Autor Tópico: Era feito aquela gente honesta...  (Lida 5666 vezes)

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Offline Donatello

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Era feito aquela gente honesta...
« Online: 10 de Novembro de 2005, 12:53:04 »
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida, que tem, no fim da tarde, a sensação da missão cumprida.
Eu tenho medo do cidadão de bem.

O cidadão de bem não gosta muito das minorias (são vagabundos e/ ou pervertidos), a não ser que ele se torne um, ao votar num candidato derrotado: aí ele se afirma injustiçado ante um governo autoritário e corrupto.

O cidadão de bem não faz caridade, nem aprova políticas sociais: quem não tem onde morar e passa fome deve torcer para um governante liberal diminuir a carga tributária e fomentar a economia; assim, em uns 5 anos talvez o pobre consiga um emprego e possa comer.

O cidadão de bem acha que bandido bom é bandido morto, que as ONGs só defendem os direitos humanos dos bandidos. Mas quando o filho vai preso por matar alguém em um racha, por tráfico de drogas ou por incendiar um índio, ele rapidamente "mexe os pauzinhos" para tirá-lo da cadeia.

O cidadão de bem faz loas à polícia truculenta (verdadeiros heróis contra a bandidagem), daquelas que chacina em penitenciárias, praças e bares periféricos, mas desacata de forma preconceituosa e tenta dar carteirada ("Você sabe com quem está falando?") quando tem problemas com a lei.

O cidadão de bem adora um militarismo, assiste à parada de 7 de setembro e sempre reclama da falta de dinheiro das Forças Armadas, mas "agiliza os contatos" para que o filho não preste o serviço militar obrigatório.

O cidadão de bem é defensor da ordem pública e da justiça, mas sempre tenta burlar tudo, seja furando filas, seja subornando fiscais quaisquer.

O cidadão de bem é democrata mas tem certa nostalgia da ditadura, "quando havia ordem"; cristão, defende a pena de morte e é contra o aborto (a não ser que sua filha adolescente fique grávida) e qualquer movimento popular (grevistas, ambientalistas, defensores de minorias, manifestantes em geral).

O cidadão de bem chama posseiros e até índios de vagabundos parasitas, mas usa o tal "direito à propriedade" para defender latifúndios.

O cidadão de bem vota em políticos com anel de doutor que empreendem grandes obras viárias (só para carros), constroem mais presídios que escolas, endurecem leis criminais e ignoram desigualdades sociais, usam força policial contra manifestações pacíficas e conduzem higienizações sociais, removendo os pobres do centro.

O cidadão de bem anda armado para se defender dos bandidos. E eventualmente, para lavar a honra com sangue, como um certo diretor de grande jornal.

Enfim, onde há injustiça, miséria, violência e morte, lá está o cidadão de bem. Mas deve ser coincidência.



Folie a Deux

Offline Rodion

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #1 Online: 10 de Novembro de 2005, 13:31:16 »
preconceitos condensados...
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Claudio Loredo

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #2 Online: 10 de Novembro de 2005, 16:30:54 »
Para o texto fazer sentido, ao invés de usar as palavras "cidadão de bem", o correto seria usar as palavras "cidadão da extrema direita".  :geek-tooth:   :comando:  . Se bem que o cidadão da extrema direita se considera o cidadão de bem.
Claudio Loredo

Offline Roberto

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Re: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #3 Online: 10 de Novembro de 2005, 16:30:55 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida, que tem, no fim da tarde, a sensação da missão cumprida.
Eu tenho medo do cidadão de bem. (...)


Puta merda, quanta baboseira. É nisso que dá usar o intestino no lugar do cérebro como órgão pensante.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Kao

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #4 Online: 10 de Novembro de 2005, 16:44:37 »
Pior que tem gente que não gosta que chamem bandidos de bandidos.  Esse texto é completamente idiota.

Offline Buckaroo Banzai

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #5 Online: 10 de Novembro de 2005, 17:30:29 »
como será que o autor se definiria? Cidadão neutro? Cidadão além do bem e do mal? Cidadão politicamente correto? Cidadão de extrema esquerda? Bandido? Ah, acho que só "ser humano", sem esses "rótulos"....  :roll:

Offline Donatello

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Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #6 Online: 10 de Novembro de 2005, 17:38:39 »
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Para o texto fazer sentido, ao invés de usar as palavras "cidadão de bem", o correto seria usar as palavras "cidadão da extrema direita".   . Se bem que o cidadão da extrema direita se considera o cidadão de bem.


Bem,Cláudio...o autor do texto não sou eu(muito embora eu realmente concorde radicalmente com o que está escrito nele,caso contrário não teria postado)...é de um amigo meu cuja url está no final do texto.Mas o que ele disse é isso aí mesmo...talvez eu utilizasse o trocadilho cidadão de bens,que acredito sintetizar bem este tipo de praga humana.

