Só por curiosidade, Frango, você cursa cinema na faculdade?
Agora voltando ao que interessa:
Do jeito que vocês falam, parece que só os filmes que dão público é que são bons. Eu sei que vocês não estão dizendo isso, mas é o que parece.
Pois é, não é exatamente isso que queremos dizer. O que eu pessoalmente quero dizer é que o cinema é uma indústria e a sala de exibição é um comércio.
Eu acredito que o Estado tem muitas funções e que subsidiar filmes que ninguém quer assistir não é uma delas. Os filmes populares e lucrativos se pagam e profissionalizam o cinema brasileiro. Os filmes impopulares e não lucrativos são só um ralo para o dinheiro público.
Filmes impopulares podem ser bons? Sim, claro que podem, até porque gosto é questão de gosto. Mas eu não acho certo que a sociedade deva custear as preferências estéticas de alguém, o artista que encontre um mecenas privado interessado na sua arte porque há várias questões de interesse público muito menos supérfluas.
Aliás, eu vou ser bem polêmico agora, mas acho que o investimento público total em cultura deveria ser zero. Isso simplesmente não deveria ser uma atribuição do Estado.
Eu digo de novo que se os donos de sala de exibição fossem exibir só o que lhes dá lucro, íamos viver de enlatados americanos sem criatividade e blockbusters. Não quero ser obrigado a viver numa "ditadura da venda de ingressos". Não se preocupem que nenhum exibidor vai falir por causa da cota de tela. Principalmente redes como Cinemark e Playarte, que são as que mais reclamam.
Isso não acontece simplesmente porque o consumidor não é bobo. O cinema não pode se repetir para sempre sem ver seu público minguar, e aliás, é isso que anda acontecendo ultimamente, o cinema americano está passando por uma crise de más bilheterias nos últimos anos. A indústria é obrigada a se renovar constantemente para não ficar no prejuízo.
E outra coisa é que a profissionalização do cinema não implica necessariamente na ditadura dos blockbusters. Nos Estados Unidos a indústria consegue sobreviver à margem de Hollywood nas produtoras de cinema independente. Há cinemas que reservam lugar para o público que curte cinema independente e nunca vão faltar nas locadoras filmes independentes. E não é preciso gastar dinheiro público para satisfazer a quem gosta de cinema independente.
Quanto à ajuda do governo na produção... vejam quantos filmes foram produzidos durante o governo Collor, quando a Embrafilme foi extinta e não havia nenhuma espécie de incentivo. Acho que nem os trapalhões (aposta certa de público) fizeram algum filme naquela época. O cinema brasileiro ainda não tem condições de andar pelas próprias pernas (não com o mesmo vigor que está, pelo menos). Ainda há muito preconceito do público (tem gente na minha classe, fazendo faculdade de cinema e que odeia cinema brasileiro... não me pergunte onde vão trabalhar...).
Com a entrada da Globo no ramo de cinema, o cinema nacional está a caminho da profissionalização. E mesmo que não estivesse, o fato de não haver público para o cinema nacional não justifica o governo querer fazer cinema a qualquer custo. O único filme com que o governo deve se preocupar é com o seu próprio filme - e no caso do atual ele já está queimado comigo há muito tempo...
Se o cinema nacional não caminha com as próprias pernas é porque não foi desmamado das tetas do governo. E enquanto ele receber comida quentinha na boquinha vai continuar feio, fraco e desinteressante.