Seria didaticamente útil se o Huxley definisse exatamente o que são estes comunistas e o que eles pretendem, porque a gente precisa conhecer o inimigo para melhor combate-lo.
Marxismo cultural
Marxismo cultural é uma teoria da conspiração[1][2][3] difundida nos círculos conservadores e da extrema-direita estadunidense desde a década de 1990, que se refere a uma suposta forma de marxismo, alegadamente adaptada de termos econômicos a termos culturais pela Escola de Frankfurt, que teria infiltrado nas sociedades ocidentais com o objetivo final de destruir suas instituições e valores tradicionais através do estabelecimento de uma sociedade global, igualitária e multicultural.[4]
Assim, a Escola de Frankfurt seria a origem de um movimento contemporâneo da esquerda mundial para destruir a cultura ocidental.[5][6]defendem que o multiculturalismo e o politicamente correto são produtos da teoria crítica dos frankfurtianos. Essa teoria é divulgada por pensadores conservadores como William Lind, Pat Buchanan, Paul Weyrich[7] e Olavo de Carvalho[8] e tem recebido o apoio institucional do Free Congress Foundation.[9][10]
Apesar de ter se tornado mais popular no início dos anos 2000, a teoria foi criada por Michael Minnicino no artigo "New Dark Age: Frankfurt School and 'Political Correctness'", publicado em 1992 na revista Fidelio do Schiller Institute.[11][12] O Schiller Institute, partidário do movimento LaRouche, promoveu a ideia ainda mais em 1994,[13] num artigo onde Michael Minnicino defende que a Escola de Frankfurt promoveu o modernismo nas artes e definiu a contracultura dos anos 1960 tendo como base o movimento utópico Wandervogel, que emergiu no final da década de 1890 no Monte Verità na comuna de Ascona.[11]
Em 1998, num discurso para a Conferência de Lideranças Conservadoras do think tank liberal Civitas Institute, Paul Weyrich explicou sua definição do termo, mais tarde utilizando-o em suas infames "Cartas da guerra cultural", onde invoca os conservadores a formarem um governo paralelo nos Estados Unidos.[7][14][15] A pedido de Weyrich, William S. Lind escreveu um breve resumo de seu conceito de "marxismo cultural"; nele, Lind identifica a presença de homossexuais na televisão como prova do controle da mídia pelos marxistas e afirma que Herbert Marcuse considerava uma coalizão de "negros, estudantes, mulheres feministas e homossexuais" como a vanguarda de uma revolução cultural.[5][16][17] Desde então, Lind publicou sua versão de um fictício apocalipse marxista.[18][19] Os escritos de Lind e Weyrich defendem que o "marxismo cultural" deve ser combatido através de um "conservadorismo cultural vibrante", composto por "retrocultura", retorno ao uso de trens como meios de transporte público e agricultura de subsistência como a dos Amish.[5][19][20][21][22][23][24] Mais tarde, em 2001, Weyrich e seu protegido Eric Heubeck defenderam abertamente uma "tomada das estruturas políticas" pelo "Novo Movimento Tradicionalista" num documento escrito para o Free Congress Foundation.[25][26][27]
Em 1999, Lind produziu o documentário de uma hora Political Correctness: The Frankfurt School.[12] Alguns trechos do material de Lind foram reutilizados por James Jaeger em seu vídeo do YouTube "Original Intent", que atribui citações de Death of the West de Pat Buchanan aos teóricos da Escola de Frankfurt.[28] Segundo o historiador Martin Jay, o documentário de Lind:
“gerou uma série de versões textuais condensadas, que foram reproduzidas numa série de sites da extrema-direita radical. Estes, por sua vez, levaram a uma série de novos vídeos disponíveis no YouTube, que trazem um elenco esquisito de pseudo-especialistas que regurgitam exatamente as mesmas frases. A mensagem é entorpecentemente simplista: todos os males da cultura americana moderna, de feminismo, ação afirmativa, libertação sexual e direitos gays até a decadência do sistema educacional e até mesmo o ambientalismo são atribuídos à influência insidiosa dos membros do Instituto para Pesquisa Social que vieram para a América nos anos 1930. As origens do "marxismo cultural" seriam Lukács e Gramsci, mas como eles não vieram para os EUA, seus papéis na narrativa não é tão proeminente.[12] ”
Para a Dra. Heidi Beirich, o conceito de "marxismo cultural" é utilizado para demonizar "feministas, homossexuais, humanistas seculares, multiculturalistas, educadores sexuais, ambientalistas, imigrantes e nacionalistas negros".[29] Dependendo da narrativa, os judeus também podem fazer parte dessa conspiração que pretende subverter a cultura ocidental. Apesar do cuidado em não se associar com o negacionismo do Holocausto, Lind teria dado uma palestra para um grupo de antissemitas em 2002 segundo o Southern Poverty Law Center.[30][31]
Segundo Chip Berlet, especialista que estuda os movimentos da extrema-direita americana, a teoria da conspiração do marxismo cultural encontrou campo fértil após a criação do Movimento Tea Party em 2009.[32] Mais recentemente, o terrorista norueguês Anders Behring Breivik incluiu o termo "marxismo cultural" em seu manifesto 2083: A European Declaration of Independence que, juntamente com o "Political Correctness: A Short History of an Ideologya" da Free Congress Foundation, foi enviado por e-mail para 1.003 endereços cerca de 90 minutos antes do atentado a bomba de 2011 em Oslo de sua autoria.[33][34][35] Segmentos dos escritos de Lind sobre o "marxismo cultural" estavam presentes no manifesto de Breivik.[36]
O filósofo e professor de ciência política Jérôme Jamin afirmou que "Perto da dimensão global da teoria da conspiração do marxismo cultural, reside sua dimensão inovadora e original, o que permite a seus autores evitar discursos racistas e fingir serem defensores da democracia".[37] O professor da Universidade de Oxford, Matthew Feldman traçou a origem da terminologia até um conceito alemão anterior à Segunda Guerra Mundial conhecido na época como "Bolchevismo Cultural". De acordo com o cientista político, este conceito do "Bolchevismo Cultural" fez parte do discurso degenerativo que auxiliou na ascensão de Adolf Hitler ao poder.[38] Contrariando Minnicino, Lind reconheceu que o "marxismo cultural" é "um esforço que data não dos anos 1960 e dos hippies e do movimento pela paz, mas sim da Primeira Guerra Mundial".[31]
Recentemente, um grupo de fãs da série Star Wars trouxe o termo à tona ao criticar a presença de um negro e de uma mulher como protagonistas do filme O Despertar da Força, lançado mundialmente em dezembro de 2015. Segundo as críticas deste grupo, a presença desses atores em papéis-chave na produção cinematográfica revelaria um ativismo panfletário contra brancos e uma tentativa de propagar o "marxismo cultural".[39] O movimento teve grande repercussão no Twitter, entretanto os autores da hashtag eventualmente confessaram que tratava-se de uma brincadeira, porém não antes do caso tomar tais proporções que até mesmo o diretor do filme, J. J. Abrams, tivesse publicado uma mensagem de repúdio ao argumento apresentado pela campanha.[40]
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