A utilização da expressão "cidadão de bem" é justificada pelo fato de que este é um termo comum em qualquer discurso pró-pena de morte ou pró-redução da maioridade penal ou anti-aborto ou anti-liberdade sexual...Pergunte àquela sua conhecida que conseguiu burlar as regras do proer para inscrever o filhote dela no benefício sobre os motivos que ela possui para defender a pena de morte e conte os segundos até ela soltar um "Nós,os cidadãos de bem...".Converse sobre as razões pelas quais aquele seu professor que teve um filho preso por tráfico de ecstasy,mas que defende a redução da maioridade penal para menores infratores (que na cabeça dele são aqueles crioulinhos que fazem limonada no asfalto) e espere conte o número de vezes em que,exaltado,ele vai dizer "Os cidadãos de bem não podem ficar submissos a esses marginais!!!"


Então,é disso que o texto fala,ok?

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preconceitos condensados...

É...preconceito tem se tornado uma palavra tão específica quanto coisa,e isso enche o saco as vezes...Conceito antecipado sobre que mesmo que o texto apresenta?

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Puta merda, quanta baboseira. É nisso que dá usar o intestino no lugar do cérebro como órgão pensante.


Se você tiver feito exame de q.i. alguma vez na vida e tenha dado mais do que 146,se você tiver vivido a experiência de prestar um vestibular com 90.000(NOVENTA MIL) candidatos e  passar entre os 300(TREZENTOS) primeiros colocados (UERJ-2004-86 PONTOS),se você já tiver experimentado a sensação de ser o décimo-sexto colocado em um concurso para o qual concorreram 24.000 candidatos(FAETEC-Rio de Janeiro-2002-42,8 pontos),se você tiver feito 93 pontos no ENEM (e esse foi um desempenho ridículo,ao meu ver),se você tiver feito tudo isso sem nunca ter pisado em um curso preparatório,tendo cursado os dois últimos anos do ensino médio e os três últimos do fundamental via ensino supletivo(popular mobral) por ter sido obrigado a abandonar os estudos durante nove anos,e se tiver estudado desde a terceira série em escola pública...então eu me abstenho de dizer que existe neste tópico um retardado que acha que a melhor maneira de debater posições político-ideológicas divergentes é dizer que o oponente intelectual não pensa.
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Pior que tem gente que não gosta que chamem bandidos de bandidos. Esse texto é completamente idiota


Você está enganado,Kao.Nem eu nem o Vanzo(autor do texto) achamos que bandido não deva ser chamado de bandido.O que não entendemos é o motivo que leva a sociedade a identificar o criminoso pobre como bandido e o criminoso rico como jovem estudante de classe média envolvido com o tráfico.
Se você pudesse me explicar esta diferenciação(que me é explícita quando assisto o noticiário policial no Jornal Nacional, por exemplo ,ou quando leio duas notícias sobre prisão de traficantes oriundos de diferentes camadas sociais em um mesmo jornal ) de uma maneira menos idiota...eu agradeço.

Abraços e beijinhos,garoto.

Rhyan

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Re: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #7 Online: 10 de Novembro de 2005, 18:06:03 »
Que texto horrível!

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O cidadão de bem não faz caridade, nem aprova políticas sociais:

Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Faz caridade quem quer. Politicas sociais como dizia o Roberto Campos, tira de quem contribiu com o país para dar pra quem não contribui. Que tal fazer um referendo perguntando quem quer pagar imposto para os necessitados? Seria ótimo, ajudava quem quer.

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quem não tem onde morar e passa fome deve torcer para um governante liberal diminuir a carga tributária e fomentar a economia; assim, em uns 5 anos talvez o pobre consiga um emprego e possa comer.

5 anos?, sei não. Melhor que um estado paternalista que fica gastando uma dinheirão que não dá retorno nenhum ao país.

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O cidadão de bem acha que bandido bom é bandido morto, que as ONGs só defendem os direitos humanos dos bandidos. Mas quando o filho vai preso por matar alguém em um racha, por tráfico de drogas ou por incendiar um índio, ele rapidamente "mexe os pauzinhos" para tirá-lo da cadeia.
Esqueceu de dizer que essas ONGs pró-bandidos não vão ajudar vítimas de bala perdida, assalto, sequestro, etc.. Eles só querem aparecer quando o contadinho do bandido está sofrendo.

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O cidadão de bem adora um militarismo, assiste à parada de 7 de setembro e sempre reclama da falta de dinheiro das Forças Armadas, mas "agiliza os contatos" para que o filho não preste o serviço militar obrigatório.

Nossa, nesta parte fica evidente que o autor abusou das drogas.

Parei, o texto é muito infantil.

Offline Roberto

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Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #8 Online: 10 de Novembro de 2005, 18:06:36 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Se você tiver feito exame de q.i. alguma vez na vida e tenha dado mais do que 146,se você tiver vivido a experiência de prestar um vestibular com 90.000(NOVENTA MIL) candidatos e  passar entre os 300(TREZENTOS) primeiros colocados (UERJ-2004-86 PONTOS),se você já tiver experimentado a sensação de ser o décimo-sexto colocado em um concurso para o qual concorreram 24.000 candidatos(FAETEC-Rio de Janeiro-2002-42,8 pontos),se você tiver feito 93 pontos no ENEM (e esse foi um desempenho ridículo,ao meu ver),se você tiver feito tudo isso sem nunca ter pisado em um curso preparatório,tendo cursado os dois últimos anos do ensino médio e os três últimos do fundamental via ensino supletivo(popular mobral) por ter sido obrigado a abandonar os estudos durante nove anos,e se tiver estudado desde a terceira série em escola pública...então eu me abstenho de dizer que existe neste tópico um retardado que acha que a melhor maneira de debater posições político-ideológicas divergentes é dizer que o oponente intelectual não pensa.


