Por quê em vez da objetividade, da ciência e do esclarecimento, o mistério a ambiguidade e a elusividade inerentes ao misticismo?
Bom dia, ir. sérgio. Obrigado pela pergunta.
Não vamos ao escritório de bermuda, e nem de terno para a praia, certo? Cada coisa em seu lugar.
Imagine que alguém, escutando a Flauta Mágica de Mozart, comece a dizer - "por que vocês estão contemplando isso? por que estão se comovendo? é apenas um monte de ondas sonoras, frequências, hertz!". Bem, certamente tomaríamos alguém assim por um sujeito limitado, certo? De certa forma, embotado até.
"Amor é fogo que arde sem se ver" diz um poema. Imagine um cético que, diante disso, interrompa a declamação para protestar - "Ué, mas amor não é fogo! Fogo é fogo, amor é amor! Amor é dopamina! Dopamina não arde!" etc etc.
O que temos que entender é que nós, seres humanos, somos um verdadeiro
micro-cosmo (pequeno universo). Temos uma riqueza de faculdades e percepções que nos permitem explorar diversas esferas da experiência. Um exemplo para facilitar o entendimento:
Imagine tentar apreender um livro unicamente através dos sentidos e da investigação empírica. OK, você pode descrever o material de que as folhas são feitas, as espessura da capa, o traço da fonte dos caracteres, analisar seu peso, sua conservação etc. O
significado do livro, isto é, a essência das ideias que o espírito de um autor quis ali colocar, não podem ser apreendidas unicamente no plano da matéria. Sim, nossos olhos leem letras, sim, nossas mãos tocam o objeto-material do livro, mas algo que é, em nós, invisível e inteligível, toca e apreende relações e conceitos que são, eles também, invisíveis e inteligíveis.
Em suma, não é um caso de "por que o mistério em vez da objetividade", como se eles se opusessem, mas sim de colocá-los cada um em seu devido lugar. A ciência é boa quando aplicada ao plano da matéria, conhecendo as propriedades de suas leis e elementos. Alguém que tente explicar os fenômenos materiais e objetivos da realidade através de misticismo é tão tolo e embotado quanto alguém que tente reduzir a profundidade, valor e significado da existência humana aos fatores puramente biológicos e materiais.
Tenho olhos. Meus olhos percebem luz. Se quero perceber sons, não o farei olhando para eles. Tenho ouvidos. Meus ouvidos percebem sons. Se quero perceber luzes, não o conseguirei escutando. Para a luz, olhos; para os sons, ouvidos. Nossa mente também possui diversas faculdades, das mais objetivas e lógicas às mais profundas, simbólicas e íntimas camadas da nossa essência. Cada uma de nossas faculdades é apropriada para um modo específico de contato e investigação da experiência.