Você nao acha que a colocação como "jovens", "estudantes", e esse tipo de palavras, em vez de "bandidos", em um contexto que não eufemiza o crime que eles cometeram acabam funcionando mais como ênfase do que como eufemismo?
Porque ao mesmo tempo que dizem "jovens", dizem que eles espancaram, assassinaram, traficaram, estupraram, etc. Não usam eufemismos para os crimes, e não dizem que eles não os cometeram, que "deve ter sido algum bandido/pobre o real criminoso, um jovem de bem da classe média não poderia fazer tal coisa". Se a idéia fosse eufemizar, esses termos também deveriam ter o mesmo cuidado, a menos que os jornalistas fossem muito burros.
Se tratassem os estudantes, jovens, etc, como "bandidos", simplesmente, ficaria tudo homogeneizado e não haveria nenhum destaque para a existência de criminosos dentre os jovens da classe média. Ficaria tudo sendo "bandido", sem nem passar pela cabeça de muitos que poderiam ser jovens de classe média esses bandidos.
Só dizer que são "jovens" ou "estudantes" não tem o efeito subliminar hipnotico de apagar da mente das pessoas o crime que está sendo atribuido a eles na mesma notícia. Acho que a maioria das pessoas ainda consegue associar, e não faz uma confusão do tipo "mas como? peraí..... aqui diz que cometeram o crime X..... mas diz que são 'estudantes'.... estudantes estudam, não fazem bandidagem.... bandidos fazem bandidagem..... deve ser um erro de reportagem, e o crime não ocorreu, ou não foram eles, porque, lógico, são estudantes e não bandidos".
Ao menos eu vejo assim.
quanto a diferença de repercussão/abordagem, isso de por um lado falar-se de endurecimento de penas e do outro questionar-se o lado psicológico, não é nada surpreendente. Não é exatamente surpreendente que as pessoas das classes mais baixas possam se ver necessitadas de recorrer ao crime. Mas quando é alguém da classe média ou alta, é algo que surpreende, porque a pessoa não precisa roubar. E eu não me lembro de já ter visto alguma vez alguma abordagem condescentente com esses, sugerindo penas mais brandas, costuma ser o contrário até, serem mais condenados moralmente - com razão - justamente por não terem qualquer necessidade "real" de cometer crimes.
Quando não é alguém sem motivo "real" para cometer um crime, não há nada que desvie a atenção da revolta do crime em si, e o foco é mais provavelmente o endurecimento da pena, dentre outras coisas, como inclusive as causas sociais da criminalidade.
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Mas mesmo supondo que haja um tratamento diferencial, eufemista... em que isso efetivamente contribui para uma aplicação diferencial de penas de acordo com as classes? Acho que isso só decorre da diferença de um ter mais dinheiro que o outro para ter melhores advogados, que coincidentemente serão as pessoas da classe média para cima. Mas frisando, isso se dá pelo dinheiro em si, não por terem sido eufemistas com eles nos jornais ou na mídia em geral.