Olha, eu nunca fiz teste de QI. Meu irmão caçula fez, lá nos EUA. 185, o score dele. Talvez eu seja mais "burro" que ele, sei lá, mas não tanto que não consiga bater esses 146 aí. Bem, eu já publiquei quatro livros de informática, escrevi o capítulo de um livro, também de informática (chama-se "Inside ASP.NET", escrevi o capítulo 6), que foi publicado nos EUA, fui revisor de vários livros ténicos de Informática, publicados aqui e nos EUA, tudo isso sem ter nunca passado perto de um curso regular de Informática (nem de nível médio). Ah, e agora estou para publicar meu primeiro artigo científico, na área de Física (e acho que vai dar um PRB, o que para uma estréia tá de bom tamanho), sem ter terminado a faculdade de Física ainda. Tenho meus dotes, portanto  :wink: E daí  :? ? Se, com tudo isso, eu disser um monte de besteira, uma autêntica diarréia mental, sobre assuntos que não domino, vai deixar de ser besteira porque meu currículo é fodão? Sugira ao seu amigo que se ocupe mais do conteúdo do que com o estilo (que também não está lá essas coisas) daquilo que ele escreve.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Donatello

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #9 Online: 10 de Novembro de 2005, 18:27:22 »
Viu só?Vc conseguiu fazer parecer que eu não tinha lido direito o que você escreveu.Liga não...eu desfaço esta impressão:você não disse que o texto era uma bosta,quem disse isto foi o Kao,e note que a resposta que dei para ele foi bem diferente da que te ofertei.

O que você disse,com todas as letras,é que eu não tenho cérebro,que meu cérebro é um saco de merda...O que fica a léguas de dizer que o texto que postei era uma porcaria,ok?

Então, já que provou não ser tão burro,discuta (caso queira) o ponto de vista que o texto apresenta e abstenha-se de me chamar de retardado,até porque desmerecer a capacidade intelectual de um oponente em um debate de idéias é tido por quem assiste a discussão como um tiro no pé.É falácia conhecida como "envenenar o poço".De modo geral ,quando um debatedor lança frases do tipo "Você é um retardado!""Você é um imbecil" "Seu cérebro é uma caixa de bosta" isso indica para os espectadores do debate que o sujeito está tentando atribuir ao outro qualidades que são peculiares a ele.

No hardfeelings.Vamos ao confronto de idéias...

Ps.:Engraçado o seu irmão ter obtido 185 graus no exame de quociente intelectual,já que a tabela convencional deste exame só vai até 180.Engraçado.Quando eu lí estranhei,sempre soube que o QI máximo era 180,e que números acima disso eram atribuídos somente a gênios da humanidade,como uma medalha de honra ao mérito ou coisa que valha...É como se dissesse:este aí virou a máquina!Fui conferir e encontrei este siteque confirma a minha suspeita.Ou você é irmão do Stephen Hawking...ou tem algo errado no seu relato.

Offline Donatello

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Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #10 Online: 10 de Novembro de 2005, 19:45:27 »
Aliás,alguém aí consegue me dizer a diferença entre estas duas notícias publicadas no O Globo de hoje?

Notícia 1

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Rio, 10 de novembro de 2005  Versão impressa
 
 
Jovens de Niterói fazem um arrastão em Icaraí

Ana Carolina Torres*

Quinze jovens, de boa aparência e bem vestidos, foram protagonistas de cenas de violência anteontem à noite no bairro de Icaraí, na Zona Sul de Niterói. A pé e em bicicletas, os rapazes fizeram um arrastão: assaltaram seis pessoas e espancaram duas com socos, pontapés e golpes de corrente. Dois integrantes do grupo foram presos: o estudante Diemisson Lemos Rodrigues, de 19 anos, e Fabiano Figueiredo Marques, de 21, ambos moradores de Santa Rosa, também na Zona Sul de Niterói. Eles estão na carceragem da 76 DP (Centro).

A confusão começou por volta das 21h, quando o grupo de jovens passou pela Rua Gavião Peixoto, na altura do Campo de São Bento. Lá, fizeram as primeiras cinco vítimas, que tiveram mochilas, relógios e tênis roubados. Uma delas foi agredida. De lá, os rapazes seguiram para a Praia de Icaraí, onde assaltaram um estudante de 22 anos. Ele também foi espancado e teve o celular, a mochila e os tênis levados.

Esta notícia foi extraída do site (estou com preguiça de digitar),é apenas o trecho inicial da matéria que saiu no jornal...na continuação os "meninos" são citados como jovens de classe média,suspeitos (apesar de terem sido presos em flagrante) e acusados(a despeito de terem sido presos e m flagrante).Não se lê os termos bandido e criminoso nenhuma vez sequer ao longo de toda a matéria.

Notícia 2
A reportagem seguinte está na íntegra,do mesmo jeito que aparece no jornal de papel e tinta.

