Atualmente, o volume de publicidade apresentado pela revista reforça a relação entre consumo de bens e consumo de informações de um setor da sociedade identificado como "classe média", que necessita de certos parâmetros de conhecimento comum com o intuito de socialização e ainda necessita conhecer as últimas novidades comerciais para satisfazer a insaciável vontade de adquirir bens materiais e simbólicos que possam dar sustentação ao seu modus vivendi. A informação passa a ser então mais um produto a ser consumido.
Não lembro se li todos esses links, provavelmente não (e possivelmente por preguiça mesmo), mas por hora vou comentar só esse trecho. Me pareceu beirar o absurdo. A começar, tem um ranço contra "produtos a serem consumidos". Eu diria, "E DAÍ" que a informação é só um produto a ser consumido? (Aqui desconsidero do ato de pagar por coisas que se quer ter qualquer implicação terrível que possa ter sob um viés marxista ou sei lá o que).
Mas isso é o de menos. O pior é o que vem antes. Quem escreveu isso provavelmente não deve ter a menor noção do que é ter uma publicação impressa. Ter anúncios simplesmente DÁ DINHEIRO. É simples assim. A revista tem circulação, as empresas tem coisas para vender, compram anúncios, e eles são postos no meio da revista. Assim os donos da revista tem mais dinheiro e etc. Não é um complô capitalista maquiavélico para alienação em massa e nem dá base a qualquer diagnóstico psicanalítico da sociedade burguesa decadente a partir disso.
Não que não tenha um bando de boçaizinhos que só queiram mesmo saber estar na moda consumindo os últimos produtos, e talvez tenham anuncios de revistas como referência. Mas sei lá. Acho que ter anúncios do que quer que seja, em qualquer publicação, está longe de ser esse drama todo que estão colocando.
A imprensa só trata de assuntos que interessam, obviamente, ao corpo produtor de notícia (jornalistas da redação) e ao corpo consumidor de notícias – todos, indesviavelmente, de classe média para cima.
Bem, provavelmente não é algo que não se possa dizer que não seja em algo verdade, mas não acho que chega a se dar em proporções exatamente dramáticas, como se nunca houvesse nada que interessasse da classe média para baixo. É muito fácil colocar essa frase assim de forma taxativa, mas será que tem um lavantamento disso? Pegarem N notícias aleatórias, e constatarem que é só, sei lá o que seria estritamente de classe média para cima... sobre os problemas que o ar condicionado pode causar à saúde, sobre o playcenter, preparativos das escolas de samba*, os males do serviço militar obrigatório e os dramas dos pais que tem os filhos servindo o exército*, depressão*, crônicas questionando se não seria de se reconsiderar a pena de morte*, questões sobre a vida em apartamento*, e como as coisas são culpa do Lula*. E que não tem nada sobre MST, déficit de habitações, sobre a insuficiência da saúde pública, etc (se bem que essas coisas todas poderiam ser desconsideradas como coisa de "PiG", como "falar mal do Lula", e logo de classe média).
Bem, eu acho que não seria exatamente assim. Não saberia chutar uma proporção, mas não me parece haver exatamente uma negligência, haver toda uma série de potenciais de notícias largamente ignorados porque "não interessam a classe média". Claro, de vez em quando uma menina rica mata os pais e causa um tremendo estardalhaço, enquanto que outras tantas tragédias acontecem nas camadas mais pobres e não ganham um décimo da atenção. Mas acho que é mais uma questão de não se noticiar "cão morde homem" do que uma coisa de "mídia alienante manipulada pelas classes dominantes".
[/Geotecton]
* exemplos tirados do blog "classe média way of life", de autoria um blogueiro provavelmente ironicamente também de classe média.