O solipsismo ocorreria, imagino, na teoria de que nosso mundo é um "sonho", ou seja, eu estaria sonhando "acordado", assim as pessoas no meu sonho nao seriam reais, mas sim impressoes criadas por meu proprio cerebro.
O interessante é que o solipsismo acaba sendo uma tentação para reducionistas ao objetivismo (que acham que tudo pode ser reduzido a elementos mensuráveis, e portanto os elementos subjetivos são "pura imaginação"), mas é uma tentação muito maior e mais perigosa para reducionistas ao subjetivismo.
Isso porque Danniel percebeu corretamente um ponto importante: os elementos objetivos da realidade NÃO podem justificar diretamente uma atitude de solipsismo. O solipsismo é, necessariamente, uma distorção da relação com os valores subjetivos.
O que acontece, creio, é que uma visão reducionista ao objetivo (ou como por vezes se diz, "cartesiana") negligencia o subjetivismo a tal ponto que os conteúdos subjetivos se vêem desconectados dos fatos objetivos quase completamente. Sem essa conexão entre o tangível e partilhável (objetivo) e o emocionalmente e existencialmente significativo (subjetivo) as mudanças subjetivas se tornam quase irrelevantes, e por isso mesmo não conseguem ser corretamente "calibradas" pela interação com a existência.
Mas uma visão reducionista ao subjetivo (armadilha típica de certas crenças "New Age" e de algumas doutrinas, principalmente do que se costuma chamar de "Caminho da Mão Esquerda") leva a um risco muito maior de solipsismo, porque além de cindir a ligação entre a realidade compartilhada e os significados subjetivos (como o outro reducionismo também faz), também exalta a importância da auto-satisfação em detrimento do que pode ser comprovado (e, portanto, compartilhado). Ou seja, torna possível o solipsismo (porque é reducionismo) e o torna atraente também (porque valoriza o subjetivo e negligencia o objetivo).
Em ambas as origens, o solipsismo é a porta de entrada para uma série de problemas psicológicos, da esquizofrenia à bipolaridade, passando por uma variedade de posturas destrutivas e anti-sociais.
O exemplo clássico são as manias de conspiração. Como estão acostumados a pôr o que sentem por cima dos fatos sem cerimônia, os reducionistas ao subjetivo correm o risco de desconsiderar os fatos sem ver nada de errado com isso. Vem daí as insistências em que há alienígenas na Área 51, em que há uma "conspiração da ciência" para ocultar a "realidade dos fenômenos espíritas", ou ainda em que há uma "conspiração de dominação e repressão" para impedir as pessoas individuais de "vivenciar suas verdadeiras naturezas animais".
Na verdade, os dois reducionismos (principalmente o subjetivo) são um excelente exemplo dos motivos por que faz sentido pensar em ter uma Filosofia Clínica.
eu arriscaria ir um pouco mais alem(sei que pode nao concordar ou "admitir", ao menos explicitamente ): eu diria que a verdade é justamente o contrario: o objetivo é manifestacao e consequencia do subjetivo - universo mental. Mas deixa para lá, é apenas uma breve divagaçao...
Como acabo de tentar ilustrar, eu considero essa convicção algo perigosa. Acho legítimo opinar que o "Telos", o impulso motivacional ou mesmo criador, seja por sua natureza subjetivo, mas o reducionismo pleno ao subjetivo não é algo que eu considero saudável.
Se há um elemento que é "mais verdadeiro" do que os outros nesse modelo de dicotomia entre objetivo e subjetivo que estamos usando, sou forçado a propor que esse elemento não pode ser nem o objetivo nem o subjetivo, e sim a interação e interconexão entre ambos. Se não mais verdadeiro, pelo menos mais conducente à saúde mental e existencial...