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Rio, 10 de novembro de 2005  Versão impressa
 
 
Bandido que atirou no carro de Flora Gil é preso


Policiais da 10 DP (Botafogo) apresentaram ontem o ladrão que atirou no carro de Flora Gil, mulher do ministro da Cultura, Gilberto Gil, em uma tentativa de assalto em maio, em Botafogo. Edvaldo Lima da Silva, o Capilé, que ficou com os dedos presos na porta e dando tiros no vidro blindado do carro de Flora, estava escondido em São Gonçalo. Seu cúmplice, Edson Moura, está preso desde junho, quando foi encontrado na favela da Rocinha. Com a prisão de Edvaldo, Flora Gil e sua irmã, Fátima Giordano, estão mais tranqüilas.

— Posso dizer que estou aliviada por ele estar preso. Agora sei que não corro mais o risco de encontrar com esse homem pelas ruas. Posso voltar a dormir em paz — disse Fátima Giordano, que dirigia o carro no momento do assalto.

Edvaldo foi preso na tarde de segunda-feira na Rua Alcindo Guanabara, em São Gonçalo, perto da casa do pai e da avó. Segundo a polícia, ele havia alugado um quarto, onde ficava escondido. Edvaldo e o cúmplice Edson trabalhavam como mototaxistas na Favela da Rocinha.

— Eu não queria matar ninguém, só queria a bolsa dela — disse Edvaldo, que confessou o crime ao ser preso.

 
 


Quando eu fazia faculdade de jornalismo(abandonei) falava-se muito de uma certa adequação vocabular...deve ser isso.

Offline Buckaroo Banzai

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Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #11 Online: 10 de Novembro de 2005, 20:12:29 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Aliás,alguém aí consegue me dizer a diferença entre estas duas notícias publicadas no O Globo de hoje?

Notícia 1

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Rio, 10 de novembro de 2005  Versão impressa
 
 
Jovens de Niterói fazem um arrastão em Icaraí

Ana Carolina Torres*

Quinze jovens, de boa aparência e bem vestidos, foram protagonistas de cenas de violência anteontem à noite no bairro de Icaraí, na Zona Sul de Niterói. A pé e em bicicletas, os rapazes fizeram um arrastão:assaltaram  seis pessoas e espancaram duas com socos, pontapés e golpes de corrente. Dois integrantes do grupo foram presos: o estudante Diemisson Lemos Rodrigues, de 19 anos, e Fabiano Figueiredo Marques, de 21, ambos moradores de Santa Rosa, também na Zona Sul de Niterói. Eles estão na carceragem da 76 DP (Centro).

A confusão começou por volta das 21h, quando o grupo de jovens passou pela Rua Gavião Peixoto, na altura do Campo de São Bento. Lá, fizeram as primeiras cinco vítimas, que tiveram mochilas, relógios e tênis roubados. Uma delas foi agredida. De lá, os rapazes seguiram para a Praia de Icaraí, onde assaltaram um estudante de 22 anos. Ele também foi espancado e teve o celular, a mochila e os tênis levados.


Notícia 2

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Rio, 10 de novembro de 2005  Versão impressa
 
 
Bandido que atirou no carro de Flora Gil é preso


Policiais da 10 DP (Botafogo) apresentaram ontem o ladrão que atirou no carro de Flora Gil, mulher do ministro da Cultura, Gilberto Gil, em uma tentativa de assalto em maio, em Botafogo. Edvaldo Lima da Silva, o Capilé, que ficou com os dedos presos na porta e dando tiros no vidro blindado do carro de Flora, estava escondido em São Gonçalo. Seu cúmplice, Edson Moura, está preso desde junho, quando foi encontrado na favela da Rocinha. Com a prisão de Edvaldo, Flora Gil e sua irmã, Fátima Giordano, estão mais tranqüilas.

— Posso dizer que estou aliviada por ele estar preso. Agora sei que não corro mais o risco de encontrar com esse homem pelas ruas. Posso voltar a dormir em paz — disse Fátima Giordano, que dirigia o carro no momento do assalto.

Edvaldo foi preso na tarde de segunda-feira na Rua Alcindo Guanabara, em São Gonçalo, perto da casa do pai e da avó. Segundo a polícia, ele havia alugado um quarto, onde ficava escondido. Edvaldo e o cúmplice Edson trabalhavam como mototaxistas na Favela da Rocinha.

— Eu não queria matar ninguém, só queria a bolsa dela — disse Edvaldo, que confessou o crime ao ser preso.

 
 


Quando eu fazia faculdade de jornalismo(abandonei) falava-se muito de uma certa adequação vocabular...deve ser isso.


Acho que a primeira talvez não enfatize igualmente que foram cometidos crimes, por criminosos, ou talvez não fique suficientemente claro sem grifar. A diferença mais significativa é que os criminosos no primeiro caso foram taxados como "estudantes", enquanto no segundo foram taxados de "ladrões", quando poderia ter sido usado o análogo "mototaxistas".

Acho que isso deve justificar todas as generalizações do primeiro texto, e tem um monte de gente que sim, se diz "cidadão de bem" que são na verdade nazistas, e o resto das pessoas todas são apenas vítimas deles.

