sou contra o aborto e gostaria de ouvir a opinião de vocês sobre esse meu debate com uma feminista:
contexto:
- “mas por que não entregar a criança para a adoção ao invés de abortar?”
RESPOSTA DELA:
Eu não sei se você tem conhecimento sobre isso, mas você tem noção de QUANTOS orfanatos existem e em qual situação financeira 90% deles está? Você tem noção da dificuldade que é fazer uma adoção no Brasil? Você tem noção que a grande parte das crianças chega a idade adulta sem ser adotada? E sem estudo de qualidade. E sem saúde adequada. E sem qualquer tipo de boas condições de vida fornecidas. Se alguém não pretende ter o filho por não ter condições de criá-lo o que te faz pensar que um orfanato teria?
MINHA RESPOSTA:
Neste caso, o que não entendo são duas coisas:
1- Do ponto de vista de um ser senciente, a "pior" coisa que pode lhe ocorrer, apesar de tudo, é o seu próprio fim. Assim sendo, qual o sentido de uma suposta "preocupação com futuro" justificar que um ser em potencial seja diretamente conduzido à inexistência? Porque, se a preocupação for com as dificuldades, deveria ser com a capacidade de prover essas necessidades, e não de levá-lo justamente para o que seria a pior possibilidade de qualquer situação possível: inexistir. Por exemplo:
não queremos que as pessoas se droguem, passem fome, se matem, etc, justamente porque estas coisas ameaçam suas próprias existências. Fica subentendido que nosso valor supremo é o da Vida. Não queremos que as pessoas passem por essas coisas justamente porque queremos que elas possam existir e viver. Não temos como saciar a fome, ajudar ou prover as necessidades de um ser em potencial cujo próprio direito à existência foi negado. E, se ele viesse a Ser, mesmo com todas as dificuldades e necessidades do mundo, o máximo de ruim que poderia acontecer com ele seria deixar de existir. Então qual é o sentido de alegar preocupação e futuro e, ao mesmo tempo, encurtar esse processo, tirando dele o direito mais essencial possível que seria o de sequer Existir?
2- Já que foi falado da ineficácia de camisinha, pílula, métodos contraceptivos, etc, não consigo deixar de pensar - por que as pessoas que não querem ter filhos simplesmente não param de ter relações sexuais? Ou, para ser menos radical (mas não deixando de pensar pessoalmente dessa forma), por que não expressam suas sexualidades de maneiras que não possuem chance de gerar um novo ser em potencial? Se somos seres racionais e morais, por que não simplesmente pesar os possíveis frutos dos nossos atos e evitar tomar atitudes e decisões sobre cujas consequências não queremos nos responsabilizar?
RESPOSTA DELA:
1- Eu concordo com a adoção como uma opção em diversos casos, mas de forma geral, saber que você criou um ser humano e optou por dar a ele condições não dignas não seria tão cruel quanto tirar sua vida? Porque o feto em questão não pode questionar o seu próprio existir ou não, apenas deixa de existir. Trabalhar com a potencial vida não me parece ser sensato se essa potencial vida pode ter uma existência em suas piores condições.
2- Se as relações sexuais tivessem sido criadas >apenas< com a função de reproduzir, seu argumento poderia fazer algum sentido, mas realmente acho essa sugestão utópica e desnecessária. É hipócrita dizer isso quando a grande maioria das pessoas não tem relações sexuais com esse intuito, ou pelo menos não como foco, e isso é um direito de cada um. Uma pessoa que não pretende ter filhos se protege ao máximo para não tê-los, mas infelizmente não existe uma forma 100% segura.
MINHA RESPOSTA:
1- Não só não seria cruel quanto tirar sua vida como, pelo contrário, nem sequer seria de forma alguma crueldade, mas sim um ato de compaixão, porque está sendo dada a oportunidade essencial que é a de existir, e, pior do que a pior das condições é a condição da própria inexistência, porque esta não permite nem que sequer haja uma condição para avaliarmos, nos preocuparmos e transformarmos. Doentes, deficientes, miseráveis, órfãos, todas essas pessoas deveriam ser exterminadas em um processo de Eugenia ou se suicidarem só por que avaliamos suas condições como ruins? Não só elas não querem e não fazem isso como, pelo contrário, lutam muito mais por sua própria existência do que pessoas que tem todo o conforto material e social e, apesar disso, vivem vidas vazias e fúteis, em torno da satisfação pessoal de desejos egoístas. Se alguém avaliar suas próprias condições como insuportáveis, pode decidir por si próprio sobre o destino de sua própria vida, inclusive sobre a opção de abandoná-la. Entretanto, se alguém tira a sua oportunidade de viver, nem isso você terá direito de escolher, simplesmente alguém "escolheu por você" que a sua existência não vale a pena, e, pior do que qualquer dificuldade e necessidade material, te tirou o seu mais essencial e inalienável Direito à Vida e à Liberdade.
2- Se a maioria das pessoas estiverem fazendo uma coisa errada, ela não se torna certa só porque está todo mundo fazendo. Se é direito de cada um agir como quiser, é dever de cada um arcar plenamente com a consequência de seus atos. Se o que ela quer é não ter filhos, nós já concordamos sobre a possibilidade da adoção, contra a qual não tenho nada a argumentar. Acontece que a relação sexual é o Ato Criador e a Natureza simplesmente não pede nossa opinião, e se as pessoas querem usar e abusar da força criadora sem atentar para a sua consequência mais natural e essencial, estão querendo, no fundo, transgredir as Leis Naturais para satisfazer desejos egoístas, então estão erradas do mesmo jeito.
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Tema pesado, cheio de implicações e consequências morais e psicológicas. Meu discurso não é no intuito de restringir a liberdade alheia com moralismo, mas, pelo contrário, demonstrar que só existe liberdade em atos deliberados - isto é, Atos de Vontade, atitudes e decisões conscientes - fora disso, o indivíduo está agindo escravizado pelo instinto e pelo impulso, então apenas pensa ser livre, quando não o é. De toda forma, o Direito Natural à Liberdade é incondicional e, por isso, mesmo me opondo a todas as decisões e atitudes que considero imorais e errôneas, não me dou o direito de interferir na liberdade que as pessoas têm, até mesmo, de escolher o pior para si. Sou contra o aborto, em si, como ato, bem como sou contra o uso das drogas, em si, mas, o máximo que posso fazer é tentar demonstrar para os outros o erro em suas próprias premissas e conclusões, mas não posso impedi-las de errar.
O homem é livre até mesmo para uma queda, se este for seu desejo. Só gostaria de atentar para a forma leviana, superficial e fútil com a qual temas como este têm sido tratados tanto pela direita hipócrita e moralista quanto pelos seres reais, racionais e morais que, como uma piada pronta, defendem que não existe Verdade, que não existe Razão e que não existe Moral - que tudo é relativo e pode-se fazer o que quiser.