Salve, Mioto!
Qual a lesividade da conduta dela? Vinte reais! Não paga uma pizza!
Milhares de reais foram gastos para prendê-la, processá-la, julgá-la, condená-la e mantê-la presa, a começar pela gasolina necessária para a patrulha mais próxima pegá-la e levá-la à delegacia, dois policiais a menos nas ruas para cuidarem dessa perigosíssima meliante (só aí já dava para comprar uma caixa de xampus). Mais de setecentos reais por mês para mantê-la na cadeia, que dariam para comprar um estoque vitalício de xampus para ela.
Os custos são um bom argumento, Nightmare.
Os custos são o último argumento de minha lista...
Mas, ainda assim, penso que são válidos os esforços para combater o crime de baixo.
Prender todos os trombadinhas, todas as ladras de xampus, todos os ladrões de galinha, todos os pichadores e quebradores de janela não vai diminuir o problema da verdadeira criminalidade.
O pobre dono da farmácia tem culpa se Maria que um shampoo?
Milhares de reais foram gastos por causa de um furto que nem aconteceu! O dono do estabelecimento não sofreu dano algum!
Eu, que pago, vou ter que pagar o valor do produto que Maria levou, ou tentou levar, também?
E por que não fazer Maria pagar em dobro o valor do possível dano ao invés de movimentar o Judiciário com tamanha irrelevância?
Para que prender? Se ela tivesse conseguido furtar e fosse pega depois, prendendo-a o dono do estabelecimento jamias veria o xampu devolta?
Qual a relevância disso tudo?
As pessoas se sentem idiotas pegando quando há outras se aproveitando das falhas do sistema. Eu pagaria, porque não conseguiria levar algo para casa de maneira desonesta. Mas ficariam extremamente chateado sabendo que estou financiando gente que merece esse mesmo adjetivo, desonesto.
Eu não me sinto um idiota por ter dinheiro para pagar o que eu preciso.
E repito a pergunta: por que não fazer Maria pagar em dobro o valor do possível dano, e todos os dispêndios decorrentes da sua conduta, ao invés de movimentar o Judiciário com tamanha irrelevância?
Na prisão ela ficou cega de um olho, e a sociedade vai ter de indenizá-la em algo para cima de quinhentos mil reais.
Tudo por causa de um xampu!
Foi uma fatalidade que aconteceu, infelizmente. Mas não acho que ela ganhará tanto dinheiro, se ganhar, ganhará?
Com a indenização que virá pelo olho perdido ela nem precisará furtar xampus, poderá comprar um salão de beleza e se aposentar.
O olho foi uma fatalidade. Poderia, com grande chance, não ter acontecido.
Poderia, com mais chances, ter acontecido pior...
Jogaram água fervendo (ou ácido) na face dela...
E não acredito que ela vá ganhar um grande indenização.
Pela Procuradoria do Estado de São Paulo, através da Regional de Taubaté (onde faço estágio), ganhamos uma indenização de mais de setecentos mil reais para um homem que foi preso por um problema de trânsito e foi seviciado e torturado na cadeia... Ele não perdeu um olho, perdeu "só" a "virgindade" anal...
Temos mais indenizações lá por casos semelhantes, algumas levaram uma década para serem pagas, mas foram... Outras já foram ganhas em primeira instância, mas estão esperando o julgamento do recurso do Estado...
Jogaram água fervendo (ou ácido) na face dela e, por isso, ela perdeu a visão...
A merda de um xampu...
O raciocínio não é "soltem-na porque tem gente pior na rua",
Não para você, mas para o André Petry parece que sim.
E o que André Petry tem a ver com nosso papo? Em nenhum momento utilizei a argumentação dele... Só citei a notícia...
mas sim, "não a prendam porque o que ela fez não tem qualquer relevância no âmbito do direito penal". Ademais, só a vergonha de ser pega em flagrante tentando furtar xampu já é punição suficiente para ela.
Vergonha, Night? Alguém que picha paredes, com o próprio nome!, tem vergonha disso?
Mioto, quantos muros ela pichou?
Eu disse que a vergonha de ser pega já podia ser considerada punição suficiente
para a Dona Maria, pois todos os seu conhecidos e não conhecidos poderiam ficar sabendo do que ela fez, talvez até o pessoal da igreja que ela freqüenta de vez em quando (aqui estou hipotetizando), seus amigos, familiares; pelo fato de seus dois filhos (sim, ela tem dois filhos) ficarem sabendo... Pagar em dobro o dano causado e passar pelo constrangimento de ser pega e tratada como uma homicida perigosíssima já é punição suficiente.
Para pichadores a punição é diferente... Fazê-lo reparar o dano causado e pintar casas populares pode ser uma ótima e exemplar punição.
Para que prender?