Offline n/a

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #12 Online: 10 de Novembro de 2005, 20:41:58 »
Por favor, contenham-se na troca de elogios para que não recebam cartões amarelos.  :wink:

Offline Rodion

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #13 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:16:28 »
rapaz, se você não gosta da palavra preconceito, procure um sinômino. se adequa bem ao texto em questão.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Roberto

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Re: Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #14 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:21:32 »
Citação de: Daniel Reynaldo
O que você disse,com todas as letras,é que eu não tenho cérebro,que meu cérebro é um saco de merda...O que fica a léguas de dizer que o texto que postei era uma porcaria,ok?


O que eu disse foi só uma frase provocativa, bem adequada como contra-resposta a um texto que também é meramente uma provocação (ou tinha o autor, que não é você, outra intenção além dessa :?: ). Vesti a carapuça do "cidadão de bem" -- que é como eu me identifico -- achincalhado pelo texto... e paguei na mesma moeda. Olho por olho, véio.

Citação de: Daniel Reynaldo
No hardfeelings.Vamos ao confronto de idéias...´


Então apresente as idéias.

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Ps.:Engraçado o seu irmão ter obtido 185 graus no exame de quociente intelectual,já que a tabela convencional deste exame só vai até 180.


Hmmmm... eu tinha lido em algum lugar (acho que foi na Veja) que o Roger, vocalista do Ultraje a Rigor, tinha um QI 172 e, se bem me lembro, contei pra minha mãe (que estava nos EUA com o brother) e foi aí que ela me disse que ele tinha feito o teste e obtido 185 (o que a deixou bem impressionada, deve ter achado que o Roger, com esse nome, era algum cientista americano).

Mas não tem diferenças entre os testes Binet e Cattel, ou algo assim  :?:  Parece que a pontuação de um é menor que a do outro.

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Ou você é irmão do Stephen Hawking...ou tem algo errado no seu relato.


Não, não, ele não é o Stephen Hawking. Ele move bem mais do que as pálpebras e, infelizmente, só tem usado a cabeça ultimamente para bater na parede. Nem fazer faculdade quis.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Roberto

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Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #15 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:33:14 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Quando eu fazia faculdade de jornalismo(abandonei) falava-se muito de uma certa adequação vocabular...deve ser isso.


Pois é, é a mesma que se usa para chamar um criminoso menor de idade -- como o Champinha, que trucidou um casal de namorados em Embu-Guaçu -- de "menor infrator", jamais de bandido e só muito raramente de marginal (e mesmo assim tem que torcer pra nenhuma ONG de defesa dos direitos humanos ler o jornal no dia). Mas o que tem realmente a ver a adequação vocabular d'O Globo com os cidadãos de bem  :?:
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Donatello

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #16 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:41:50 »
Citação de: bruno
rapaz, se você não gosta da palavra preconceito, procure um sinômino. se adequa bem ao texto em questão.

Eu já postei o sinônimo de preconceito:conceito antecipado que se forma sobre algo.Este definitivamente não é o caso do texto,que trata da posição hipócrita dominante na classe média brasileira que exige políticas de repressão policial ostensiva, redução de maioridade penal,endurecimento das penas para os criminosos pobres e que, ao mesmo tempo,mas trata seus próprios crimes como se não o fossem...

Não é julgamento antecipado,é a posteriori.

Você poderia dizer que é intransigente(o que eu não considero falta de virtude) mas não que é preconceituoso,aí está o problema:as pessoas estão achando que preconceituoso é o hiperônimo máximo das posições intelectuais despresiveis,então quando querem dizer que alguém é intransigente:"você é preconceituoso",discriminador:"sai daí o preconceituoso",defensor ardoroso de um ideal:"cala a boca, ô preconceituoso!"...usam a palavra preconceito como se ela fosse sinônimo universal de tudo que é pensamento contrário.

Mas preconceito só é sinônimo de julgamento antecipado,e de mais nada,ok?

Offline Roberto

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Re: Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #17 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:53:54 »
Citação de: bruno
preconceitos condensados...


De repente, não sei se notaram, virou moda desancar a classe média (que é quem melhor se enquadra nesse estereótipo chamado "cidadão de bem"). A classe média é reacionária, alienada, fútil, preconceituosa, racista, estúpida, manipulável... Pertencer à classe média, ser um "cidadão de bem", deveria mesmo é ser motivo de vergonha. (Mas, por favor, amigos "medios", nem pensar em parar de trabalhar e de pagar impostos, hein.)
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Offline Donatello

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« Resposta #18 Online: 10 de Novembro de 2005, 21:58:06 »
Citação de: Roberto
Hmmmm... eu tinha lido em algum lugar (acho que foi na Veja) que o Roger, vocalista do Ultraje a Rigor, tinha um QI 172 e, se bem me lembro, contei pra minha mãe (que estava nos EUA com o brother) e foi aí que ela me disse que ele tinha feito o teste e obtido 185 (o que a deixou bem impressionada, deve ter achado que o Roger, com esse nome, era algum cientista americano).


Mas o Roger realmente tem 172 graus,isso é possível e eu até já sabia.Ele pertence a um clube de superdotados e já o ví falando sobre isso numa Galileu e no Programa do Jô...Impossível é o seu irmão ter os 185 que você disse.

