Com olho em 2022, João Doria se afasta das crises do governo BolsonaroPublicado por Douglas Fernandes em Notícias às 9:55
Estadão Conteúdo – Eleito em outubro passado com um forte discurso antipetista e na esteira do bolsonarismo, o governador João Doria (PSDB) passou a modular suas ações e declarações na tentativa de influir no debate nacional. O tucano parou de criticar sistematicamente o PT, se aproximou de governadores de esquerda e adotou uma distância regulamentar em relação a Jair Bolsonaro – e das crises provocadas pelo presidente.
Doria também enxergou uma janela de oportunidade na recente crise entre Executivo e Legislativo – que teve como ápice o tiroteio verbal entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – e adaptou sua agenda à temperatura do momento. Neste caso, a estratégia escolhida foi a de se apresentar como uma voz moderada. Um dia depois do bate-boca entre Maia e Bolsonaro, por exemplo, Doria recebeu no Palácio dos Bandeirantes o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). No dia 23 de março, um sábado, o próprio Maia foi a São Paulo visitar o governador em sua residência. Nas últimas semanas, o tucano também recebeu o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), jantou na ala residencial com três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – Dias Toffoli, Alexandre Moraes e Ricardo Lewandowski – e, diariamente, se reúne com comitivas de deputados de vários partidos.
O novo figurino destoa do Doria prefeito que chegou a aparecer em eventos públicos com roupa de gari ou bota de carpinteiro – o que gerou críticas mesmo de aliados. A iniciativa de deixar o cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes, a despeito das promessas de que terminaria seu mandato à frente da Prefeitura de São Paulo, foi outra ameaça à imagem de “gestor” confiável que ele sempre ressalta em suas intervenções.
Planalto
Aliados não escondem que no horizonte de Doria está a sucessão presidencial em 2022, tema sobre o qual ele diz não ser o momento de discutir. Nesse trajeto, além da mudança de estilo, Doria quer garantir o controle político do PSDB. O governador deve fazer o novo presidente nacional do partido – o ex-deputado federal Bruno Araújo (PE), no lugar do ex-governador Geraldo Alckmin.
Tenta ainda influir na condução nacional da sigla de forma a dar uma guinada à direita, mirando parte dos eleitores que garantiram a eleição de Bolsonaro à Presidência. A iniciativa tem a oposição de Alckmin e de outros caciques do PSDB, como o expresidente Fernando Henrique Cardoso. Na relação com Bolsonaro, ao mesmo tempo em que se apresenta como aliado leal do presidente e defensor de projetos como a reforma da Previdência – Doria diz que vai se empenhar para que a bancada federal do PSDB paulista vote a favor do projeto apresentado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes -, tem mantido uma distância regulamentar do presidente. Em relação à própria reforma, a tese que Doria tem defendido nas conversas com políticos e empresários é que a mudança da Previdência tem de ser articulada com ou sem o Palácio do Planalto.
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