Se ele realmente fosse ter vergonha não teria sequer pensado em pegar o shampoo. Se houve força para colocar a mão sobre o produto, não havia tanta moral por trás dos pensamentos dela.
É a questão da vantagem econômica, Mioto.
Ela é uma analfabeta, com dois filhos, que viu os cabelos lisos e sedosos de uma atriz fazendo o comercial do xampu sei lá qual... O fato é que o xampu e o condicionador que ela queria custavam R$ 24,00. Não é qualquer trocado para ela (embora não seja nada perto do que a gente gasta na balada)... Ela assumiu o risco, sem ter consciência das conseqüências... Pode ter previsto que poderia ser pega e passar por alguma vergonha ali mesmo... Mas ela não tinha os míseros R$ 24,00 (se tivesse teria pago ali mesmo e evitado tudo)...
Que risco ela representa para a sociadade?
Todo mundo sabe disso! Todo mundo sabe que se matar pode ser preso, e nem por isso os homicídios diminuem...
Te diria que no Brasil não se tem tanta certeza assim.
Valoração Subjetiva Paralela da esfera do Profano: Todos nós "nascemos" com a noção de que determinadas coisas são erradas...
Além disso, não temos como saber como seria se não houvessem leis assim. Poderia, e acredito que seria, muito pior. Ou seja, a existência de uma punição, mesmo que não das melhores, provavelmente tem algum efeito. (Mas isso é achometro).
É claro que o conhecimento da existência de uma punição tem efeito, mas é esta a questão: Para que prender ladrões de galinha? Há puniões muito mais eficazes e melhores para a sociedade.
Acontece que jogar papel no chão é algo público e notório, e não custa nada jogar o papel no lixo; ninguém vai obter nenhuma vantagem jogando papel no chão ao invés de jogar no lixo. É diferente de furtar algo de valor econômico. Se jogar o papel no lixo tivesse algum custo direto para a pulação, se eles tivessem que colocar uma moedinha para abrir a tampa do cesto, pode ter certeza de que muitos assumiriam o risco de jogar o papel no chão. E alguns até ficariam "experts" na arte de jogar papel no chão sem serem pegos...
Hehehe. Claro, não acaba de maneira geral quando envolve o bolso.
Então, os papéis no lixo da Ásia não sutentam a política criminal "Tolerância Zero"... Não tem mais papéis no chão lá, mas os furtos e assassinatos não deixarão de acontecer, porque são praticados por criminosos de verdade e não pelo perigoso meliante Louie (aquele do Pica-Pau, que sujava as ruas com papel e ninguém conseguia prendê-lo).
Mas eu imagino que reduza bastante. Conheço pessoas, ricas!, que roubam sorvetes para não pagar um real. Se esses filhos-das-putas, com o perdão da expressão, tomasse um trauma grande por causa disso, ou soubessem de alguém que tomou, duvido que roubariam sorvetes.
A vergonha de ser pego seria uma punição bastante eficiente para essas pessoas ricas... Restituir em dobro o dano causado e trabalhar um mês na fábrica de sorvete ou como segurança/vigia do estabelecimento seria uma ótima punição.
Para que prender e movimentar o Judiciário por causa de um sorvete?
Este texto sequer tem fundamentos, é mais do que falacioso e acabaei de contestá-lo no tópico acima.
E eu acabei de contestar a sua contestação.
Mioto, vai me desculpar, mas, o que você contestou?
Eu apresentei um artigo de uma autoridade no assunto que trazia dados que afastavam as teses "Janela Quebrada" e "Tolerância Zero" (lembrando que são teses distintas), uma reportagem da BBC confirmando e trazendo mais dados, e um estudo antropológico que traz dados mais específicos ainda, demonstrando que inúmeros fatores contribuíram para a redução dos índices de criminalidade nos EUA e que "crimes de verdade" (como tráfico de drogas, assaltos, homicídios) não sofreram qualquer influência da política equivocada da "Tolerância Zero"...
Você apenas deu seu parecer sobre apenas um texto, pedindo algumas explicações que já estão presentes nas outras duas fontes.
Se quer contestar algo, comece por desmentir todos os dados apontados.
O artiguinho que você citou já começa com um raciocínio equivocado que vai de encontro a todos os princípios de argumentação e investigação científica que nós tanto defendemos. É o reflexo da falácia
Post Hoc Ergo Propter Hoc (
Non Causa Pro Causa), assumindo que a política "Tolerância Zero" é a responsável pela diminuição da criminalidade, sem, contudo, analisar todo o resto... Todo o texto é feito sob um raciocínio dedutivo... "'A' aconteceu e 'B' reduziu, logo 'A' causou a redução de 'B'"... Nada mais falacioso, como bem salientou Aury Celso Lima Lopes Júnior...
Um abraço, cara.
Outro para você,
Saudações!