Citação de: Roberto
Pois é, é a mesma que se usa para chamar um criminoso menor de idade -- como o Champinha, que trucidou um casal de namorados em Embu-Guaçu -- de "menor infrator", jamais de bandido e só muito raramente de marginal (e mesmo assim tem que torcer pra nenhuma ONG de defesa dos direitos humanos ler o jornal no dia). Mas o que tem realmente a ver a adequação vocabular d'O Globo com os cidadãos de bem


Já que você falou no Champinha,aí vai um texto que diz o mesmo que o do Vanzo outra maneira,quem sabe mais agradável para você:

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por Marilene Felinto  
A morte da menina rica e o ódio de classe



A morte de uma menina rica, assassinada no município de Embu-Guaçu, Grande São Paulo, em novembro último, supostamente por uma quadrilha que inclui um adolescente de 16 anos, pobre e morador da periferia do Embu, deixou claro, mais uma vez (até a exaustão, vamos lá), que o Brasil tem dois tipos de cidadão: que o valor de cada coisa – de cada pessoa – é seu preço no mercado, como afirma Josep Ramoneda.

Está claro que o rabino H. Sobel, ao pedir a instituição da pena de morte no Brasil, só ousou fazê-lo porque a jovem morta, Liana Friedenbach, pertencia à comunidade judaica de São Paulo. A hipocrisia do rabino é flagrante: está claro que ele defende a pena de morte para brasileiros pobres. No seu delírio, o rabino deve ter achado que aqui é uma espécie de Israel – e que a esmagadora maioria dos brasileiros, da classe pobre, é uma espécie de Palestina a ser eliminada da face da terra! Ora, até que ponto se pode chegar?

Está claro que todo esse rebuliço em torno do assassinato da jovem de 16 anos e de seu namorado, Felipe Caffé, 19, não teria acontecido se a vítima tivesse sido apenas este último, filho da classe média baixa e sem nenhuma “comunidade” forte por trás. Somente por tabela o nome de Felipe foi lembrado em programas de televisão e na tal passeata “contra a violência”, que ocorreu em São Paulo em meados de novembro.

O negócio mesmo era Liana, cujo pai em desespero pôde mover até mesmo helicóptero para ir a seu encalço. E pôde, com apoio da tal comunidade, ter acesso a todo tipo de mídia, do mais rasteiro programa de televisão da apresentadora Hebe Camargo e seus ares de xaveco fascista a entrevistas de página inteira à nata da imprensa que serve à elite.

Por acaso a classe alta saiu às ruas para pedir a pena de morte para outra menina rica paulista, Suzane Richthofen, acusada de planejar o assassinato dos próprios pais, junto com o namorado, em 2002? Por acaso a classe alta pediu pena de morte para o também jovem paulista Jorge Bouchabki, acusado (e depois inocentado) em 1988 do assassinato dos pais, no famoso “crime da rua Cuba”?

O caso de Liana Friedenbach reúne todos os elementos da hipocrisia da elite paulista – esta de nomes estrangeirados, pronta para impor-se, para humilhar e esmagar sob seus pés os espantados “silvas”, “sousas”, “costas” e outros nomezinhos portugueses e “afro-escravos”. O pai da moça, o advogado Ari Friedenbach, empenha-se agora em conseguir mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Disse a um jornal de São Paulo que a fotografia de R.A.A.C., 16 anos, acusado de matar sua filha, deveria aparecer nos jornais. Disse também que é “radicalmente a favor” da redução da maioridade penal e que “nossos legisladores se fazem de surdos quando a população clama por isso”. Que população? A que “população” se refere o senhor Friedenbach? Eu mesma não me incluo nessa “população”! Aposto que os jovens da periferia, seus pais ou a mãe de R.A.A.C. também não se incluem. A “população” a que ele se refere é a própria comunidade dele (ou grande parte dela), a classe rica, concentradora de renda num dos países mais desiguais do mundo – o Brasil onde um rico ganha trinta vezes mais do que um pobre!

Uma pesquisa do IPEA publicada em 2001 mostra a ganância e a concentração de renda perpetradas escandalosamente pela elite brasileira: mostra a razão entre a renda dos 20 por cento mais ricos e a dos 20 por cento mais pobres, ou seja, quanto um rico ganha mais do que um pobre em diversos países do mundo. “Platão dizia que esse número tinha que ser 4, ninguém sabe de onde ele tirou o 4, mas ele dizia que o rico tinha que ganhar quatro vezes mais do que os pobres. Na Holanda, um rico ganha 5,5 vezes mais do que um pobre. No Brasil, ganha 25, 30 vezes mais! Nos Estados Unidos, é 10; no Uruguai, também é 10. Então, vê-se aqui o alto nível de desigualdade e a estabilidade dessa desigualdade.”

