comportamento por você descrito nas sociedades com maiores índices de ateísmo. Isso é apenas o que diz o senso comum, que não é nada confiável. Por essa lógica, se você parar para pensar, era para a população carcerária, por exemplo, ser predominantemente ateia, mas não é o que se verifica. E essa talvez seja uma das consequências mais nocivas da falta de ceticismo - não se nutre o hábito de verificar, ir buscar na realidade dados concretos - se confia intuição, na lógica e na razão pura, que são apenas ferramentas auxiliares, para a formulação de ideias.
Não deixo de reparar em um detalhe: é muito mais fácil, de ambos os lados, encontrar pessoas que, ao invés de buscar A Verdade (e conduzir sua vida de acordo com ela), simplesmente escolhem os "rótulos" que reforcem seus hábitos, vícios e comportamentos. Para exemplificar, já conheci muitos "cristãos" extremamente reacionários que, em sua defesa de atrocidades como pena de morte e ataques aos direitos humanos, contradiziam absolutamente tudo o que diziam crer. Entretanto, dentro de um ponto de vista comportamental, cultural, moral, lhes era conveniente assumir a identidade de "cristão". Me parecia óbvio que, internamente, espiritualmente, não tinham nada de cristão, e suas próprias falas e atitudes não são as de alguém que creia em justiça e amor divinos.
A bíblia, que é o livro sagrado dos cristãos, prega tanto atitudes louváveis quanto atrocidades. Não tem nada de absoluto ali, diferente do que se diz. É possível encontrar bases tanto para a defesa da pena de morte e o ataque aos direitos humanos quanto o oposto. Não é de se estranhar, portanto, esse relativismo cristão. Não poderia ser de outra forma.
Já o ateísmo é naturalmente uma postura questionadora, já que, como não tem um livro sagrado com todas as respostas sobre a vida, o universo e tudo mais, tira o sujeito de sua zona de conforto, obrigando-o a refletir sobre questões que para os religiosos já vem prontas. Com frequência, sobretudo na era digital, com acesso fácil a informação, leva ao ceticismo - que é uma postura confrontadora. Mas é possível encontrar de tudo entre ateus, assim como entre os religiosos.
Ser cristão de verdade, com coerência entre vontade-pensamento-sentimento-ação, seria muito mais árduo, respeitável e admirável do que fazem parecer. Comparado com isso, o niilismo sim é que soa como uma muleta perfeita para a indulgência da fraqueza humana...
Eu diria que ser cristão de verdade, isto é, seguir ao pé da letra o que prega a bíblia é impossível, já que esta é uma coleção de contradições - o que coloca o sujeito em constante conflito interno, o que por sua vez, alimenta a culpa e o medo - que é a base do cristianismo.