Agora vem esse rabino pedir pena de morte no Brasil para crimes hediondos. Nos Estados Unidos, que tem pena de morte, os crimes são cada vez mais “hediondos” – conceito, aliás, sem sentido. O que torna um crime mais “hediondo” que outro? Só se for a classe social da vítima: quando é rica e loirinha, então, o crime é mais hediondo do que se a vítima for um “Pernambuco” qualquer, também de 16 anos, morador do Jardim Ângela ou do Capão Redondo, periferia de São Paulo, morto por outro “Pernambuco” de 16 anos, também sem sobrenome. Todo dia morrem às pencas jovens assassinados por outros jovens nas favelas e aglomerados pobres das periferias das grandes cidades – nem por isso há movimentos pela pena de morte ou pela redução da maioridade penal.

A elite brasileira vive mesmo fora da realidade. Não tem idéia do ódio que a diferença de classe insufla todo dia nas gerações de jovens pobres que povoam o país de ponta a ponta, que vagam pelas matas ou pelo asfalto das ruas sem nenhuma perspectiva. Esse R.A.A.C. mal tinha freqüentado a escola. Ele supostamente disse à polícia que, ao caminhar pela mata com outro acusado do crime, “avistaram o casal (Liana e Felipe), cuja aparência física destoava das pessoas que normalmente freqüentam o local”.

O ódio de classe – quem já conviveu com jovens pobres de favelas e periferias conhece esse sentimento. Tudo destoa, humilhando-os, provocando neles desprezo e raiva: a aparência física, a roupa, a escola, a comida, o carro, o jeito, o hospital, o tratamento policial, o enterro. Ora, a polícia de São Paulo jamais iria se bandear daqui para Pernambuco atrás do outro acusado de matar o casal de namorados (em poucos dias encontraram dentro de um ônibus no sertão pernambucano Paulo César da Silva Marques, 32 anos, vulgo “Pernambuco”) se o jovem morto fosse um pernambucanozinho qualquer sem eira nem beira.

Está clara a hipocrisia. A imprensa não trata da violência que essa desigualdade social imposta diuturnamente aos jovens pobres significa. Não trata desse veneno que a elite brasileira truculenta injeta todo santo dia na veia dos meninos. Jovens como R.A.A.C. sabem que não valem nada no mercado. Eles sabem que não passam de “Pernambucos” condenados ao preconceito de classe, à exclusão total, à humilhação. Eles sabem que nada têm a perder – por isso matam. A vida, para eles, dentro ou fora de uma unidade da Febem ou de uma cadeia não faz muita diferença.

Da apresentadora de televisão que se julga no direito de matar R.A.A. C. (Hebe Camargo) ao pai de Liana que quer ver o rosto do rapaz estampado nos jornais da elite, passando pelas declarações oportunistas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e sua política de segurança fascista (que propõe “endurecer” o ECA), o alvo de todos eles é o mesmo do rabino da pena de morte: o extermínio puro e simples dos jovens pobres. Para que eles continuem, em última instância, a embolsar todo mês trinta vezes mais que qualquer pai maltrapilho e desempregado da favela.

Eles fazem ouvidos moucos para a mensagem que vem da miséria. O que a “violência” diz hoje no Brasil é que ou seremos todos cidadãos ou ninguém será, ou ninguém viverá a “segurança” almejada pelos ricos. Ou serão todos cidadãos ou ninguém será. As democracias evitam sistematicamente pensar a violência e se limitam a contrapor os bons sentimentos gerais em favor da não-violência, diz Josep Ramoneda. “Se aceitarmos como critério a autonomia do sujeito, o ideal kantiano da emancipação individual, o cidadão é a figura política que corresponde a essa idéia de plenitude da pessoa humana”, afirma o estudioso espanhol. Foi a própria elite brasileira que transformou R.A.A.C. em pessoa-animal. É preciso ser intransigente com essa elite brasileira surda e cega ao ódio de classe que ela insufla. É preciso ser intransigente na defesa dos direitos humanos de R.A.A.C. Direitos humanos, sim, para a pessoa que a elite voraz e devoradora quer transformar em animal a ser caçado a laço e exposto à execração pública e à morte pela justiça popular. Mal sabe ela que R.A.A.C. passava por isso todos os dias – pela execração pública. Mal sabe a elite que exclusão social, tal qual ocorre no Brasil, é igual, sempre foi igual, sinônimo mesmo de “execração pública” e de “pena de morte”.



Marilene Felinto é escritora e jornalista.

Caros Amigos Dez/2002

ukrainian

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #19 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:10:11 »
Pobre trabalhador honesto que acorda às 4:30 da manhã pra pegar trem lotado... Colocaram-no no mesmo patamar de bandidos vagabundos.

Relativizar a honestidade é o primeiro passo ao autoritarismo. Depois, relativizarão os valores. No final, seremos considerados todos culpados até que se prove o contrário. 2+2 não será igual a 4 e ponto final, coitado de quem cometer a crimidéia de contrariar isso.

Offline Hugo

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Re: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #20 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:36:32 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida, que tem, no fim da tarde, a sensação da missão cumprida.
Eu tenho medo do cidadão de bem.

O cidadão de bem não gosta muito das minorias (são vagabundos e/ ou pervertidos), a não ser que ele se torne um, ao votar num candidato derrotado: aí ele se afirma injustiçado ante um governo autoritário e corrupto.

O cidadão de bem não faz caridade, nem aprova políticas sociais: quem não tem onde morar e passa fome deve torcer para um governante liberal diminuir a carga tributária e fomentar a economia; assim, em uns 5 anos talvez o pobre consiga um emprego e possa comer.

O cidadão de bem acha que bandido bom é bandido morto, que as ONGs só defendem os direitos humanos dos bandidos. Mas quando o filho vai preso por matar alguém em um racha, por tráfico de drogas ou por incendiar um índio, ele rapidamente "mexe os pauzinhos" para tirá-lo da cadeia.

O cidadão de bem faz loas à polícia truculenta (verdadeiros heróis contra a bandidagem), daquelas que chacina em penitenciárias, praças e bares periféricos, mas desacata de forma preconceituosa e tenta dar carteirada ("Você sabe com quem está falando?") quando tem problemas com a lei.

O cidadão de bem adora um militarismo, assiste à parada de 7 de setembro e sempre reclama da falta de dinheiro das Forças Armadas, mas "agiliza os contatos" para que o filho não preste o serviço militar obrigatório.

O cidadão de bem é defensor da ordem pública e da justiça, mas sempre tenta burlar tudo, seja furando filas, seja subornando fiscais quaisquer.

O cidadão de bem é democrata mas tem certa nostalgia da ditadura, "quando havia ordem"; cristão, defende a pena de morte e é contra o aborto (a não ser que sua filha adolescente fique grávida) e qualquer movimento popular (grevistas, ambientalistas, defensores de minorias, manifestantes em geral).

O cidadão de bem chama posseiros e até índios de vagabundos parasitas, mas usa o tal "direito à propriedade" para defender latifúndios.

O cidadão de bem vota em políticos com anel de doutor que empreendem grandes obras viárias (só para carros), constroem mais presídios que escolas, endurecem leis criminais e ignoram desigualdades sociais, usam força policial contra manifestações pacíficas e conduzem higienizações sociais, removendo os pobres do centro.

O cidadão de bem anda armado para se defender dos bandidos. E eventualmente, para lavar a honra com sangue, como um certo diretor de grande jornal.

Enfim, onde há injustiça, miséria, violência e morte, lá está o cidadão de bem. Mas deve ser coincidência.



Folie a Deux


 :clap: :clap: :clap:

Daniel, louvo sua chegada. Nós nesse site temos algo em comum: sómos ateus. Sobre soutros assuntos... temos várias divegências. Considero isso muito salutar.
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Offline Hugo

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Re: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #21 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:39:00 »
Citação de: Roberto
Citação de: Daniel Reynaldo
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida, que tem, no fim da tarde, a sensação da missão cumprida.
Eu tenho medo do cidadão de bem. (...)


Puta merda, quanta baboseira. É nisso que dá usar o intestino no lugar do cérebro como órgão pensante.


Pois é... voce só acha que usam os intestinos no lugar do cérebro quando vai de encontro com suas idéias.

Menos, menos...
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Offline Buckaroo Banzai

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Re: Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #22 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:41:12 »
Citação de: Daniel Reynaldo
Citação de: bruno
rapaz, se você não gosta da palavra preconceito, procure um sinômino. se adequa bem ao texto em questão.

Eu já postei o sinônimo de preconceito:conceito antecipado que se forma sobre algo.Este definitivamente não é o caso do texto,que trata da posição hipócrita dominante na classe média brasileira que exige políticas de repressão policial ostensiva, redução de maioridade penal,endurecimento das penas para os criminosos pobres e que, ao mesmo tempo,mas trata seus próprios crimes como se não o fossem...

Não é julgamento antecipado,é a posteriori.

Você poderia dizer que é intransigente(o que eu não considero falta de virtude) mas não que é preconceituoso,aí está o problema:as pessoas estão achando que preconceituoso é o hiperônimo máximo das posições intelectuais despresiveis,então quando querem dizer que alguém é intransigente:"você é preconceituoso",discriminador:"sai daí o preconceituoso",defensor ardoroso de um ideal:"cala a boca, ô preconceituoso!"...usam a palavra preconceito como se ela fosse sinônimo universal de tudo que é pensamento contrário.

Mas preconceito só é sinônimo de julgamento antecipado,e de mais nada,ok?



Acho que a o texto incorre mais em "generalização" do que "preconceito", mas generalização é uma forma de preconceito, de qualquer forma.

Onde você já viu pessoas defendendo instituição diferencial de penas de acordo com a classe social? Não deve ter sido um "representante oficial da classe média", ou um "representante oficial dos cidadões de bem".

Offline Hugo

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Re: Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #23 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:41:19 »
Citação de: Kao
Pior que tem gente que não gosta que chamem bandidos de bandidos.  Esse texto é completamente idiota.


Quem lê jornais e revistas (informativas) está cansado de ler "estudantes", "jovens de classe média", ao invés de BANDIDOS.
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ukrainian

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Re.: Era feito aquela gente honesta...
« Resposta #24 Online: 10 de Novembro de 2005, 22:41:21 »
Eu escrevo cidadão de BEM, sem aspas e com maiúsculas no BEM. Pois sei que a classe trabalhadora é digna e honesta.

Enfim, o esquerdismo é uma doença infantil, que deve ser tratada com muita leitura de Marx e Lenin.

 

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